terça-feira, 21 de agosto de 2007

Mais Drummond

Auto-retrato, Drummond

Hipótese

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.


Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.


Deus triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.


Cuidado

A porta cerrada
não abras.
Pode ser que encontres
o que não buscavas
nem esperavas.

Na escuridão
pode ser que esbarres
no casal em pé
tentando se amar
apressadamente.

Pode ser que a vela
que trazes na mão
te revele, trêmula,
tua escrava nova,
teu dono-marido.

Descuidosa, a porta
apenas cerrada
pode te contar
conto que não queres
saber.


Certas palavras

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.


A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.

Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.

É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.


Igual-desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.


Falta um disco

Amor,
estou triste porque
sou o único brasileiro vivo
que nunca viu um disco voador.
Na minha rua todos viram
e falaram com seus tripulantes
na língua misturada de carioca
e de sinais verdes luminescentes
que qualquer um entende, pois não?
Entraram a bordo (convidados)
voaram por aí
por ali, por além
sem necessidade de passaporte
e certidão negativa de IR,
sem dólares, amor, sem dólares.
Voltaram cheio de notícias
e de superioridade.
Olham-me com desprezo benévolo.
Sou o pária,
aquele que vê apenas caminhão
cartaz de cinema, buraco na rua
& outras evidências pedestres.
Um amigo que eu tenho
todas as semanas vai ver o seu disco
na praia de Itaipu.
Este não diz nada pra mim,
de boca, mas o jeito,
os olhos! contam de prodígios
tornados simples de tão semanais
apenas secretos para quem não é
capaz de ouvir e de entender um disco.
Por que a mim, somente a mim
recusa-se o OVNI?
Talvez para que a sigla
de todo não se perca, pois enfim
nada existe de mais identificado
do que um disco voador hoje presente
em São Paulo, Bahia
Barra da Tijuca e Barra Mansa.
(Os pastores desta aldeia
já me fazem zombaria
pois procuro, em vão procuro
noite e dia
o zumbido, a forma, a cor
de um só disco voador.)
Bem sei que em toda parte
eles circulam: nas praias
no infinito céu hoje finito
até no sítio de um outro amigo em Teresópolis.
Bem sei e sofro
com a falta de confiança neste poeta
que muita coisa viu extraterrena
em sonhos e acordado
viu sereias, dragões
o Príncipe das Trevas
a aurora boreal encarnada em mulher
os sete arcanjos de Congonhas da Luz
e doces almas do outro mundo em procissão.
Mas o disco, o disco?
Ele me foge e ri
de minha busca.

Um passou bem perto (contam)
quase a me roçar. Não viu? Não vi.
Dele desceu (parece)
um sujeitinho furta-cor gentil
puxou-me pelo braço: Vamos (ou: plnx),
talvez...?
Isso me garantem meus vizinhos
e eu, chamado não chamado
insensível e cego sem ouvidos
deixei passar a minha vez.
Amor, estou tristinho, estou tristonho
por ser o só
que nunca viu um disco voador
hoje comum na Rua do Ouvidor.

9 comentários:

  1. Drogas.
    Luiz Domingos de Luna
    deuteronomioarte@bol.com.br
    www.revistaaurora.com.br
    Entrando numa fila
    Do claro ao escuro
    Um quintal sem muro
    Acaba-se a vida

    Veneno entupidor
    Do equilíbrio existencial
    Onda sedenta do mal
    Do martírio a dor

    Ego dilacerado
    Corpo viciado
    Dependência doentia
    Vida de agonia
    Prazer que mata
    Distrai, destrói
    Corrompe a alma
    Cega o espírito
    Assassina o ser
    É o começo do fim
    O fim que se vive
    O fim que se irá viver?

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  2. Mundo Global

    Luiz Domingos de Luna


    Sinto-me confortado
    Postando minhas poesias
    Uma oportunidade a cada dia
    Neste mundo globalizado
    Contrato bem firmado
    A comunicação presente
    Pessoa, cidadão - Gente.
    Conhecimento pulverizado
    Imprensa solidificada
    A informação percorre o planeta
    Girando o globo como uma carrapeta
    Num estado a demarcar fronteiras
    Em parceria, em fileiras.
    A humanidade está segura
    A democracia empurra
    Para o mundo libertar
    Uma existência que teima em
    Chocar, a beleza do ser humano.
    Ao espaço contemplar
    Fonte: http://oglobo.globo.com/servicos/blog/comentarios.asp?t=nosso_planeta&cod_Post=108198

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  3. Entre Colunas

    Luiz Domingos de Luna
    http://www. Revistaaurora.com

    Entre nascimento e morte
    Pego o meu passaporte
    Numa vida a bailar
    Dos dois pontos faço linha
    Numa estrada que caminha
    Na sorte ou no azar
    Entre colunas eu fico
    Sempre a caminhar
    Não pode ter acidente
    Senão quebra a corrente
    Já não posso respirar
    Uma reta esticada
    Cada passo, uma pisada
    Tenho que controlar
    Não posso sair do prumo
    Ou então um tombo
    Para me derrubar
    Do útero para cova
    Uma vida se renova
    Cheirando interrogação
    No meio das ampulhetas
    Viro pó, sombra e chão.
    Ou larva de borboleta
    Uma vida nova nasce
    É uma transformação ?
    Fonte:http://mesquita.blog.br/luiz-domingos-de-luna

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  4. A Fábrica de Universos

    Os bósons são inteligentes
    Escondidos em outra dimensão.
    Por que tanta precaução
    É um ato consciente?

    A ciência está na cola
    Graças à matéria escura
    Que dificulta a procura
    Confunde o eixo da mola

    Choque de matéria e luz
    Curvado no infinito
    São partículas de granito
    Ou mistério da órbita conduz?

    Esta imantação é problema
    Dependência de uma ditadura
    Da energia e da matéria escura
    Um cárcere privado com algema

    Iluminados - O que fará
    Com o bóson aprisionado
    Um mistério bem guardado
    Ou ao humano entregará?

    A Quem interessa?
    Uma fábrica de universo
    Os paralelos diversos
    Para que tanta pressa

    Um universo precisa
    De um planejamento
    Senão o novo engole a gente
    Seja humano ou não
    Tudo vai para o ralo do nada
    Cadê a inteligência em projeção
    A Consciência e a razão
    Virou tudo fragmento
    Não basta o pensamento
    No túnel do tempo
    Numa vida a bailar

    fonte:http://mesquita.blog.br/luiz-domingos-de-luna

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  5. Espaço sem luz!
    Luiz Domingos de Luna

    Uma idéia nasceu
    Percorreu o espaço
    Sinto o que faço
    Já não sou eu

    A obra que rola
    Na esfera social
    No arremate final
    Parece uma bola

    Cada chute uma pancada
    -O Público já analisou
    Pois, ele é sempre o senhor.
    Da obra que foi criada.

    Estrada corrente de dor
    Cada letra uma pisada
    Toda linha esmagada
    Na lógica do leitor

    O Conjunto é uma esfera
    De vértice quebrado
    Ou tem giro acelerado
    Ou o motor emperra

    Passar no crivo social
    Num filtro bem condensado
    Na página, tela, lixo ou lado.
    O Poema tem seu final.

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  6. A Busca

    Luiz Domingos de Luna
    www.revistaaurora.com


    A Alma humana a buscar
    A todo e qualquer momento
    É uma força ou um sentimento
    Que nunca pode parar

    É incrível o aprimoramento
    Que precisa aprimorar
    O pensamento a vagar
    Em um novo firmamento

    Seja qual for à maneira
    Tem que modificar
    Pois está no DNA
    É uma seqüência inteira

    Tudo a repensar
    Nada está concluído
    É como um fluido
    Em constante derramar

    Talvez o eixo da dúvida
    Esta procura, enfim.
    Nada tem um fim
    É o sentido da vida

    Parar um instante
    Isso nem pensar
    A busca sempre a buscar
    É uma corrente andante.
    Aonde vamos chegar?

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  7. Passos

    Luiz Domingos de Luna
    Procurar na web

    Passos que passo
    Passos que vem
    Passos do além
    Não sei o que faço

    É como um compasso
    De um tempo passado
    Já foi um chamado
    Na imensidão do espaço

    Ouvi um grito
    Parecia um trovão
    Na escuridão
    Estava aflito

    Pulei noutro astro
    Deixei a pisada
    Ta lá registrada
    Como um mastro

    Luz em ebulição
    Fiquei assustado
    Parece ter entrado
    Noutra dimensão

    Tudo tão diferente
    Um carrossel giratório
    Um som vibratório
    No meu consciente

    Sonho ou realidade
    Não sei precisar
    É um vôo a voar
    Não tem gravidade

    Uma mão me puxou
    Numa frieza gelada
    Não sei mais de nada
    Num novo mundo estou

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  8. Luiz Domingos ser seu fá é participar de uma festa que nunca termina... a festa do conhcimento e da inteligencia....

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  9. Última Ceia, 33 anos
    Luiz Domingos de Luna*
    I
    Leonardo da Vinci em Milão
    Afresco de arte a projetar
    Tempo no espaço a passar
    Torre da matriz em Aflição
    II
    19 ao sete o oito colar
    Matriz do Deus Menino
    A fenda no caminho
    Padre França a acordar
    III
    Tremulante a dor do momento.
    Dr. Bastim o toque na porta
    D. Terezinha a causa comporta
    A sutura do concreto, sangramento.
    IV
    Dr. Wilames, Dr. Danúbio, ação ao ato
    Edilmar Norões, Lucio Brasileiro, o semblante
    João Inácio JR, Neno Cavalcante
    Eis a comissão no seu formato
    V
    12 de janeiro pontuou
    O inicio da restaurão
    Uma cinta de amarração
    A fissura estancou
    VI
    A maior obra artística,
    de Aurora em Gestação
    O Altar mor uma indagação
    No mistério da alma mística
    VII
    Os pedreiros em Ação
    Franzé de Aurora na massa
    Adornos saíram da argamassa
    Obra projetada em Projeção
    VIII
    Bolas de gude de vidro a olhar
    As colunas e as vidraças
    Teto novo, mármores com graças
    Degraus, ao ângulo pisar
    IX
    Sacrário com mesa no altar
    Território de oração e sacrifício
    O Piano ao som do oficio
    O Povo em hinos a louvar
    X
    Senhor, aos homens à luz
    33 anos bem passados
    Da última ceia o sagrado
    Caminho que reluz
    XI
    Do campo e da cidade
    A teus pés a oração
    Penitência e oblação
    Campus da liberdade
    XII
    Dr. Bastim e Padre França
    E a preciosa comissão
    Sempre em missão
    Louvando esta aliança.
    (*)Procurar na web

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