Marcelo Campello estréia solo e instrumental
por Dafne Sampaio
Você pode não estar associando o nome à pessoa, mas Marcelo Campello é aquele garoto magro, ali de canto, que toca violão, cavaquinho e outros mil instrumentos no grupo pernambucano Mombojó. Pois então, o músico, do alto de seus 24 anos, acaba de estrear solo (solo mesmo!) em Projeções e mais duas séries para violão de sete cordas (independente, 2007), um disco totalmente instrumental e muito distante da sonoridade roqueira e psicodélica do grupo que pertence (e isso porque não estamos falando da Del Rey, projeto paralelo dos mombojós com músicas do Rei Roberto).
“Sempre compus para violão desde que comecei a tocar. Gravei a partir do momento em que considero ter atingido uma forma de expressão individual. Foi quando compus o “Sonho I” em 2002. Em abril de 2004 sofri um grave acidente de carro que mexeu comigo no sentido de não adiar mais as coisas, então quando me recuperei acabei registrando toda minha produção para [violão de] 7 cordas até 2006. São as 35 faixas, divididas em três séries, deste disco”, explicou Campello em conversa por email. Além de “Sonhos” (em 13 partes), o disco traz ainda as séries “Projeções” (em 12) e “Soturnos” (em 10), todas imersas em um desejo muito pessoal de unir o popular e o erudito, a beleza e a surpresa. “É difícil citar o que influenciou Projeções porque absorvo através dos sentidos o mundo à minha volta e acabo traduzindo em música de uma forma meio sinestésica”, disse.
Em termos de música o mundo de Campello é composto por figuras como John Coltrane, Garoto, Kraftwerk, Dino 7 Cordas, Baden Powell, Canhoto da Paraíba, Poly, Grandmaster Flash, Rogério Duprat, Horace Andy, Ligeti e Schoenberg. “A lista é enorme e não pára de crescer”, diverte-se fazendo desse balaio um jeito muito natural de ouvir música. Projeções é resultado destas muitas audições acrescidas de uma tocante intimidade (com o instrumento, com os ouvintes, etc). Em um blog, Campello afirmou que “o maior elogio que vocês podem fazer ao meu disco é caírem no sono antes da quinta faixa”. Pergunto se confere. “Hahaha. Confere! São composições extremamente introspectivas, quase hipnóticas, por isso acabam induzindo o sono quando focadas. Sinto-me lisonjeado se coloco alguém pra dormir. É como me comunicar numa esfera abissal, na solidão do sono”, e dá para notar que o sujeito continua se divertindo.
Enquanto segue numa ponte-aérea entre Recife e São Paulo, com escalas Brasil afora via Mombojó e os shows do segundo disco do grupo (Homem-espuma), Marcelo Campello tem apenas uma certeza: “Estou sempre instigado, aprendendo. Este disco é um dos lados de um prisma. É importante procurar se enxergar também por outros ângulos para identificar comportamentos, conceitos, etc, se aperfeiçoar. Estagnação é morte”. E Projeções é só o começo.
Ouça algumas faixas do disco na página de Campello no MySpace
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Músico do Mombojó Lança Disco Solo
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Marcadores: Música
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
CD Completo de Rock Independente pra Download
CD Casa da Árvore completo (.torrent)
por daniel valentim
Dez bandas. Todas independentes. Dez canções que, não fosse a cara dura de gravar mesmo de bolso liso e lançá-las nesse território sem centro da Internet, ainda estariam fazendo eco em nossas vontades. E apenas em nossas vontades.
A Casa da Árvore é um projeto de Marcos Terra Nova, vocalista e guitarrista da banda Espantalho. Trata-se de uma coletânea de bandas manauaras de rock que estava emperrada nos corredores burocráticos da Secretaria Municipal de Cultura desde julho de 2005, esperando apenas pela prensagem de mil cópias.
Até hoje não saiu.
O disco original continha seis bandas, doze músicas. Nessa versão disponível no Overmundo, são dez bandas, cada uma presente com uma canção. Esta é a versão em torrent do disco, se você quiser baixar as músicas separadamente, veja abaixo.
Leia mais sobre o projeto no texto "A Casa da Árvore e o estado vegetativo", no Overblog.
Baixar CD Completo A Casa da Árvore .torrent
como fazer o download de torrents?
Download Alternativo do CD Completo A Casa da Árvore, zipado, para quem não domina arquivo torrent
Faixa a Faixa - Ouça ou Baixe
01 Chá de Flores - A Chave de seu Coração
download
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02 Platinados - Cafeína
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03 Charlie Perfume - Mundo Gira
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04 Several - Ruínas de Cartago
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05 Espantalho - Tempo de Despedida
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06 Mezatrio - Despacho
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07 Underflow - Meu Presente
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08 Zona Tribal - Guerrilha
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09 No Phonic - Amanhã de braços abertos
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10 Infâmia - Ninguém te Ama
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Todas as músicas que compõem este CD estão sob uma licença Creative Commons
Fonte: OverMundo
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Marcadores: Disco Completo, Música
Bethânia na Tela Grande
Maria Bethânia em festival de cinema
por Marco Antonio Barbosa
Ainda inédito no circuito comercial, o longa-metragem documental Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda foi selecionado para a mostra competitiva do festival É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários (www.etudoverdade.com.br) que será realizado entre os dias 23 de março e 1º de abril, no Rio de Janeiro e São Paulo. Dirigido por Andrucha Waddington (de Casa de areia e Eu tu eles), o filme faz um retrato da reservada vida particular da cantora baiana, privilegiando cenas familiares e conversas com amigos. É o segundo documentário de Waddington que tem personalidades da música como tema; em 2001, o cineasta rodou Viva São João, que tinha Gilberto Gil como protagonista. Seu filme sobre Bethânia concorre a um prêmio em dinheiro de R$ 100 mil, disputado com outros seis filmes.
Vale lembrar que o filme chega cerca de dois anos depois do lançamento de Maria Bethânia - Música é perfume, documentário do diretor francês Georges Gachot (focando a carreira da cantora) e mais de quarenta depois de Bethânia bem de perto - A propósito de um show, curta-metragem dirigido por Julio Bressane em 1966 sobre um espetáculo da baiana.
Fonte: JornalMusical
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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
Neruda Rifado
Poema inédito de Pablo Neruda está à venda por US$ 3.700
da Ansa, em Santiago
Um poema inédito do Nobel de Literatura chileno Pablo Neruda, escrito em 1963, está à venda por US$ 3.700.
Neruda escreveu o poema, dedicado a uma amiga, sobre uma tábua de madeira. A mulher, Elvira Morel, comemorava seu aniversário em Limache, 120 quilômetros ao norte de Santiago.
Na ocasião, o poeta chegou e reclamou do barulho que os convidados faziam. "É meu aniversário e estou na minha casa. Se não está gostando, pode ir embora", teria dito Morel, segundo relato ao jornal "El Mercúrio".
Neruda, amante das festas, não se foi e decidiu pedir desculpas à mulher por meio de um poema de 14 linhas escrito com sua pena de tinta verde. "Perdoe o poeta/Um pouco o que lhe passa/Aos poetas e aos loucos/Dá-lhes tua casa", escreveu Neruda na madeira.
O neto da mulher é quem oferece o poema, por US$ 3.700, em anúncio nos classificados do jornal chileno.
Fonte: Folha Online
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E o teu Olhar era de Adeus
Atrás da Porta - Elis Regina
Atrás da Porta, de Chico Buarque, na belíssima interpretação de Elis Regina. Esta apresentação ao vivo da Pimentinha faz parte do show especial feito para o programa da "Série Grandes Nomes", exibido em outubro de 1980 pela RedeGlobo. Dirigido por Daniel Filho, agora ganha versão em DVD (o primeiro colorido de Elis), lançamento conjunto da gravadora da Globo, Som Livre, em parceria com a gravadora dos filhos de Elis, a Trama.
Assistam Atrás da Porta cantada com a alma. Não é à toa que Elis Regina ainda seja considerada a melhor cantora brasileira. Não falo mais nada.
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sábado, 24 de fevereiro de 2007
Curta No Princípio Era o Verbo
No Princípio Era o Verbo
Nada de novo existe nesse planeta que não se fale aqui na mesa de bar... Ainda mais no fim do carnaval! Grande vencedor do AXN Film Festival.
Sinopse
Três histórias, que se desenrolam "simultaneamente" em um bar num dia de carnaval, se complementam e se fundem num vai e vem lírico e bem-humorado, que procura tecer uma reflexão sobre o conceito de verdade e nossa busca pelas explicações de fenômenos cotidianos, que não obstante estamos longe de compreender plenamente, como a invenção da roda, ou o modo de vida de outras culturas. Este filme está concorrendo ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2007.
Gênero Ficção
Diretor Virgínia Jorge
Elenco Augusto Madeira, Carlos Roberto Jr, Celsão Rodrigues, Darcy do Espírito Santo, Emiliano Queiroz, Fábio Matos, Markus Konká
Ano 2005
Duração 18 min
Cor P&B
Bitola 35mm
País Brasil
Ficha Técnica
Produção Galpão Produções, Virgínia Jorge, Verve Produções Fotografia Fernando Micelli Som Direto Alessandra Toledo Mixagem José Cláudio Castanheira Montagem Célia Freitas
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Marcadores: Curta-metragem
Morre Luiz Chaves
Luiz Chaves, ex-Zimbo Trio, morre aos 75 anos
Baixista da formação original do célebre grupo Zimbo Trio, Luiz Chaves morreu nesta quinta-feira, 22 de fevereiro, vítima de falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Chaves, que nasceu em Belém (PA) em 1931, tinha 75 anos e seu corpo foi sepultado nesta sexta no cemitério Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes (Grande São Paulo).
Chaves já era um instrumentista e compositor conhecido da noite paulistana – e até havia gravado um disco-solo, Projeção (RGE, 1963) – quando se juntou aos músicos Rubinho Barsotti (bateria) e Amilton Godoy (piano) para formar o Zimbo Trio, em 1964. O baixista esteve no trio até 2001 quando precisou se afastar por problemas de saúde, e foi substituído por Itamar Collaço, mas até então esteve em todos os poucos mais de 20 discos do grupo, além de ter acompanhado artistas como Elizeth Cardoso e Elis Regina (no histórico programa Fino da bossa). O trio também criou, em 1973, uma escola de música, o Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam).
Fonte: Gafieiras
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Paula Lima pra Escolher
Escolha um hit para Paula Lima
por Marco Antonio Barbosa
Paula Lima é uma cantora que realmente coloca a opinião de seus fãs em primeiro lugar. Para provar isso, a intérprete promove, através de seu site (www.paulalima.com.br) uma enquete que decidirá qual será a próxima faixa de trabalho a sair de seu mais recente (e terceiro) álbum solo, Sinceramente.
Os internautas poderão escolher entre "Eu já notei" (de Ana Carolina e Totonho Villeroy) e "Tirou onda" (Acyr Marques, Arlindo Cruz e Maurição). Até 16 de março, a enquete estará no ar; a mais votada vai para a programação das rádios. Para tirar quaisquer dúvidas dos fãs, as músicas podem ser ouvidas abaixo:
Fonte: JornalMusical
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Marcadores: Música
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Cotidiano
Clássica música de Chico Buarque, Cotidiano, na indefectível interpretação de Arnaldo Antunes, ganha aqui animação de Ivan Mola, artista plástico e ilustrador paulistano. As inevitáveis repetições do dia-a-dia não poderiam ser melhor representadas. Vale a pena assistir o Cotidiano deste pobre desenho animado.
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Marcadores: Animação
Três Gerações de Sambistas - Leia na CartaCapital
As damas da melodia
por Ana Paula Sousa
Ouça trechos da conversa entre Dona Ivone Lara, Leci Brandão e Teresa Cristina
Confira os áudios ao final do texto
Vozeirão que já na fala se impõe, alta, olhar firme, Dona Ivone Lara chega a causar timidez em quem dela se aproxima. Que o diga a cantora Teresa Cristina. Sorriso largo e ar de menina que o tempo perdoa, ela não disfarça a tietagem:
– Toda vez que eu encontro a Dona Ivone eu fico muito mexida. Imagina a quantidade de gente que não encontra a Dona Ivone e fica assim.
Dona Ivone, sem notar, desfila majestade. Leci Brandão, camiseta da Mangueira a demarcar a origem, jeito de quem guerreia, fica no meio das duas. E fala pelas três.
– Qualquer compositora de MPB, numa reportagem, sai como compositora. Já a gente é sambista.
Três gerações. Três melodias. Três rimas. Ivone, 85 anos, Leci, 62, e Teresa, 38, se reuniram há duas semanas no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, num show chamado Santíssima Trindade, destinado a mostrar as canções das três principais compositoras de samba do Brasil.
No teatro lotado, levaram o público ao delírio. Entoaram os sambas da própria lavra e, ao final, cantaram em capela que Um sorriso negro, um abraço negro/ Traz felicidade. Juntas, mostraram a força dos talentos lapidados pela vida.
Dona Ivone foi enfermeira. Leci, telefonista. Teresa, manicure. Nascidas pobres, mulheres e negras, um dia se deram conta de que a música não as largaria. Ser artista era coisa de outras gentes, pensavam. Mas acabou acontecendo com elas.
Difícil saber o que mais impressiona ao vê-las reunidas: se a vida, o samba ou o apanhado de gerações. No camarim, antes do show, recebem CartaCapital para uma conversa. Desfiam histórias sem fim, fazem perguntas umas às outras e, fala cortada por fala, descortinam o samba, a vida, o Brasil.
Dona Ivone, compositora de primeira grandeza, começa com as histórias que chegam borradas aos livros:
– Meus avós foram escravos. Meu avô foi capataz e minha avó era mucama. Tinha um general que chamava minha avó de mãe. Meu avô era um capataz que não era mau para os irmãos de senzala, pelo contrário. Quando os irmãos faziam qualquer arte, se ele pudesse esconder, ele escondia. Se o patrão queria castigar, ele dava fuga. Meu avô cuidava deles. Quando eu falo na música de curar os ferimentos com o banho de abô, eu tô falando do meu avô.
Teresa lembra da música todinha:
– É... O Axé pra Ianga. Dona Ivone, a senhora não teve vontade de colocar essas histórias num livro, não?
– Eu? De jeito nenhum. Tenho horror a isso. Graças a Deus, vim de ventre livre. Senão, eu ia ser danada.
Teresa, revelação do samba no fim dos anos 90, musa do bairro da Lapa, no Rio, lacrimeja ao falar de Dona Ivone:
– Toda vez que encontro com ela, eu fico muito embasbacada. Acho que, se a gente morasse em outro país, teria escolas de música com o nome da Dona Ivone. Eu não acho que ela não é reconhecida, não, mas deveria ser nome de rua, de colégio...
– Mas quando eu morrer...
Gargalham todas com a provocação. Dona Ivone, nascida em 1922, no bairro de Botafogo, no Rio, é, de fato, compositora já lendária do samba. Parceira de Silas de Oliveira, Hermínio Bello de Carvalho, autora de músicas que todos sabem cantarolar, como Sonho Meu e Alguém Me Avisou, foi a primeira mulher a emplacar um samba-enredo no carnaval carioca, em 1965. Isso sem falar na voz rara.
Graças ao tio, entrou na Ala dos Compositores da Império Serrano. Num meio machista, faz questão de dizer que só vingou ali porque tinha as costas quentes:
– Eu digo que entrei para a Ala dos Compositores porque quem montou a ala foi meu tio. Ele falou: “Ivone vai ser parceira de Silas e não se fala mais nisso”. Aí todo mundo acatou.
História bem diferente teve Leci. Sua porta para o samba foi a Mangueira. Sua madrinha de batismo morava no Morro da Mangueira e era amiga de Dona Zica. O avô desfilou na escola. A mãe trabalhou com Jamelão. Ainda assim, para virar compositora, penou:
– Quando cheguei na reunião da Ala dos Compositores, com Hélio Turco, Nelson Sargento, me perguntaram: “O que você tá fazendo aqui?” Disseram que eu ia ficar um ano fazendo samba de terreiro e, se passasse no teste, aí me aceitavam oficialmente. Minha carteira é de 1972. Em 1974, eu já estava na final do samba-enredo... Mas nunca ganhei. Fui vice-campeã seis vezes!
Teresa Cristina, três décadas depois, não tinha tio que a protegesse, mas tinha música gravada em CD que homenageava a Portela:
– Eu ouço a Leci e não acredito que ela teve de ficar um ano fazendo samba de terreiro. Na Portela, me convidaram. Mas a história dela, na Mangueira, me encoraja a nunca querer fazer samba na Portela. Primeiro, porque o samba-enredo de hoje... Como eu vou compor um samba corrido desse jeito? Tem de agradar a bateria, tem de agradar não sei quem.
Está jogada a lenha na fogueira. Leci, comentarista dos carnavais da Globo, pega o fio puxado por Cristina e prossegue:
– Agora existe o empresário do samba. Para poder concorrer, você tem de ter estrutura financeira, distribuir CD na comunidade, dar comida não sei para quem.
Dona Ivone também não quer mais saber do carnaval que, tornado negócio como quase tudo, perdeu a espontaneidade que o fez único e grande:
– Você vê samba-enredo às vezes com dez compositores. E isso lá é samba?
Leci atribui os novos rumos à transformação das escolas em palco de aparecidos mil:
– Antes era negócio de quilombo, de cantoria, de morro e favelado, né? Mas, hoje, todo mundo quer sair na Mangueira. Quando entrei na escola, a gente distribuía adereço na avenida, fazia foguinho pra esquentar tamborim e areava panela de feijoada. Mas, depois de se globalizar, o desfile passou a ser um lugar interessante para as pessoas aparecerem. É o tal in e out. Agora é in sair em escola. Então, tem rainha de bateria que é modelo, atriz. As meninas da comunidade ficam fazendo a corte.
Se os novos contornos das escolas incomodam as artistas, mais ainda as incomoda a idéia de que, nestes anos 2000, o samba virou “moda”. Teresa rebate:
– Comecei a cantar samba em 1998 e já tinha esse mesmo papo da moda. Eu nunca vi uma moda durar dez anos! Ele já tava na moda antes. E sempre estará.
Apesar disso, por mistérios da etimologia – e, quem sabe, do preconceito de classe –, samba não é considerado MPB. Por causa disso, Teresa sofre um bocado para abrir brechas nas rádios, por exemplo:
– Na visão de muita gente, MPB é sofisticado e samba não é. Aí tem rádio com perfil de MPB que diz que não pode ter samba para não ficar popular demais. Daí, vou para a rádio de samba, e ouço: “Você é sofisticada demais, aqui é mais pagode, tem de ter mais barulho. Aí dizem que fulana de tal cantava samba no início da carreira, se sofisticou e começou a cantar MPB. Então ela era esculhambada porque cantava samba? E isso tem gente que fala sem nem sequer perceber...
Carmo Lima, produtor do show Santíssima Trindade, observa, porém, que a presença do samba em teatros como o Sesc Vila Mariana indica que o preconceito escasseou. Mas por que ainda são tão raras as mulheres nesse universo? “O samba começou na casa de uma mulher, a Tia Ciata, nos anos 20, onde se reuniam Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Heitor dos Prazeres. Mas a mulher, mesmo que soubesse cantar, não podia entrar na roda. Então, é até natural que poucas se aventurem a compor”, avalia.
Compuseram aquelas que não tinham escolha. Não tinham escolha porque, simplesmente, a música sempre transbordou dessas mulheres. Dona Ivone relembra:
– Eu fui criada num colégio interno, onde éramos 300 alunas. Eu tinha um conceito muito bom lá porque sempre gostei de cantar. Eu pertenci ao orfeão artístico, compreendeu? E sinto uma facilidade danada com melodia. Vai saindo assim ... Mas, quando a gente compõe, o que a gente está fazendo, no fundo, é contar a história da nossa vida.
De belas vidas.
Conteúdo relacionado - Ouça
Dona Ivone conta para Teresa Cristina como aprendeu a cantar
Dona Ivone encontra Hermínio Bello de Carvalho e Cartola
Teresa diz que samba não é moda. Leci diz que moda é sair em escola de samba
Por que Samba não é chamado de MPB?
Legenda Foto: Três gerações. No camarim, as compositoras Ivone, Leci e Teresa descortinam a vida, o samba, o Brasil
Fonte: CartaCapital
Foto: Igor Bier Pessoa
Postado por Música e Poesia BR às 08:14 0 comentários
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Dadaísmo Musical
Geladeira Metal = terrorismo geral
por André Dib
Não recomendado para ouvidos sensíveis
"Isso não é música”!, pragueja quem vê ou ouve Geladeira Metal. Quem não diz nada, nem precisa. Basta olhar para a expressão do rosto: varia entre indignação, riso, pasmaceira, nojo... Se em algum lugar a Geladeira goza de boa reputação, é porque ainda não tocou lá. O “dado concreto” é que ela geralmente não pisa duas vezes no mesmo local.
E isso não é música mesmo. É quase tortura. A dupla formada pelos artistas multimídia low-profile Grilo e Paulinho do Amparo é muito mais performática do que musical, no sentido de que, no que eles compõem, não existe o mínimo de decência em termos de harmonia, melodia ou ritmo. São urros guturais, grunhidos, notas desconexas no teclado e contrabaixo tocados como ou como se fosse heavy metal, ou delicadamente fazendo climas para as letras, estas variando entre cartas de apoio ao programa nuclear da Coréia do Norte, protestos contra a companhia de eletricidade e declarações de amor à Lili, a cachorra de estimação.
As reações são adversas. Por exemplo, durante um programa de TV ao vivo, Grilo botou um sonrisal na boca e simulou um ataque epilético, gerando revolta em uma entrevistada politicamente correta. Pra quem perdeu, o tape foi parar no You Tube , entre alguns outros momentos especiais gravados em DV. Num show mais recente, que ainda não chegou ao popular site de vídeos, Paulinho fez um despacho com um pacote de Elma Chips e uma garrafa de Coca-cola no lugar da galinha preta.
Praticamente ignorados pela imprensa musical (são simplesmente citados quando tocam em alguma festa), o Geladeira Metal continua a tocar seu auto intitulado “jazzy core, ou noise infantil”, com inspiração dadaísta em artistas como o japonês Yamatsuka Eye e o saxofonista americano John Zorn.
Seu mais novo projeto se chama Abaixo o Carnaval de Olinda, um CD-movimento social disseminado por email, onde uma das músicas e capa estão disponíveis lá em cima. Para saber mais sobre o movimento, assim como o projeto "Afunda, Meu Recife", clique aqui.
ÁudiosO Verdadeiro Hino Oficial do Carnaval de Olinda (1.1 Mb)
streaming download
Para acabar com o Carnaval da Cidade Alta de Olinda (5.5 Mb)
streaming download
Jazzy Infernal (3 Mb)
streaming download
Fonte: OverMundo
Postado por Música e Poesia BR às 22:30 1 comentários
Marcadores: Música
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
É, Acabou...
Todo Carnaval tem seu Fim - Los Hermanos
Duas postagens abaixo Todo Carnaval tem seu Fim por Maria Rita
Postado por Música e Poesia BR às 22:30 0 comentários
Marcadores: Videoclipe
Na Quarta-feira de Cinzas o Carnaval tem seu Fim
Marcha De Quarta-Feira De Cinzas
(Vinicius de Moraes, Carlos Lyra)
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
Todo Carnaval tem seu Fim
(Marcelo Camelo)
Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
Mas o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo...
Toda rosa é rosa por que assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
É o fim, é o fim
Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?
Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
(Ouça e veja a intepretação do Los Hermanos para Todo Carnaval tem seu Fim acima)
Postado por Música e Poesia BR às 15:15 0 comentários
Marcadores: Poesia
Todo Carnaval Acaba
Todo Carnaval tem seu Fim - Maria Rita
Todo Carnaval tem seu Fim - Composição de Marcelo Camelo, vocalista do Los Hermanos, foi gravado pela banda em seu segundo disco, Bloco do Eu Sozinho (2001). Confira a interpretação de Maria Rita para a música do Los Hermanos, em apresentação no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Postado por Música e Poesia BR às 14:18 0 comentários
Marcadores: Videoclipe
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
Novos Baianos
Brasil Pandeiro - Novos Baianos
O vídeo dos Novos Baianos, interpretando a música Brasil Pandeiro, foi extraído do antigo Programa MPB Especial, da TV Cultura, no início dos anos 70. Esta atração depois foi rebatizada de Ensaio e é até hoje transmitida pela emissora.
Postado por Música e Poesia BR às 01:47 0 comentários
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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
Carnaval de Poesias
Epílogo
(manoel bandeira)
Eu quis um dia, como Schumann, compor
Um carnaval todo subjetivo:
Um carnaval em que o só motivo
Fosse o meu próprio ser interior...
Quando o acabei - a diferença que havia!
O de Schumann é um poema cheio de amor,
E de frescura, e de mocidade...
O meu tinha a morta mortacor
Da senilidade e da amargura...
– O meu carnaval sem nenhuma alegria!
Carnaval de Ontem e de Hoje
(cruz e souza)
Do apartamento de Dora
Ouve-se o ruído lá fora
Do carnaval que já vem.
O samba do morro desce
E a gente do morro esquece
Do gosto que a vida tem.
A Vovó fica alarmada!
Que terror esta enxurrada
De gente suja e brutal!
As mulheres, quase nuas,
Homens de saia, nas ruas,
— Meu Deus, isto é carnaval?
“No seu tempo”, felizmente,
Era tudo diferente
À neta ela explica, então:
— Gente distinta, educada,
Batalhava na calçada
Do Jockey, que animação!
O corso era uma beleza!
Que elegância, que riqueza
De confeti e serpentinas!
Sobre as capotas descidas
Moças bonitas, vestidas
Das fantasias mais finas.
Nos bailes, que brincadeira!
Nem pulos, nem bebedeira,
Todos podiam dançar.
Mas de outro modo, distinto:
Se era “família” o recinto,
Ninguém mais podia entrar.
Dançava-se o tempo todo.
Brincava-se mesmo a rodo,
Sem mal, contente e feliz.
E o lança-perfume, eu penso
Não era usado no lenço
E abusado, no nariz!
Às vezes, um mascarado
Chegava, alegre e engraçado,
Metido num dominó.
Passava, dando os seus trotes,
Depois lá ia, aos pinotes,
Brincalhão, como ele só!
E a Vovó contava à neta...
Dorinha ouvia, bem quieta
Mas, de repente diz: - Qual,
Vovó, desculpe o que eu digo
Mas que chato é o tempo antigo!
Meu Deus, isso é Carnaval?
Cachaça Mecânica
(erasmo carlos)
Vendeu seu terno, seu relógio e sua alma
E até o santo ele vendeu com muita fé
Comprou fiado pra fazer sua mortalha
Tomou um gole de cachaça e deu no pé
Mariazinha ainda viu joão no mato
Matando um gato pra vestir seu tamborim
E aquela tarde já bem tarde comentava
Lá vai um homem se acabar até o fim
João bebeu toda cachaça da cidade
Bateu com força em todo bumbo que ele via
Gastou seu bolso mas dançou desesperado
Comeu confete , serpentina e a fantasia
Tomou um tombo bem no meio da avenida
Desconfiado que outro gole não bebia
Dormiu no tombo e foi pisado pela escola
Morreu de samba , de cachaça e de folia
Tanto ele investiu na brincadeira
Pra tudo tudo se acabar na terça-feira
Desce
(arnaldo antunes)
desce do trono, rainha
desce do seu pedestal
de que te vale a riqueza sozinha,
enquanto é carnaval?
desce do sono, princesa
deixa o seu cetro rolar
de que adianta haver tanta beleza
se não se pode tocar?
hoje você vai ser minha
desce do cartão postal
não é o altar que te faz mais divina
deus também desce do céu
desce das suas alturas
desce da nuvem, meu bem
porque não deixa de tanta frescura
e vem para a rua também?
Sala de recepção
(cartola)
Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes Mangueira cantar?
Pois então saiba que não desejamos mais nada
A noite a lua prateada, silenciosa
Ouve as nossas canções
Bem lá no alto do cruzeiro
Onde fazemos nossas orações
Temos orgulho de sermos os primeiros campeões
Eu digo e afirmo, que a felicidade aqui mora
E as outras escolas até choram
Invejando a tua posição
Minha Mangueira
És a sala de recepção
Aqui se abraça o inimigo como se fosse irmão
Postado por Música e Poesia BR às 09:58 0 comentários
Marcadores: Poesia
O Pierrot ama Colombina que o trocou por Arlequim
Pierrot - Los Hermanos
Pierrot, do Los Hermanos, é faixa do disco de estréia, homônimo, da banda, lançado em 1999. O vídeo foi gravado durante a produção do DVD Los Hermanos Ao Vivo no Cine Íris (2005), porém, não foi incluído no mesmo. Assista aqui no Carnaval do Música&PoesiaBRasileira.
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Marcadores: Videoclipe
domingo, 18 de fevereiro de 2007
O Moderno(?) encontra o Antigo(?)
Balancê
Confiram esta releitura de uma clássica marchinha de carnaval. Transvestida de um viés eletrônico, as imagens que compõem o clipe estão invadidas de símbolos e estereótipos da cultura brasileira.
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Marcadores: Animação, Videoclipe
sábado, 17 de fevereiro de 2007
Curta Jorjão neste Carnaval
Jorjão
Um filme sobre um dos principais mestres de bateria de escola de samba do Rio de janeiro que fala sobre música e a sua história de amor.
Assista de camarote ao filme Jorjão e entre no ritmo do carnaval com o revolucionário mestre de bateria. Esta folia não acaba na Quarta-Feira de Cinzas.
Veja Jorjão aqui
Ficha Técnica
Fotografia Paulo Tiefenthaler Roteiro Paulo Tiefenthaler Edição Paulo Tiefenthaler, Rick Liuzzi Edição de som Ricardo Cutz Montagem Paulo Tiefenthaler, Rick Liuzzi
Festivais
Cine PE 2005
Fonte: PortaCurtas
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Marcadores: Curta-metragem
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Mundo Livre S/A e seu Carnaval
carnaval inesquecível na cidade alta - mundo livre s/a
Fred Zero Qu4tro e companhia (S/A) mostram o seu inesquecível carnaval em Olinda. A música, Carnaval Inesquecível na Cidade Alta, pertence ao disco Bebadogroove (2005).
Sexto trabalho dos pernambucanos do Mundo Livre S/A, foi lançado em EP (com o intuito de baratear custos e ampliar o acesso do público) e batizado com o pequeno nome de "Bebadogroove Vol. 01 (GarageSambaTransmachine)", título com referência ao disco "Beba do Samba", de Paulinho da Viola.
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Marcadores: Videoclipe
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Três do Poetinha
Se eu fosse um padre (mario quintana)
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
Dos nossos males (mario quintana)
A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
Bilhete (mario quintana)
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
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Marcadores: Poesia
Festival de Cine Lusófono
Festival de João Pessoa abre inscrições para curtas
O Cineport permite a participação de produções do Brasil, de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste
SÃO PAULO - A terceira edição do Festival de Cinema em Língua Portuguesa (Cineport) ocorrerá de 4 a 13 de maio, em João Pessoa, e recebe, até 10 de março, inscrições para o prêmio Andorinha Digital, dedicado a filmes de curta-metragem. Segundo a criadora do evento, Mônica Botelho, por causa do aumento significativo de candidatos nos anos anteriores, as inscrições foram antecipadas.
Podem participar produções do Brasil, de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
As inscrições são feitas no site www.festivalcineport.com, onde está o regulamento da competição, que tem também prêmios para longas.
Fonte: Estadão
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Discos Reeditados
OS PRIMEIROS DISCOS DE CHICO, ELIS E MUTANTES. FINALMENTE
É o caso da série Os Primeiros Anos, editada pela Som Livre. Entre os lançamentos, cujos projetos procuram aproximar-se da arte dos velhos bolachões, estão os discos inaugurais das carreiras de Chico Buarque e Elis Regina.
A caixinha de Elis vem com seus dois primeiros discos, de 1961 e 1962, quando a futura estrela nacional era conhecida apenas no Rio Grande do Sul. Já a de Chico, com três álbuns lançados originalmente entre 1966 e 1968, revela um compositor um tanto promissor. As caixas são vendidas por cerca de 40 reais cada, preço razoável se comparado ao que se cobra pelos últimos lançamentos.
Outra reedição oportuna, da gravadora Universal, é a discografia completa dos Mutantes, fora de catálogo desde 1992. Já não era sem tempo. (RC)
O septeto baseado em Maceió e no Rio estréia em saboroso disco que reverencia o samba com sonoridade contemporânea.
O projeto reúne 18 músicos para dar tratamento diferenciado ao frevo. Repleto de improvisações, remete ao jazz.
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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Ritmo e Poesia
Fogo no Pavio - GOG
Este é o vídeo clipe da música Fogo no Pavio, do rapper GOG, um dos rappers mais engajados do Brasil e um dos primeiros a usar bases e samplers de música brasileira. Leia mais sobre esse assunto aqui.
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Marcadores: Videoclipe
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
Johnny Alf hospitalizado
Músico Johnny Alf é internado em São Paulo
da Folha Online
O cantor, compositor e pianista Johnny Alf, 77, considerado um dos precursores da bossa nova, foi internado nesta terça-feira no Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, em São Paulo. A assessoria de imprensa da instituição disse que detalhes sobre o quadro de saúde de Alf seriam divulgados mais tarde.
Como precursor da bossa nova --são 53 de carreira e 47 dedicados ao gênero--, Johnny Alf é aclamado por grandes nomes do movimento, como João Gilberto e Dolores Duran.
Com formação de piano clássico na adolescência, Alf se profissionalizou na noite de Copacabana, em que conheceu e tornou-se amigo de Dolores Duran, João Gilberto e João Donato.
O músico rapidamente tornou-se um nome lendário --suas temporadas na primeira metade dos anos 50 reuniam na platéia ouvintes como Tom Jobim, Sylvia Telles, Baden Powell, Roberto Menescal e Alaíde Costa, entre outros.
Com influências jazzísticas de George Shearing, Cole Porter e Nat King Cole, o piano de Alf influencia legiões de cantores e pianistas não só no Brasil, mas em todo o mundo. "Eu ouvia muito Sarah Vaughan e Nat King Cole, cantava muito o repertório deles na boate. Aí, aprendi a usar o jazz como cobertura na minha música", disse ele à Folha no início de 2006.
Nascido Alfredo José da Silva, no Rio, Johnny Alf veio morar em São Paulo em 1955, onde vive até hoje. Em mais de cinco décadas de carreira, criou célebres composições como "Rapaz de Bem" e "Eu e a Brisa", sua canção mais famosa.
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domingo, 11 de fevereiro de 2007
O Mundo Segundo Mautner
Jorge Mautner, o grande artista do Kaos
Ex-membro do PCB e um remanescente do Tropicalismo, Jorge Mautner é o criador de canções como “Maracatu Atômico” e “Lágrima Negra”, além de gravar um álbum com Caetano Veloso chamado “Eu não Peço Desculpa” e ter dez livros publicados.
por Rafael Sampaio – Carta Maior
RIO DE JANEIRO - Henrique George Mautner, mais conhecido como Jorge Mautner, iniciou sua carreira artística em 1958, quase por acaso. “Fui artisticamente descoberto na Revista Diálogo, onde textos meus foram publicados por Paulo Bonfim, Guilherme de Almeida e pelo filósofo Vicente Ferreira da Silva”, afirma ele, em entrevista à Carta Maior concedida durante a Bienal de Arte e Cultura da UNE.
“Filiei-me ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1963 e publiquei minha saudação a Brasília, que é o livro Kaos. Antes mesmo da cidade estar pronta, estive por lá, em 1958 e 1959”, afirma Mautner, que segue como um dos mais vigorosos artistas de sua época.
Premiado com o Jabuti de Revelação Literária, em 1962, pelo livro Dança da Chuva e da Morte, Mautner participou do Tropicalismo, movimento artístico tupiniquim capitaneado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Gal Costa, entre outros. Conhecido pela alcunha de “artista maldito”, Mautner inspirou-se nos hippies e no movimento beatnik para criar, escrever e compor.
Autor de dez livros, como Kaos (1963), Narciso em Tarde Cinza (1965), Vigarista Jorge (1965), Fragmentos de Sabonete (1973), Sexo do Crepúsculo (1982) e Floresta Verde Esmeralda (2002), Mautner ainda é poeta, cartunista, violinista, pianista, compositor, artista plástico, cineasta e cantor. Há três meses, ele lançou uma autobiografia, chamada O Filho do Holocausto, na qual conta detalhes de sua vida que até então permaneceram obscuros.
Seu lado mais famoso é o de compositor musical. Mautner é considerado um dos mais gravados compositores em vida no Brasil. Dentre as suas criações, estão as músicas Lágrimas Negras, gravada por Gal Costa; O Rouxinol e Herói das Estrelas, gravadas por Gilberto Gil; e também Maracatu Atômico, que fez história na década de 70 e retornou como sucesso retumbante na voz e na ginga de Chico Science, morto há exatos dez anos em um acidente automobilístico.
Dentre tantas criações de Jorge Mautner, encontra-se o filme O Demiurgo, considerado por Glauber Rocha como “o melhor filme já feito sobre o exílio”. Gravada em Londres em 1970, esta película reúne diversos artistas expulsos do país, como Jards Macalé, Dedé Veloso, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Leilah Assunção, Roberto Aguilar, Sandra Gadelha e o próprio Mautner, em uma trama chamada pelo artista de “chanchada filosófica”.
Hoje, Mautner mantém o Pontão da Cultura do Kaos, que já visitou 22 pontos em cinco estados do país (São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Norte). As apresentações performáticas de Mautner e Jacobina, montadas com causos, poesias e canções, abordam temas históricos que inspiram novos olhares sobre o mundo. No próximo dia 10 e fevereiro, fará a primeira apresentação do Pontão de Cultura do Kaos de 2007. O evento, aberto ao público, acontecerá às 15h no Instituto Pensarte (Alameda Nothamnn, 1029), e terá a participação do maestro Jacobina e do músico Jean Kuperman.
Leia aqui a entrevista exclusiva que Mautner concedeu à Carta Maior
Carta Maior - O que você acha que está sendo feito de mais importante, em termos de cultura afro-brasileira, no Brasil? Jorge Mautner - A cultura afro-brasileira inaugurou, desde uma nova possibilidade de mundo, uma nova visão, que é algo além da mistura e da miscigenação. É um amálgama, nas palavras de Jorge Caldeira [autor do livro Noel Rosa, de Costas para o Mar], que não foi só feito com a independência de José Bonifácio em 1823, mas foi muito mais. O amálgama brasileiro é reinterpretado a toda hora. E existe uma absorção dos elementos que compõem esta alquimia, sejam eles indígenas, negros, europeus. Os bantos [grupo étnico africano] logo se misturaram com os índios e inventaram o Cururu [dança típica do Mato Grosso, organizada nas festas de São Benedito], o Cateretê ou Catira [típico do interior de São Paulo e Minas Gerais], e também esse amálgama criou a nossa viola caipira, e o nosso samba, que é antiqüíssimo. É bom lembrar a obra artística maravilhosa de Abdias Nascimento, que foi homenageado aqui, na Bienal da UNE. E também lembrar que a cultura negra invade tudo. O que é o Rock n’ Roll? O que é Rhythm and Blues? Veja você: o próprio Pavarotti quer cantar com o Caetano Veloso. Então, hoje em dia, a cultura negra tem uma abrangência enorme. A nossa música, assim como o futebol, tem ginga afro-brasileira. É a manha e a artimanha, e isso me lembra a capoeira, que é uma arte marcial inacreditável. Muita gente acha que a capoeira é só música e luta, mas não. Há uma linguagem simultânea, tríplice, que mistura a brincadeira, a dança, e a luta também. Ou seja: quando hoje se fala em multiplicidade, em simultaneidade, no mundo digital e quântico, basta olhar para a nossa cultura e vamos ver que isso já existe há muito tempo. Nossa cultura renova-se sempre, apesar de ter raízes antigas. Veja o hip-hop, o funk e o rap. Quero lembrar, inclusive, que o rap é literatura. Se a letra foi abandonada em outros estilos musicais, como a música eletrônica, com o rap a letra ganha importância. A letra está ligada às crises sociais, mas também às crises existenciais. Não existe mais essa separação do gênero musical, como quando comecei minha carreira: “eu faço letra de música social” ou “eu produzo música individual”, não, hoje em dia tudo está amalgamado, e o melhor, que é com clareza total. O Brasil é um gigante que se fingiu de invisível até agora. Mas não dá mais. Ou o mundo brasilifica-se, ou vira nazista. Nós somos a chave para compreender o futuro. Não é só o futebol, a música, as artes... É como já disse: “Jesus de Nazaré, os tambores de candomblé”. Na França, de onde vem a nata da realeza da Filosofia mundial, há um grupo de jovens que lançarão um livro chamado Teoria Rebelião conosco [do Ponto de Cultura do Kaos]. Estes jovens se intitulam “Os Sem-Filosofia” e estão desesperados com a situação mundial. Eles pedem auxílio aos artistas e intelectuais brasileiros para acabar com a terrível “compartimentação do conhecimento” que vitimou os europeus. CM - O que dizer do maestro Julio Medaglia [criador do arranjo musical de “Tropicália”, canção de Caetano Veloso], que considera o hip-hop e o rap como “anti-música” por não haver melodia, apenas um ritmo monocórdico? JM – Acho estranho, porque o funk, o rap e o hip-hop são de uma grande sofisticação, porque vão além da música tradicional. Tudo no Brasil começou como o mangue beat, que reúne a dissonância da música eletrônica e o ritmo dos tambores recifenses. Agora, pense: o rock quando surgiu era considerado pecado, considerado subversivo, mas nunca deixou de ser ouvido pelas pessoas. Indo além: o próprio samba era proibido pelo governo federal, até o início do Estado Novo, por ser altamente subversivo. Na década de 30, no Brasil, você poderia ouvir chorinho, lundu, modinha, mas o samba era um perigo. Está aí a origem do nome da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, “Deixa Falar”, da qual faz parte o músico Luiz Melodia e que hoje se chama Escola de Samba Estácio de Sá. CM – A propósito do tema “Deixa Falar”, você foi o primeiro artista brasileiro a ser exilado e um dos primeiros a ter sua obra censurada. Conte um pouco dessa época. JM - Eu fui artisticamente descoberto em 1958 na Revista Diálogo, onde textos meus foram publicados por Paulo Bonfim, Guilherme de Almeida e pelo filósofo Vicente Ferreira da Silva. Em 1962, recebi o prêmio Jabuti de Revelação Literária, com Deus da Chuva e da Morte. Eu conto tudo isso numa autobiografia recente, publicada pela editora Agir, chamada O Filho do Holocausto. Bom, em 1963, eu me filiei ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e publiquei Kaos com K, que para mim é uma saudação para Brasília. Antes mesmo de a cidade ficar pronta, estive por lá, em 1958 e 1959. Na época eu também escrevia uma coluna no jornal Última Hora, chamada de Bilhetes do Kaos. Um ano depois do golpe, em 1965, publiquei dois livros, Narciso em Tarde Cinza e o famoso Vigarista Jorge; por causa deles e por um disco com as músicas Radioatividade e Não, Não, Não eu fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Fui exilado para Nova York, depois para o México e depois fiquei sabendo que Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam em Londres. Lá, em 1969, eu os encontrei e filmei uma chanchada-filosófica chamada O Demiurgo, que tem vários artistas no elenco, incluindo os dois e eu mesmo. Caetano e Gil sempre quiseram voltar para o Brasil. Mas o comando da ditadura estava com os militares “linha-dura”, com [Garrastazu] Médici no poder. E os partidos não acreditavam que o regime estivesse chegando ao fim. Então a linha moderada do regime militar deu um sinal de que nós, artistas, poderíamos voltar para acelerar o processo de redemocratização. Então eu, Gil e Caetano chegamos ao Brasil em 1972. CM – Enquanto você esteve no exílio, o regime militar chegou a monitorar suas atividades? JM– Sim. Havia um sujeito que me procurava a toda hora, pedia meu endereço, e dizia ser meu fã, em Nova York. Eu recebia a visita do companheiro Roberto Schwartz, do PCB, uma vez por mês. Esqueci de dizer, mas fiz parte do Partidão por 30 anos. Bom, lá nos EUA, eu continuei minhas atividades políticas e reunia-me com os Panteras Negras, com os Students for a Democratic Society e outros grupos. A minha esposa, a Ruth, desconfiava desse sujeito que me seguia, ela dizia haver algo estranho. O sujeito disfarçava bem, porque conhecia a minha produção artística e também tinha uma “bagagem artístico-literária”. Anos depois, em 1985, eu já estava no Brasil e participei de um show no Rio de Janeiro. O tal sujeito foi me procurar no show para dizer: “Você lembra de mim? Naquela época, eu estava em missão pelo SNI [Serviço Nacional de Inteligência] e acabei virando seu fã”. Foi uma história engraçada. Além desse fato, eu sabia que havia espiões da ditadura seguindo de perto os passos de Gil e de Caetano, em Londres. CM – Como ex-militante do PCB, qual tua opinião sobre a pauta racial dentro da esquerda brasileira, nos anos 1960? Pergunto isso porque foi tema de um debate ocorrido aqui na Bienal da UNE. JM – O problema é o seguinte: a concepção do Partido era européia, e ele atuava no plano abstrato. Para o Partido, estas questões raciais eram alienadas. Não podia haver etnia, isto era coisa dos fascistas. Então, na esquerda, existia esse preconceito errado, que limitava a nossa atuação. Limitou a tal ponto que alguns setores da esquerda negavam o indivíduo e o desejo de prazer. Eu vou lembrar aqui o Leon Trotsky que, na véspera de sua morte, nos últimos escritos publicados no México, fez uma autocrítica. Ele assume que errou muito ao menosprezar a importância das etnias, do indivíduo, dos nacionalismos locais e das culturas. Acho que foi o grande erro dele, que era o mais abstrato e internacionalista de todos os revolucionários. Enfim, ele mesmo admitiu isso por escrito. Não tenho dúvidas de que o turbilhão existencialista, a realidade tão múltipla, a realidade aguda do ser humano, foi negada por tradição. É, de certa forma, uma herança do colonialismo. Existia esse favorecimento da erudição, do militante que é doutor e dos que não são doutores. Mas acho que tudo isso foi refeito no Brasil, de um jeito ou de outro. Porque aqui é a nação onde há o amálgama da predominância negra na sociedade, incluindo na esquerda. Aqui o candomblé foi reinventado e na África ele é imanentista, geográfico. Por uma genialidade, no Brasil, foram criados os arquétipos muito antes de Carl Gustav Jung [psicanalista suíço]. CM – Mautner, conte para nós sobre seus mais recentes projetos com os Pontos de Cultura. JM – Pois é, tem o Ponto de Cultura do Kaos, onde eu trabalho. E desde março do ano passado estou visitando vários Pontos pelo país todo, viajando para a Amazônia, para Brasília, para São Paulo, para Goiás, para Pernambuco, para Pirinópolis, para Natal... O primeiro Ponto de Cultura que visitei foi em Belém do Pará, para encontrar o mestre Verepeto, um ícone do carimbó [dança indígena surgida na Ilha de Marajó]. Depois fui para a pequena cidade de Abaetetuba [localizada no Pará], em que fiquei duas semanas para ver os remanescentes de quilombos. Visitei Pontos de Cultura na zona da mata do Recife, como o terreiro de Xambá [primeiro quilombo urbano de Pernambuco]. Trata-se da única casa de candomblé com uma memória histórica preservada, com lembranças das perseguições sofridas. Há até um museu, em um dos andares da casa. Também na zona da mata, eu conheci muito do maracatu. É impressionante o que você encontra pelo Brasil afora. Em São Paulo eu encontrei um Ponto de Cultura evangélico, cuja música tradicional é o reggae. Trata-se de uma novidade antropológica sem fronteiras. Neste lugar, Nelson [Jacobina] e eu tocamos música de candomblé, de umbanda, e todos os presentes nos acompanharam e cantaram. Cada Ponto de Cultura vai além da imaginação, o entusiasmo é total e o amor pelo Brasil é absoluto, mas não é xenófobo, é de um otimismo inacreditável. Fonte: Agência Carta Maior Foto: divulgação (www.jorgemautner.com.br) |
*Outros viram, participação de Gilberto Gil
Estilhaços da paixão (ouça no YouTube)
*Não foi possível ouvir no Internet Explorer, a recomendação é o navegador Opera
As canções por Jorge Mautner
ESTILHAÇOS DE PAIXÃO (Jorge Mautner) Esta canção foi composta em l958. Ela é também uma canção de amor, porém muito atormentada e com saudades precoces de um tempo que "passa depressa demais", é interpretada por mim e por Caetano. Quando a ouço, ou interpreto, ela representa para mim uma saudade em chamas e labaredas de lembranças eternas que me ressuscitam a cada instante. A presença de Caetano a tornou sublime e irresvalável!
OUTROS VIRAM (Gilberto Gil-Jorge Mautner) Esta canção é o cerne poético-filosófico deste disco, celebra a grande importância do Brasil e sua cultura para o mundo. Foi composto em Araras na mesma época em que compusemos "Os Pais". Uma canção é irmã da outra. Aqui celebra-se em tom de plenitude e Graça Divina,o país-continente chamado Brasil,aonde " Humanidade vem renascer..." Foi com muita emoção que a compusemos,eu e Gil,sob noites estreladas da serra.na companhia de sua maravilhosa família,e de sua esposa Flora Gil. Ela nos remete para um neo-Ary Barroso,neo-Assis Valente,as citações proféticas de Whalt Withman, Rabindranath Tagore,são impressionantes por sua veemência e veracidade. É a saudação da amálgama, esta amálgama que no dizer de José Bonifácio em l823 nos diferencia de todos os demais paises. Fala no deslumbramento e admiração que esta amálgama produziu em Theodore Roosevelt e que ele identificou com o melting pot e de como a considerou como sendo de máxima urgência a sua adoção pelos USA, esta miscigenação, amálgama, mistura, melting-pot. Gil a interpreta com majestade democrática, com o enaltecimento e a exaltação que vem como carinhos sem fim brotando lá do fundo do coração!
OS PAIS (Gilberto Gil-Jorge Mautner) Essa canção foi composta por mim e por Gil, tanto a letra quanto a melodia, entre o Natal de 2005 e a festa do ano novo de 2006 em Araras. Ela reflete o ponto central da angústia das decisões: maior liberdade, ou maior repressão?
Fonte: www.jorgemautner.com.br
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sábado, 10 de fevereiro de 2007
Curta-Metragem sobre o Manguebeat
Diretor Bidu Queiroz, Cláudio Barroso
Ano 2004
Duração 17 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil
O Mundo é uma Cabeça
Fotografia Paulo Jacinto Reis (Feijão) Roteiro Cláudio Barroso, Bidu Queiroz Empresa produtora Beluga Produções, Truques Cinematográficos, Neander Filmes Edição de som Carlos Cox Montagem João Maria Araújo Trilha Sonora Chico Science, Otto, Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio, Ortinho
Prêmios
Os 10 Mais - Escolha do Público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005Prêmio Cachaça Cinema Clube no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005Prêmio Unibanco de Cinema no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005
Festivais
Cine PE 2005
Assista mais curtas em OutroCine - mostra permanente de cinema
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Marcadores: Curta-metragem
Augusto dos Anjos
Baixe ou leia o livro completo Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos, o poeta da podridão.
Eu e Outras Poesia - arquivo em PDF
ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1998.
Veja o texto integral |
Eu e Outras Poesias Augusto dos Anjos MONÓLOGO DE UMA SOMBRA “Sou uma Sombra! Venho de outras eras, A simbiose das coisas me equilibra. Pairando acima dos mundanos tetos, Na existência social, possuo uma arma Como um pouco de saliva quotidiana Tal qual quem para o próprio túmulo olha, Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias, Quis compreender, quebrando estéreis normas, E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes, Tal a finalidade dos estames! Será calor, causa ubíqua de gozo, E o que ele foi: clavículas, abdômen, A desarrumação dos intestinos É uma trágica festa emocionante! E foi então para isto que esse doudo Estoutro agora é o sátiro peralta Brancas bacantes bêbadas o beijam. No horror de sua anômala nevrose, Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda. Mas muitas vezes, quando a noite avança, Cresce-lhe a intracefálica tortura, É o despertar de um povo subterrâneo! As alucinações tácteis pululam. Míngua-se o combustível da lanterna Ah! Dentro de toda a alma existe a prova Provo desta maneira ao mundo odiento Continua o martírio das criaturas: Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos, Era a elegia panteísta do Universo, E o turbilhão de tais fonemas acres AGONIA DE UM FILÓSOFO Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto Assisto agora à morte de um inseto!... No hierático areópago heterogêneo Rasgo dos mundos o velário espesso; O MORCEGO Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. “Vou mandar levantar outra parede...” Pego de um pau. Esforços faço. Chego A Consciência Humana é este morcego! PSICOLOGIA DE UM VENCIDO Eu, filho do carbono e do amoníaco, Produndissimamente hipocondríaco, Já o verme -- este operário das ruínas -- Anda a espreitar meus olhos para roê-los, A IDÉIA De onde ela vem?! De que matéria bruta Vem da psicogenética e alta luta Vem do encéfalo absconso que a constringe, Quebra a força centrípeta que a amarra, O LÁZARO DA PÁTRIA Filho podre de antigos Goitacases, Todos os cinocéfalos vorazes Mostra aos montes e aos rígidos rochedos Riem as meretrizes no Cassino, IDEALIZAÇÃO DA HUMANIDADE FUTURA Rugia nos meus centros cerebrais Não sei que livro, em letras garrafais, Como quem esmigalha protozoários E, em vez de achar a luz que os Céus inflama, SONETO Ao meu primeiro filho nascido Agregado infeliz de sangue e cal, Que poder embriológico fatal Porção de minha plásmica substância, Ah! Possas tu dormir, feto esquecido, VERSOS A UM CÃO Que força pôde adstrita e embriões informes, Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes, Cão! -- Alma do inferior rapsodo errante! E irás assim, pelos séculos adiante, O DEUS-VERME Fator universal do transformismo. Jamais emprega o acérrimo exorcismo Almoça a podridão das drupas agras, Ah! Para ele é que a carne podre fica, DEBAIXO DO TAMARINDO No tempo de meu Pai, sob estes galhos, Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos, Quando pararem todos os relógios Voltando à pátria da homogeneidade, AS CISMAS DO DESTINO I Recife, Ponte Buarque de Macedo. Na austera abóbada alta o fósforo alvo Lembro-me bem. A ponte era comprida, A noite fecundava o ovo dos vícios Tal uma horda feroz de cães famintos, Era como se, na alma da cidade, E aprofundando o raciocínio obscuro, Livres de microscópios e escalpelos, Mas, a irritar-me os globos oculares, Mostravam-me o apriorismo incognoscível A corrente atmosférica mais forte Ninguém compreendia o meu soluço, A vingança dos mundos astronômicos Ah! Com certeza, Deus me castigava! Mas o vento cessara por instantes É bem possível que eu umdia cegue. Essa obsessão cromática me abate. Quisera qualquer coisa provisória Na ascensão barométrica da calma, E o cuspo que essa hereditária tosse Não! Não era o meu cuspo, com certeza Era antes uma tosse ubíqua, estranha, E a saliva daqueles infelizes Na alta alucinação de minhas cismas Chegou-me o estado máximo da mágoa! Cuspo, cujas caudais meus beiços regam, Escarrar de um abismo noutro abismo, Porque, se no orbe oval que os meus pés tocam II Foi no horror dessa noite tão funérea Os esqueletos desarticulados, Todas as divindades malfazejas, Nessa hora de monólogos sublimes, Perpetravam-se os atos mais funestos, Ninguém, de certo, estava ali, a espiar-me, Em tudo, então, meus olhos distinguiram Ser cachorro! Ganir incompreendidos Despir a putrescível forma tosca, A alma dos animais! Pego-a, distingo-a, Surpreendo-a em quatrilhões de corpos vivos, Tempo viria, em que, daquele horrendo Nessa época que os sábios não ensinam, Almas pigméias! Deus subjuga-as, cinge-as Era a revolta trágica dos tipos Todos os personagens da tragédia, A planta que a canícula ígnea torra, Os protistas e o obscuro acervo rijo E apesar de já não ser assim tão tarde, Mas, refletindo, a sós, sobre o meu caso A hipótese genial do microzima Nas agonias do delirium-tremens , Enterravam as mãos dentro das goelas, Iam depois dormir nos lupanares Fabricavam destarte os bastodermas, Prostituição ou outro qualquer nome, Por que há de haver aqui tantos enterros? Quantas moças que o túmulo reclama! Morte, ponto final da última cena, Diante de ti, nas catedrais mais ricas, E eu desejava ter, numa ânsia rara, Era um sonho ladrão de submergir-me Nisto, pior que o remorso do assassino, III “Homem! por mais que a Idéia deintegres, Em vão, com a bronca enxada árdega, sondas Negro e sem fim é esse em que te mergulhas Porque, para que a Dor perscrutes, fora A universal complexidade é que Ela Ah! Como o ar imortal a Dor não finda! Como o machucamento das insônias A diáfana água alvíssima e a hórrida áscua As rebeladas cóleras que rugem O orbe feraz que bastos jojos acres Os sanguinolentíssimos chicotes O Amor e a Fome, a fera ultriz que o fojo As pálpebras inchadas na vigília, O trem particular que um corpo arrasta A água arbitrária que hiulcos caules grossos As projeções flamívomas que ofuscam, O antagonismo de Tífon e Osíris, Os terremotos que, abalando os solos, O instinto de procriar, a ânsia legítima As diferenciações que o psicoplasma E, (conquanto contra isto ódios regougues) Tudo isto que o terráqueo abismo encerra Por descobrir tudo isso, embalde cansas! Poeta, feito malsão, criado com os sucos Última das criaturasinferiores O áspero mal que a tudo, em torno, trazes, Ah! Por mais que, com o espírito, trabalhes O Espaço -- esta abstração spencereana As radiantes elipses que as estrelas Em vão, com a mão corrupta, outro éter pedes A fadiga feroz que te esbordoa Nem terás no trabalho que tiveste Quando chegar depois a hora tranqüila, Um dia comparado com um milênio Adeus! Fica-te aí, com o abdômen largo IV Calou-se a voz. A noite era funesta. Maldizia, com apóstrofes veementes, Minha imaginação atormentada Secara a clorofila das lavouras. O mundo resignava-se invertido O Estado, a Associação, os Municípios Eu queria correr, ir para o inferno, Mas a Terra negava-me o equilíbrio... BUDISMO MODERNO Tome, Dr., esta tesoura, e...corte Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Dissolva-se, portanto, minha vida Mas o agregado abstrato das saudades SONHO DE UM MONISTA Eu e o esqueleto esquálido de Esquilo A verdade espantosa do Protilo E eu bendizia, com o esqueleto ao lado, Como um pagão no altar de Proserpina, SOLITÁRIO Como um fantasma que se refugia Fazia frio e o frio que fazia Mas tu não vieste ver minha Desgraça! Levando apenas na tumba carcaça MATER ORIGINALIS Forma vermicular desconhecida O hierofante que leu a minha sina Nenhuma ignota união ou nenhum sexo Ah! De ti foi que, autônoma e sem normas, O LUPANAR Ah! Por que monstruosíssimo motivo Este lugar, moços do mundo, vede: É o afrodístico leito do hetairismo Quando a promiscuidade aterradora IDEALISMO Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! O amor! Quando virei por fim a amá-lo?! Pois é mister que, para o amor sagrado, E haja só amizade verdadeira ÚLTIMO CREDO Como ama o homem adúltero o adultério É o transcendentalíssimo mistério! Creio, como o filósofo mais crente, Creio, perante a evolução imensa, O CAIXÃO FANTÁSTICO Célere ia o caixão, e, nele, inclusas, Nesse caixão iam, talvez as Musas, A energia monística do Mundo, Era tarde! Fazia muito frio. SOLILÓQUIO DE UM VISIONÁRIO Para desvirginar o labirinto A digestão desse manjar funéreo Vestido de hidrogênio incandescente, subi talvez às máximas alturas, A UM CARNEIRO MORTO Misericordiosíssimo carneiro Maldito seja o mercador vadio Quando a faca rangeu no teu pescoço, Oh! tu que no Perdão eu simbolizo, VOZES DA MORTE Agora sim! Vamos morrer, reunidos, Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos! Não morrerão, porém, tuas sementes! Na multiplicidade dos teus ramos, INSÂNIA DE UM SIMPLES Em cismas patológicas insanas, Ser semelhante aos zoófitos e às lianas, E enquanto arremedando Éolo iracundo, Apraz-me, adstrito ao triângulo mesquinho OS DOENTES I Como uma cascavel que se enroscava, Mordia-me a obsessão má de que havia, Tentava compreender com as conceptivas E via em mim, coberto de desgraças, II Minha angústia feroz não tinha nome. Convulso, o vento entoava um pseudosalmo. Caíam sobre os meus centros nervosos, Pensava! E em que eu pensava, não perguntes! Bruto, de errante rio, alto e hórrido, o urro Gordo adubo de agreste urtiga brava, A manga, a ameixa, a amêndoa, a abóbora, o álamo Nos de teu curso desobstruídos trilhos, Ah! Somente eu compreendo, satisfeito, O vento continuava sem cansaço Meu ser estacionava, olhando os campos III Dormia embaixo, com a promíscua véstia Feriam-me o nervo óptico e a retina Da degenerescência étnica do Ária OH! desespero das pessoas tísicas, Estas, por mais que os cardos grandes rocem Descender dos macacos catarríneos, Sentir, adstritos ao quimiotropismo Falar somente uma linguagem rouca. Expulsar, aos bocados, a existência Querer dizer a angústia de que é pábulo Não haver terapêutica que arranque E o ar fugindo e a Morte a arca da tumba Mas vos não lamenteis, magras mulheres, Antes levardes ainda uma quimera Porque a morte, resfriando-vos o rosto, IV Começara a chover. Pelas algentes Do fundo do meu trágico destino, Aquele ruído obscuro de gagueira Aturdia-me a tétrica miragem A civilização entrou na taba E o índio, por fim, adstrito à étnica escória, Como quem analisa uma apostema, Ah! Tudo, como um lúgubre ciclone, E sentia-se pior que um vagabundo A hereditariedade dessa pecha Veio-lhe então como à fêmea vêm antojos. Mas, diante a xantocróide raça loura, Em vez da prisca tribo e indiana tropa V Era a hora em que arrastados pelos ventos, As mães sem coração rogavam pragas Diabólica dinâmica daninha Perfurava-me o peito a áspera pua Hereditariedades politípicas Todos os vocativos dos blasfemos, Como que havia na ânsia de conforto Naquela angústia absurda e tragicômica E, como um homem doido que se enforca, Vinha, às vezes, porém, o anelo instável Anelava ficar um dia, em suma, Era (nem sei em síntese o que diga) Com o horror tradicional da raiva corsa A pragmática má de humanos usos Não me incomoda esse último abandono A vida vem do éter que se condensa Eu voltarei, cansado, da árdua liça Quando eu for misturar-me com as violetas VI À álgida agulha, agora, alva, a saraiva Mas, para além, entre oscilantes chamas, Uma, ignóbil, derreada de cansaço, E ensangüentava os dedos da mão nívea De certo, a perversão de que era presa Entanto, virgem fostes, e, quando o éreis, Ah! Certamente não havia ainda Talvez tivésseis fome, e as mãos, embalde, E estais velha! -- De vós o mundo é farto, prometem-vos (quem sabe?!) entre os ciprestes VII Quase todos os lutos conjugados, Dentro da noite funda um braço humano Atabalhoadamente pelos becos, Cismava no propósito funéreo E esfregando as mãos magras, eu, inquieto, Regougando, porém, argots e aljâmias, A estática fatal das paixões cegas, E a ébria turba que escaras sujas masca, O ar ambiente cheirava a ácido acético, Saliências polimórficas vermelhas, O fácies do morfético assombrava! Era todo o meu sonho, assim inchado, VIII Em torno a mim, nesta hora, estriges voam, Quanta gente, roubada à humana coorte E nua, após baixar ao caos budista, Que resta das cabeças que pensaram?! Os evolucionistas benfeitores Os defuntos então me ofereciam É possível que o estômago se afoite Com uma ilimitadíssima tristeza, E hirto, a camisa suada, a alma aos arrancos, Pisando, como quem salta, entre fardos, Eu maldizia o deus de mãos nefandas Na evolução de minha dor grotesca, Manhã. E eis-me a absorver a luz de fora, Nunca mais as goteiras cairiam Do meu cérebro à absconsa tábua rasa Era a volúpia fúnebre que os ossos IX O inventário do que eu já tinha sido O gênio procriador da espécie eterna E arrancara milhares de existências No céu calamitoso de vingança A ruína vinha horrenda e deletéria Contra a Arte, oh! Morte, em vão teu ódio exerces! A doença era geral, tudo a extenuar-se O prodromos de um tétano medonho Entre as formas decrépitas do povo, O letargo larvário da cidade E eu, com os pés atolados no Nirvana, ASA DE CORVO Asa de corvos carniceiros, asa Perseguido por todos os reveses, É com essa asa que eu faço este soneto É ainda com essa asa extraordinária UMA NOITE NO CAIRO Noite no Egito. O céu claro e produndo Os mastins negros vão ladrando à lua... O Egito é sempre assim quando anoitece! Como um contraste àqueles mesereres, Tonto do vinho, um saltimbanco da Ásia, Em derredor duma ampla mesa preta Resplandece a celeste superfície. Vaga no espaço um silfo solitário. O MARTÍRIO DO ARTISTA Arte ingrata! E conquanto, em desalento, Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda! Tenta chorar e os olhos sente enxutos!... Febre de em vão falar, com os dedos brutos DUAS ESTROFES (À memória de João de Deus) Ahi! ciechi! il tanto affaticar che giova? A queda do teu lírico arrabil A água quieta do Tejo te abençoa. “Olha agora, mamífero inferior, “Ah! Jamais saberás ser superior, “Rasgue a água hórrida a nau árdega e singre-me!” E Augusto, o Hércules, o Homem, aos soluços, DECADÊNCIA Iguais às linhas perpendiculares A frialdade dos círculos polares, Como quem quebra o objeto mais querido Ele hoje vê que, após tudo perdido, RICORDANZA DELLA MIA GIOVENTÚ A minha ama-de-leite Guilhermina Minha ama, então, hipócrita, afetava Vejo, entretanto, agora, em minha cama, Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama, A UM MASCARADO Rasga essa máscara ótima de seda Sem que te arranquem da garganta queda A sucessão de hebdômadas medonhas E tu mesmo, após a árdua e atra refrega, VOZES DE UM TÚMULO Morri! E a Terra -- a mãe comum -- o brilho Por que para este cemitério vim?! No ardor do sonho que o fronema exalta A pirâmide real do meu orgulho, CONTRASTES A antítese do novo e do obsoleto, O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto, Eu sei tudo isto mais do que o Eclesiastes! Às alegrias juntam-se as tristezas, GEMIDOS DE ARTE I Esta desilusão que me acabrunha Tenho estremecimentos indecisos Em giro e em redemoinho em mim caminham Os pães -- filhos legítimos dos trigos -- Ah! Por que desgraçada contingência Por que Jeová, maior do que Laplace, Pois minha Mãe tão cheia assim daqueles Quisera antes, mordendo glabros talos, Mas a carne é que é humana! A alma é divina. Ser homem! escapar de ser aborto! E por trezentos e sessenta dias Barulho de mandíbulas e abdômens! Soberano desejo! Soberana Uma região sem nódoas e sem lixos, Outras constelações e outros espaços II O sol agora é de um fulgor compacto, Reúnam-se em rebelião ardente e acesa O sol de cima espiando a flora moça Avisto o vulto das sombrias granjas Ladra furiosa a tribo dos podengos. Um pássaro alvo artífice da teia Em grandes semicírculos aduncos, Os ventos vagabundos batem, bolem A câmara nupcial de cada ovário Eu, depois de morrer, depois de tanta III Pelo acidentalíssimo caminho Uma atmosfera má de incômoda hulha Não sei que subterrânea e atra voz rouca, Todas as tardes a esta casa venho. Nos outros tempos e nas outras eras, Na bruta dispersão de vítreos cacos, O cupim negro broca o âmago fino O lodo obscuro trepa-se nas portas. Fico a pensar no Espírito disperso E assim pensando, com a cabeça em brasas Gosto do sol ignívomo e iracundo Essa alegria imaterializada, Não são os cinco mil milhões de francos Seja este sol meu último consolo; Tudo enfim a mesma órbita percorre Súbito, arrebentando a horrenda calma, Sol brasileiro! queima-me os destroços! VERSOS DE AMOR A um poeta erótico Parece muito doce aquela cana. Quis saber que era o amor, por experiência, Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo Oposto ideal ao meu ideal conservas. Porque o amor, tal como eu o estou amando, É a transubstanciação de instintos rudes, Para reproduzir tal sentimento Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo Para que, enfim, chegando à última calma SONETOS I A meu pai doente Para onde fores, Pai, para onde fores, Que coisa triste! O campo tão sem flores, Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria, -- Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim II A meu pai morto Madrugada de Treze de Janeiro, E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro! E saí para ver a Natureza! Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas, III Podre meu Pai! A morte o olhar lhe vidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Amo meu Pai na atômica desordem DEPOIS DA ORGIA O prazer que na orgia a hetaíra goza Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa, Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia Semelhante a um cachorro de atalaia A ÁRVORE DA SERRA -- As árvores, meu filho, não têm alma! -- Meu pai, por que sua ira não se acalma?! -- Disse -- e ajoelhou-se, numa rogativa: Caiu aos golpes do machado bronco, VENCIDO No auge de atordoadora e ávida sanha Acometido de uma febre estranha Desceu depois à gleba mais bastarda, E ao vir-lhe o cuspo diário à boca fria O CORRUPIÃO Escaveirado corrupião idiota, Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota A gaiola aboliu tua vontade. Continua a comer teu milho alpiste. NOITE DE UM VISIONÁRIO Número cento e três. Rua Direita. -- “Que esta alucinação tátil não cresça!” É a potencialidade que me eleva Depois de dezesseis anos de estudo Mas a aguadilha pútrida o ombro inerme Arimânico gênio destrutivo E eu sí a tremer com a língua grossa Perante o inexorável céu aceso A essa hora, nas telúrias reservas, E não haver quem, íntegra, lhe entregue, Bolia nos obscuros labirintos As vegetalidades subalternas E no estrume fresquíssimo da gleba E todas essas formas que Deus lança A cidade exalava um podre béfio: O motor teleológico da Vida A química feroz do cemitério Dedos denunciadores escreviam Um necrófilo mau forçava as lousas ALUCINAÇÃO À BEIRA-MAR Um medo de morrer meus pés esfriava. Eu, ególatra céptico, cismava Mas a alga usufrutuária dos oceanos No eterno horror das convulsões marítimas VANDALISMO Meu coração tem catedrais imensas, Na ogiva fúlgida e nas colunatas Com os velhos Templários medievais E erguendo os gládios e brandindo as hastas, VERSOS ÍNTIMOS Vês! Ninguém assistiu ao formidável Acostuma-te à lama que te espera! Toma um fósforo. Acende teu cigarro! Se a alguém causa inda pena a tua chaga, VENCEDOR Toma as espadas rútilas, guerreiro, Não podes?! Chama então presto o primeiro Meu coração triunfava nas arenas. Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem... A ILHA DE CIPANGO Estou sozinho! A estrada se desdobra A agonia do sol vai ter começo! tenho alucinações de toda a sorte... Os olhos volvo para o céu divino Soa o rumor fatídico dos ventos, Mas de repente, num enleio doce, Foi nessa ilha encantada de Cipango, Lembro-me bem. Nesse maldito dia Gozei numa hora séculos de afagos, Desde então para cá fiquei sombrioi! Invoco os Deuses salvadores do erro. E a treva ocupa toda a estrada longa... MATER Como a crisálida emergindo do ovo E puseste-lhe, haurindo amplo deleite, Com que avidez ele essa fonte suga! Pois, quanto a mim, sem pretensões, comparo, Mas o ramo fragílimo e venusto Clara, a atmosfera se encherá de aromas, Quando chegar depois tua velhice POEMA NEGRO A Santos Neto Para iludir minha desgraça, estudo. A passagem dos séculos me assombra. Em vão com o grito do meu peito impreco! É a Morte -- esta carnívora assanhada -- Nesta sombria análise das cousas, Surpreendo-me, sozinho, numa cova. E quando vi que aquilo vinha vindo Chegou a tua vez, oh! Natureza! Tu não és minha mãe, velha nefasta! Semeadora terrível de defuntod, Pois bem! Chegou minha hora de vingança. Súbito outra visão negra me espanta! Como as estalactites da caverna, Não há ninguém na estrada da Ripetta. A desagregação da minha Idéia Não! Jesus não morreu! Vive na serra Na agonia de tantos pesadelos Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme FIM |
Fonte Texto Integral: Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa
Fonte Arquivo PDF: Fundação Biblioteca Nacional
Postado por Música e Poesia BR às 11:37 0 comentários
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