segunda-feira, 28 de abril de 2008

Getz e Gilberto se estranharam em gravação de clássico da Bossa

Curiosidades que envolveram o antológico disco de Stan Getz e João Gilberto, publicado na coluna Você Sabia da revista Almanaque Brasil.

TROPEÇOS NA MELODIA

Em fins de 1962, músicos brasileiros apresentam a bossa-nova no Carnegie Hall, em Nova York. Dias depois, o produtor Creed Taylor, dono da gravadora Verve, acerta a gravação de um disco reunindo Tom Jobim, João Gilberto e o norte-americano Stan Getz, famoso saxofonista de jazz. No mesmo ano, Getz havia lançado Jazz Samba ao lado do guitarrista Charlie Byrd, que lhe apresentara o ritmo brasileiro.

A gravação de Getz/Gilberto levou dois dias: 18 e 19 de março de 1963, nos Estados Unidos. No disco com Byrd, o saxofonista gravara Samba de uma Nota Só, tropeçando feio na melodia do refrão. João e Tom tocaram a canção para mostrar-lhe como deveria ser, mas Getz continuava sem “pegá-la”. “Tom, diga a esse gringo que ele é um burro”, disse João. “Stan, o João está dizendo que o sonho dele sempre foi gravar com você”, repassou Jobim, em tradução livre. “Engraçado. Pelo tom de voz, não parece que é isto o que ele está dizendo...”, observou Getz.

Quanto mais aos sussurros João Gilberto queria cantar, mais Getz insistia em soprar como se tivesse foles gigantes no lugar de pulmões ou como se o microfone fosse surdo, descreve o escritor Ruy Castro. João Gilberto também acusou Getz de reequalizar o disco para deixar seu saxofone ainda mais evidente.

Mais um acontecimento fora dos planos: Astrud Gilberto, esposa de João, queria cantar Garota de Ipanema em inglês, dividindo a faixa com o marido, que cantaria em português. A experiência deu tão certo que Taylor pediu para repetirem a fórmula em Corcovado.
O disco ficou quase um ano na gaveta do dono da gravadora. A faixa escolhida para antecipar seu lançamento foi Garota de Ipanema. Como a gravação era um tanto longa para tocar nas rádios, Taylor simplesmente limou o vocal de João Gilberto. E foi um sucesso. A música puxou o disco, que vendeu milhões, levou prêmios Grammy e virou clássico da música mundial. (RC)


SAIBA MAIS
Chega de Saudade – A história e as histórias da Bossa Nova, de Ruy Castro (Companhia das Letras, 1990).


Fonte: AlmanaqueBrasil

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Corcovado - João Gilberto, Astrud Gilberto e Stan Getz

Astrud e Joao Gilberto/Stan Getz


Garota de Ipanema - João Gilberto, Tom Jobim, Astrud Gilberto e Stan Getz

2 comentários:

Anônimo disse...

Hehe... Que confusão!

De qualquer forma, esse disco é muito bom, e gosto muito do vocal da Astrud Gilberto!

E parabéns pelo blog!

Yerko Herrera disse...

Valeu Ronaldo!

Abração!