sábado, 31 de março de 2007

Animação em Flash: O Livro nos faz Viajar

O Livro







Sinopse: A aventura de ser um destemido herói através da leitura de fantásticos livros de ficção científica ... Ahn, nós falamos ficção ???
Direção: Diego Maclean
Tipo: Animação
Formato: Internet (Flash)
Ano Produção: 2001
Origem: Brasil (SP)
Cor / PB: cor
Duração: 2 min.

Animação: Diego Maclean
Música: Bojo

Contato: Diego Maclean
diegomaclean@aol.com http://members.tripod.com/diegoflics

Fonte: Curtagora

Reprodução
Finalmente! Os Racionais MC’s chegam ao DVD

por Dafne Sampaio

Anunciado há mais de dois anos e vítima de sucessivos atrasos desde dezembro de 2006, o primeiro DVD dos Racionais MC’s, 1000 trutas 1000 tretas (Cosa Nostra/Unimar, 2007), finalmente foi lançado e todas as (altas) expectativas foram devidamente atendidas. Afinal de contas, além de um excelente registro ao vivo, o disco traz também uma série de documentários que vão desde bastidores do show até um longa sobre a presença e a cultura negra na cidade de São Paulo desde o século 19 até os dias de hoje. Vai vendo...

O show traz 15 faixas muito bem gravadas em 2002, no Galpão do Brás (Centro de São Paulo), e 2004, no Sesc Itaquera (Zona Leste de São Paulo), onde o quarteto formado por Mano Brown, Ice Blue, Eddy Rock e o DJ KLJay mostra todo seu carisma e vigor no palco em interpretações de raps retirados dos discos Sobrevivendo no inferno (1998) e Nada como um dia após o outro dia (2002). Surgem assim versões arrepiantes de “Vida loka (parte 2)”, “Tô ouvindo alguém me chamar”, “Negro drama”, “Diário de um detento”, “Fórmula mágica da paz” e “Da ponte pra cá”, além da participação especial de Jorge Ben em “A benção mamãe, a benção papai”. O público, majoritariamente masculino, sabe todas as letras quilométricas de cor, pois suas histórias estão ali, em cima do palco, sendo cantadas sem meias palavras e com todas as cores. Mano Brown, porta-voz do grupo, clama pela auto-estima da periferia e chega aos corações de seu público ao afirmar que cada um pode trazer a revolução dentro de si. Os Racionais seguem transformadores, raivosos e inquietos, isso sem falar na sonoridade matadora de seu rap, entre o soul e o funk.

Como se não bastasse o impacto do primeiro registro em video do maior grupo de rap do Brasil, o DVD traz ainda, entre os extras, cinco documentários: dois são curtos e tratam dos bastidores do show e de uma gravação em estúdio, enquanto outros dois são de tamanho médio e falam da história do Capão Redondo (Zona Sul de São Paulo, morada de alguns integrantes do grupo) e das perambulações do quarteto na cidade, no Estado e até no exterior (Japão). Neste último surgem momentos reveladores, violentos, divertidos, etc. Mas a cereja do DVD é “O Documentário”, um longa dirigido por Mano Brown que traça um perfil histórico dos mais importantes sobre a cultura negra na cidade de São Paulo numa viagem que começa no século 19. Histórico é pouco, 1000 trutas 1000 tretas é para sempre.

p.s.: O DVD pode ser comprado no
MUBI.
Fonte: Gafieiras

sexta-feira, 30 de março de 2007

Yuka, o Poeta da Causa Social

Não se Preocupe Comigo - F.UR.T.O


Música da banda de Marcelo Yuka, Frente Urbana de Trabalhos Organizados (F.UR.T.O). Yuka, autor da maioria das letras d'O Rappa, foi mandado embora de sua antiga banda por Falcão e companhia. O importante é que Marcelo Yuka segue sendo um dos artistas mais influentes do Brasil e, com certeza, o mais ativo nas lutas dos movimentos socias. Não se Preocupe Comigo é dedicada a um primo de Yuka, Danilo Carvalho de Souza, desaparecido em 1999.

Video clipe da banda F.UR.T.O de Marcelo Yuka
Direção: Paulo Lins e Nobuki Ogata
Fotografia: Andre Horta
Elenco: Erick Maximiano Oliveira, Andrea Dantas, Sombrinha e TR

quinta-feira, 29 de março de 2007

Revista mostra diário secreto do Araguaia

Nova revista retratará a História do Brasil
Em edição de estréia, a revista Brasil História traz diário secreto do Araguaia e reproduz trechos de documento que ficou oculto por 30 anos.
Da Redação - Carta Maior

Chega às bancas um novo título de revista cujo assunto é a História, no caso, a do Brasil. Trata-se de Brasil História, lançada pela Duetto Editorial e conta com Cristiane Costa como editora-chefe. É uma revista mensal, com tiragem inicial de 30 mil exemplares, vendida em bancas e por assinatura, e pode também ser encontrada no site www.lojaduetto.com.br. O preço de capa é R$9,90.

Em sua primeira edição, a revista Brasil História traz à luz com exclusividade trechos de um diário que ficou oculto por três décadas. Escrito durante a Guerrilha do Araguaia pelo combatente-em-chefe Maurício Grabois (codinome Velho Mário), o documento revela um cotidiano duro em que doenças, privações e morte misturavam-se à luta pela revolução socialista no país.

Detalhes do Diário do Velho Mário são contados no artigo “Política, coragem e ódio nas selvas do Brasil” pelo jornalista Hugo Studart, que teve acesso à cópia do documento, preservada nos arquivos pessoais de um oficial do exército. Segundo Studart, os originais, provavelmente, teriam sido queimados em fins de 1974 por ordem do presidente Ernesto Geisel para ocultar os combates no Araguaia.

A edição de Brasil História traz, ainda, uma entrevista com o historiador Evaldo Cabral de Melo, irmão do poeta João Cabral de Mello Neto e primo do sociólogo Gilberto Freyre, autor de dez livros e um dos mais importantes pesquisadores da dominação holandesa em Pernambuco, no século XVII. Destaque também para o artigo que conta a história das ferrovias no Brasil, desde as primeiras locomotivas trazidas pelo Barão de Mauá, em meados do século XIX, até o processo de declínio ante o modelo rodoviário de transporte e a concessão das estradas de ferro públicas à iniciativa privada. Em outro artigo, Mary Del Priore traz uma rica pesquisa acerca das festas populares no Brasil Colonial.

Fonte: AgênciaCartaMaior

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Gravadora aposta num Futuro de Cultura Livre


Free Records, a gravadora que não vende discos

A gravadora Free Records faz hoje (quinta), a partir das 20h, em seu site (www.freerecords.com.br), o lançamento oficial de seu cast - que inclui os grupos Vento Motivo, Dr. Zero, Denny Caldeira & os Borbulhantes, Quatrocantos e Bigu Responsa. O diferencial prometido pelo selo está contido em seu slogan: "A primeira gravadora do Brasil que não vende música". Trabalhando com o conceito de licenciamento de direitos via Creative Commons (www.creativecommons.org.br), a Free Records coloca à disposição do público, para download gratuito, todas as músicas de seu catálogo. "A Free Records não é um portal de mp3, em que os artistas independentes podem disponibilizar livremente suas músicas. O casting da Free Records é rigorosamente selecionado com base em critérios artísticos. A gravadora custeia todo o processo de produção do disco, e trabalha na divulgação, sem que o artista precise desembolsar dinheiro algum", explica o texto de apresentação da iniciativa. O lançamento online vai contar com shows ao vivo, transmitidos via internet, dos artistas da gravadora e um chat no qual as bandas vão conversar com o público sobre a proposta do selo. O site da gravadora também tem um serviço de podcast enfocando os artistas do selo, que pode ser ouvido online ou baixado.


Fonte: JornalMusical

quarta-feira, 28 de março de 2007

Conheça o Criei, Tive Como

CRIEI, TIVE COMO! 2007

2º Festival Multimídia de Cultura Livre do Brasil reúne representantes de todo o país em Porto Alegre, entre os dias 12 e 14 de abril

Música, criação compartilhada, cinema, vídeos, programas de TV e de rádios comunitárias. Todas as artes digitais, produzidas com o software livre, farão parte do Criei, Tive Como! - Segundo Festival Multimídia de Cultura Livre do Brasil, que acontece entre os dias 12 e 14 de abril, em Porto Alegre, RS, simultaneamente ao 8º Fórum Internacional Software Livre (FISL 8.0), um dos maiores da área.

Mombojó e DJ Dolores no show de abertura

O show deste ano é de alto poder combustível. A festa, que acontece no dia 12 de abril, às 20h, no Teatro do Sesi, será embalada pelas guitarras, computadores e cavaquinhos da banda pernambucana Mombojó, uma das primeiras no país a aderir à tendência de se fazer música com produção e distribuição independentes, e a disponibilizar em seu site o download gratuito de suas criações, e arquivos de faixas sob a licença Creative Commons.

O DJ Dolores também apresentará sua fusão de música eletrônica com ritmos regionais do Nordeste. E, para completar, estarão no palco os DJs Lucio K, do Rio de Janeiro, e JC, da África do Sul, vencedores do primeiro concurso Overmix de música eletrônica, promovido pelo Overmixter, através do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV e do Overmundo, em parceria com o ccMixter/África do Sul. O ingresso é gratuito.

Inscrições prorrogadas para a mostra de filmes e vídeos

O festival terá ainda uma mostra de filmes e vídeos licenciados para livre distribuição, além de um estúdio onde serão produzidas entrevistas ao vivo para a TV Criei, Tive Como!. Programas ao vivo também serão veiculados por rádios comunitárias. A programação especial será do Cine Falcatrua, projeto de extensão universitária, organizado por alunos de diferentes cursos da Universidade Federal do Espírito Santo.

As inscrições para participar da mostra de vídeos foram prorrogadas até o dia 30 de março. Serão aceitos vídeos e filmes curta, média ou longa metragem, nos gêneros ficção, documentário, musical, animação e experimental. A chamada de trabalho pode ser encontrada no site http://www.softwarelivre.org/news/8808. À critério da organização da mostra, a programação também poderá ser disponibilizada na Internet. As obras devem ser enviadas para o email: videoctc@gmail.com

A mostra CRIEI, TIVE COMO! tem como principal objetivo consolidar um espaço de exibição e difusão da produção audiovisual livre das restrições do copyright tradicional. O curador do festival é o coordenador do Creative Commons no Brasil e do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Ronaldo Lemos. "O Criei, Tive Como! é um sintoma do quanto o software livre cresceu e está influenciando outras esferas sociais, como por exemplo, a cultura". O festival é uma realização da produtora Mil e Uma Imagens, em parceria com FISL, Creative Commons, Overmundo e Tangolomango, com patrocínio da Petrobras e apoio da Fundação Getúlio Vargas e do PACC (Programa Avançado de Cultura Contemporânea) da UFRJ.


Fonte: CreativeCommonsBR

Saci versus Harry Potter

'Escola de Sacis' contrapõe-se à Harry Potter
Livro infantil valoriza elementos fantásticos populares da cultura brasileira em contraposição à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, cenário das aventuras do bruxo britânico Harry Potter.
por Betania Libanio Dantas de Araujo

Não é de hoje que a luta pela identidade cultural brasileira passa pela discussão da valorização de nossos mitos fantásticos populares em contraposição às figuras lendárias e aos hábitos festivos estrangeiros. O exemplo mais bem acabado desta oposição talvez seja a adoção do dia 31 de outubro como o Dia do Saci e Seus Amigos, numa clara intenção de criar o contraponto de defesa da tradição cultural brasileira no mesmo dia em que é comemorada a festa estadunidense do Halloween, o Dia das Bruxas (leia mais), macaqueada em todo país por meio das escolas de idiomas e algumas escolas particulares de ensino regular.

Assim também, algumas publicações, desde os tempos em que Monteiro Lobato ainda fazia sucesso, ocupam-se do tema e da luta. É o caso do recente Escola de Sacis, de autoria de Djota Carvalho, lançado pela editora Dentro da Caixa Publicações e que traz, já na orelha, a seguinte afirmação: “Se você acha que magia é coisa de bruxo inglês, então está na hora de voltar para a escola!”, já anunciando um esforço de valorização do mito brasileiro em contraposição ao sucesso editorial e cinematográfico que se constituem as histórias de Harry Potter, o jovem bruxo que, criado pela autora inglesa J. K. Rowling, espalhou-se pelo planeta como sucesso incondicional junto aos públicos infanto-juvenil e adulto.

Djota Carvalho desconstrói a figura lendária do Saci-pererê e, numa bela ficção, atribui novos sentidos aos personagens lendários da nossa cultura popular ao passo que reconstitui os seus primeiros sentidos de origem. Um mérito imediato da obra é o de retirar os personagens lendários de seu estado de dicionário, ampliando a sua rede de atributos.

Samanta descobre aos 13 anos que é uma saci. Teleportada para o interior de um bambu, habitação sacízica, passa a viver e estudar numa escola de sacis. Certa vez, a escola é sabotada e a menina descobre o culpado. O livro usa e abusa de bom humor, criatividade e relaciona fatos do nosso dia-a-dia com o espaço da lenda.

Parodia Harry Potter destruindo os lugares-comuns do livro estrangeiro. Temos como heroína uma menina, brasileira, adotada, no meio do nosso universo brasileiro. Quando Samanta descobre que Saci-pererê pode ficar invisível pergunta se precisa usar capa. Mas logo descobre que, no Brasil, saci fica invisível por conta própria, capa só é usada por povos inferiores em magia.

Na mente altamente fértil de Djota, a imagem do Saci-pererê negro de uma perna só é um erro. No passado, Dito Babosa encontrou-se com Monteiro Lobato e, na tentativa de ficar invisível, só conseguiu invisibilizar uma perna. Dito Babosa é negro, mas na verdade existem sacis brancos, negros, loiros, orientais... numa deliciosa celebração à diversidade étnica e cultural.

O livro ilustrado por Bira Dantas traz ainda interessantes notas de rodapé com esclarecimentos sobre questões “técnicas” que dão ao leitor mais informações sobre o fictício mundo dos sacis. Para compor as notas, DJota não só criou livros de autores fictícios (ou nem tanto...) - como o gênio do marketing e curupira Duda Mão-de-Onça - , como também se apoderou de fatos reais que dão graça e verossimilhança à história. Desta forma, entre outras coisas, o leitor fica sabendo que os sacis têm a ver com a existência de água em Marte, o famoso acidente de Rosswell e até mesmo o gol tomado por Barbosa, o goleiro da seleção brasileira de 1950. E a protagonista Samanta, uma saci em formação, descobre a certa altura que pode ter sido responsável pelos ciclones que atingiram Criciúma (SC) e Indaiatuba (SP), por exemplo.

Está prevista uma edição em braille, a ser lançada.

Escola de Sacis
Djota Carvalho
Ilustradores: Bira e Ricardo
Dentro da Caixa Publicações
144 páginas ilustradas

Na teia:

Leia entrevista com Betania Libanio Dantas de Araújo que em seu mestrado em Artes Visuais pela UNESP e em seu doutorado em Educação pela USP, elaborou estudos sobre qual contribuição a linguagem do humor no desenho traria para a escola. (leia aqui)


Fonte: AgênciaCartaMaior
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terça-feira, 27 de março de 2007

Novo Filme de João Moreira Salles

Santiago, um documentário de João Moreira Salles
Festival É Tudo Verdade exibe trabalho que ficou 13 anos à espera de edição
por Monique Oliveira


Santiago e suas fichas sobre as famílias tradicionais
SÃO PAULO - Não poderia haver melhor escolha para a série especial da 12.ª edição do Festival de Documentários É Tudo Verdade que o filme Santiago, de João Moreira Salles. Após abrir o evento no Rio na sexta, 23, foi exibido no domingo, 25, em São Paulo, com sala cheia e público amontoado no chão. A procura foi tão grande que o festival preparou um “repeteco” nesta quinta-feira às 23 horas, com distribuição de ingressos uma hora antes.
João Moreira Salles não vai aparecer. E o material apresentado é quase um "antidocumentário". Mas vale a pena: além de não ter data prevista para entrar em circuito aberto, a reflexão de Moreira Salles sobre um material bruto que ficou 13 anos no limbo foi, ao mesmo tempo, uma ode ao cinema documental e uma punhalada à pretensa verdade do gênero.
O personagem tema do documentário é o argentino Santiago, mordomo da casa dos Moreira Salles. Uma figura interessantíssima, que morreu logo após as filmagens. Cita o cineasta Ingmar Bergman, reza em latim, toca Beethoven no piano, dança usando castanholas, aprecia desde o pintor italiano renascentista Giotto (1266-1337), à apresentadora da televisão brasileira Hebe Camargo. E o mais curioso: estuda a dinastia das famílias tradicionais - desde a riqueza e influência dos Médici de Florença, cidade italiana berço do Renascimento dos séculos 15 a 17, até a burguesia emergente de Hollywood.
O que traz o "anti" ao documentário é a narrativa digressiva de Moreira Salles, que faz intervenções freqüentes durante todo o filme. Não apenas fala de sua convivência com o mordomo na infância, mas também faz uma análise metalingüística da construção da narrativa sem fim. Mesmo com o filme pronto e exibido, Salles ainda o classifica, logo no início da projeção, de "o único filme que não terminei". E abre as velhas cenas do mordomo quando ainda era vivo, narradas por um João mudado. Com reflexões recorrentes, ele utiliza silêncios e pausas. Uma tela escura interrompe o fluxo do enredo e coloca a soprano francesa Lily Pons - predileta de Santiago -, ao fundo, numa tentativa de resgate de suas memórias.
As intervenções do cineasta têm o seu auge com a cena do filme A Roda da Fortuna (Vincente Minnelli, 1953), com Fred Astaire. Nela, Salles narra como a dança comunica sutilmente, quase como uma conversa despretensiosa. Ele explica que não deu atenção a esse filme na época, também favorito de seu mordomo. O trecho aparece agora no documentário como um sonoro: "Eu entendi Santiago."
É verdade?

A edição desse material - 30 mil páginas e 9 horas de filme, segundo o cineasta - traz uma contradição: foi editado para parecer que não foi. É quase um extra de DVD. Intervenções da produção, trejeitos de Santiago, voltas e cenas repetitivas, além de filmagens aleatórias com planos-seqüência que normalmente teriam sido lixo na ilha de edição. Tudo isso para demonstrar a reviravolta que foi rever todo esse material depois de mais de uma década. "Analisando o material bruto, tudo deve ser visto hoje com certa desconfiança", diz João, ao narrar o filme e se referir a objetos nas cenas gravadas em 1992.

Inicialmente, João Moreira Salles trabalhou muito para tornar o documentário verossímil. Separou nomes de nobres colecionados por Santiago, traduziu seus pensamentos através de um jogo de contrário vida/morte e memória/esquecimento, bem como anotou as expressões que o mordomo utilizava. Não sabia, no entanto, o que pretendia e agora fez um contraponto de como o filme, apesar de tanto esforço, não foi levado adiante.

Antes de qualquer tentativa de reproduzir o real, faltou, segundo o cineasta, a relação verdadeira que tinha com o mordomo quando menino. Salles ainda cita o cineasta alemão Werner Herzog para justificar a ausência de planos fechados. Ao gravar as cenas em 1992, ele não prestou atenção na intimidade, sobrou o distanciamento e a pressa de terminar um filme que ficou inacabado.
Fonte: Estadão

segunda-feira, 26 de março de 2007

Longa Mostra os Brasileiros que as Estatísticas Esquecem

Documentário "Nas Terras do Bem-Virá" exibe Pará "de faroeste"
THIAGO REIS
da Agência Folha

Uma terra sem leis, onde contratar um pistoleiro é mais fácil que apanhar um táxi e onde os homens estão fadados à escravidão e as mulheres, à prostituição.

É esse o Pará retratado no documentário "Nas Terras do Bem-Virá". O filme descreve a ocupação no Estado desde a construção da Transamazônica, no regime militar, até hoje.

E cumpre, em parte, o papel de mostrar o conflito agrário e suas extensões. O único problema é que o filme tem um lado só. Chega até a ouvir fazendeiros, mas, com tantos entrevistados --entre agentes pastorais, trabalhadores rurais, religiosos e sociólogos--, não há autoridade para dar explicações.

Isso não invalida o trabalho de campo. O documentário tem o mérito de encontrar personagens que presenciaram o massacre de Eldorado dos Carajás, quando policiais militares mataram 19 sem-terra, em 1996.

Um deles, o Gaúcho, lembra como se salvou após levar nove tiros e ficar com um fuzil apontado para a cabeça. É que um comandante da PM que freqüentava seu boteco o reconheceu e o deixou fugir.

O que o filme faz de melhor é justamente isso: contar histórias de "brasileiros que não existem" e "que o IBGE nunca vai encontrar", como diz um dos personagens ouvidos.

São pessoas que deixam suas famílias para trabalhar em condições subumanas a donos de propriedades que se intitulam desbravadores da Amazônia.

No trem da Companhia Vale do Rio Doce, que corta a Amazônia, nordestinos chegam ao Pará, mas não voltam. Viram escravos e não têm dinheiro para se libertar. Morrem. E ninguém fica sabendo. As mulheres, sem outra opção, viram prostitutas. A palavra que mais se ouve é "impunidade".

"Nas Terras do Bem-Virá" não chega a ser um filme revelador, já que a repercussão do assassinato da missionária Dorothy Stang, em Anapu, conseguiu há dois anos escancarar a "realidade de faroeste" do Pará.

Mas é uma radiografia da região e um filme atual, já que, desde a morte da freira, nada parece ter mudado no Estado.

Entre os acusados de envolvimento no crime, Rayfran das Neves Sales, o autor dos tiros, é o único que diz que "perdeu a cabeça". Os mandantes permanecem negando o crime.

Os fazendeiros da região continuam a dizer que a missionária de 73 anos fez por merecer as seis balas desferidas à queima-roupa. Às câmeras, juram ainda que não há trabalho escravo no país e que se tornaram vítimas após o assassinato.

"Nas Terras do Bem-Virá"
Direção: Alexandre Rampazzo
Documentário em exibição no festival É tudo Verdade


Fonte: FolhaOnLine

Confira a Entrevista que Jards Macalé deu ao Gafieiras

Leia toda inquietude de Jards Macalé nesta entrevista concedida há um ano atrás ao site Gafieiras.

Da música pra fora
por Dafne Sampaio

Parecia mentira, coisa de 1º de abril, mas era a mais pura verdade. Jards Macalé iria fazer dois shows no Villaggio Café, sexta e sábado e, conseqüentemente, ficaria alguns dias em São Paulo. Combinamos então com Zé Luiz Soares, proprietário do Villaggio, de falar com o homem antes do almoço do sábado. Tudo certinho para mais uma entrevista do Gafieiras. Verdade verdadeira em um ensolarado 1º de abril de 2006.

O local escolhido foi o lendário Bar das Batidas (ou Cu do Padre, para os íntimos), mas Jards ficou somente na água e nos aperitivos. A equipe Gafieiras, por outro lado, entornou algumas cervejas porque o meio-dia estava quente e era necessário molhar a garganta para falar com um dos artistas mais originais e inquietos da música popular brasileira. Em tempos de adolescência universitária a descoberta de Jards Macalé serviu como catalisador para uma vida adulta mais saudável com seu romantismo meio louco, sua ironia afiada e uma mistura muito pessoal de tradição e modernidade. Por estas e outras identificações sempre foi difícil entender o rótulo de maldito que o persegue até os dias de hoje, mais de 35 anos depois de sua estréia profissional. Coisa de jornalista preguiçoso? Coisa de gravadora mal-intencionada? Vai saber.

Felizmente desde 1998 Jards vem conseguindo lançar um disco a cada dois anos e seu nome é constantemente mencionado por artistas novos como referência. Jards Macalé, por sua vez, não quer nem saber se o pato é macho, ele quer é ovo. Ou melhor, música. Músicas. Das que fazem sorrir, amar, sofrer e pensar. Nada malditas ou difíceis, pois Jards não é assim. No meio da entrevista um dos freqüentadores do bar passou por nossa mesa em direção ao banheiro, reconheceu Jards e muito paulistanamente soltou um berro, "Urra! É o Macalé!". O autor de "Vapor barato" e "Rua Real Grandeza" não disfarçou um sorriso de orgulho pelo reconhecimento, mas a ironia falou mais alto e logo disparou, "Prazer, Paulo Silvino!" (detalhe, o comediante já declarou algumas vezes que ficou com pelo menos duas mulheres que acharam que ele era Jards). Gargalhada geral.

A entrevista seguiu até onde a fome de Jards permitiu. Ainda queria tirar uma soneca à tarde, antes do show. Após as fotos ao pé da cinzenta Igreja de Nossa Senhora de Montserrat, em Pinheiros, o circo gafieirístico se desfez e o homem foi lá almoçar. Do nosso lado a fome havia desaparecido, talvez por causa da cerveja, talvez pela agitação, mas mesmo com a barriga vazia e a cabeça cheia estávamos todos certos de uma coisa, uma coisa pelo menos: vale a pena ser poeta.


parte 01. Ficava surpreso como o Itamar conseguia fazer tanta música
parte 02. Quem tem Barão não tem que lamber saco de Rolling Stones
parte 03. São os músicos quem bancam esse delírio
parte 04. Nas Dunas da Gal ficavam todos os doidos possíveis
parte 05. Somos todos presos políticos
parte 06. Só porque belisquei a bundinha de uma menininha...
parte 07. Briguei com um dos maiores torturadores
parte 08. Abri a TV para saber de onde saíam aquelas pessoas
parte 09. Fui expulso do Municipal pelo meu próprio pai
parte 10. Qual é o nome da sua manicure?
parte 11. Foi o que o João Gilberto me ensinou nesse dia
parte 12. Vou à falência quase todo dia
parte 13. Como carioca, achei o projeto do JK uma merda!
parte 14. Tizuka, pelo amor de Deus, me mate!
parte 15. A bossa nova não existe. O que existe é samba
parte 16. Não vou ao meu próprio enterro
parte 17. O violoncelo é uma mulher completa
parte 18. Fui copista da Orquestra Sinfônica Brasileira
parte 19. A gente não vai comer, não?


Entrevista e Foto: Dafne Sampaio
Fonte: Gafieiras

domingo, 25 de março de 2007

Curta Enquanto a Tristeza não Vem

Conheça Sérgio Ricardo neste excelente curta-metragem que, além de falar de música, ensina muito sobre a história de nosso País, expondo claramente em qual momento trágico se perde o sentimento de nação. O Música&Poesia BRasileira recomenda.

Enquanto a Tristeza não Vem

O compositor Sérgio Ricardo expõe sua visão acerca da história do Brasil de JK aos nossos dias, salientando, sobretudo, os descaminhos da cultura brasileira a partir do golpe militar de 64. Coragem e ousadia marcam o emocionante depoimento.


Gênero Documentário
Diretor Marco Fialho
Elenco Sérgio Ricardo
Ano 2003
Duração 20 min
Cor Colorido
Bitola vídeo
País Brasil



Sinopse
Ele foi galã da Bossa Nova, quebrou o violão nos Festivais, fez trilha sonora para o Cinema Novo, e agora conta o que viveu da História do Brasil. Sérgio Ricardo, um senhor talento.

Assista Enquanto a Tristeza não Vem aqui

Ficha Técnica
Produção Patricia Servulo Fotografia Mônica Haar Roteiro Marco Fialho Som Direto Marcos Manna Direção de Arte Mônica Haar, Carlo Kasumi Montagem Bruno Assumpção Música Sérgio Ricardo Escola Produtora Universidade Estácio de Sá

Prêmios
Prêmio do Júri Popular no CineSul 2004

Melhor vídeo no MOSTRA UNIVERSITÁRIA DE VÍDEO 2005

Festivais
CINEPORT - Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa 2005
ReCine - Mostra de Cinema de Arquivo 2004

Fonte: PortaCurtas

sábado, 24 de março de 2007

Breve Biografia de Paulo Leminski

Paulo Leminski
Biografia
Paulo Leminski Filho


* 1944 - Nasce em Curitiba, Paraná, a 24 de agosto, sob o signo de virgem, Paulo Leminski Filho, filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes.

1958 - Foi para o mosteiro São Bento em São Paulo e ficou o ano inteiro.

1963 - Participa do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte-MG onde conhece Haroldo de Campos. Casou com Neiva Maria de Souza (da qual se separou em 1968).

1964 - Estréia com cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, em São Paulo, porta-voz da poesia concreta paulista.

1965 - Professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares.

1966 - Classifica-se em primeiro lugar no II Concurso Popular de Poesia Moderna, promovido pelo jornal O Estado do Paraná.

1968/88 - Vive com a poeta Alice Ruiz, com a qual teve três filhos (Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos, Áurea Alice e Estrela).

1969/70 - Mora no Rio de Janeiro.

1970/80 - Diretor de criação e redator de publicidade.

1973 - Morte do pai.

1975 - Publicação do Catatau. (depois de 8 anos de elaboração).

1978 - Morte da mãe.

1979 - Publicação de 40 Clics, em parceria com o fotógrafo Jack Pires.

1980 - São Paulo - Colaboração no Folhetim e revista Veja.

1981 - Caetano Veloso grava Verdura, com letra de Leminski.

1983 - Publicação das biografias de Cruz e Souza e Bashô. Publicação de Caprichos e Relaxos, livro de poesias.

1984 - Tradução de Pergunte ao Pó, de John Fante. Publicação de Agora é que são elas, seu segundo romance. Publicação da biografia de Jesus Cristo.

1985 - Tradução de Um atrapalho no trabalho, de John Lenon, Sol e Aço, de Yukio Mishima, O Supermacho, de Alfred Jarry, e Satiricon, de Petrônio. Publicação de Haitropikais, em parceria com Alice Ruiz.

1986 - Publicação da biografia de Trotski. Tradução de Malone Morre, de Samuel Beckett. Publicação do livro infanto-juvenil Guerra dentro da gente.

1987 - Publicação de Distraídos venceremos. Tradução de Fogo e água na terra dos deuses (poesia egípcia antiga).

1988 - Escreve o Jornal de vanguarda na TV Bandeirantes, São Paulo.

1988/89 - Passa a viver com a cineasta Berenice Mendes.

† 1989 - Falece em 7 de junho, em Curitiba, Paraná, de cirrose hepática.




Fonte: Kamiquase

sexta-feira, 23 de março de 2007

Paulo Leminski, poemas do livro Polonaises



vão é tudo
que não for prazer
repartido prazer
entre parceiros

vãs
todas as coisas que vão


°



enchantagem


de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo

esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima

de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito

pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito

que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar

tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade

o pau na vida
o vinagre
vinho suave

pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade


°


tão
alta
a
torre

até
seu
tombo
virou
lenda


°



deus
algum
indu
ogum
vishnu
precisa
da tua prece

tua pressa
pessoa
só teu pulso
acelera

você padece
padecer
te resta

tudo
um belo dia
desaparece


°

Leia breve biografia de Paulo Leminski

Conheça a Estética Psicodélica de Momo

A Estética do Rabisco, Momo

Psicodelia Triste
por Bernardo Mortimer

Ouvir A Estética do Rabisco, o disco do projeto Momo de Marcelo Frota, é entregar-se a dois sentimentos distintos. A tristeza e o entorpecimento. A natureza humana vai interessar ao artista pelo lado mais obscuro, com referências a comprimidos, a expectativas familiares frustradas, ao esperado que não virá, e ao pouco amor. O resultado é lindo.
Marcelo escolheu bem o processo de gravação, com muitas dobras de voz e uma preferência pelos primeiros takes. A espontaneidade é a mensagem, e o disco soa justamente muito íntimo. Até mais, com os temas virados de costas para a lucidez, ouvir o trabalho de Momo é embarcar em uma viagem por uma mente inquieta, em transe, perturbada pela aridez dos problemas das relações entre os indivíduos, hoje.


O tempo e a realização pessoais estão ali, inalcançáveis, e Marcelo mergulha à procura da simplicidade para não ficar só. A Estética... não é um disco de solidão, portanto, nem uma declaração de não-conformidade com o redor. É, antes de tudo, uma obra de quem se dá tempo para achar um caminho. Uma busca por uma esperança que insiste em se manter viva.

Embora por caminhos bem distintos, esse trabalho de Frota me fez lembrar do Saudades de Minhas Lembranças, do Nervoso. Há semelhanças nas angústias em tons menores de um e de outro. Os dois optam por melodias que se completam por acordes de craviola e casiotone ( ou de guitarra no caso de Nervoso).
O melhor exemplo, e se você não ouviu dá um pulo aqui e deixa tocar, é de Flores do Bem. Um clima folk sombrio é dedilhado nas cordas, e uma série de escolhas de vida são enfileiradas contra as expectativas comuns de uma família tradicional de classe média. Podia ser a sua. A conclusão-refrão é a frase "Benditas flores, sem vocês não sou... ninguém". No lugar das reticiências, as notas da guitarra que ecoam e apertam a cabeça. Sons de sonhos desconfortáveis, silêncios doentios, dores de crescimento, crianças insistentemente desenturmadas, as imagens se somam e não descrevem à contento os delírios de realidade de Marcelo.
O disco é corajoso, é doído, é cru. Mas é também muito bom, de dar vontade de ir decifrar, de ouvir até entender, de se perder o tempo a fim de olhar também por aquela visão. E não é um disco difícil, ou cabeçudo. Pense no tormento de Syd Barret, nas contorções de Nick Drake, na sinceridade de Nervoso, em um solo off key de sax, e em um campo de papoulas com todas as suas possibilidades. E não deixe de ouvir, pelo menos uma vez.
Saiba Mais
Leia uma reportagem sobre Momo aqui
Ouça
Para ouvir a Estética do Rabisco, de Momo, vá até o MySpace

quinta-feira, 22 de março de 2007

Tributo a Maysa

Estrelas homenageiam Maysa em tributo da Biscoito Fino
por Tárik de Souza para o Jornal Musical

Sai em maio pela gravadora Biscoito Fino um tributo à cantora Maysa Figueira Monjardim (1936 - 1977) também conhecida por Maysa Matarazzo (sobrenome de seu primeiro marido, de família tradicional paulista) ou, simplesmente, Maysa. Lançada pelo produtor José Scatena em seu selo RGE, em 1956, a cantora que compunha desde os 12 anos quebrou vários tabus de uma vez. Além de ser uma granfina cantando (depois dela, gravaram discos Lygia Freitas Vale, Teresa Souza Campos e Irene Singery) e num meio profissional ainda mal visto, tratava-se de uma cantora/autora, numa época em que as compositoras, como a contemporânea Dolores Duran, ainda rareavam. Produzido por Thiago Marques Luiz, Maysa, esta chama que não vai passar... focaliza tanto a autora quanto a cantora.

Da própria Maysa foram regravados seus dois maiores sucessos, "Ouça" (Alcione) e "Meu mundo caiu" (Ney Matogrosso), além de "Quando a saudade vem" (Olívia Hime), "Adeus" (Cida Moreira), "Tema de Simone" (Claudette Soares), "Resposta" (Carlos Navas), "Nego malandro de morro" (Fernanda Porto) e as obscuras "Pra não mais voltar", rara parceria da cantora com Ivan Lins (Leny Andrade) e "Nós" (Célia e Dominguinhos), ainda mais rara, com o maestro Julio Medaglia, descoberta pelo produtor num tape do Fantástico, cantada por Elizeth Cardoso, no primeiro aniversário da morte da homenageada. Cantora intensa que tomava para si músicas alheias, Maysa também será lembrada em sua porção intérprete. Desde a inusitada parceria de Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes no samba canção "Bom dia tristeza" (Beth Carvalho), ao clássico da dor de cotovelo do belga Jacques Brel, "Ne me quittes pas" (Cauby Peixoto) e mais "Franqueza", de Denis Brean e Oswaldo Guilherme (Zélia Duncan), "Raízes", da mesma dupla (Leila Pinheiro), "Por causa de você", de Tom Jobim e Dolores Duran (Zeca Baleiro), "Demais", de Jobim e Aloísio de Oliveira (Alaíde Costa), "I love Paris", de Cole Porter (Edson Cordeiro), "Quando chegares", de Carlos Lyra (Maria Bethânia), "Até quem sabe", de João Donato e Lysias Ênio (Arnaldo Antunes), "Suas mãos", de Antonio Maria e Pernambuco (Bibi Ferreira) e "Morrer de amor", de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini (Cláudya).


Jorge Benjor Completa 65 Anos

Jorge Benjor (Jorge Duílio Lima Menezes)
22/3/1942 Rio de Janeiro, RJ

Biografia
Compositor. Cantor. Instrumentista (violonista).
Filho de Augusto Menezes, pandeirista do bloco Cometa do Bispo, cantor e compositor de músicas de carnaval, e da etíope Sílvia Saint Ben Lima. Na adolescência, integrou um regional, tocando pandeiro, e fez parte do coro da igreja do Colégio Diocesano São José, onde estudava. Aos 18 anos, ganhou seu primeiro violão e um método para principiantes. Logo em seguida, começou a tocar bossa nova e rock em festas de amigos.

Dados Artísticos
Iniciou sua carreira artística em 1961, como pandeirista, ao lado do Copa Trio, grupo liderado pelo organista Zé Maria, que se apresentava na casa noturna Little Club, no Beco das Garrafas (RJ). Em seguida, apresentou-se no Bottle's, também no Beco das Garrafas, cantando e tocando músicas de sua autoria. Atuou, também nessa época, como cantor de rock, na boate Plaza (RJ).
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Obra
A banda do Zé Pretinho • A bênção mamãe, a bencão papai • A cegonha me deixou em Madureira (c/ Augusto de Agosto) • A fonte de Paulus V • A história de Jorge • A loba comeu o canário • A minha menina • A princesa e o plebeu • A rainha foi embora • A terra do filho do homem (Jerusalém) • A tumba (...)
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Discografia
Samba esquema novo (1963) Philips LP, CD
Sacundin Ben samba (1964) Philips LP, CD
Ben é samba bom (1964) Philips LP, CD
Big Ben (1965) Philips LP, CD
O bidu-Silêncio no Brooklin (1967) LP
Jorge Ben (1969) Philips LP, CD
Força bruta (1970) Philips LP, CD
Negro é lindo (1971) Phonogram LP,CD
Ben (1972) Phonogram LP,CD
Jorge Ben-10 anos depois (1973) Phonogram LP, CD
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Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

quarta-feira, 21 de março de 2007

Leia Nota Crítica feita de próprio punho por Drummond à obra de Augusto dos Anjos


Leia na íntegra este curioso e raro manuscrito de Carlos Drummond de Andrade sobre o livro EU, de Augusto dos Anjos.

Esta crítica literária faz parte do acervo digital da
Biblioteca Nacional Digital, uma das seções da página da Fundação Biblioteca Nacional, que abriga nove milhões de itens, muitos dos quais podem ser baixados gratuitamente em PDF. Entre os itens para download encontram-se livros, mapas, atlas, partituras, entre outros.

Baixe a nota crítica de Drummond aqui
Baseado na dica de Alessandro Martins para o Overmundo

Esses Anjos Malucos

Poema de sete faces
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Com licença poética
Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Até o Fim
Chico Buarque de Hollanda

Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

Inda garoto deixei de ir à escola
Cassaram meu boletim
Não sou ladrão, eu não sou bom de bola
Nem posso ouvir clarim
Um bom futuro é o que jamais me esperou
Mas vou até o fim

Eu bem que tenho ensaiado um progresso
Virei cantor de festim
Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso
Em Quixeramobim
Não sei como o maracatu começou
Mas vou até o fim

Por conta de umas questões paralelas
Quebraram meu bandolim
Não querem mais ouvir as minhas mazelas
E a minha voz chinfrim
Criei barriga, minha mula empacou
Mas vou até o fim

Não tem cigarro, acabou minha renda
Deu praga no meu capim
Minha mulher fugiu com o dono da venda
O que será de mim?
Eu já nem lembro pr'onde mesmo que vou
Mas vou até o fim

Como já disse, era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu tava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

Do LP Chico Buarque - Polygram, 1978


Let's Play That
Torquato Neto (musicado por Jards Macalé)

Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes

Let's play that

Do CD Torquato Neto - Todo Dia É Dia D
Vários Artistas, Dubas Música, 2002



Os Anjos Caídos (ou A Construção do Caos)
Cordel do Fogo Encantado

Os homens são anjos caídos que Deus mandou para Terra porque
botaram defeito na criação do mundo. Aqui, começaram a
inventar coisas, a imitar Deus. E Deus ficou zangado, mandou muita chuva e muito
fogo, eu vi de perto a sua raiva sacra, pois foram sete dias de trabalho intenso,
eu vi de perto, quando chegava uma noite escura
Só meu candeeiro é quem velava o Seu sono santo
Santo que é Seu nome e Seu sorriso raro
Eu voava alto porque tinha um grande par de asas
Até que um dia caí
E aqui estou nesse terreiro de samba
Ouvindo o trabalho do Céu
E aqui estou nesse terreiro de guerra
Ouvindo o batalha do Céu
Nesse terreiro de anjos caídos
Cá na Terra trabalho é todo dia
Levantar quebrar parede
Matar fome matar a sede
Carregar na cabeça uma bacia
E esse fogo que a Sua boca envia
Pra nossa criação
Deus
Esse terreiro de anjos
Esse errar que é sem fim
Essa paixão tão gigante
Esse amor que é só Seu
Esperando Você chegar
Os Homens aprenderam com Deus a criar e foi com os Homens que Deus aprendeu
a amar

Do CD O Palhaço do Circo sem Futuro
Cordel do Fogo Encantado, RecBeat, 2002

segunda-feira, 19 de março de 2007

Filme O Cheiro do Ralo - Deu na Carta Capital

Algo de podre entre nós
por Alessandro Gianini


A certa altura de O Cheiro do Ralo, o personagem de Selton Mello, o amoral dono de uma loja de penhores, cria coragem para dar uma investida na balconista (Paula Braun) da lanchonete onde costuma almoçar. Ele pergunta o nome dela, como se isso fosse o último estágio para vencer a barreira da intimidade que ainda os separa. Ela responde, mas ele, hipnotizado pelas curvas acentuadas da moça, divaga em pensamentos, privando a si e ao público de ouvi-la.

Essa pequena seqüência, perdida no meio do segundo longa-metragem de Heitor Dhalia, que estréia na sexta-feira 23, sumariza a essência do filme. O personagem sem nome de Mello não ouve a resposta da rotunda atendente porque está perdido em devaneios, ensimesmado com a possibilidade de conquistá-la. É mais uma presa a ser pendurada na parede de troféus de caça. Está apaixonado pela bunda dela, nada mais do que isso. O que fala ou pensa não importa muito.

Inspirado no primeiro romance do quadrinhista Lourenço Mutarelli, autor de álbuns premiados e estranhíssimos como O Dobro de Cinco, O Cheiro do Ralo fala sobre a brutalização do homem contemporâneo pela sua transformação em mercadoria. Sob a confortável desculpa de que temos de sobreviver, às vezes nos colocamos à venda por qualquer migalha. Essa mercantilização nos torna menos humanos.

É sob esse signo que vive e se orienta o personagem de Selton Mello e todas as pessoas que o procuram. Quando se apaixona, Mello fica caído pelo derrière de uma mulher – a parte, não o todo. E, mesmo com todas as reviravoltas em sua vida, não se permite humanizar pela redenção. Ao contrário, faz apenas concessões para se manter a mesma pessoa. Dhalia, que filmou com apenas 330 mil reais angariados entre cinco produtores, usa recursos dramáticos que talvez confundam o espectador, mas não o enganam a ponto de fazer com que não se reconheça na tela.

Fonte: CartaCapital

Leia e Ouça Poema de Glauco Mattoso

SONETO MINISTERIAL [942]
Glauco Mattoso - Ouça»

Trancada a pauta, nada mais se vota,
enquanto novo acordo não costura
comadre com compadre e não se jura
que vale uma palavra mais que a nota.

Da noite para o dia, ninguém nota
o pacto que, na véspera, fervura
causara no Congresso, e a sinecura
retoma o ramerrão e cobra a cota.

Só serve um regimento a quem protela
"devidas providências" ou apressa
"medidas de interesse" da panela.

Se explodem as denúncias, interessa
mostrar serviço e investigar quem zela,
mas sendo alguém da Casa, o caso cessa.


Da Coluna Porca Miséria! de Glauco Mattoso

Fonte: CarosAmigos

sábado, 17 de março de 2007

Curta Waltel

Descobrindo Waltel

Ainda não conhece Waltel Branco? É um dos maiores músicos do Brasil! Antene-se com esse curta incrível!
Documentário sobre a incrível e desconhecida trajetória do maestro Waltel Branco.
Com Ed Motta, Roberto Menescal, Sérgio Ricardo, Waltel Branco, Sérgio Cabral, Hermínio Bello de Carvalho, Durval Ferreira, Dom Salvador, Ricardo III

Assista Descobrindo Waltel aqui

Diretor Alessandro Gamo
Elenco Dom Salvador, Durval Ferreira, Ed Motta, Hermínio Bello de Carvalho, Ricardo III, Roberto Menescal, Sérgio Cabral, Sérgio Ricardo, Waltel Branco
Ano 2005
Duração 15 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil

Ficha Técnica
Fotografia Adilson Ruiz Roteiro Alessandro Gamo Som Direto Marcos de Paula Nogueira Empresa produtora Alessandro Gamo, Pioli Produções Edição de som Fernando Fonini Produção Executiva Alessandro Gamo Montagem Fernando Severo, Fernando Fonini Música Waltel Branco Informações cedidas por Kinoforum

Prêmios
Os 10 Mais - Escolha do Público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005
Prêmio Unibanco de Cinema no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2005

Festivais
Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro - Curta Cinema 2005

quinta-feira, 15 de março de 2007

O Dia em que Suassuna enfrentou os Caranguejos com Cérebro

Ariano Suassuna e o movimento Manguebit
por Anna Paula de Oliveira*
Especial para o Jornal Musical

Em janeiro de 1995, o escritor Ariano Suassuna tomou posse do cargo de Secretário de Cultura do estado de Pernambuco. Sua proposta para a política cultural do governo Miguel Arraes previa o apoio às manifestações populares tradicionais e o financiamento de espetáculos que tivessem essas manifestações como referência. Suassuna programou ainda a criação de vários grupos artísticos e contou com a colaboração de antigos aliados do Movimento Armorial, formado por ele na década de 1970 com o intuito de fundar uma arte erudita baseada na estética popular. Os critérios que deveriam ser adotados pela Secretaria iam ao encontro das intenções armoriais e foram explicitados no polêmico Projeto cultural Pernambuco-Brasil (CEPE Editora, 1995), de autoria de Suassuna. O projeto determinava que, para obter a adesão da Secretaria de Cultura, o artista e o espetáculo deveriam se enquadrar no que o Secretário entendia como "expressão popular" (tradicional, nacional e autêntica), ou se inspirar nela para criar uma arte comprometida com a cultura local.

Ao mesmo tempo, uma nova movimentação, pop e urbana, tomava conta da capital pernambucana. Uma reunião de jovens artistas e produtores atuantes nas mais diversas áreas e empenhados em agitar a vida cultural da cidade. Tratava-se dos mangueboys e manguegirls, inventores do Manguebit, que apresentaram suas propostas no release intitulado Caranguejos com cérebro, impresso no encarte do CD Da lama ao caos (Sony Music, 1994), primeiro álbum da banda Chico Science & Nação Zumbi (na foto acima, o líder do grupo, que completou em fevereiro 10 anos de morte). Este texto compara a fertilidade dos manguezais com a riqueza cultural encontrada na cidade do Recife, alerta para as condições de degradação social e ecológica na qual se encontrava a "quarta pior cidade do mundo pra se viver", e prescreve um choque de energia criativa para recuperar a auto-estima de seus moradores.

O Manguebit havia iniciado sua história no início dos anos 90, e os homens-caranguejos começaram a botar as patinhas pra fora do Recife ainda em meados da década. Em 1994, as principais bandas da cena gravaram seus primeiros álbuns e estavam sendo requisitadas no Sudeste do país e no exterior. Chico e a Nação entoavam um maracatu envenenado por guitarras elétricas e efeitos eletrônicos e isso fez com que o Secretário Estadual de Cultura (na foto ao lado) manifestasse seu desconforto com o que ouvia. "No que uma coisa ruim como o rock pode valorizar uma coisa boa como o maracatu?", dizia Suassuna (Cadernos de Literatura Brasileira, Instituto Moreira Salles, 2000). O escritor já alertava, não iria dispensar a verba reservada à Secretaria aos projetos do Mangue. "Eu não vou dar apoio a um movimento que já tem apoio de outras coisas, deixando de lado a cultura popular, que está aí se acabando" (Diário de Pernambuco, 09/07/1995). Sua postura armorial não toleraria um maracatu profanado, deturpado, desviado da "pureza original" e rendido aos apelos da indústria da cultura.

Quando se evoca o armorial, a imagem que vem à tona é a de uma arte movida pelo propósito de garantir a sobrevivência das tradições. Seus promotores se guiaram pelo ideal sistematizado por Suassuna no manifesto de 1974 - intitulado O movimento Armorial -, que consistia em propor uma estética nacional autônoma. Neste manifesto Suassuna defende que as formas da cultura popular tradicional - como a poética da literatura de cordel, as imagens que ilustram os folhetos e a sonoridade dos instrumentos que acompanham sua leitura -, deveriam orientar a criação de uma linguagem tipicamente brasileira. Só assim a arte conseguiria expressar nossa memória cultural e contribuiria para a construção de uma nação independente. Por isso o programa da Secretaria previa o fomento e a valorização das tradições populares e da arte erudita inspirada nestas tradições.

Essa afirmação de uma cultura nacional é reconhecida como uma das principais tendências da arte produzida no Brasil até os anos 60. No caso do Movimento Armorial, as representações nacionais identificadas nas criações populares do sertão nordestino unem-se às referências da cultura clássica européia para gerar uma obra peculiar. Partindo dessa idéia, Ariano Suassuna concebe o Quinteto Armorial como expressão musical de seus princípios estéticos.

O Quinteto era composto por artistas de formação acadêmica e tinha a intenção de criar uma música de câmara marcada pela melodia dos ponteios, loas e cantigas populares. Originalmente os músicos do grupo utilizaram instrumentos eruditos, logo substituídos, por sugestão de Suassuna, pelos instrumentos populares, mais apropriados para reproduzir a sonoridade que ele buscava. Com a pesquisa de instrumentos e de timbre, a intenção do Quinteto parecia ser de aproximar-se da "essência" da musicalidade popular, e não de realizar experimentalismos modernos (abaixo, à direita, a bandeira do movimento)

Entretanto, o contexto contemporâneo apresenta novas formas de diálogo entre as diversas matrizes culturais que compõem nossa sociedade. Em se tratando de música, as colagens sonoras, as intervenções eletrônicas e as misturas de gênero são algumas das configurações assumidas por este intercâmbio. A experiência urbana e a tecnologia musical ofereceram às bandas do Manguebit a possibilidade de citar performances pré-gravadas, reproduzir trechos musicais ou sonoridades características de variadas expressões e ambiências, adotar entoações, utilizar falas, sinais ou ruídos capturados no cotidiano da cidade.

O Mangue absorve e reprocessa a arte das revistas em quadrinhos, os recursos estéticos e políticos do hip-hop, as estratégias publicitária do punk, as possibilidades da tecnologia musical, o colorido das roupas compradas nas feiras, a inventividade dos pregões de camelô, a força do maracatu, a malícia e a ironia das emboladas, tudo a favor uma arte pop criativa. E é com esta movimentação que o político Ariano Suassuna se depara ao tentar por em prática, na capital pernambucana, um projeto cultural descontextualizado.

Pensando na cidade do Recife, podemos afirmar que o hardcore é tão tradutor da sua experiência cultural quanto o maracatu ou a embolada. Pensando nas grandes cidades do Terceiro Mundo, vemos crescer, entre jovens artistas, mais marcadamente entre os dedicados à música, a necessidade de expressar uma arte pop autônoma, neste caso, criada pela apropriação da música "estrangeira" e pela fusão desta sonoridade com os ritmos tradicionais locais. Esta outra realidade exige a inauguração de uma nova sensibilidade política, que consiga apreender melhor a multiplicidade e a complexidade das culturas contemporâneas.

Por um outro caminho, Ariano Suassuna fundou seu programa na oposição entre sertão e litoral e valorizou o interior do Nordeste como espaço de manifestação da cultura popular mais "autêntica". Para Suassuna, as tradições sertanejas guardam as raízes mais profundas da nossa identidade cultural, por se encontrarem supostamente livres da "influência perniciosa" da cultura de massas que impera nos centros urbanos. Mesmo assim, a região metropolitana abriga manifestações por ele reconhecidas como legítimas, como o maracatu, por exemplo. E o programa da Secretaria Estadual de Cultura para a cidade do Recife consistia principalmente em apoiar a perpetuação destes folguedos em seus moldes tradicionais, livrando-os da ameaça de extinção que a indústria cultural apresentava. Daí a resistência do escritor em aceitar uma música que segundo ele descaracterizava as "expressões originais do povo brasileiro", contaminando o maracatu com rock e o rap, e transformando-o em mais um dos produtos da cultura industrial.

Sendo que, ao contrário do que previa Suassuna, o Manguebit despertou o interesse da juventude para as manifestações populares tradicionais dentro e fora de Pernambuco, além de chamar atenção da imprensa cultural e do público de música pop para as antigas agremiações de maracatu. Subverteu a idéia de um Nordeste puramente agrário e arcaico, afirmando a multiplicidade de formas culturais atuantes em uma cidade periférica como Recife. Expressou a coexistência entre tradição e modernidade e se apropriou da vitalidade das manifestações populares.

O termo Manguebit nasceu justamente do interesse de seus fundadores em exprimir a convivência cotidiana entre o local e o global na capital pernambucana. Os manguezais são imagem marcante na paisagem recifense, e o mangue representa a fertilidade cultural da cidade na metáfora criada pelos "caranguejos com cérebro". Já o bit, simboliza a tecnologia que, manipulada pelos mangueboys, trabalhou em prol da inventividade artística. A imprensa acabou rebatizando esta movimentação cultural como Manguebeat, o que alterou o sentido original do termo. O "beat" reduz a experiência do Mangue à sua expressão musical e define esta música como um gênero ou um ritmo único. Sendo que a proposta inicial foi de fundar uma cena cultural que permitisse a manifestação dos mais diversos campos e estilos de arte, e não de delimitar um formato estético no qual os participantes teriam que se enquadrar. Diferente de muitos dos movimentos culturais que conhecemos, que se caracterizam por alguma forma peculiar de expressão, o Manguebit distinguiu-se pela pluralidade da arte que produzia e por sua proximidade crítica com a indústria cultural. (Na foto acima, a banda Devotos do Ódio, representante do hardcore pernambucano que ganhou projeção com o advento do Manguebit.)

Como foi visto, ao mesmo tempo em que surgem novas experiências na música pop, cresce, em todo o Brasil, um movimento forte de afirmação de "raízes" que defende a preservação das expressões tradicionais da cultura popular. Não estamos querendo negar aqui que as verbas públicas destinadas à cultura devem privilegiar as expressões que não se adequam aos moldes do mercado e que, portanto, não conseguem se sustentar sem o apoio do Estado. Sabemos também da importância da valorização do popular como alternativa à cultura hegemônica. O que o Manguebit pôs em questão, no estado de Pernambuco, foi os critérios adotados pela Secretaria Estadual de Cultura, que se basearam unicamente na tradição quando deviam atentar para a representatividade social das manifestações culturais. Hoje em dia tornou-se importante que as políticas direcionadas para os centros urbanos levem em consideração tanto a pluralidade e os hibridismos presentes nas cidades quanto a condição massiva da produção cultural. Mais do que lutar contra a proliferação dos meios modernos de criação e difusão de arte, deve-se buscar a democratização do acesso a estes veículos.

Passada mais de uma década da criação do Manguebit, podemos dizer que a experiência também foi válida na medida em que estimulou a criação de programas de rádio e televisão, produtoras de vídeo e cinema, festivais, selos e gravadoras independentes, cooperativas de moda, sites, revistas e fanzines. Os mangueboys movimentaram a vida cultural do Recife e deram visibilidade às mais variadas manifestações, tanto tradicionais quanto pop. Com o passar do tempo e o surgimento de novas gerações de artistas, a idéia de uma cooperativa cultural identificada como Manguebit foi se diluindo, o que é natural e até desejável. Esperamos, agora, que esta inquietação se perpetue como atitude.

*Doutoranda em Letras e autora da dissertação de mestrado O encontro do Velho do Pastoril com Mateus na Manguetown ou As tradições populares revisitadas por Ariano Suassuna e Chico Science.


Ministro Gilberto Gil é saudado como um dos grandes fomentadores da Cultura Livre

NYT: "Gilberto Gil ouve o futuro, com alguns direitos reservados"

Em matéria publicada na edição do último domingo, 11 de março, o jornal norte-americano New York Times explora a relevância da ação política e social do Ministro da Cultura Gilberto Gil pela defesa da flexibilização dos direitos autorais. Na entrevista, Gil afirma: "Minha visão pessoal é de que a cultura digital carrega consigo uma nova noção sobre a propriedade intelectual, e que esta nova cultura de compartilhamento pode e deve abastecer as políticas governamentais".

Uma das primeiras ações de seu mandato -- a aliança do Ministério com o então recém-fundado Creative Commons -- é destacada no artigo como tendo sido fundamental para fomentar a idéia de livre circulação da cultura. Lawrence Lessig, fundador do Creative Commons, diz que "Gil nos fez pensar sobre que tipo de liberdade era necessária para a música".

Nas palavras do próprio ministro, "(...) o artista não precisa mais transferir a administração de seus direitos para uma entidade chamada gravadora, estúdio ou editora. Ele pode fazê-lo por si próprio".

A reportagem, assinada pelo correspondente do NYT no Brasil Larry Rohter, apresenta também, dentre outros, o depoimento de John Perry Barlow, músico e co-fundador da ONG
Electronic Frontier Foundation (EFF): "Ele [Gil] é um ponta-de-lança. Ele vem desde sempre refletindo sobre questões de propriedade intelectual e captura de forma clara a relevância de tudo isso. Mas ele também está em posição singular para implementar suas idéias".

O artigo (versão integral em inglês) pode ser lido
aqui.

Fonte: CreativeCommons BR

segunda-feira, 12 de março de 2007

Na Cola do Bush - Latinos Unidos

por Yerko Herrera

Seguindo o roteiro do Imperador George W. Bush pela América Latina que, após o Brasil, passou pelo Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, o Música&Poesia traz para protestar um representante de cada país latino-americano em que o presidente estadunidense pisou. Conheça abaixo nossos hermanos.


Do México: Molotov


Frijolero - Molotov


Frijolero é a sexta faixa do quarto disco, intitulado Dance and Dense Denso (2003), da banda mexicana Molotov. Misturando rap, rock, punk, hardcore ao som folclórico mexicano e a ritmos latinos, o Molotov têm constante em suas letras a crítica social, o humor sarcástico e a iconoclastia. O grupo consegue mesclar como poucos os comentários sociais e o tom satírico em seus álbuns.
Apesar da música Frijolero já ter uns quatro anos, não poderia soar mais atual, principalmente agora, com a recente aprovação pelo Congresso norte-americano da construção de uma barreira na fronteira sul dos EUA.


Letra Frijolero - Molotov
Ya estoy hasta la madre de que me pongan sombrero, escucha entonces cuando digo: No me llames frijolero.
Y aunque exista algún respeto, y no metamos las narices. Nunca inflamos la moneda, haciendo guerra a otros países./ Te pagamos con petróleo o intereses, nuestra deuda. Mientras tanto no sabemos quién se queda con la feria./ Aunque nos hagan la fama de que somos vendedores. De la droga que sembramos, ustedes son consumidores./ Don´t call me gringo, You fuckin´ beaner. Stay on your side of that goddamn river. Don´t call me gringo, You beaner./ No me llames beaner, Mr. Puñetero. Te sacaré un susto por racista y culero. No me llames frijolero, Pinche gringo puñetero. (Chingao’)/ Now I wish I had a dime for every single time I´ve gotten stared down for being in the wrong side of town./ And a rich man I´d be if I had that kind of chips. Lately I wanna smack the mouths of these racists./ Podrás imaginarte desde afuera, ser un Mexicano cruzando la frontera, pensando en tu familia mientras que pasas, dejando todo lo que tú conoces atrás./ Tuvieras tú que esquivar las balas de unos cuantos gringos rancheros. ¿Les seguirás diciendo: “good for nothing wetback” si tuvieras tú que empezar de cero?/ Now why don´t you look down to where your feet is planted. That U.S. soil that makes you take shit for granted. If not for Santa Ana, just to let you know that where your feet are planted would be Mexico. ¡Correcto!



Da Guatemala: Ricardo Arjona

Si el Norte Fuera el Sur - Ricardo Arjona


Si el Norte Fuera el Sur, do álbum homônimo (1996), é a crítica bem-humorada do cantor e compositor guatemalteca Ricardo Arjona, onde ele tenta imaginar como seria o mundo se os pólos se invertessem e os ricos fôssemos nós, os latino-americanos.
Com uma dezena de discos lançados, Arjona é um dos cantores de maior destaque e reconhecimento de língua hispana. Poeta do cotidiano, o guatemalteco tem o dom de sintetizar em sua obra situações e sentimentos de maneira simples com melodias elaboradas. Apesar do romantismo de grande parte de suas canções, Ricardo Arjona não deve ser confundido com outros cantores latinos do gênero, pois, embora tenha um certo apelo pop em grande parte de suas composições, ele não esquece de sua origem na pobre Guatemala, compondo volta e meia letras de conteúdo crítico e sempre tratando manter uma certa postura livre.
O disco Si el Norte Fuera el Sur, considerado por alguns como o melhor de sua carreira, foi gravado de forma independente. Arjona, além de compor todas músicas, tocou quase todos os instrumentos deste disco, que viria a receber apoio da Sony, na distribuição e divulgação, somente após o êxito do lançamento do Si el Norte Fuera el Sur.

Letra Si el Norte Fuera el Sur - Ricardo Arjona
El Norte y sus McDonald's basketball y rock'n roll/ Sus topless sus Madonas y el abdomen de Stallone/ Intelectuales del bronceado, eruditos del supermercado/ Tienen todo pero nada lo han pagado
Con 18 eres un niño para un trago en algun bar/ Pero ya eres todo un hombre pa' la guerra y pa' matar/ Viva Vietnam y que viva Forrest Gump/ Viva Wall Street y que viva Donald Trump/ Viva el Seven Eleven
Polvean su nariz y usan jeringa en los bolsillos/ Viajan con marihuana para entender la situacion/ De este juez del planeta que lanza una invitacion/ Cortaselo a tu marido y ganaras reputacion
Las barras y las estrellas se adueñan de mi bandera/ Y nuestra libertad no es otra cosa que una ramera/ Y si la deuda externa nos robo la primavera/ Al diablo la geografia se acabaron las fronteras
Si el Norte fuera el Sur/ serian los Sioux los marjinados/ Ser moreno y chaparrito seria el look mas cotizado/ Marcos seria el Rambo Mexicano/ Y Cindy Crawford la Menchu de mis paisanos/ Reagan seria Somoza/ Fidel seria un atleta corriendo bolsas por Wall Street/ Y el Che haria hamburguesas al estilo double meat/ Los Yankees de mojados a Tijuana/ Y las balsas de Miami a la Habana, si el Norte fuera el Sur
Seriamos igual o tal vez un poco peor/ Con las Malvinas por Groenlandia/ Y en Guatemala un Disneylandia/ Y un Simon Bolivar rompiendo su secreto/ Ahi les va el 187, fuera los Yankees por decreto
Las barras y las estrellas se adueñan de mi bandera/ Y nuestra libertad no es otra cosa que una ramera/ Y si la deuda externa nos robo la primavera/ Al diablo la geografia se acabaron las fronteras
Si el Norte fuera el Sur, seria la misma porqueria/ Yo cantaria un rap y esta cancion no existiria



Da Colômbia: La Pestilencia

Pacifista - La Pestilencia


Pacifista é um dos temas do quinto disco, Productos Desaparecidos (2005), dos colombianos da banda La Pestilencia. Com vinte anos de estrada, La Pestilencia é o grupo de maior renome do cenário rock colombiano. Mantendo um estilo punk rock dos anos 80, a banda tem influências do heavy metal e do hardcore, sem deixar de agregar no decorrer dos anos diversas vertentes do rock pesado a sua música. Surgida na Colômbia da era Pablo Escobar - aquela de duas faces, a do narcotráfico e a do brilhante futebol colombiano, La Pestilencia sempre manteve uma postura contestadora e politizada. Desde 2001 a banda está radicada em Los Angeles (EUA), firmando-se cada vez mais como grande expoente do rock latino.

Letra Pacifista (Musica: Juan Gomez Letra: Dilson Diaz)
El mundo avanza bajo Su signo/ El mundo cae en el dominio/ Con sU$ reglas doble moral/ En sus palabras maldad/ País en guerra que vuelve a votar/ Por ese cerdo, por ese cerdo/ Que somete al mundo/ Que somete al mundo Y con intereses debemos pagar/ Cuanto más vamos a soportar/ A ese maricon que a su guerra/ Envía a los hombres (x3)/ Una sonrisa de triunfalismo/ Vida prospera para sus hijos/ Afuera a bombardear/ Y con su guerra a reconquistar/ El nuevo mundo, El nuevo mundo/ Que resignado esta, a seguir odiando/ Oyendo mandatos banderas en las tumbas/ E inocentes llorar



Do Uruguai: Kato

SoyLent Verde - Kato


SoyLent Verde música que compõe o disco de estréia da uruguaia Kato, lançado em 2003 sob o mesmo nome da banda. O grupo surgiu em 2000 trás a dissolução do bem sucedido El Peyote Asesino, banda uruguaia de maior sucesso nos anos 90 na América Latina. Kato foi fundada pelo vocalista L.Mental (ex-Peyote), que trouxe a frente de seu novo projeto uma das mais promissoras e ousadas misturas de ritmos, que engloba desde elementos musicais da região do Rio da Prata (tango, milonga e candombe) até o rapcore e funk metal, passando pelo trip hop e eletrônico até chegar no metal contemporâneo aliado a sons autóctones. Mas, essencialmente, são uma banda eclética de rock. Entretanto, a contundência de suas letras e a mestiçagem musical, não foram suficientes para conseguir manter a efervescente banda no raquítico mercado rock do Uruguai e, em 2002, os integrantes do Kato, optaram por migrar para Espanha, onde residem atualmente.


Resenhas: Yerko Herrera