quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Papai Noel Velho Batuta

Eu não seria tão cruel de presentear os visitantes do Música&Poesia com músicas natalinas entoadas pela Simone. Junto com a Simone poderíamos, quem sabe, esquecer a figura do velho Noel. Que este Natal seja mais do Cara que marcou a celebração desta data, que seja de seu Espírito revolucionário e suas lições de paz, fraternidade e igualdade. Pra comemorar, um pouco de subversão e protesto contidos na canção Papai Noel Velho Batuta, da banda punk Garotos Podres. A música foi gravada pela primeira vez em 1985, no seu disco de estréia, chamado Mais Podres do que Nunca. Na época, pra driblar a Censura Federal, imposta pela ditadura militar, o grupo trocou o título da música, que, originalmente, teria um nome bem mais direto: Papai-Noel Filho da Puta.

Um Feliz Natal, cheio de luta e esperança por um mundo mais justo e igual!

Yerko Herrera
Papai Noel Velho Batuta - Garotos Podres


Papai Noel Velho Batuta

Papai Noel velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo!
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

Papai Noel velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo!
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

Pobres, pobres...
Mas nos vamos seqüestrá-lo
E vamos matá-lo!

Por que?

Aqui não existe natal!
Aqui não existe natal!
Aqui não existe natal!
Aqui não existe natal!

Por que?

Papai noel velho batuta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo!
Aquele porco capitalista

Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

Nosso Senhor é um velhinho muito pobre

Música O milagre do Ladrão, do álbum Vou Ser Feliz e Já Volto, segundo disco solo de Paulo Miklos. Após, ouça a mesma canção numa interpretação bem diferente da versão blues de Paulo Miklos, cantada por Lourenço e Lourival no melhor estilo caipira.

O milagre do Ladrão - Paulo Miklos







O milagre do Ladrão - Lourenço e Lourival







O milagre do Ladrão
Léo Canhoto / Zilo


Um inocente com seis anos de idade
Vivia triste por não poder caminhar
Sempre sentado numa cadeira de rodas
Olhava triste seus amiguinhos brincar

Sua mãezinha muito pobre lhe dizia
Todas as noites na hora de se deitar:
Filho querido você vai ficar curado
Nosso senhor um dia vem pra lhe curar

O inocente todo cheio de esperanças
Pra sua mãe dizia cheio de fé
Se é verdade que Jesus vem me curar
Quero saber então que jeito que ele é

Sua mãezinha entre soluços respondia
Com o seu rosto todo banhado em prantos:
Nosso Senhor é um velhinho muito pobre
Barba comprida e de cabelos muito brancos

Em uma noite muito fria e chuvosa
De tempestade e de grande escuridão
Pela janela do quarto do menino
Naquele instante foi entrando um ladrão
O inocente vendo aquele homem barbudo
Já levantou-se, foi tão grande a sua fé
Pensou que Deus tinha ido lhe curar
Saiu andando e ajoelhou-se ao seus pés

Então o menino disse:
Senhor do céu, eu lhe agradeço imensamente
Mamãe falou que você vinha me curar
Muito obrigado, fiquei bom, já estou andando
Com meus amigos amanhã posso brincar
Não vá embora, fique um pouco mais comigo
Todas as noites mamãe me ensina a rezar
E teu rosto lindo eu agora vou beijar

Ao receber aquele beijo inocente
Aquele homem de remorso estremeceu
Saiu andando com os olhos rasos d' água
Aquela sina toda ele compreendeu

A consciência lhe doeu naquele instante
Foi se afastando parecendo uma visão
O inocente no momento foi curado
Sem perceber que era um milagre de um ladrão

Este Natal, Carlos Drummond de Andrade

Este Natal
Carlos Drummond de Andrade

— Este Natal anda muito perigoso — concluiu João Brandão, ao ver dois PM travarem pelos braços o robusto Papai Noel, que tentava fugir, e o conduzirem a trancos e barrancos para o Distrito. Se até Papai Noel é considerado fora-da-lei, que não acontecerá com a gente?

Logo lhe explicaram que aquele era um falso velhinho, conspurcador das vestes amáveis. Em vez de dar presentes, tomava­os das lojas onde a multidão se comprime, e os vendedores, afobados com a clientela, não podem prestar atenção a tais manobras. Fora apanhado em flagrante, ao furtar um rádio transistor, e teria de despir a fantasia.

— De qualquer maneira, este Natal é fogo — voltou a ponderar Brandão, pois se os ladrões se disfarçam em Papai Noel, que garantia tem a gente diante de um bispo, de um almirante, de um astronauta? Pode ser de verdade, pode ser de mentira; acabou-se a confiança no próximo.

De resto, é isso mesmo que o jornal recomenda: "Nesta época do Natal, o melhor é desconfiar sempre”.Talvez do próprio Menino Jesus, que, na sua inocência cerâmica, se for de tamanho natural, poderá esconder não sei que mecanismo pérfido, pronto a subtrair tua carteira ou teu anel, na hora em que te curvares sobre o presépio para beijar o divino infante.

O gerente de uma loja de brinquedos queixou-se a João que o movimento está fraco, menos por falta de dinheiro que por medo de punguistas e vigaristas. Alertados pela imprensa, os cautelosos preferem não se arriscar a duas eventualidades: serem furtados ou serem suspeitados como afanadores, pois o vende­dor precisa desconfiar do comprador: se ele, por exemplo, já traz um pacote, toda cautela é pouca. Vai ver, o pacote tem fundo falso, e destina-se a recolher objetos ao alcance da mão rápida.

O punguista é a delicadeza em pessoa, adverte-nos a polícia. Assim, temos de desconfiar de todo desconhecido que se mostre cortês; se ele levar a requintes sua gentileza, o melhor é chamar o Cosme e depois verificar, na delegacia, se se trata de embaixador aposentado, da era de Ataulfo de Paiva e D. Laurinda Santos Lobo, ou de reles lalau.

Triste é desconfiar da saborosa moça que deseja experimentar um vestido, experimenta, e sai com ele sem pagar, deixando o antigo, ou nem esse. Acontece — informa um detetive, que nos inocula a suspeita prévia em desfavor de todas as moças agradáveis do Rio de Janeiro. O Natal de pé atrás, que nos ensina o desamor.

E mais. Não aceite o oferecimento do sujeito sentado no ônibus, que pretende guardar sobre os joelhos o seu embrulho.

Quem use botas, seja ou não Papai Noel, olho nele: é esconderijo de objetos surrupiados. Sua carteira, meu caro senhor, deve ser presa a um alfinete de fralda, no bolso mais íntimo do paletó; e se, ainda assim, sentir-se ameaçado pelo vizinho de olhar suspeito, cerre o bolso com fita durex e passe uma tela de arame fino e eletrificado em redor do peito. Enterrar o dinheiro no fundo do quintal não adianta, primeiro porque não há quintal, e, se houvesse, dos terraços dos edifícios em redor, munidos de binóculos, ladrões implacáveis sorririam da pobre astúcia.

Eis os conselhos que nos dão pelo Natal, para que o atravessemos a salvo. Francamente, o melhor seria suprimir o Natal e, com ele, os especialistas em furto natalino. Ou — idéia de João Brandão, o sempre inventivo — comemorá-lo em épocas incertas, sem aviso prévio, no maior silêncio, em grupos pequenos de parentes, amigos e amores, unidos na paz e na confiança de Deus.

(14-12-1966)

Texto extraído do livro "Caminhos de João Brandão", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1970, pág. 84.

Conheça o autor e sua obra visitando "
Biografias".


Fonte: Releituras

Poema de Natal, Vinicius de Moraes

Poema de Natal
Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinicius de Moraes, poeta e diplomata na linha direta de Xangô. Saravá! No poema acima temos retratado aquele que, para muitos, é um evento triste.

O acima foi foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

Fonte: Releituras

Milagre do Natal, Lima Barreto

Baixe completo Milagre do Natal, texto de Lima Barreto.

Milagre do Natal - baixar aqui (arquivo pdf)


Trecho

(...) Os senhores devem ter verificado que os pais sempre procuram casar as filhas na classe que pertencem: os negociantes com negociantes ou caixeiros; os militares com outros militares; os médicos com outros médicos e assim por diante. Não é de estranhar, portanto, que o chefe Campossolo quisesse casar sua filha com um funcionário público que fosse da sua repartição e até da sua própria seção.
Guaicuru era de Mato Grosso. Tinha um tipo acentuadamente índio. Malares salientes, face curta, mento largo e duro, bigodes de cerdas de javali, testa fugidia e as pernas um tanto arqueadas. Nomeado para a alfândega de Corumbá, transferira-se para a delegacia fiscal de Goiás. Aí, passou três ou quatro anos, formando-se, na respectiva faculdade de Direito, porque não há cidade do Brasil, capital ou não, em que não haja uma. Obtido o título, passou-se para a Casa da Moeda e, desta repartição, para o Tesouro. Nunca se esquecia de trazer o anel de rubi, à mostra. Era um rapaz forte, de ombros largos e direitos; ao contrário de Simplício que era franzino, peito pouco saliente, pálido, com uns doces e grandes olhos negros e de uma timidez de donzela. (...)


Fonte: DomínioPúblico

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Poemas de Orides Fontela

Poesias da poeta Orides Fontela.

Fala

Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será.
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade)

Fonte: JornaldePoesia


Viagem

Viajar
mas não
para

viajar
mas sem
onde

sem rota sem ciclo sem círculo
sem finalidade possível.

Viajar
e nem sequer sonhar-se
esta viagem.

Fonte: Releituras


Média

Meia luz.
Meia palavra.
Meia vida.

Não basta?

De Transposição (1969)


Fonte: AlgumaPoesia








































Imagens Manuscritos: RevistaE


Orides de Lourdes Teixeira Fontela nasceu na cidade de São João da Boa Vista (SP), no dia 21/04/1940. Em 1946, educada por sua mãe, começa a escrever poemas. No ano de 1951, cursa o Ginásio e, em 1955, a Escola Normal de São João da Boa Vista. Seus primeiros versos são publicados em 1956 no jornal “O Município” daquela cidade. Muda-se para São Paulo (SP), em 1967, onde ingressa no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo – USP. Estréia, em 1969, com o livro de poemas “Transposição”, publicado com a ajuda do professor e crítico Davi Arrigucci. Em 1973, lança “Helianto”. Em 1983 é publicado seu terceiro livro de poemas, “Alba”, que recebe o Prêmio Jabuti. Trabalha como professora primária e bibliotecária em várias escolas da rede estadual de ensino. Em 1986, é lançado “Rosácea”. O escritor, poeta e crítico Augusto Massi reúne, em 1988, toda a obra anterior da poeta no livro “Trevo”. Em 1996, o livro “Teia”, reunião de toda a sua obra, recebe o Prêmio concedido pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte. Tentando superar suas dificuldades financeiras — havia sido despejada do apartamento onde vivia — vai viver na Casa do Estudante, um velho prédio na Avenida São João daquela capital. De personalidade difícil, isola-se cada vez mais dos amigos, morrendo em 02/11/1998, num sanatório em Campos do Jordão (SP). Seu livro, “Poesia Reunida”, é lançado em 2006. (fonte: Releituras)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Livro de Luis Nassif

Vídeo onde o jornalista Luis Nassif fala sobre o lançamento de seu livro A Casa da Minha Infância.

Introdução do livro A Casa de minha infância de Luis Nassif


Luis Nassif foi introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no país. Vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003, 2005 e 2008, em eleição direta da categoria.

Waly Salomão no cinema

Reprodução da coluna Cinema e Invenção publicada no saite Via Política, texto de Luiz Rosemberg Filho e Sindoval Aguiar.

Waly Salomão ressucitado
por Luiz Rosemberg Filho & Sindoval Aguiar


O poeta Waly Salomão
Rio de Janeiro – Precisamos descobrir o cinema/ Escondido atrás das telas/ Farto de idéias comedidas/ As imagens estão dormindo/ Precisamos descobrir o cinema... Ora, o mundo virou uma lata de lixo vivamente espetacularizada por interesses duvidosos. Entre a violência e as muitas crises econômicas, a religião prometendo o “paraíso” depois da morte. Os políticos cafetinando os pobres e miseráveis. E os meios de comunicação reafirmando o fascismo como necessidade. O império quer o civilizado bárbaro e burro. Razão para quê? O choque-espetáculo passa pelos horrores das guerras vencidas ou perdidas. Dá-se espaço a seres sem expressão alguma. Reproduz-se o mundo burguês “vitorioso”. Mas vitorioso em relação a quê?

Como dar um novo caminho a linguagem, além da produção de medos e neuroses? Nesse nosso contexto de zona como aprofundar o processo criativo? Como valorizar o cinema-pensamento, anti-espetáculo-televisivo-roliudiano? Frente ao traumático esvaziamento do coletivo, como desenvolver idéias novas? Aí chegamos a Waly Salomão, que tinha aversão pelo que não fosse a vida como poesia. Sua lucidez permanente era o seu “vapor barato”. Na sua imperfeição bem humorada era incapaz de resignar-se ao silêncio. Como se improvisasse tudo e com todos, conservava o bom humor eterno. Em sua beleza erudita inovava sempre. Audacioso, ele não fazia música e, sim, era a própria música. Libertado de tudo, era a elegância em movimento. Seu amplo sorriso transbordava satisfação e prazeres proibidos entre a velha Síria e o sertão baiano. Pai e mãe do anti-conservadorismo.

Tempo privilegiado este nosso por ter pessoas como Waly. Uma desrazão da razão acadêmica, que fez da vida perguntas e não respostas definitivas. Como diria Renée Char: “A lucidez é a ferida mais próxima do sol.” É o poeta na aceitação da sua recusa a melancolia ou a morte. E morreu por aceitar-se mortal sem lágrimas ou frustrações. Hoje morre-se por nada. Querem nos fazer acreditar que a vida perdeu o seu valor simbólico de desobedecermos a ordem podre do poder político. Waly queria viver a vida por tudo e todos. E foi muito mais que o seu próprio entusiasmo entre cansaços e angústias. Através dessa continuidade-descontínua, o imprevisível sempre novo. Uma lealdade uterina à esperança de ser vida! Ser sempre mais poeta. Ser mais experiência como necessidade em sua voracidade de introjetar barulhos no silêncio minúsculo da nação. Sua referência verbal caminhava à deriva com a poesia-vida.

Ousou ser mais. Ousou sonhar e caminhar com os próprios pés. Seus amigos só podem falar do que já ficou para trás, quando ele se arremessava entre a vida e a paixão realizando sonhos. Sonhos preenchidos com contradições. Era bem mais que um poeta cuidando da própria imagem. Sua continuidade-descontínua era sempre entre o humano demasiadamente humano, e o delírio salutar. Como rejeitar tal grandeza? Ora, se o mundo real é um disfarce contínuo localizado no poder, o poeta é a sua negação externa, afirmando a sua poesia-vida. E seu grande dilema foi ser sempre mais num país onde se é sempre menos. Waly era um poeta dentro da própria poesia celebrando sempre a sua capacidade de ser ainda mais tudo e todos.

Ousaríamos dizer que Pan-Cinema Permanente, de Carlos Nader (Brasil,2008), expressa com vigor a suprema beleza do poeta baiano. E sem a menor exploração do outro, a legitimação de múltiplas essências da beleza anti-alucinatória de Waly, expert na desorganização das muitas certezas convencionais da vida burguesa. Não poderia ter sido outra a escolha da cineasta Ana Carolina, para que representasse belissimamente o poeta Gregório de Mattos no cinema. Pois ambos se serviam de metamorfoses aquém das muitas certezas do mundo. Ora, e se é verdade que a paixão anula qualquer ordem, Gregório e Waly se realizam numa espécie de escultura da própria existência, anti lugar-comum da imobilidade aliada à imoralidade. Pois sentir fundo a vida em si e no outro é uma exacerbação de singularidades transcendentais para poucos, onde o repouso passa a ser uma espécie de estética do constante deslocamento. E a poesia, longe de ser mais um refúgio dos vencidos, é o afloramento do confronto do novo contra o velho. Waly renascia único todos os dias num tempo falsamente iluminado por Hollywood e pela Coca-Cola. É o que ainda hoje nos mata à todos.

Um filme significativo de linguagem. Uma aproximação de contrários onde só importa o cinema-poesia em Waly Salomão. Os demais que falam só são vozes e suas afinidades com o personagem, a posteriori. Pois o tempo do poeta torna-o mais vivo e iluminado. Como afirmou Paul Valéry em seus Cadernos: “Tempo que fazemos, tempo que sofremos – tempo que nem fazemos nem sofremos...” São as linhas diretrizes da redenção do baiano inquieto diante da vida que jorra o frescor dos seus muitos sonhos: profano, inspirado, qualificado, ousado. A substância do seu trabalho era ele próprio projetando-se para tudo e todos. Improvisador glorioso do desejo. Não estamos diante de um filme comum, mas de um trabalho-ensaio bem sucedido como ambição e realização. Carlos Nader é a mais jovem transparência do que de melhor se faz hoje, aqui, no documentário. Num filme quase sem luz, opaco mesmo, uma tapeçaria viva da memória marcada por descontinuidades, humor e amor. Um filme de significação poética arbitrária. O mais importante filme de um ano de ficções televisivas idiotas.

Estamos falando de Pan-Cinema Permanente o belo filme sobre Waly Salomão e sua poesia-ruptura, simbolismo estrutura. Wally foi uma irrupção no tempo, na invenção de seu próprio tempo, esta conciliação possível entre o objetivo e o subjetivo, pelos sonhos. Waly viveu e sonhou acordado, como poucos, pela força pouco comum, também, da sua. O seu universo poético fez dele fragmentos e, em pedaços, sai para o mundo compondo sua totalidade. E nem ensaia. Improvisa. Sabe que o mundo é um espetáculo. Arrisca. Improvisa. Ousa. E sem máscara, atua. Estudou, fez Direito, e viu que por aí, a vida não endireitava: a Justiça tarda e falha. E só a poesia desmascara. Ruptura, invenção do eu, morada do sonho! Sonho que não foi em vão, pois Waly, aparece e desaparece compondo e decompondo imagens de tudo o que o fez viver. Com sua vida se tornando um filme com telas escuras, sombreadas ou coloridas, de imagens/fronteira que Waly vai desbravando e iluminando com sua luz, sua força e a expressividade rara de suas concepções de desejos sonhados e realizados; rupturas tornadas linguagem. Coisa muito rara no cinema, hoje! Imagens tratadas como significação e linguagem! A do homem menos objeto. Gente!

Este é um filme que revigora o cinema brasileiro. Liberto do lugar-comum das inutilidades pré e pós concebidas. O discurso de um tempo de imagens de reprodução sem linguagem, sem oralidade, sem grafia, sem analogia. Só digitagem! Filme que a arte libertou para a expressão de Waly e de sua assunção ao paraíso da poesia ruptura, para onde viajou com passagem só de ida acompanhado de Oswald de Andrade, Glauber Rocha, Pixinguinha, Tarsila – duplicando imagens em outras dimensões. Multiplicando aspectos nesta fase anacrônica e mascarada de tanta oligofrenia eletrônica. Para nada, uma desinvenção do tempo, na invasão do mundo interior das pessoas, desestabilizando idéias para o atendimento ao imediatismo da máquina e no atendimento do desejo veloz da inutilidade. Um tsunami entre a liberdade do simbólico e as contradições do estrutural que aprisionam, e cuja força não passa da repressão e da satisfação que elimina.

Nos movimentos de Waly em Pan-Cinema Permanente, não há retrocessos, um parar para conferir, a vida segue em frente e sem ensaios. Com a poesia fazendo o caminho. Se há resistência, impõe-se a ruptura, linguagem da poesia, das imagens como princípio, insubmissas ao verbo, ao discurso sem grafia. Parte para tirar os pecados do mundo, além do lado de baixo do Equador. Esta invenção de viver é o grande salto de Waly, que o filme acompanha como um salto à frente em nosso cinema. Esta força invencível do artista, respeitada pela montagem e por uma trilha sonora cujos ritmo, melodia e harmonia conferem ao solista Waly, poeta invenção de si, no filme, um membro imprescindível, na sua orquestra de sonhos e da sua invenção de existir!
Pan-Cinema Permanente é uma viagem de Waly, rompendo fronteiras para além de si mesmo! Cumpre o determinismo nietzschiano de um eterno retorno, este questionamento, o de uma relação do ser consigo mesmo! Para indagar o que é a vida? Fronteiras? Para ver, mesmo para quem não tem olhar.

13/12/2008

Fonte: ViaPolítica / Os autores

Mais sobre Luiz Rosemberg Filho

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Sindoval Aguiar

Este artigo pode ser reproduzido livremente na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como registrada a menção aos autores e fonte.



Pan-Cinema Permanente - Trailer


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Aniversário de Waly Salomão

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Professor Pasquale analisa e comenta disco de Marcelo Camelo

O Professor Pasquale em seu programa Letra e Música, que foi ao ar no dia 18 de novembro, pela Rádio Cultura Brasil, ouve e analisa o disco completo Sou (Nós), de Marcelo Camelo. Vale conferir na íntegra o programa com os comentários do professor sobre as letras de Camelo (ex-Los Hermanos), tá bem bacana.

Ouça o programa completo aqui (arquivo wma)


Marcelo Camelo
Transmitido em 18/11/2008 às 13:00
O professor Pasquale Cipro Neto comenta nesta edição do Letra e Música o repertório do CD Nós, de Marcelo Camelo. O artista fez parte do grupo Los Hermanos. Suas composições já foram gravadas por outros intérpretes, tais como Maria Rita. O professor Pasquale fez uma seleção, que inclui músicas que contam com a participação de Mallu Magalhães. (fonte:
RádioCultura)



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Los Hermanos anunciam Recesso
Marcelo Camelo Apresenta Nova Música
Marcelo Camelo lança outra música no MySpace
Pra nós todo Amor do Mundo

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tom Zé, novo Disco, novo Estudo

Crítica musical do jornalista sempre antenado Dafne Sampaio, do saite Gafieiras, publicada no dia 23 de novembro, sobre o novo disco de Tom Zé, intitulado Estudando a bossa – Nordeste Plaza.

Tom Zé faz seu próprio estudo bossa nova
por Dafne Sampaio

Garantido em sua posição de artista vivo, influente e inquieto, Tom Zé vem conseguindo, no decorrer dos anos 2000, produzir com regular tranqüilidade obras cada vez mais pessoais. E conceituais, para o bem e para o mal. Pense na urgente discussão sobre a situação feminina brasileira que sai das faixas do genial Estudando o pagode (Trama, 2005) ou então na relação juventude vs. fim da canção no irregular Danç-eh-sá (Elo Music, 2007). De volta ao feminino, o baiano distribui vozes de cantoras pelas canções de Estudando a bossa – Nordeste Plaza (Biscoito Fino, 2008), um ensaio musical sobre as raízes e revoluções da cinqüentenária bossa nova.

A partir da velha e técnica constatação que a bossa nova deslocou as notas musicais para o tempo fraco do compasso, Tom Zé declarou que “neste momento é preciso referir-se ao feminino. O termo vem da própria teoria musical que chama as finalizações no tempo fraco de ‘terminação feminina’”. Taí a razão para a escalação de um time jovem, independente e estelar de vozes femininas. Aliás, as moças são responsáveis pelo frescor e profundidade de um disco que poderia cair no cabecismo barroco que tantas vezes já prejudicou o baiano. Certo que o disco não possui o amor, o tesão, a dor e a raiva de Estudando o pagode (será então o desfecho de uma trilogia começada no clássico Estudando o samba, de 1976?), mas é atravessado por tiradas geniais, associações malucas (e dá-lhe a engenharia da Ponte Rio-Niterói!?) e um batalhão de sons e referências, além de uma visão encantada e não-idolatrada da bossa nova.

Quando se tira o disco da caixa é possível acompanhar com mais clareza o enredo tramado por Tom Zé e então o desfile começa com um discurso de Getúlio Vargas que dá o ambiente na década de 1950 para o surgimento do ritmo. Aí Mariana Aydar chega para cantar sobre a Zona Sul carioca em “Rio arrepio (Badá-Badi)”, enquanto Mônica Salmaso docemente vai parar o mar em “Barquinho herói”. A terceira faixa, “João nos tribunais”, é a defesa da singularidade feminina do violão de João Gilberto e nessa Tom Zé canta sozinho acompanhado de um violão apenas. Em “O céu desabou”, uma velha guarda musical e Tinhorão reclamam dessa nova moda e a voz feminina da vez é a de Tita Lima. No sambinha “Síncope Jãobim”, a paulistana Andréia Dias (da banda Dona Zica) dá o tom exato para as relações matreiras entre música e sexo (“No Brasil reinava então / O doutor samba-canção / Foi quando apareceu o cara do bim-bom”).

A jovem baiana Márcia Castro aparece em “Filho do pato”, uma das quatro parcerias de Tom Zé com Arnaldo Antunes presentes no disco. Desdobramentos e releituras de “Insensatez” (Tom Jobim e Newton Mendonça) surgem aos montes em “Outra insensatez, Poe!” com direito a uma versão em inglês cantada por David Byrne (“o bendito entre as mulheres”). Mas é a mineira-baiana Jussara Silveira que injeta balanço, delicadeza e bom humor para fazer de “Roquenrol bim-bom”, a oitava faixa, um dos pontos altos do trabalho. Estudando a bossa também trata da situação das personagens femininas na música popular brasileira em “Mulher de música”, com participação de Fabiana Cozza, e de confusões hollywoodianas em “Brazil, capital Buenos Aires”, com Fernanda Takai nos vocais.

As loucas associações do baiano chegam no ponto mais alto em “Amor do Rio”, uma ode ao amor entre Rio de Janeiro e Niterói, engenharia e samba, com a bela contribuição da niteroiense Zélia Duncan. O desfile vai chegando ao fim relembrando boleros imemoriais (“Bolero de Platão”, com Marina de la Riva) e homenageando Dorival Caymmi entre delírios (“Solvador Bahia de Caymmi”, com Anelis Assumpção, filha de Itamar Assumpção e outra integrante da banda Dona Zica) para jogar todo discurso e músicas numa possível relação amorosa entre a Terra e a humanidade (“De: Terra; Para: Humanidade”, com Badi Assad em interpretação emocionante).

Difícil acompanhar todo o fluxo de idéias de Tom Zé. Tudo bem, afinal elas também o sufocam de quando em quando, também o fazem se perder, principalmente quando fala gaiatamente que por isso não sabe fazer canções. Mesmo assim, e de qualquer forma, ele continua surpreendendo e estimulando os ouvidos da música popular brasileira.

p.s.: A banda fiel continua a postos com Jarbas Mariz (cavaquinho, percussão e vocais), Cristina Carneiro (teclados e vocais), Daniel Maia (baixo, guitarra, violão, vocais) e Lauro Léllis (bateria). Como apoio Guilherme Kastrup (percussão), Íris Salvagnini e Luanda (vocais).

Fonte: Gafieiras


Mais Tom Zé:
Mutantes + Tom Zé
Tom Zé segue transgredindo no pós-tropicalismo
O Transgressor Tom Zé
Novo trabalho de Tom Zé tenta conectá-lo aos jovens

Pode até ser Sonho e tal

Flor do Medo é composição de Djavan e está no álbum Vaidade, de 2004.

Flor do Medo - Djavan



Flor do Medo
Djavan


Venha me beijar de uma vez
você pensa demais
pra decidir
venha a mim de corpo e alma
libera e deixa o que for
nos unir
não vá fugir mais uma vez
vença a falta de ar
que a flor do medo traz
tente pensar
pode até ser mau e tal
mas pode até ser
que seja demais
tudo vai mudar
posso pressentir
você vai lembrar e rir
alguma dor
que não vai matar ninguém
pode ser vista e nos rondar
não precisa se assustar
isso é clamor
de amor
venha me beijar de uma vez
feito nuvem no ar
sem aflição
venha a mim de corpo e alma
libera a paz do meu coração
não vá se perder outra vez
nesse mesmo lugar
por onde já passou
tente pensar
pode até ser sonho e tal
mas pode até ser
que seja o amor

domingo, 7 de dezembro de 2008

Clipe do Zé Cafofinho

Conceição - Zé Cafofinho e Suas Correntes

Conceição é música do disco "Um Pé na Meia, Outro de Fora", do pernambucano Zé Cafofinho. Para saber mais sobre o artista e pra baixar o disco completo, clique
aqui.

Pra saber mais:
Conheça a Música de Zé Cafofinho, Ouça Algumas Faixas e Baixe o CD Completo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Gisele Bündchen não acha marido por aqui - Crônica de Xico Sá

Crônica do jornalista e escritor Xico Sá, retirada de seu blogue oficial, O Carapuceiro. Neste texto, amparado em depoimentos de pessoas simples do sertão, ele tece uma critica escrachada ao padrão anoréxico imposto pelo mundo da moda, e difundido despudoradamente pela mídia, como sendo exemplo de beleza. Xico é colunista do jornal Folha de São de Paulo e das revistas Trip e TPM, ao lado da banda Mundo Livre S/A teve papel relevante no movimento Manguebeat, é autor do livro Divina Comédia da Fama? Purgatório, Paraíso e Inferno de Quem Sonha Ser uma Celebridade (Editora Objetiva, 2004).

SEM CHANCE, GI!
Xico Sá

Gisele Bündchen não acha marido por aqui. Sim, amigo, em alguns lugares do Brasil, a dita über mega super modelo não arrumaria nem para o sal, como bodejam as gentes antigas do interiorzão.

Mostro a foto da modelo na capa da revista, o caboclo entorta os beiços, silêncio no deserto, fecha um pouco os zolhos gastos pelo solzão das esperas, e economiza palavra e saliva: “Presta no amolegamento não, dotô, pegar adonde eu vô?”.

Amaro, 44, balbucia, agora mirando com um só olho, como se fosse dá um tiro de espingarda soca-soca de matar nambus, preás, codornizes e outras misturas e marrecos: “Tão graciosa calunga e passando necessidade!”

Pense na viagem!

No terreiro de casa, passa o rio São Francisco, meio acabrunhado depois da construção da vizinha hidrelétrica de Xingó. No quintal, tem a grota de Angicos, onde Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros foram chacinados no ano-calibre de 38, 1938, sete cabalísticas décadas atrás.

No cardápio, dona Gilda Nunes, 58, mãe de 12 criaturas, transforma a memória de necessidades e secas brabas em gastronomia de primeira, coisa fina mesmo. Da cabeça-de-frade, aquele cacto redondinho com o cocuruto vermelho, faz um doce de lamber os beiços; do talo da urtiga faz uma salada para acompanhar o surubim, peixe que já escasseia no velho Chico cansado de tretas. Do facheiro, também nascida na teimosa flora semi-árida, sai uma geléia de matar de inveja o D.O.M. e o Fasano, para citar dois dos mais premiados e metidos restaurantes paulistas.

“A gente tem que aprender a tirar desse deserto tudo que é sustança”, dá o mote-exemplo. “E isso vem de longe, eu já aprendi com a minha mãe, que aprendeu com a dela, que aprendeu mais atrás ainda e as minhas filhas já fazem tudo melhor do que eu.”

Luíza, novinha cheirando a leite, é uma dessas meninas. Faca amolada, tira os espinhos dos cactos com a habilidade de um japonês cortando peixe para fazer sushis. Um mar de água, o cacto desmancha-se na bacia. “Muita gente já matou a sede, em tempo ruim de verdade, com essas plantas”, repete a narrativa que ouviu dos mais velhos. “Os bodes tiram os espinhos espezinhando a cabeça-de-frade, depois enchem o bucho, felizes, Deus sabe o que faz.”

O doce do cacto é de botar abaixo qualquer regime ou cuidado de mulher com a silhueta. Lembra doce de mamão verde, mas é muito melhor mesmo. Embora algumas mais jovens já sigam os padrões estéticos importados na parabólica, sertanejo que é sertanejo aprecia mesmo é uma moça roliça, cheinha. A Gisele, repete Amaro, teria sérias dificuldades para arrumar marido na nação semi-árida.

Macho considerado também é o que apresenta sinais de fartura para encobrir o esqueleto. Homem fornido, redondo na cintura e nas bochechas, barriga que dá o ritmo em qualquer forró. “Quando tu balança dá um nó na minha pança”, como na lição gonzagueana.

“Hoje em dia, na capital, tem essa moda de graveto, coisa sequinha, só o osso, as moças parecem aquelas vaquinhas da seca, andam tudo desconjuntadas, pernas destrambelhadas, que diabo de tempo é esse?”, pergunta dona Gilda. “Tem moça que é só o fiapinho de gente. E moça rica, com condição de comer direitinho, com bufunfa, dinheiro.”

De certa forma, o pendor pelos mais cheinhos e cheinhas, sinais de bonança, não deixa de ser uma vingança estética contra a memória da fome, sertão dos flagelos. A busca da fartura até nas carnes de casamentos e pecados, cercas tantas do amor.

Mas no restaurante familiar de dona Gilda, de nome Angicos, batismo que nem carece de placa, as moças sequinhas das metrópoles escapariam com peixes e saladas da caatinga.

“Mas aviso logo: comer pouco aqui é uma desfeita”, diz. “Gosto de quem come como se o mundo fosse acabar logo um tempinho depois.” Para a sobremesa, além dos doces, redes estendidas debaixo de mangueiras garantem uma sesta de rei de España.

Crônica de uma viagem inesquecível pela nação semi-árida, que me rendeu “Nova Geografia da Fome” (ed.Tempo d´Imagem), homenagem a Josué de Castro, gênio da raça, cujo centenário de nascimento acontece também neste ano de 2008, salve, salve!

Fonte:
OCarapuceiro

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Meu Coração Tropical partirá esse Gelo

Corsário - Elis Regina

Versão com arranjos originais de Corsário, na interpretação de Elis Regina. Gravado durante um programa da Rede Bandeirantes, em 1976.

Corsário
João Bosco / Aldir Blanc


Meu coração tropical
está coberto de neve, mas,
ferve em seu cofre gelado
e a voz vibra e a mão escreve: mar.
Bendita a lâmina grave
que fere a parede e trás
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais.

Roseirais! Nova Granada de Espanha!
Por você, eu, teu corsário preso
vou partir a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar,
me arrastar até o mar,
procurar o mar.

Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar,
meu coração tropical
partirá esse gelo e irá
com as garrafas de náufrago...
e as rosas partindo o ar!
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar!



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