segunda-feira, 30 de abril de 2007

Baixe nova música do Mundo Livre, um Requiem para virtuais vítimas e atiradores

Sempre antenados com a atualidade e dispostos a lançar sua voz pra comentar ou criticar o sistema em que vivemos, não somente do Brasil, mas do planeta inteiro, O Mundo Livre S/A disponibiliza na internet sua nova música, Cho Seung-hui Song. A canção, que foi gravada na sexta-feira (27/04) e lançada no dia seguinte no saite da Monstros Discos, trata sobre o recente massacre na Universidade da Virgínia, onde, no último dia 16, o sul-coreano Cho Seung-hui assassinou 32 pessoas. Fred 04, vocalista do Mundo Livre, diz que a produção "é uma valsa pisicodélica, com referências a Mutantes e Bob Dylan". Segue a música em mp3 pra baixar.

Baixe Cho Seung Song - Mundo Livre S/A

CHO SEUNG SONG (Requiem para virtuais vítimas e atiradores)

O sol nunca se põe nos infinitos domínios da microsoft
todos sabemos que é só uma inocente e singela corrida
Tudo é seguro nos liberais domínios da tecnolife
mas por uma razão qualquer eu só consigo ver macrosangue
(escorrendo dos dedos tétricos que preparam nossos castos bigmacs)

Então eu estou voltando pra China, nunca é tarde
mas antes queria levar um lote de vocês pra um longo passeio
quem tem que viver encurralado, bye bye peixinhos dourados, bye bye

Consciência ambiental com as menores taxas do pregão
mas algo me incomoda, não sei, deve ser o cheiro de ódio
(que exala de suas turbinadas sementes)
Dolar em baixa comprime os preços nos mercados emergentes
mas quem não conhece o fim dessa piada
maldita maratona sem linha de chegada
Satélites rastreiam nossos passos
portanto eu realmente não sei
quanto tempo ainda temos pra limpar as mãos antes que o anjo/rede/NBC
nos liberte desse tenebroso anonimato

Então eu estou voltando pra China, nunca é tarde...(refrão)

O sol nunca se põe...
todos sabemos que é só uma corrida de vantagens

sábado, 28 de abril de 2007

Curta Sabino II com Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes

Assista a trechos dos curtas-metragens feitos por Fernando Sabino e David Neves entre 1973 e 1974. Aqui você acompanha aos filmes realizados com Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes.

Impagáveis são os momentos protagonizados por Drummond, Erico Veríssimo e Vinicius. O primeiro volta ao Palácio Capanema, antiga sede do Ministério da Educação onde trabalhou ao lado de Gustavo Capanema nos anos 30, para protagonizar um dos momentos mais divertidos. O contido e sempre discreto mineiro brinca de esconde-esconde nas enormes pilastras da construção modernista e sorri aos montes, faceta pouco vista de alguém que por muitos anos recusou-se a dar entrevistas. Fala ainda da escrita, de Minas – "Criamos um pouco de rocambole com Minas" –, da família, e passeia pelo centro do Rio, toma um ônibus, pára na livraria, outra parada para um cafezinho no boteco, a recriar seu possível itinerário de outrora. Já Erico Veríssimo aparece e sua casa, em Porto Alegre, no bairro de Petrópolis, onde hoje seu filho, Luis Fernando continua morando. Auge da irreverência e intimidade destas pequenas obras-primas, é ver Erico brincando com os netos no quintal de casa, a interpretar dois samurais, Akuda e Oito, e cometer um harakiri, o suicídio que o guerreiro comete ao ver-se derrotado. O escritor gaúcho, que tinha em mente construir a saga do Rio Grande do Sul, volta ainda à sua terra natal, Cruz Alta, e visita o sobrado onde nasceu, à época já local de preservação da sua memória. Por fim, o filme traz o Hotel Majestic, onde o escritor passou sua lua-de-mel, e morada do amigo e poeta Mário Quintana, que hoje nomeia o cento de cultura ali instalado. Vinicius, por sua vez, aparece ao lado de Toquinho, contando a precoce iniciação na poesia e, como não poderia deixar de ser, feita para uma namoradinha, ele com seis, ela com sete anos. Fala do primeiro livro, Forma e exegese, nome pedante que o próprio autor relembra ironicamente, e algo esotérico, antes de se aproximar da vida e passar do pronome da primeira para a terceira pessoa em seus poemas. O filme abre e fecha com o poeta declamando seus versos, que ainda interpreta seu primeiro samba, "Quando tu passas por mim" e enumera suas influências – Pixinguinha e Jayme Ovalle – e parceiros – Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo, Toquinho. E, por fim, cena antológica, a garota de Ipanema, Helô Pinheiro, em 1973, cruzando a rua que mais tarde levaria o nome do poeta rumo ao bar que hoje leva o nome da música que imortalizou o bairro. A série conta ainda com o curtas-metragens sobre João Cabral de Melo Neto, Pedro Nava, Afonso Arinos de Melo Franco e José Américo.

Fonte: Revista Idiossincrasia

Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes


Para assistir, é preciso o Windows Media Player 9 ou 10. Clique aqui para baixar. Ou baixe o Media Player Classic que, além de ser programa de código aberto, é muito menor que o outro e também serve como player de DVD, suporta legendas AVI, formatos QuickTime, RealVideo, entre outros.

Curta Fernando Sabino e seus filmes com Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Jorge Amado e Pedro Nava

O filme abaixo é fruto de uma parceria entre Fernando Sabino e David Neves e fazem parte de dez curtas-metragens realizados pela dupla entre 1973 e 1974 pela Bem Te Vi Filmes, projeto que levou o nome de Literatura Nacional Contemporânea. Esta "redescoberta" do Sabino cineasta deve-se ao empenho do filho Bernardo, responsável pela iniciativa de uma mostra de filmes e exposição sobre a vida e obra do escritor mineiro. "Surgiu por acaso [a idéia da mostra e da exposição]. Quando papai faleceu, o Canal Brasil me procurou para exibir os filmes que ele tinha feito com o David Neves, em 1973, com os escritores, e a partir daí fui procurar esses filmes, e os encontrei na Cinemateca Brasileira num estado não muito bom, não por culpa da Cinemateca, mas por culpa da conservação, do papai jogar pra cá, jogar pra lá. Achei uma fita beta com boa qualidade, que atendeu a demanda do Canal Brasil".

Fonte: Revista Idiossincrasia

Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Jorge Amado e Pedro Nava


Assista a trechos dos curtas-metragens feitos por Fernando Sabino e David Neves entre 1973 e 1974. Aqui você acompanha os filmes realizados com Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Jorge Amado e Pedro Nava.

Revista Idiossincrasia

Para assistir, é preciso o Windows Media Player 9 ou 10. Clique aqui para baixar. Ou baixe o Media Player Classic que, além de ser programa de código aberto, é muito menor que o outro e também serve como player de DVD, suporta legendas AVI, formatos QuickTime, RealVideo, entre outros.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Crítica Lobão Acústico MTV

E o Lobo mordeu a língua
Cantor e compositor carioca faz o que criticou com vontade na última década: grava um Acústivo MTV.
por Edson Wander

Lobão mordeu a língua e jogou a toalha. Depois de brandir a independência como salvação da lavoura e espezinhar colegas que se entregaram ao doce e regado mundo dos álbuns acústico-industriais, eis que o velho Lobo figura de cordeiro no esquema banquinho-e-violão em seu novo CD+DVD Acústico MTV (Sony&BMG). Com todos os elementos clássicos do formato (incluindo quinteto de cordas), Lobão reviu antigos sucessos (Revanche, Rádio Blá, Me Chama, Canos Silenciosos...) e incluiu algumas das últimas da fase independente (Você e a Noite Escura, A Queda, A Vida é Doce).

E como Lobão justifica a "recaída"? Tem dito que cansou de não ser ouvido (apesar de ter alimentado o sonho das vendas em bancas de jornal), que o quadro gerencial da Sony (agora Sony&BMG, contra quem movia processos) mudou e com isso mudou também o tratamento que recebia da gravadora. O novo contrato, além do disco revisionista, prevê o relançamento de toda a discografia dele numa caixa a sair no fim do ano, incluindo a reedição dos três álbuns independentes. Diz mais: que o nível dos acústicos "melhorou muito" e assume que voltou a tocar nas rádios por causa de jabá, o suposto pagamento que as gravadoras fazem para ter seus artistas executados. Lobão liderou uma frente que pretendia criar uma lei federal tipificando o jabá como crime.

E o Lobão Acústico MTV é ruim? Não é, como não são nenhum dos que ele atacava. São tecnicamente perfeitos, bem produzidos e gravados. Lobão abria artilharia mais ideológica do que técnica contra os discos. E invariavelmente tinha razão, dado o caráter padronizante do projeto. O dele ficou assim, sem tirar nem pôr, apesar de ele defender que tenha ficado "excelente" porque explorou uma sonoridade folk, usou mais de 30 violões e blá blá blá. Pelo contrário, apesar de bonito, algumas canções perderam sua força natural, especialmente as mais recentes, dos discos lançados pelo Universo Paralelo (selo próprio). O CD Canções Dentro da Noite Escura (de 2005) é um tratado de rock brasileiro pesado e lírico, mas a canção-síntese dele, Você e a Noite Escura, soa diluída no Acústico MTV. São 21 faixas no DVD e 18 no CD. A produção foi de Carlos Eduardo Miranda (um dos jurados do programa Ídolos, do SBT). A versão em DVD deve chegar as lojas até o início de maio.

E o que será dos projetos paralelos de Lobão com a nova inserção na indústria do disco? Sofrerão um ataque súbito por excesso de incoerência? Não se sabe ainda. O editor da revista dele, Outracoisa, diz que continua tudo igual. Adilson Pereira não quis comentar o novo disco do chefe alegando não ter recebido o trabalho. Perguntado se a revista resenharia o disco, limitou-se a dizer que "ficaria estranho a revista falar do disco". "O que a gente normalmente faz é uma matéria sobre os discos lançados pela revista, não é o caso deste", disse Pereira. De mais esse episódio da história do falastrão Lobão, algumas leituras são possíveis, ao gosto de cada freguês: a) o mercado independente paga as contas, mas não leva ao céu, b) o rock é mais demasiadamente humano para uns artistas do que outros e c) esquerda festiva não é um conceito aplicável só aos políticos.

Acústico MTV
Lobão
Gravadora: Sony&BMG
Preço médio: R$ 30,00 (CD)


Copyleft

Livro Completo de Lima Barreto

Baixe o livro completo de Lima Barreto, O Homem que Sabia Javanês e Outros Contos. Escritor e jornalista Afonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de Maio de 1881 - Rio de Janeiro, 1º de Novembro de 1922) foi simpatizante do anarquismo e militante da imprensa socialista. Mulato, vítima de racismo e com pai nascido escravo, Lima Barreto foi testemunha ocular da abolição da escravatura e ao lado do pai esperou, no Largo do Paço, na capital fluminense, pela assinatura da Lei Áurea. O escritor teve sua vida atribulada pelo alcoolismo e por internações psiquiátricas, vindo a falecer aos 41 anos de idade. Apesar das conseqüências desastrosas que a bebida lhe trouxe, levando-o a loucura, Lima Barreto acreditava que o álcool o ajudava a escrever melhor.

O Homem que Sabia Javanês e Outros Contos em PDF aqui

Arquivo alternativo (diagramação visualmente mais interessante para impressão, também em PDF)

Obra (Wikipédia - a enciclopédia livre)
Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares.
Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados.
Foi severamente criticado pelos seus contemporâneos parnasianos por seu estilo despojado, fluente e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas.
Lima Barreto queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.



Acervo de Domínio Público
Ilustração Imagem Livro: Odilon Moraes

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ouça Paulo Autran interpretando textos de Quintana e Sabino

Uma boa dica pra quem quer ouvir algo de qualidade no rádio é a coluna de Paulo Autran, Quadrante, na Band News FM. O ator interpreta, de segunda a sexta, textos de grandes nomes da literatura em língua portuguesa. Quadrante é apresentado em diversos horários e também pode ser conferido através da internet. Abaixo dois dos últimos textos interpretados por Autran e informações pra quem quiser ouvir direto da emissora.

Yerko Herrera

Paulo Autran


Quadrante
Nacional e São Paulo (9h57)

Seg a Sex às 2h57, 9h57, 12h17, 17h17 e 22h17

Um dos mais aclamados atores do Brasil, estreou no teatro em 1955 e, desde então, protagonizou sucessos de crítica e público nos palcos, cinema e TV. Em Quadrante - vencedor do Grande Prêmio da Crítica da APCA -, interpreta textos de renomados nomes da literatura em língua portuguesa, retomando a experiência que havia feito na década de 60


Informações: BandNewsFM

26/04/2007 - Paulo Autran
De Mário Quintana, Velha História - Ouça


25/04/2007 - Paulo Autran
De Fernando Sabino, a crônica, Entrevista de televisão - Ouça


A BandNews FM pode ser ouvida em São Paulo (96,9), Rio de Janeiro (94,9), Porto Alegre (99,3), Belo Horizonte (89,5), Salvador (99,1) e Curitiba (96,3).

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Los Hermanos anunciam Recesso

Los Hermanos em recesso por tempo indeterminado

por Marco Antonio Barbosa

Os Los Hermanos anunciaram na segunda-feira (dia 23) em seu site oficial (www.loshermanos.com.br) que entrarão em "recesso por tempo indeterminado" a partir de junho, quando farão dois shows na Fundição Progresso (RJ), nos dias 8 e 9. Na nota divulgada no site, o quarteto afirma que "não houve desentendimento" entre seus integrantes e cita "outras atividades" dos membros. Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, vocalistas e compositores de todas as músicas do grupo, vêm nos últimos anos desenvolvendo uma série de projetos paralelos; Camelo lançou-se como produtor e vêm se destacando individualmente como compositor, sendo gravado por diversas intérpretes (como Maria Rita), caminho parecido com o de Amarante, que ainda milita na Orquestra Imperial.

Eis a íntegra da nota publicada no site:

"A banda Los Hermanos comunica a decisão de entrar em recesso por tempo indeterminado. Por conta disso não há previsão de lançamento de um novo disco.A pausa atende a necessidade dos integrantes de se dedicarem a outras atividades que vieram se acumulando ao longo desses dez anos de trabalho ininterrupto em conjunto. Não houve desentendimento ou discordância que tenha afetado nossa amizade tanto que continuamos jogando truco toda quinta-feira. Por conta dessa decisão, mesmo após o término da turnê do 4, resolvemos fazer duas únicas apresentações no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso nos dias 8 e 9 de junho. Até lá."

Novo trabalho de Tom Zé tenta conectá-lo aos jovens

Tom Zé em alta potência

por Ricardo Vespucci
ilustração: Osvalter

Tom Zé partiu de três princípios para fazer, ou construir, seu novo CD, Danç-Êh-Sá, lançado no fim do ano. Os três princípios estão logo no início do encarte. O primeiro, uma pesquisa da MTV, de 2005, cujos dados revelam uma juventude consumista, hedonista, sem um pingo sequer de solidariedade, nem de responsabilidade social. O segundo, uma frase dita por Chico Buarque em entrevista, também em 2005: “A canção (música e letra) acabou”. Terceiro, um artigo escrito em 2004 pelo maestro Júlio Medaglia na revista Concerto sobre a potência do som hoje em dia instalado nos carros, lamentando que a criação musical não tenha acompanhado com “novos conteúdos uma revolução técnica gigantesca que levou o raciocínio sonoro a um novo século”.

Os resultados da pesquisa MTV sacudiram o sempre alerta lado político de Tom Zé. Ele sentiu que as respostas dos jovens traduziam um verdadeiro curto-circuito na comunicação entre o mundo e eles e, assim, representavam “um grito de socorro na cara dos formadores de opinião”. Então, ele próprio um formador de opinião, sentiu a necessidade de adotar uma linguagem que o aproximasse daquela grande turma de “desinteressados” e, ao mesmo tempo, lhes transmitisse alguma cultura, no caso, a informação de que fazem parte de uma “nação negra”. O CD, a propósito, tem o subtítulo Dança dos Herdeiros do Sacrifício (as primeiras sílabas dessas palavras compõem o título principal) e cada uma das sete faixas faz referência a revoltas dos negros ao longo da história do Brasil.

Aceitando sem restrição o descompasso evidenciado pelo maestro Medaglia, Tom Zé, porém, nunca acreditou na frase de Chico Buarque (e talvez nem Chico acredite, já que está hoje na praça com um CD inteiro de letras e músicas, ou seja, canções). De todo modo, assumiu a “sugestão” de Chico e partiu para o desafio de uma obra (quase) sem palavras e de som pesado. Era ponte que imaginava poder ligá-lo aos jovens.

Dizem os que acompanharam de perto o trabalho que Tom Zé penou para realizá-lo. Inúmeras vezes fez e desmanchou tudo, refez e voltou a desmanchar, o que lhe valeu noites insones ou o despertar em sobressalto e desespero. Era muita insegurança diante de uma linguagem musical nada familiar.

Ouvir o disco pronto dá mesmo idéia da dificuldade, tal é a miscelânea de sons, que, no entanto, está longe de ser caótica. Ao contrário, é uma miscelânea minuciosamente organizada. Um trabalho cerebral, da concepção à realização. E muito bonito.

No lugar de letras, murmúrios de uma ou mais vozes, gemidos, latidos e chiados, poucas palavras, em geral interjeições, onomatopéias. Só se compreende “uai-uai” na composição intitulada Uai-Uai. Na faixa Atchim, ouve-se um ritmado “a-a-a-a-atchim!” na primeira parte e “ô-ô-ô-atchim/ ô-ô-ô-atchim” cantado na segunda. “Cara-caiá, cara-caiá” e uma “conversa” entre som vocal e instrumento musical em Cara-Cuá. Fungadas que lembram sexo em Acum-Mahá. Só com a pronúncia de vogais são cantados alguns coros espalhados pelas faixas. Está aí, de acordo com Tom Zé, uma espécie de protolíngua, como a ancestral experimentação livre de vogais e consoantes que antecedeu a formação das línguas.

Os instrumentos musicais – entre outros, sanfona, cavaco, baixo, harpa, teclados, mais programação eletrônica e percussão variada – executam trechos melódicos, curtos trechos apenas, melodias fragmentárias que nem sempre se “resolvem”, isto é, percorrem um caminho que não conduz ao final que se poderia esperar, se fossem melodias convencionais, com começo, meio e fim. Por trás delas, e em plena coerência com elas, uma seqüência harmônica repleta de acordes dissonantes, bela e estranha.

O ritmo é de enorme vigor e acento genuinamente brasileiro, do samba ao forró, com alguma marcação de origem no rock. Tudo na melhor tradição da MPB: “música plural brasileira”, como dizem os músicos mais atuais. Também as vozes desempenham papel ritmador, e um exemplo bem acabado disso está na faixa 7, samba lascado em que o vocal faz as vezes do agogô: “cá-cá-cá, qué-qué-qué, qui-qui-qui, có-có-có, cu-cu-cu”. Cada composição tem uma segunda parte em que o ritmo se suaviza e dá lugar a lindas passagens repousantes.

Outra qualidade do trabalho é a utilização na dose certa dos recursos eletrônicos, o que só faz ressaltar a ação humana que lhes dá vida. Nesse aspecto, mas não só nesse, cresce a figura de Paulo Lepetit, que assina com Tom Zé a autoria de cinco das sete faixas. Lepetit é contrabaixista, compositor, arranjador e produtor musical. Acompanhou vários artistas de primeira grandeza, como Cássia Eller e Ithamar Assumpção, e desde 1994 desenvolve carreira-solo. Em suas belas composições costuma usar o baixo como instrumento solista, mostrando técnica apurada. No CD Danç-Êh-Sá, além de tocar em todas as faixas, divide com Guilherme Kastrup a programação eletrônica de instrumentos e responde, com o músico Marcelo Blanck, pela edição e mixagem, fundamentais para o resultado.

O CD transborda de ironia, virtude inerente a Tom Zé. Não emociona no sentido de comover, mas cutuca o tempo todo, mobiliza, faz dançar. E impressiona pela maestria em criar, com tantos elementos sonoros, uma densa e envolvente massa musical. Danç-Êh-Sá é tudo isso e tem mais uma coisa, também própria de Tom Zé: o humor. Danç-Êh-Sá é divertido. No encarte, aliás, os dois compositores se chamam de “ludositores”, criadores lúdicos de música.

Dança-Êh-Sá é a melhor sugestão que se poderia dar aos donos de carros com som potente, às discotecas e aos DJs.

PS - Além de Tom Zé, Lepetit, Guilherme Kastrup (percussão, bateria e programação eletrônica) e Marcelo Blanck (harpa, corneta, flautinha, “orguinho”), participam do CD os seguintes músicos: Adriano Magoo (sanfona), Daniel Maia (cavaco, violão de sete cordas), Jarbas Mariz (percussão), Cristina Carneiro (piano), Éder Rocha (percussão) e Lauro Léllis (pré-assistência de percussão). Vozes: Luanda, Sérgio Caetano, Jarbas Mariz, Adriana Andrette e Cristina Carneiro.

Ricardo Vespucci é jornalista.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Emocione-se com a excelente animação Casa

Casa

Bela animação de Michel Vilela, baseada em texto da escritora inglesa Virgínia Woolf (1882-1941). Woolf ficou conhecida não só por suas notáveis obras, mas também por suas crises depressivas que tragicamente a levaram ao suicídio.

Sinopse
Uma mulher presa em uma casa. Ela está sozinha e, enquanto vive, se contenta - sem escolhas - em escrever seus pensamentos nas paredes.

Trilha sonora
O Perdão - de Marco Antônio Guimarães

Texto
As Ondas - Virgínia Woolf

Animação, direção e edição - Michel Vilela

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Proibido Proibir - Longa de Jorge Duran

Sonhos na cidade partida
por Ana Paula Sousa

Olhar sensível. Duran filma a juventude no Rio (Reprodução)

Há um cheiro de Jules e Jim em algumas cenas de Proibido Proibir, em cartaz a partir da sexta-feira 27. O triângulo amoroso, os passeios ao léu e os sonhos acalentados numa cidade sitiada pela violência compõem uma atmosfera de liberdade juvenil que remete ao clássico de François Truffaut. Mas o diretor Jorge Duran, chileno radicado no Brasil, discorda da comparação. Compreensível. Para além da amizade flechada pelo amor, Proibido Proibir debruça-se sobre algo tipicamente brasileiro: a violência, a fissura social que aparta os jovens universitários cariocas de seus pares nos morros.

Roteirista de filmes como Pixote e Lucio Flávio, Duran sabe olhar a juventude. O recorte que oferece do universo habitualmente tratado pelo cinema nacional a partir da periferia (Antonia, Os 12 Trabalhos) é rico e original. Os personagens gostam de livros, cerveja e cultivam sonhos não necessariamente egoístas.

Paulo (Caio Blat) estuda Medicina, Letícia (Maria Flor) Arquitetura e Leon (Alexandre Rodrigues), o mais pobre dos três, Ciências Sociais. “Não acho que todos os jovens brasileiros vivem num profundo mal-estar ou não ligam para o que acontece no mundo. Mesmo no triângulo amoroso o que me interessava era saber o que eles fariam com aquele sentimento. E existe uma ética entre eles”, define Duran.

Do cotidiano universitário o filme abre-se para a realidade que eles encontram ao fazer trabalhos de campo. Em contato com o mundo apartado do campus, eles são obrigados a repensar os sonhos, o futuro. O filme pode não ser impecável – há escorregões na montagem, por exemplo –, mas transpira verdade. A própria beleza sobrevivente do Rio é lembrada no Palácio Capanema, na água do mar. Duran não se ilude e, até por isso, deixa o final da história em aberto. Mas também não fecha os olhos para a humanidade e a juventude que, mesmo em tempos difíceis, resiste.

Fonte: CartaCapital


sábado, 21 de abril de 2007

Curta Pormenores

Pormenores - As Minúcias de um Relacionamento em Crise
por Yerko Herrera

O não dito pode ferir mais do que o dito. O silêncio machuca mais do que o grito. Um gesto, um olhar, uma atitude, ou a ausência deles, podem ser uma chaga maior do que o insulto. Assista o curta paulista Pormenores e descubra que a sutileza também pode causar estragos.

Sinopse
O retrato de um relacionamento em crise através de pequenos gestos e atitudes durante um café da manhã.

*Assista Pormenores aqui

Ficha Técnica
Gênero Ficção
Diretor Flávio Frederico
Ano 2000
Duração 5 min
Cor p&b
Bitola 35mm
País Brasil


*Necessita do Real Player instalado. Se não tiver, baixe-o gratuitamente no saite do Real Player ou baixe o Real Alternative que, além de ser programa de código aberto, é muito menor que o outro e também serve para arquivos do Windows Media Player e do Quick Time.

Curta-metragem e dados sobre ele do saite da ZetaFilmes

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Leia Correspondência entre Chico e Vinícius sobre Valsinha

Aproveitando o outro dia em que foi postado no Música&Poesia uma análise estilística da canção Valsinha (Vinícius/Chico), aqui vai a reprodução de uma correspondência interessantíssima entre Vinícius de Morais e Chico Buarque discutindo sobre a letra de Valsinha.

Sugerido por Wagner Machado


Notas sobre Valsinha
Por Vinicius de Moraes

Mar del Plata, 24/01/71

Chiquérrimo:

Dei uma apertada linda na sua letra, depois que v. partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a v., mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo me disse que Sérgio morava em Buri 11, e lá foi a carta para Buri 11.
Mas como v. me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se v. concorda com as modificações feitas. Claro que a letra é sua, eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor estas coisas. Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de "Valsa Hippie, porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que voce acha? O pessoal aqui no princípio estranhou um pouco, mas depois se amarrou à idéia. Escreva logo, dizendo o que v. achou.

VALSA HIPPIE

Um- dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar/
Olhou-a de um modo mais quente do que comumente costumava olhar/
E não falou mal da poesia como era mania sua de falar/
E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: /Vamos nos amar
Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar
E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços coma a gente antiga costumava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar
E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou
E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz.

Vinicius de Moraes

Fonte: Livro Achados de Caique Botkay, Editora Nova Fronteira


O Estado de São Paulo - 19/03/95

Essa carta revela, de modo luminoso, os bastidores de uma importante parceria musical. Valsinha, música de Chico Buarque e Vinicius, tem um parto difícil. Chico, filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, um amigo do poeta, trata Vinicius com reverência. Sabe o que pensa e o que deseja, conhece as vastas diferenças entre ambos, mas desfia seus argumentos com firmeza, sem descuidar da suavidade. Os dois constroem um currículo de canções famosas como o Samba de Orly - composta a seis mãos com Toquinho - e Gente Humilde - letra a quatros mãos,sobre uma melodia de Garoto. E constroem, sobretudo, uma amizade erguida sobre o afeto e sobre o susto.


Por Chico Buarque
Rio, 2 de fevereiro (sem o ano)
"Caro Poeta,
Recebi as suas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o Apesar de Você. Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gessy, e se não gostar L.se, ou f..me eu.
- Valsa Hippie é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo o que há de hippie à venda por aí. Valsa Hippie, ligado à filosofia hippie como você o ligou, é um título perfeito. Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser a filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippie. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou xingou mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar. Convidou-a pra rodar eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e o tesão da t... final. "pra seu grande espanto", você tem razão, é melhor que "pra seu espanto". Só que eu esqueci que ia por itens. Vamos lá:
- Apesar do Orestes (vestido dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. E gostoso de cantar vestido decotado. E para ficar dourado o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao "ousar" que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ó poeta, não leve a mal a minha impertinência, mas você precisa estar aqui para sentir como a turma gosta, e o jeito dela gostar desta valsa, assim à primeira vista É por isso que estou puxando a sardinha para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, também dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
- Ainda baseado no argumento acima, prefiro o abraçar ao bailar. Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
- A terceira é que mais me preocupa. Você está certo quanto ao "o mundo" em vez de "a gente". Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último verso onde você diz "e cheio de ternura e graça" em vez de "e foram-se cheios de graça". Agora estou pensando em retomar uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer "Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar". Só tem o probleminha da junção "em-estado", o em-e numa sílaba só. Que é o mesmo problema do começaram-a. Mas você me disse que o probleminha desaparece, dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado "começaram a se abraçar" sem maiores danos. Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e responda urgente. Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando. Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, porque deu bolo como o Apesar de Você, tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a Tonga, mas a Banda vendeu mais que o disco do Toquinho solando Primavera. Dê um abraço na Gessy, um p... no Toquinho e peça à Silvina para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.

Material disponível no saite oficial de Chico Buarque

Ouça a versão pesada de Amigo

Esta postagem vai dedicada a todos que não curtiram a de ontem, com o clipe do Roberto Carlos cantando Amigo para o Tremendão. Ouçam então a versão punk e em espanhol da banda argentina Attaque 77 para Amigo do mesmo Robertão.



Esta versão muito boa foi gravada pelo A77aque no disco "Otras Canciones" (1998). Vale a pena conferir o trabalho deste grupo argentino, especialista em criar versões energéticas de canções tradicionais do cancioneiro em espanhol e que, além da música do Roberto Carlos, também fizeram uma para Perfeição do Legião Urbana.

Com carreira iniciada em 1987, Attaque 77 tem 16 álbuns até agora em sua discografia e suas músicas são conhecidas em toda a América Latina. Pra saber mais sobre a banda vá até o seu site oficial: http://www.attaque77.com.ar


Yerko Herrera.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Roberto Carlos Completa 66 anos

Idolatrado por muitos, questionado por tantos, este cantor de voz anasalada, que iniciou carreira imitando o jeito de cantar de João Gilberto, e foi considerado o Elvis Presley brasileiro, segue sendo o cantor mais popular do Brasil.

Roberto Carlos é autor de dezenas de canções memoráveis ao lado de seu maior parceiro Erasmo Carlos. Tim Maia afirmou certa vez que todas as músicas da dupla haviam sido compostas com os três acordes que ele lhes ensinara, afirmação talvez fruto de seu desafeto com os antigos companheiros que nunca o convidaram para participar do extinto programa da Rede Record, "Jovem Guarda". Entretanto, mesmo que hoje ele seja visto apenas como um cantor excêntrico e conservador, com a carreira sustentada por especiais de final de ano da Globo, Roberto é parte importante de nossa história musical e suas composições são admiradas há várias gerações. Critiquem, esperneiem, mas, Roberto Carlos tem muita música de qualidade. E afinal de contas, ele continua sendo o Rei.

Yerko Herrera.

Amigo - Roberto Carlos (1977/1978)

Esta gravação de Roberto Carlos interpretando Amigo (Roberto/Erasmo) foi feita no especial de fim de ano da Rede Globo, em 1977, numa homenagem ao companheiro Erasmo Carlos. Um ano depois os dois recordam o momento juntos no programa de 1978.

Biografia Roberto Carlos (Roberto Carlos Braga)
Nascido em 19 de Abril de 1941, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim no Espírito Santo
Cantor. Compositor.

Seu pai era relojoeiro e a mãe, costureira. Aos seis anos, devido a um acidente, perdeu uma perna e passou a usar uma prótese. Educado no colégio de freiras Cristo Rei, em Cachoeiro de Itapemirim, começou a aprender piano no conservatório da cidade em 1948. No ano seguinte, já se apresentava na Rádio de Cachoeiro cantando boleros e músicas de Bob Nelson. Aos nove anos venceu um concurso de calouros num programa de auditório na ZYL9, Rádio Cachoeiro de Itapemirim. Em meados dos anos 1950 transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar no subúrbio de Lins de Vasconcelos. Nesse período começou a se interessar por rock, ouvindo Bill Halley, Elvis Presley e Little Richard. Estudou até o antigo primeiro científico e trabalhou como datilógrafo no Ministério da Fazenda.

No final dos anos 50, por intermédio de Otávio Terceiro, entrou em contato com a turma da Rua do Matoso, na Tijuca, passando a conhecer Erasmo Carlos, Tim Maia e Jorge Ben (hoje Jorge Benjor). Com eles formaria o conjunto The Sputiniks, que posteriormente passaria a se chamar The Snakes. Com o grupo chegaria a se apresentar no programa "Clube do Rock", de Carlos Imperial.


Dados Artísticos
Em 1957 começou a carreira apresentando-se em bailes e programas de TV com o conjunto The Sputniks. Em 1958, formou com Erasmo Carlos, Edson Trindade e Arlênio Gomes o conjunto The Snakes. A carreira solo foi iniciada no mesmo ano como "crooner" da boate do Hotel Plaza, em Copacabana, cantando (...) [saiba mais]

Fonte: Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Artur de Carvalho questiona o Direito Autoral

CRÔNICA - ARTUR DE CARVALHO

Tudo de graça
Uma das coisas que mais se discute hoje em dia é o tal do direito autoral. Depois que inventaram a internet, ficou fácil demais ouvir e distribuir músicas. Na internet, você acha praticamente tudo o que você quiser, e de graça.

por Artur de Carvalho

Uma das coisas que mais se discute hoje em dia é o tal do direito autoral. Depois que inventaram a internet, ficou fácil demais ouvir e distribuir músicas. Na internet, você acha praticamente tudo o que você quiser, e de graça. O último disco do Caetano Veloso, por exemplo, estava disponível na internet ANTES de ir pras lojas. Não sei como é que os caras fizeram isso, mas era fácil pra qualquer moleque de doze anos achar. Isso, é claro, se um moleque de doze anos de hoje tivesse o mínimo interesse no novo disco do vovô Caetano Veloso. Mas essa discussão sobre direitos autorais já vem de longe, desde os tempos das fitas cassete. Quando inventaram as fitas cassete, as indústrias da música não se conformavam em não ganhar nada das cópias. Chegaram até a incluir no preço dos discos uma espécie de “imposto” pelas cópias que eles sabiam que iam ser feitas. Depois, veio o videocassete. E a indústria do cinema começou a ter convulsões também.

Só que eles nem imaginavam o que é que estava por vir. Hoje, não apenas ficou fácil fazer cópias, como distribuí-las também. O meu computador mesmo, que não é lá essas coisas, em menos de duas horas baixa um filme inteirinho pela internet. E, neste mesmo computador, dá para gravar o filme num DVD e assisti-lo tranquilamente na sala de minha casa. Tudo sem tirar um tostão furado da minha carteira, e sem correr o risco de um policial me abordar nas ruas pedindo nota fiscal.

A verdade é que a internet só veio escancarar o que já era bastante óbvio. O direito autoral nasceu morto. Imagine só, por exemplo, se a gente tivesse que pagar direito autoral pelo uso da roda. Todas as vezes que você saísse de casa com seu carro, tinha que pagar lá, dez por cento pra não sei quem. Quanto é que isso ia dar? E o fósforo. Você sabia que, por ano, são acesos mais de 500 bilhões de fósforos no mundo? Quer dizer, se o cara que inventou o fósforo cobrasse apenas R$ 0,01 de direito autoral pra cada fósforo usado, ele ganharia a bagatela de mais de R$ 416 milhões por mês! A coisa é tão inviável que o próprio Tim Berners-Lee, o britânico que inventou a internet, quando percebeu o que tinha descoberto, imediatamente abriu mão de todos os direitos autorais de sua “obra”, e doou-a a humanidade.

O que é certo é que a internet enterrou o direito autoral. Resta saber agora como é que escritores, programadores, cineastas e o Caetano Veloso vão ganhar a vida.

Fotos: ilustração do autor


Fonte: AgênciaCartaMaior - Leia CartaMaior: Publicação eletrônica multimídia alternativa e independente

Copyleft

terça-feira, 17 de abril de 2007

Leia O Adeus de Rubem Braga

No oitavo dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares de edifícios; que importa que lá dentro não haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?

Entretanto a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a chamar; e assim três, quatro vezes sucessivas.

Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta da porta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.

Eu sentia dentro de mim, doce, essa espécie de saturação boa, como um veneno que tonteia, como se meus cabelos já tivessem o cheiro de seus cabelos, se o cheiro de sua pele tivesse entrado na minha. Nossos corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor, eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido, e uma vez, que, sentado, de frente para a janela por onde se filtrava um eco pálido de luz, eu a contemplava tão pura e nua, ela disse: "Meu Deus, seus olhos estão esverdeando":

Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz, nossos gestos eram parecidos e integrados, como se o amor fosse um longo ensaio para que um movimento chamasse outro: inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível, como um lento bailado.

Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza; resolvi sair, era preciso dar uma escapada para obter víveres; vesti-me lentamente, calcei os sapatos como quem faz algo de estranho; que horas seriam?

Quando cheguei à rua e olhei, com um vago temor, um sol extraordinariamente claro me bateu nos olhos, na cara, desceu pela minha roupa, senti vagamente que aquecia meus sapatos. Fiquei um instante parado, encostado à parede, olhando aquele movimento sem sentido, aquelas pessoas e veículos irreais que se cruzavam; tive uma tonteira, e uma sensação dolorosa no estômago.

Havia um grande caminhão vendendo uvas, pequenas uvas escuras; comprei cinco quilos. O homem fez um grande embrulho de jornal; voltei, carregando aquele embrulho de encontro ao peito, como se fosse a minha salvação.

E levei dois, três minutos, na sala de janelas absurdamente abertas, diante de um desconhecido, para compreender que o milagre acabara; alguém viera e batera à porta, e ela abrira pensando que fosse eu, e então já havia também o carteiro querendo o recibo de uma carta registrada, e quando o telefone bateu foi preciso atender, e nosso mundo foi invadido, atravessado, desfeito, perdido para sempre — senti que ela me disse isso num instante, num olhar entretanto lento (achei seus olhos muito claros, há muito tempo não os via assim, em plena luz), um olhar de apelo e de tristeza onde entretanto ainda havia uma inútil, resignada esperança.


Texto extraído do livro "Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha", Publifolha – SP, 2001, pág. 132.

Ilustração: Spacca

"Spacca, 38 anos, vive em São Paulo, desenhando certas coisas e pessoas para outras coisas e pessoas. Desenha coisas em troca de coisas, para pagar suas coisas e ajudar pessoas a vender suas coisas também. Ilustrar é emprestar-se. Como o médium, que empresta sua pessoa para pessoas que deixaram de ser pessoas, o desenhista também empresta a sua, para que o texto - um fantasma, um rastro de uma pessoa - se materialize, assombrando e iluminando - ilustrando - mais e mais pessoas."

E-MAIL: spacca@spacca.com.br

Fonte: Releituras

Entenda Melhor Valsinha de Vinícius e Chico

Leia uma análise estilística da canção Valsinha, feita pelo Prof. José Atanásio da Rocha, do sítio Mundo Cultural.

Análise estilística da canção Valsinha de Vinícius e Chico Buarque em PDF

VALSINHA
Vinícius – Chico Buarque/1970


Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Lanny Gordin está de volta

Um “maluco” em revisão
por Pedro Alexandre Sanches


Quase concomitantemente à volta dos Mutantes com Arnaldo Baptista, outro “maluco beleza” da tropicália abre as portas para balanço e reavaliação. O guitarrista Lanny Gordin confirma a disposição de voltar à ativa no disco – Por Pedro Alexandre Sanches (Barravento/Universal), em que canções antigas e novas são adaptadas ao delicado formato de voz e guitarra (e/ou baixo e violão).

Nascido na China, filho de um russo com uma polonesa, Lanny radicou-se desde pequeno em São Paulo, onde o pai foi dono da histórica boate Stardust. Trabalhou com uma grande variedade de artistas, mas foi com a aventura tropicalista que ficou mais identificado. Diagnosticado esquizofrênico, ficou à margem do panorama musical por décadas, à parte as iniciativas de resgate movidas pelo selo Baratos Afins e pelo músico Chico César.

A novidade é a adesão de tropicalistas ditos “de ponta” ao projeto do maluco beleza que ficou no lado B do movimento: estão ali Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa... Mas Lanny vai além. Ele convida gente das gerações mais novas (Chico César, Zeca Baleiro, Fernanda Takai, Max de Castro, Adriana Calcanhotto...), revê repertório excêntrico ao núcleo duro tropicalista (como Mucuripe, de Fagner e Belchior, ou Me Dê Motivo, sucesso radiofônico “brega” de Tim Maia), e assim por diante.


Fonte: CartaCapital

Ouça trechos de três faixas
Evaporar - Rodrigo Amarante
Abra o Olho - Gilberto Gil
Me Dê Motivo


Músicas
01. "O Homem que Matou o Homem..." - com Max de Castro
02. "Dindi" - com Gal Costa
03. "Dê um Rolê" - com Zeca Baleiro
04. "Evaporar" - com Rodrigo Amarante
05. "Enquanto Seu Lobo Não Vem" - com Caetano Veloso
06. "Mucuripe" - com Fernanda Takai
07. "Farol da Jamaica" - com Péricles Cavalcanti
08. "El Blues" - com Edgard Scandurra
09. "Abre o Olho" - com Gilberto Gil
10. "Me Dê Motivo" - com Adriana Calcanhotto
11. "Onde Eu Nasci Passa um Rio" - com Junio Barreto
12. "O Sol" - com Arnaldo Antunes
13. "Era Você" - com Vanessa da Mata
14. "Let's Play That" - com Jards Macalé
15. "Lanny, Qual?" - com Chico César
16. "Corcovado" - solo

sábado, 14 de abril de 2007

Curta Um Branco Súbito

Um Branco Súbito

Assista este premiado curta, filmado em 35mm, que conta a história de um escritor perdido entre a realidade e a ficção. Dirigido por Ricardo Mehedff, Um Branco Súbito foi realizado com recursos próprios e é a melhor prova de que, com muito esforço e criatividade, o cinema independente pode existir no Brasil.

Assista Um Branco Súbito aqui

Sinopse
Até onde vai a imaginação? Quando termina a realidade e começa a fantasia? Desafie sua mente com esse intrigante mistério.


Ficha Técnica
Gênero
Ficção
Diretor Ricardo Mehedff
Elenco Bruce Gomlevsky
Ano 2001
Duração 10 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil

Ficha Técnica
Produção Ricardo Mehedff, Érica Coelho Fotografia Dudu Miranda Roteiro Ricard Mehedff Edição Ricardo Mehedff, Pedro Bronz Som Direto Carlos Cox, Aloysio Compasso, Simone Petrilho Direção de Arte Cristana Grumbach Trilha original Bernard Ceppas

Prêmios
Melhor Montagem no FAM - Florianópolis Audiovisual Mercosul 2002
Melhor Curta no Festival de Cinema Brasileiro de Miami 2002
Favoritos do Público no Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2001

Festivais
Brooklyn International Film Festival 2001
Festival do Rio BR 2001
Festival Internacional de Rotterdam 2002
Stockholm Film Festival 2002
Brasil Plural 2002
Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro - Curta Cinema 2001
Mostra de Cinema de Tiradentes 2002
Filme do sítio PortaCurtas

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Assista Sérgio Sampaio Interpretando Duas Obras-Primas

Tem que Acontecer - Sérgio Sampaio

Tem que Acontecer, de Sérgio Sampaio, lançada em 1976 no LP de mesmo nome, recebeu excelentes elogios da crítica, entretanto, foi pouco executada nas rádios. Posteriormente, em 1999, Zeca Baleiro interpretaria esta canção em seu disco Vô Imbolá.


Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua - Sérgio Sampaio

Apresentação ao vivo de Sérgio Sampaio cantando Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, em 1973. Sem dúvida a música mais conhecida de Sampaio e, dizem, a que ele menos gostava cantar.

Abaixo reprodução de crítica escrita por Rodrigo Moreira publicada no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.

O capixaba Sérgio Sampaio foi daqueles artistas não reconhecidos - ou melhor, não adequadamente avaliados - em seu tempo. Em plena ditadura Médici, estourou nacionalmente com "Eu quero é botar meu bloco na rua", histórica marcha-rancho, um dos mais eloqüentes protestos da MPB contra a ditadura. Ainda jovem e imaturo, com todas as atenções voltadas para si, respondeu com "Odete", "Viajei de trem" e "Meu pobre blues", demonstrando sua categoria e versatilidade como compositor, mas parecia estigmatizado por aquela música tão marcante. Com "Velho bandido" e o LP “Tem que acontecer” ganhou aplauso da crítica, sem, no entanto alcançar uma repercussão popular mais significativa. Incompatibilizado com a indústria musical, de meados dos anos 70 em diante resolveu trilhar um solitário caminho à margem do mercado, gravando apenas mais um LP, o independente "Sinceramente", de 1982, e fazendo shows em teatros underground e bares. Arrolado entre os "malditos" da MPB setentista - Jards Macalé, Luiz Melodia, Jorge Mautner, entre outros - rotulado de "compositor de uma música só", Sérgio Sampaio tinha muito mais a oferecer. Permaneceu um artista puro, que, mesmo longe dos holofotes da mídia, fez do ato de compor e cantar sua própria razão de ser. Deixou um balaio precioso de músicas inéditas - um tesouro a ser descoberto por intérpretes dos mais variados gêneros.

Sérgio Sampaio completaria 60 anos hoje

Sérgio Sampaio (Sérgio Morais Sampaio)

* 13/4/1947 Cachoeiro de Itapemirim, ES

+ 15/5/1994 Rio de Janeiro, RJ

Carreira


Após ter sido radialista em Cachoeiro, Sérgio foi tentar a careira musical no Rio de Janeiro. Contratado pela CBS (hoje Sony BMG), Sérgio lançou ao lado de Raul Seixas o álbum Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 em 1971. No ano seguinte, lançou a marcha-rancho Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua no Festival Internacional da Canção. A música se tornou sucesso nacional e deu nome ao primeiro disco solo de Sérgio. Apesar do sucesso do compacto do Bloco, o LP não foi bem-sucedido, em parte pelo comportamento displicente de Sérgio, que se dedicava mais à vida boêmia carioca do que à divulgação do álbum.

Já com o rótulo de "maldito" da MPB, Sérgio passou por várias gravadoras e lançou um álbum independente. Alcoólatra, só se recuperou do vício na década de 90, mas acabou falecendo antes de retornar a carreira.

Cronologia

1947
Sérgio Moraes Sampaio nasce a 13 de abril, em Cachoeiro de Itapemirim, filho de Raul Gonçalves Sampaio, fabricante de tamancos e maestro de banda e Maria de Lourdes Moraes, professora primária.

1956
Começa a ajudar o pai na tamancaria. Na escola é aluno aplicado, eventualmente o melhor da classe: Dona Maria de Lourdes o colocava para estudar em casa todos os dias.

1963
Fica vidrado no samba "Cala a boca, Zebedeu", de autoria de Seu Raul, inspirado numa vizinha da Rua Moreira que espinafrava o marido diariamente. O apelido do sujeito era "Fulica".

1964
Ingressa como locutor na XYL-9, Rádio Cachoeiro. Torna-se um fã do samba-canção de Orlando Silva, Nélson Gonçalves e Sílvio Caldas.

1965
Passa três meses de experiência como locutor da Rádio Relógio Federal, no Rio de Janeiro. Retorna a Cachoeiro para servir no "Tiro de Guerra" local. É detido freqüentemente por trocar os pernoites por incursões aos bares e bordéis cachoeirenses.

1967
Mudança definitiva para o Rio de Janeiro, para tentar a vida como locutor ou cantor-compositor.

1969
Passagens pelas rádios Rio de Janeiro, Mauá e Carioca. Ingressa na rádio Continental, onde conhece Erivaldo Santos, parceiro no primeiro samba feito no Rio, "Chorinho inconseqüente", mais tarde incluído no LP "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez".

1970
Novembro: acompanha ao violão o compositor Odibar, parceiro de Paulo Diniz em "Quero voltar para a Bahia", num teste na gravadora CBS com o então produtor Raulzito. As músicas de Odibar não agradam e Sérgio canta composições suas como "Coco verde" e "Chorinho inconseqüente". Na saída, Raul Seixas lhe diz ao pé do ouvido: "Volte amanhã".

1971
Janeiro: assinatura do contrato com a CBS. Sérgio e Raul se tornam amigos. Com Raulzito, Sérgio conhece o rock e o pop internacional em geral. Abril: "Sol 40 graus", com o Trio Ternura, é a primeira letra de Sérgio Sampaio a ganhar as rádios. Ele assina a música como "Sérgio Augusto" e seu parceiro Ian Guest, como "Átila". Compoe e grava numa fita demo "Minha miragem" parceria com Yan, hoje a fita pertence ao produtor musical Emerson Lavicchi, que pretende lança-la muito em breve.

Junho: compacto "Coco verde/"Ana Juan", direção artística de Raul Seixas e arranjos de Ian Guest. O disco toca muito, devido à ajuda de amigos disk-jockeys de Sérgio, mas vende pouco.

Setembro: LP "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez", com Raul Seixas, Míriam Batucada e Edy Star, que causa na época o maior fordunço na gravadora CBS. Também pudera: o disco era uma verdadeira sessão de escracho musical, uma coleção de pastiches de rock, samba e ritmos nordestinos, com letras sarcásticas, entremeadas por piadas e sátiras ao cotidiano em forma de vinhetas malucas.

Outubro: Sérgio participa do VI FIC com "No ano 83", de sua autoria. A seu lado, nos vocais, Jane Vaquer, futuramente conhecida como Jane Duboc.

1972
Março: conhece o guitarrista Renato Piau nos corredores da CBS.

Abril: compacto "Classificados nº 1"/ "Não adianta". Direção artística de Raul Seixas.

Setembro: Pelas mãos de Raul Seixas, que já estava na gravadora, Sérgio ingressa na Phillips, dirigida por André Midani, para trabalhar com o produtor Roberto Menescal. Gravação de "Eu quero é botar meu bloco na rua", inscrita no VII FIC, com presença de Piau no violão, Ivan Machado no baixo, os "Cream Crackers" na percussão, Raul Seixas e membros dos Golden Boys no coro.

Outubro: estouro no FIC com o "Bloco", que invade as rádios de todo o Brasil. Em poucos meses, vendas de mais de 300 mil compactos.

Dezembro: Sérgio contrai tuberculose, mas ainda assim começa as gravações de um LP para a Phillips, com produção de Raul Seixas, e na banda de apoio Renato Piau, o tecladista José Roberto Bertrami, o baixista Alexandre Malheiros e Ivan "Mamão" Conti na bateria. Também participam os "Cream Crackers" e o baterista Wilson das Neves.

1973
Março: sai o LP "Eu quero é botar meu bloco na rua". Mesmo contendo a música de grande sucesso, torna-se um fracasso comercial e de crítica. No entanto, permanece até hoje como o disco preferido da maioria dos sampaiófilos. Apesar da boa execução nas rádios de músicas como "Viajei de trem", uma toada-rock de alta lisergia, a valsa pop "Leros & leros & boleros" e os sambas "Odete" e "Cala a boca, Zebedeu", a vendagem não ultrapassa as 5 mil cópias.

Maio: apresentação na série de shows "Phono 73", em São Paulo.

Outubro: Sérgio recebe o "Troféu Imprensa", o "Oscar brasileiro", do programa "Sílvio Santos", na TV Globo, como "Revelação de 72".

1974
Janeiro: compacto "Meu pobre Blues"/ "Foi ela". A primeira, uma lírica e dúbia elegia ao seu ídolo de juventude, Roberto Carlos. A segunda, um samba com feeling de rock, cadenciado e envolvente.

Abril: casa-se com Maria Verônica Martins (Ponka), numa cerimônia hippie em Cachoeiro. Aplica um beijo na testa do Juiz de Paz no final.

Junho: rescinde o contrato com a Phillips e retira-se por algum tempo em Mimoso, cidade próxima a Cachoeiro, onde compõe o samba "Velho bandido".

1975
Janeiro: retorna ao Rio e ingressa na gravadora Continental.

Junho: compacto "Velho bandido"/"O teto da minha casa", com produção de Roberto M. Moura e arranjos do violonista João de Aquino.

Novembro: sua marchinha "Cantor de rádio" é incluída no LP "Convocação Geral nº 2", da Som Livre.

1976
Janeiro: show "O pulo do gato", da SOMBRÁS, no Teatro Casa Grande, com Jards Macalé e Dona Ivone Lara. Entre maio e junho, gravações e lançamento do LP "Tem que acontecer", muito elogiado pela crítica mas pouco executado nas rádios.

1977
Março: compacto "Ninguém vive por mim / História de boêmio(Um abraço em Nélson Gonçalves).

Junho: cancelamento de um novo LP para a Continental seguido da rescisão do contrato.

Agosto: show no Teatro Tonelero, organizado por universitários, com Fágner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Lô Borges.

1978
Junho: internação no Hospital Miguel Couto do Rio com uma crise de pancreatite.

Novembro: lota por uma semana o Teatro Opinião, do Rio, com o show "Agora".

1979
Julho: temporada de 15 dias na Sala Funarte/Sidney Miller, no Rio, ao lado do compositor Carlos Pinto.

1982
LP independente "Sinceramente". Um trabalho denso e confessional, enfocando ao mesmo tempo as diversas facetas pessoais e artisticas de Sampaio. Lançado em meio à explosão de ursinhos blau-blaus, batatas-fritas e folias na praia da "niuêive" carioca, o disco passa despercebido.

1983
Fevereiro: nasce João Sampaio, da união com Angela. O compositor Xangai (Eugênio Avelino) é o padrinho.

1986/87
Mesmo os mais atentos fãs acham que Sampaio abandonou a carreira. Raramente se ouve falar nele. Seus discos viram peças de colecionador, disputados a tapa nos sebos de todo o páis. Letras como as de "Meu pobre Blues" ou "Ninguém vive por mim", músicas lançadas apenas em compacto, são cultuadas e reconstituídas verso a verso pelos "sampaiófilos" de carteirinha. Os 80 são realmente um habitat muito ingrato para Sampaio: nenhuma música no rádio, magros direitos autorais e escassos shows, quase sempre em bares e sem nenhuma cobertura da mídia. Na vida pessoal, o alcoolismo minando dia a dia suas forças. Ainda assim, o artista continua compondo regularmente e cada vez melhor suas novas músicas, que apresenta nos shows lado a lado com seus cavalos de batalha.

1988
Outubro: temporada de 10 dias na Sala Funarte, do Rio, com Jards Macalé.

1989

Encontra com Raul Seixas em São Paulo. O Sérgio se assusta o o estado do amigo. O encontro foi gravado em video pelo RRC.

1990
Novembro: shows no Segredo de Itapuã, Bahia, ao lado de Xangai. Parte do Show foi lançadop em CD Demo. Sérgio começa a namorar a produtora de shows Regina Pedreira e resolve mudar-se para a Bahia.

1991/92
Os ares baianos fazem muito bem a Sampaio, que vivencia uma espécie de renascimento artístico e pessoal. Novas composições e diversos shows em bares da periferia de Salvador e em outros estados nordestinos.

Outubro/92: participação no show "Baú do Raul", na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, na Bahia, cantando músicas do LP "Sociedade Kavernista...".

1993
Fevereiro: no aniversário do filho João, Sérgio anuncia que deixou a bebida. Ao longo do ano, shows em Brasília, Goiânia, Vitória e Rio de Janeiro.

1994
Janeiro: Convite do selo paulista Baratos Afins para gravação de um CD de inéditas. Abril: aniversário no Rio com presença de amigos como Sérgio Natureza, Chico Caruso e Luiz Melodia.

Maio: internação no CTI do Hospital IV Centenário com crise aguda de pancreatite. Sérgio estava muito debilitado, nao queria ser visto por ninguem, falece às 5 da manhã do dia 15 de maio. Poucas pessoas acompanham o enterro, sinal de abandono, a midia pouco se falou. O maldito descansava...

2004
Após 10 anos de sua morte, é fundado um fã clube em sua homenagem.

2006
Depois de muito tempo esquecido, enfim a volta: lançado o CD "Cruel", produzido por Zeca Baleiro, com 12 canções inéditas de Sérgio Sampaio, interpretadas por ele em gravações caseiras, agora remasterizadas.


Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Discografia

Coco verde/Ana Juan (1971) CBS Compacto simples
Sociedade da Grã - Ordem Kavernista apresenta sessão das dez (1971) CBS LP
Classificados nº 1/Não adianta (1972) 33745 Compacto simples
Eu quero é botar meu bloco na rua (1972) Phillips/Phonogram Compacto simples
Eu quero é botar meu bloco na rua (1973) 6349 057 LP
Phono 73 (1973) PolyGram LP
Meu pobre blues/Foi ela (1974) 6069 090 Compacto simples
Velho bandido/O teto da minha casa (1975) 1-01-101-155 Compacto simples
Convocação geral nº 2 (1975) Som Livre LP
Tem que acontecer (1976) 1.01.404.133 LP
Ninguém vive por mim/História de boêmio (Um abraço em Nélson Gonçalves) (1977) 101-101-264 Compacto simples
Sinceramente (1982) Selo Gravina LP
Sociedade da Grã - Ordem Kavernista (1996) Rock Company CD
Balaio do Sampaio (1998) MZA/PolyGram CD
Eu quero é botar meu bloco na rua. Série Samba e Soul (2001) 73145429932 CD
Cruel (2005) Selo Saravá Discos CD


Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Conheça a Música de Zé Cafofinho, Ouça Algumas Faixas e Baixe o CD Completo

A estréia do malandro nostálgico Zé Cafofinho
por Dafne Sampaio


O currículo musical de Tiago Andrade, auto-intitulado recentemente de Zé Cafofinho, é longo, profundamente pernambucano e totalmente independente. Além de ter integrado bandas como Songo, Variant, Originais do Sample e Punk Reggae Parque, o músico participou de discos do Eddie, Bonsucesso Samba Clube e Mombojó. Agora é sua vez de estrear solo com o projeto Zé Cafofinho e Suas Correntes no excelente disco Um pé na meia, outro de fora (independente, 2007).

Cantor e compositor, além de multiinstrumentista (viola de arco, bandolim e corneta), Zé Cafofinho veste sua capa de malandro nostálgico e observa, entre ironias e poesias, as mudanças geográfico-sociais de Olinda e Recife. Em “Meio de transporte” afirma que “Quando eu era criança / Olinda era azul; Recife, laranja / Hoje tudo colorido e opaco / Fosco, envernizado, frotado / Barra-forte circular”, enquanto em “Campo Grande” se defronta com revelações como as dos versos “Naquela esquina cruzei com meu passado / E sei agora que aqui é meu lugar / (...) Pois foi andando por essa rua outro dia / Que decidi que pra trás não vou olhar”.

Mas não é por causa de um baque ou outro que Cafofinho vai perder a pose e em “Marimbondo” se coloca malandramente, mesmo sendo um bom malandro: “Vai se casar / E diz por aí / Da tua água não beberei / Mas, depois de duas cervejas / Fica logo doida e vem atrás / Não sei por que / Depois de lameada / Da minha água quer beber / Me deixe em paz / Não faz assim comigo, não / Olha lá o que tu faz / Metendo a mão em casa / de marimbondo”. E a música de Zé Cafofinho, como é que ela é? Como em toda música pernambucana pós-manguebit a tarefa de rotular é das mais difíceis. Sambas estranhos, atravessados, misturam-se com ska, dub, regionalismos, jazz e muitas outras bossas; tudo gravado e mixado em Recife. As treze faixas do disco trazem ainda ótimas canções como “Espinhos”, “Mucica” e “No vento”.

Como se não bastasse ser mais um ótimo nome a sair de Pernambuco, Zé Cafofinho traz um bocado de convidados que servem como atestado de qualidade, todos conterrâneos: Pupillo (Nação Zumbi), Marcelo Machado e Chiquinho (Mombojó), China (Del Rey), Bactéria (Mundo Livre), Hugo Gila (Academia da Berlinda e Variant), Berna Vieira (Bonsucesso Samba Clube), Rapha B. (Variant e Bonsucesso Samba Clube) e João Carlos (Orquestra Sinfônica de Recife). A banda fixa, as Correntes de Zé Cafofinho, é formada por Cláudio Negrão (violões e baixo), Felipe Gomes (cavaquinho e banjo) e Márcio Oliveira (trompete).


Fonte: Gafieiras

Ouça quatro faixas do CD Um Pé na Meia, Outro de Fora


Baixe completo o disco de estréia de Zé Cafofinho aqui

O arquivo zipado contém as treze faixas de Um Pé na Meia, Outro de Fora em mp3.

01 - Mucica
02 - Meio de Transporte
03 - Nunca mais Eu
04 - Campo Grande
05 - Conceição
06 - Marimbondo
07 - Cabotagem
08 - Perto
09 - No Vento
10 - Canela
11 - Espinhos
12 - Xango br
13 - Enquanto o Cinza Ofusca


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