sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Conheça Bel Garcia, cantora independente que conquistou a crítica

Entrevista: Bel Garcia (Bluebell)
por Tiago Barizon

Bel Garcia é uma jovem cantora, compositora e guitarrista de São Paulo que está chamando atenção de crítica e público desde que lançou Slow Motion Ballet, seu debut com o Bluebell, sua banda. Seu som cativou o cineasta Fernando Meirelles, que o qualificou como "genial" ao comentar a personalidade dos vocais e garante que ela veio para ficar. Seu som é íntimo e pessoal, varia das baladas ao rock mais enérgico, com características marcantes que a destacam no meio do cenário independente.

Nessa entrevista, Bel Garcia comenta a respeito de sua história no meio musical, que remonta ao ano de 1995 e passa por grandes momentos, de sua carreira e do que reserva o futuro.

Barizon: Conte um pouco da história da formação da banda. E por que “Bluebell”, uma flor tão comum na Inglaterra, mas rara no resto do mundo?

Bel Garcia: O Bluebell não é bem uma banda. Bluebell é meu pseudônimo. Mas por trás do Bluebell existem também outros dois produtores: o Luciano Kurban tem uma produtora onde eu gravava jingles. Um belo dia ele e o Paulo Corcione me perguntaram se eu compunha. Eu disse que sim e mostrei tudo o que eu tinha na gaveta. Slow Motion Ballet é o resultado da soma de parte do que eu tinha na gaveta com a produção dos dois. Bluebell é legal para ser um pseudônimo... Tem a ver com o meu nome e é uma flor tão bonita... Pena que não tem no Brasil...
Barizon: Mais história do que Bluebell, você tem um passado sempre ligado à música. Como foi esse trajeto?

Bel Garcia: Comecei a cantar profissionalmente aos dezesseis anos, em 95. Tinha uma banda de rock chamada Blue Liver (sim, esse nome tosco é meio que uma origem do nome Bluebell). A gente fazia rock pesado. Batia cartão no palco do Aeroanta, que naquela época já estava decadente. Acabamos indo gravar em Portugal, blá, blá, blá... Não vou entrar em detalhes... Mas tudo o que posso dizer é que essa experiência em Portugal meio que me traumatizou de tal forma que eu parei de ouvir rock. Comecei a estudar música e passei a ouvir e compor só música brasileira e jazz... Isso durou mais ou menos dois anos. Cantei com muita gente, fiz várias gigs, enfim, pastei. Fui voltar a ouvir rock em 2003... O barato de ter passado por vários estilos é o auto-conhecimento... Hoje em dia eu sei melhor o que quero cantar e o que quero compor...

Barizon: Você tem outros projetos, paralelos ao Bluebell. Fale um pouco sobre eles.

Bel Garcia: Tem o Hotel Plaza que faz versões jazzy pra música pop e tem tocado bastante em sampa. O Kardex, minha banda cover de rock, infelizmente tá parado, mas deve voltar...

Barizon: Como foi o processo de composição das letras e melodias de Slow Motion Ballet?

Bel Garcia: Slow Motion Ballet é um disco diferente por causa daquela história da gaveta que eu já havia mencionado. As músicas foram compostas sem intenção de virar um disco. É por isso que grande parte é em inglês. Compus essas músicas pra mim. Talvez seja por isso que elas acabaram tendo apelo. Porque são verdadeiras, simples... Meu processo de composição é básicamente fazer a harmonia, depois melodia, depois a letra, que às vezes é dolorosa pra sair... Principalmente quando é em português... Mas já vou adiantando que o segundo disco vai ter mais português do que inglês...

Barizon: Em uma outra entrevista você afirmou que não só influências musicais afetam suas composições, mas tudo que te cerca, até mesmo sua última refeição. Você acha que isso é um dos motivos das letras serem íntimas e pessoais? Ou isso é algo pensado enquanto você escreve?

Bel Garcia: Não, não é pensado. Aliás, eu procuro pensar o mínimo possível. Eu gosto de trabalhar com imagens do inconsciente, sabe? É quase que psicografar (risos). Eu preciso estar meio alterada pra escrever. Com sono, ou bêbada, ou com muita raiva, ou nervosa... Eu deixo a emoção me levar... Depois eu arrumo as palavras e descubro do que se trata aquilo que escrevi momentos atrás.


Barizon: Em uma resenha da revista Bravo seu trabalho foi comparado ao de Aimee Mann. Mais do que semelhanças musicais, mais notadamente na influência do folk, a forma poética de escrever é muito parecida. Além disso, Aimee Mann também tem uma longa história, desde os anos 80 quando integrava o ‘Til Tuesday. Ela é uma influência no seu trabalho? Com quais artistas atuais você sente afinidade?

Bel Garcia: Sim. Aimee Mann é uma influência. Eu ouvi muito. Fiquei extasiada quando li sobre a comparação... Ultimamente, eu ando ouvindo umas velharias... Led Zepellin, Joy Division... Mas os dois discos que eu mais ouvi no ano que passou foram Road to Rouen, do Supergrass, e Desperate Youth, Blood Thirsty Babes do TV on the Radio. Ouvi muito White Stripes e Blur também...

Barizon: Em sua opinião, o que falta no cenário musical nacional? Quais as dificuldades de um artista, um músico que quer conquistar com um trabalho próprio e original?

Bel Garcia: Não sei se é só no Brasil, mas a indústria fonográfica é uma máfia... Uma amiga que faz marketing fonográfico me disse outro dia que viu diversas vezes diferentes grandes gravadoras se reunindo pra decidir qual vai ser “a bola da vez”. O rádio é outra máfia... Mas também existe muita gente de ouvidos e braços abertos pra música de qualidade. E isso tá crescendo. Mídias novas estão aparecendo... rádios online, podcasts... Eu vejo uma luz no fim do túnel. Um futuro onde as pessoas sejam livres para ouvir o que quiserem e não o que são obrigadas a ouvir...

Barizon: Como tem sido a recepção ao seu trabalho de estréia? Quando vamos ter a oportunidade de ver seu trabalho ao vivo?

Bel Garcia: A recepção está muito boa. As críticas têm sido positivas... Tanto na mídia impressa como na internet e na tv. A MTV, por exemplo, foi super receptiva. Fizemos o Banda Antes, depois uma entrevista no jornal. Espero que eles sejam receptivos também com o clip que está a caminho... O Bluebell estréia ao vivo no dia 08 de agosto no Clube Belfiore. (R. Brigadeiro Galvão, 871 - Barra Funda, São Paulo - SP)

Barizon: Slow Motion Ballet não foi precedido por singles, EPs, nem mesmo uma demo. Mas as críticas foram todas positivas e você concorreu ao Prêmio Dynamite de Música Independente. Nada usual no nosso mercado, não? Como foi que tudo aconteceu?

Bel Garcia: Nós mandamos o disco pra revista Dynamite e eles gostaram. Gostaram tanto que fizeram uma matéria que tá na última edição de revista. Quando eu vi, estava entre os indicados de melhor disco pop, junto com o Nação Zumbi e o Mundo Livre... Eu só tenho a agradecer o Finatti e sei lá quem mais que me colocou lá no meio... É super motivante uma coisa dessas pra alguém que acabou de lançar seu primeiro disco solo...

Barizon: Se não fosse pela música, o que você faria da vida que a deixasse igualmente satisfeita?

Bel Garcia: Acho que para me deixar igualmente satisfeita tinha que ser alguma coisa tipo comediante.. (risos). Eu gosto de coisas que tragam leveza à vida alheia. Isso me realiza.

Barizon: O que podemos aguardar para o futuro, tanto da Bel Garcia quanto do Bluebell?

Bel Garcia: O Bluebell, como eu já havia adiantado, vai estrear os shows em agosto. Espero que a gente toque bastante ainda esse ano. O clip, que foi feito na O2 e dirigido pelo Rodrigo Meirelles, tá quase pronto. A música é "Dull Routine".

A Bel Garcia já tá com a gaveta transbordando e louca pra gravar um segundo disco...

Linques:

www.barizon.net/content/view/227/76/


Fonte: OverMundo

Ouça Dull Routine, faixa do disco de estréia de Bel Garcia

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Algumas do Poeta Português Al Berto

Lusofonia - Portugal - Al Berto (1948 - 1997)

Uma Paixão

Visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado

tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
vem

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
vem

antes que desperte em mim o grito
de alguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
vem

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te


Vigílias

Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer

a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas

um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz

quero morrer
com uma overdose de beleza

e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador


de "Horto de Incêndio"

Incêndio

se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
continua e miudinha – não te assustes
são os teu antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo – diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas – com eles no chão


notas para o diário

deus tem que ser substituído rapidamente por poe-
mas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,
vivos e limpos.

a dor de todas as ruas vazias.

sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.

a dor de todas as ruas vazias.

mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

a dor de todas as ruas vazias.

pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a lis-
boa na fragata do alfeite. basta pôr uma lua nervosa no
cimo do mastro, e mandar arrear o velame.

é isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem
cadastro.

a dor de todas as ruas vazias.

sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. o
filme acabou. não nos conheceremos nunca.

a dor de todas as ruas vazias.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.
fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto. e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodida - e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

a dor de todas as ruas vazias.

de Horto de Incêndio; Assírio & Alvim, Dezembro 2000


Encomenda postal

destino-te a tarefa de me sepultares
no segredo mineral da noite
com um lápis e uma máquina fotográfica

depois
fica atento ao correio
do secular laboratório nocturno enviar-te-ei
devidamente autografado
o retrato da solidão que te pertenceu

e numa encomenda à parte receberás
a revelação desta arte
onde a vida cinzelou o precário corpo
na luz afiada de um vestígio de tinta.

de Vigílias
no Poemário, Assírio & Alvim, 2006


Um nome...

Um nome, um nome apenas, evocando alguém,
um lugar ou uma coisa, é a bagagem suficiente
para avançar pela noite dentro, esperar a morte,
ou iniciarmos o regresso...

de O Anjo Mudo, Contexto, 1993


Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu em Coimbra em 1948 e morreu em Lisboa, em 1997. Nas primeiras obras poéticas, Al Berto seguiu de perto a linha surrealista, especialmente a que emana de Herberto Hélder. Posteriormente, funde a poesia na prosa, criando uma espécie de deambulações fragmentárias. Foi distinguido em 1988 com o Prémio Pen Club de Poesia pela obra OMedo. Algumas das sua obras foram traduzidas para espanhol, francês, inglês e italiano.

Quando um poeta morre cedo de mais e deixa a vida a arder nas mãos de quem fica, acontece isto: queima-nos a todos e todos são cada vez mais. É assim, por combustão progressiva, que crescem os mitos. Al Berto tinha os seus e sangrou-os vorazmente em tudo o que escreveu - em tudo o que viveu. Alexandra Lucas Coelho



Fonte: UmBuracoNaSombra

O que merece ser lembrado em 29 de Agosto

Nascimento de Aleijadinho
Responsável por uma arte admirada e reconhecida como a mais importante do Barroco Brasileiro.

Aleijadinho = Barroco Brasileiro

Antônio Franscisco Lisboa, o Aleijadinho, é um mistério para historiadores que discutem a autoria de muitas das obras a ele atribuídas. Escultor, entalhador, santeiro e arquiteto é responsável por uma arte admirada e reconhecida como das mais importantes do barroco brasileiro.

Filho de escrava negra e pai português há registros que nasceu em 29 de agosto de 1738. Aos 28 anos, herda o ofício do pai e é respeitado por toda a Vila Rica (Ouro Preto). É afetado por doença, até hoje desconhecida dos pesquisadores, que lhe causa deformação no corpo. Passa a esculpir em pedra-sabão e executa aquela que seria sua obra-prima: Os Profetas de Congonhas do Campo. O artista, carregado por escravos e trabalhando com instrumentos presos aos braços, esculpe monumentais estátuas, representando os 12 profetas da Bíblia. Cada profeta com o rosto de um inconfidente. Muito doente ao concluir a obra muda-se para a casa da nora, onde fica até sua morte em 1814, aos 75 anos.

Fonte: AlmanaqueBrasil


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terça-feira, 28 de agosto de 2007

Brasileirinho – Grandes encontros do choro

Documentário sobre choro estréia nos cinemas
da redação do Gafieiras

Apaixonado pelo Brasil, o cineasta finlandês Mika Kaurismäki acaba de colocar nos cinemas um novo documentário sobre a música nacional. Em 2002, o alvo foi o samba em Moro no Brasil e agora é a vez do choro em Brasileirinho – Grandes encontros do choro. O longa - que foi filmado em 2004, lançado em 2005 em Berlim e só agora chega comercialmente à terra que o pariu – está sendo exibido deste ontem, 24 de agosto, em poucos cinemas no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Salvador, Porto Alegre e Belo Horizonte.

“Além da música, meu foco está também nas pessoas, suas vidas e emoções. O Brasil é um país de muitas contradições, de grandes contrastes sociais. Boa parte da população vive em luta constante para sobreviver. Mas no fim, a alegria sempre vence! E nesta batalha entre tristeza e alegria, a música exerce um papel fundamental. [No filme] uso o Choro como plataforma para lançar comparações tais como: de que forma a música reflete no que o povo, como entidade social, faz do seu cotidiano, e como este mesmo povo é refletido através da sua expressão e interpretação musical. É interessante observar como elementos diferentes reagem uns aos outros, dentro dos seus respectivos habitats”, afirmou o mais brasileiro dos finlandeses no site oficial do filme.

Com direção musical de Marcello Gonçalves (Trio Madeira Brasil), o documentário enquadra os melhores músicos da atualidade, desde veteranos como Paulo Moura, Jorginho do Pandeiro e Zé da Velha até a nova geração de Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e Maionese, passando por intérpretes como Zezé Gonzaga, Pedro Miranda, Ademilde Fonseca, Elza Soares, Teresa Cristina e Guinga. O CD com a trilha sonora traz 16 faixas, entre elas “Santa Morena” (Jacob do Bandolim), “Um chorinho pra você” (Severino Araújo), “Cochichando” (Pixinguinha, João de Barro e Alberto Ribeiro) e “Brejeiro” (Ernesto Nazareth), está saindo pela gravadora Rob Digital e terá show de lançamento na próxima quarta-feira, 29 de agosto, no Caneco Petrobrás, Rio de Janeiro.


Fonte: Gafieiras


Assista trailer de Brasileirinho – Grandes encontros do choro abaixo:

Brasileirinho trailer (WMV)

Brasileirinho trailer (QUICKTIME)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Novo Portal Reúne Acervo de 188 mil Livros Eletrônicos

Portal E-Books

Está no ar o Portal E-books, plataforma com acervo de 188 mil livros eletrônicos adquiridos com apoio da FAPESP, através do programa FAP-Livros. Cerca de 250 mil usuários das três instituições de ensino e pesquisa, entre docentes, pesquisadores, alunos e funcionários, serão beneficiados. A iniciativa é do Consórcio Cruesp Bibliotecas, mantido pelo Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo e que reúne os gerenciadores dos três sistemas de bibliotecas, da Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual Paulista e da Universidade Estadual de Campinas.

A coleção inclui acervos da British Library do século XVIII, manuscritos e mapas das diversas áreas, principalmente da área de Humanidades; livros de Administração, Inteligência Artificial, e Ciência da Computação; engenharias mecânica e materiais, química, petroquímica e processos, eletrônica e elétrica; 14 bases de e-books das seguintes áreas: ciências ambientais, aplicações matemáticas, neurologia, estatísticas médicas, alimentos, gerenciamento e segurança de TI, política internacional, administração pública, engenharia biomédica, engenharias civil, mecânica, elétrica, eletrônica, industrial e óptica.

Fonte: Portal Literal

A Iconoclastia de Marcelo Mirisola

O escritor Marcelo Mirisola mostra na publicação digital Cronópios um texto recusado pela revista Rolling Stones e que estará em seu próximo livro Proibidão - crônicas censuras, viajadas necessárias na maionese e dissipações afins.

Bundinhas Empinadas
por Marcelo Mirisola


Não, não vou passar a madrugada num salão de sinuca com o Peréio. Podia ser interessante... talvez em outra circunstância. Por exemplo, se eu não tivesse uma "encomenda" a ser entregue exatamente sobre ele. Em primeiro lugar a diversão. E, depois, eu não sou o melhor jogador de sinuca do Bola 8. Também não tenho a ambição de "construir um personagem" em cima do Peréio, logo ele. Ora, não sou ingênuo, nem sou audiência pra platéia do Juca de Oliveira. Sou escritor, e dos bons. Aproveito a oportunidade para agradecer aos céus por não ter feito faculdade de jornalismo. Nada de cartilhas, apenas xaveco.

A madrugada no bola 8 não se justificaria nem se eu fosse um Cartier-Bresson à procura do melhor ângulo para uma foto antológica. Marmanjo nenhum - aliás - vai ficar à vontade na minha frente. Tampouco o Peréio - e ainda por cima num ambiente em que ele, em tese, estaria levando vantagem.

Não queria entrevistá-lo. Acho que esse negócio de "Perfil" está mais para nome de salão de beleza do que para qualquer outra coisa. Por falar nisso, conheci Verinha no Salão Perfil, ela era manicure.

Saudades da Verinha. Isso foi na época em que morei no lugar mais brega da América do Sul, Balneário Camboriu-SC.

Minha ex-garota & massagista particular deixou Sant`ana do Livramento-RS aos quinze anos de idade. Antes de ser estuprada pelo pai, era vizinha de cerca do Peréio (que é de Alegrete). Verinha foi tentar a vida nos puteiros catarinenses. Nos conhecemos no Scorpion`s Club. Mas essa é outra história.

Quanto ao Peréio, Fausto Wollf e outros encrenqueiros do quilate deles e de Tarso de Castro, bem, eles também se mandaram daquelas plagas (com a mesma volúpia da Verinha,creio ...), e foram tentar - cada um a seu modo, e trinta anos antes - a vida no Rio de Janeiro, e alhures. Consta que se deram bem, e comeram todas.

Não iria perguntar uma bobagem dessas pro cara: "Você passou a vara em metade do Rio de Janeiro, Peréio?" Claro que sim, - ele diria: - "inclusive na senhora sua mãe".

O melhor é tentar entender porque Peréio - outra vez - está no ar. A garotada está pagando o maior pau pro cara. Que agora - além de apresentador do Canal Brasil - virou escritor, e garoto propaganda da oitava maravilha do mundo, o Borba Gato. O homem que encarnou "Russo" no filme "Vai Trabalhar, Vagabundo" agora é autor de um livro chamado "Por que se mete,Porra?" O subtítulo: "Delicadezas de Paulo César Peréio" (editora do bispo).

Gostei do título, e pensei em outras perguntas: Se fosse na época em que você estava gravando "Iracema, uma transa Amazônica", iria se meter a escritor, Peréio? Se meteu por que qualquer pangaré hoje em dia é escritor?

Já leu os livros do Amyr Klink?

Claro que não perguntei nada disso. Aproveitei - isso sim - para responder a mim mesmo com outra pergunta: Se a Maitê Proença não precisa mais ser gostosa por que, afinal de contas, o Pereio não poderia se meter a escritor?

Aí fui ao livro. E - como sempre - constatei que estava certo e que estava errado. Pag. 66: "Minha mãe morreu hoje. Ou talvez ontem, não tenho certeza. Desculpe-me, mas a culpa não é minha".

Peréio cita Camus, malandramente. Como se quisesse tropicalizá-lo - só de sacanagem - para, logo em seguida, ensejar uma rasteira no escritor franco-argelino: "Se eu tivesse sentido a morte da minha mãe não teria pedido desculpas". Esse é o espírito da coisa. São anotações de guardanapo, pequenas rasteiras inúteis na vida besta que vivemos "cada vez menos". Peréio é um homem desleixado e íntegro. Se eu fosse a Pink Wainer, a editora dele, cancelava o subtítulo. O motivo é simples. A delicadeza está implícita na entonação de Peréio, o ator. Não precisava constar em livro. O livro, penso, é uma indelicadeza cometida contra ele mesmo. Em outras palavras: é o remoer a si mesmo ou "o segredo que não interessa a ninguém" ...enfim, os defuntos irrelevantes do Peréio, revelados ao leitor, ao fã que, em última análise, nada tem a ver com isso.

Por outro lado, é curioso notar que desleixo e integridade, duas coisas que aparentemente não se ajustariam, encontram, nesse livro, um encaixe verossímil, pessoal (eis a questão) e intransferível.

Que nome que eu poderia dar aos guardanapos do Peréio? Talvez ... "a vida que todos nós jogamos no lixo"? Um blues? Bem, prefiro chamar de indelicadeza. Não havia - insisto - necessidade do livro. Os editores de Peréio - talvez com as melhores das intenções - foram importunos, e grosseiros. São fãs dele, como eu. Mas, afinal, por que se mete, Pereio?

Bem,tenho uma suspeita. Minha suspeita se refere a ressurreição do ex-cafajeste.

Um fato público e notório: Tem uma molecadinha aí de bunda empinada pro Peréio. Outras perguntas imaginárias: 1. Você não acha que essa garotada está lhe sugando a virilidade? E o pior, sugando uma virilidade que não lhe pertence mais?

Essa pergunta (ou tese) é de um amigo meu - gaúcho também - Nilo Oliveira, autor do excelente "Pornografia Pessoal de um Ilusionista Fracassado".

Antes, porém, de falar dos vampirinhos ilustrados, tenho que falar do Nilo. Logo na sua primeira semana de São Paulo, levou um chapéu de um sambista japonês no Ó do Borogodó, um bar na Vila Madalena.

A partir desse dado, vale a pena conhecer sua tese, e lamentar pelo chifre levado. Vejam só o que o Nilo Oliveira diz: "A presepada já começa pelo nome do
troço: `Ó do Borogodó`. Os poetinhas e playboyzinhos mexendo os rabinhos brancos, os olhinhos brilhando atrás dos óculos de aro vermelho cada vez que se falava em "samba de raíz". Contavam as histórias dos velhões do samba como se fossem íntimos, pauzinhos duros e buraquinhos molhados, eles invejavam a qualidade morna da testosterona, a suposta "malandragem" que faltava na ortopedia acadêmica dos seus corpinhos de lombriga. Então bebiam e davam vexame. As intelectualóidezinhas querendo apanhar na cara (isto pude comprovar `in loco`) como supostamente apanhavam dos seus proxenetas as negonas do mangue. Tudo fora do lugar: como na jugular de qualquer grande escritor ou poeta se vê grudado, invariavelmente, um cacho insaciável de psicanalistas, estes vermezinhos tentam sugar dos sambistas da antiga, a força vital que lhes falta: ignorando, obviamente, que "malandragem" é apenas um dos muitos nomes da `sobrevivência` ou da `falta de opção`.
aquele abraço, miriguela".
O Miriguela em questão sou eu mesmo. Quero dizer que concordo com a tese do Nilo. Impecável. E cabe à perfeição na boa fase que Peréio está vivendo hoje, acho que sim.

Tenho algo a acrescentar. Num mundo bundão, onde escritores fazem projetos e discutem planilhas, e jornalistas coxinhas cagam regras e os julgam como iguais (porque são mesmo), onde todos morrem de medo do famigerado "departamento jurídico", e a revista Rolling Stone paga pau pra Ivete Sangalo, nesse mundo bundão, onde campeia o politicamente correto, e os heróis que morreram de overdose são reduzidos a estereótipos de filminhos de entretenimento, onde as oposições e as periferias são cooptadas pela teia, e são tão world e bundonas quanto, bem, nem nesse mundo bundão, onde os poetinhas da Vila Madalena sugam, talvez por falta de talento mesmo (e sem pretensão?) a virilidade dos sambistas da antiga, nada mais previsível do que vampirizar a virilidade de Paulo Cesar Peréio. "O que acha disso?"

Peréio fala milhares de coisas ao mesmo tempo. Não diria que é um discurso desconexo, mas uma forma educada de mandar à merda, atender às expectativas esdrúxulas dos fãs (ele não me conhece... acho que não foi com a minha fuça), uma forma de ser egoísta e - por que não? - perpetuar a lenda. Isso é bom: ele está com o saco cheio de si mesmo. Mas continua pondo na bunda de todo mundo. Tanto faz pro Peréio se o rabinho empinado é esclarecido ou não. Peréio não é um deslumbrado.

Um capuccino pra mim. Outro capuccino pro Peréio com adoçante.

---- Sabia que esses garotos têm uma revista?

Oficialmente chama-se Piauí. Por quê Piauí ? Ah, Peréio - com a grana & simpatia que os mauricinhos líricos têm qualquer nome funcionaria. A má consciência dos herdeiros do Unibanco se resolve - e vira dinheiro - como se os juros cobrados (em última análise) fosse algo inteligente e simpático pela própria natureza. Os filmes que fazem, as revistas que editam são quase um objeto de decoração, eu diria. Quase inofensivos. Se o resultado não fosse podre no que tem de despojado, e falso no que poderia ter de original. Sabia que até o Nelson Sargento está escrevendo na revista dos mauricinhos? Não, não foi cooptado. A palavra é pesada demais.

Não é por acaso que o sambista está lá. Trata-se do zeitgeist. Um termo alemão que se refere ao espírito de uma época. Ou seja: sintoma da babaquice que vivemos hoje em dia.Toda época tem o zeitgeist que merece. O nome ideal para essa revista? Creio que "Fio Terra" seria o nome adequado.

Mas vamos mudar de assunto para falar da mesma coisa. Peréio é a bola da vez da garotada sem viço da Vila Madalena, capital do Piauí. Estão todos deslumbrados com você, "o ex-cafajeste". O que você acha de ser chamado de ex-cafajeste? Todos com a bundinha empinada pra você, querendo sugar sua ex-virilidade. Calma, cara. Sou apenas um escritor elaborando seu "Perfil".


PS. 1. Enfim, o único jeito que eu tinha de não me aproximar da Vila Madalena, era não ir ao Bola 8, e - para coroar essa entrevista - pedir esse capucinno descafeinado com adoçante, e vaselina.
PS. 2. Não fiz nenhuma dessas perguntas pro Peréio. Não encontrei o Peréio. Na verdade poderia ter sido um encontro meio besta que não serviria para melhorar meus preconceitos, nem para me ajudar a ganhar a melhor de três que não disputamos no Bola 8, salão de sinuca que, aliás, jamais existiu ... Ou que poderia ter existido num conto do João Antonio... talvez numa crônica do Marcos Rey.

PS 3. As especulações que se referem às bundinhas empinadas, ao discurso quase-desconexo, e a integridade dele, são sinceras e, sobretudo, passiveis de erro. Como o resto do texto, evidentemente. Apesar dos pesares, sou fã do cara.



Marcelo Mirisola nasceu em 1966, em São Paulo (SP). É formado em Direito e considerado o mais iconoclasta dos escritores da nova geração de prosadores. Tem os seguintes livros publicados: Fátima fez os pés para mostrar na choperia (1998); O herói devolvido (2000); O azul do filho morto (2000); Bangalô (2003); O Banquete (textos a partir de imagens de Caco Galhardo, 2003); Notas de arrebentação (2005); Joana a contragosto (2005); O homem da quitinete de marfim (2007). E-mail: marcelomirisola@yahoo.com.br

Fonte: Cronópios

sábado, 25 de agosto de 2007

Gilberto Gil defende reforma da Lei Autoral no país

Convergência Digital e Política Cultural
MinC promoverá fóruns sobre 'Acesso à Cultura e ao Conhecimento' e 'Direitos Autorais'


“Devemos buscar a convergência política para que o país aproveite plenamente os benefícios da convergência tecnológica”

Ministro Gilberto Gil

Em audiência pública na manhã desta última quinta-feira (23 de agosto), na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado Federal, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, apresentou os desafios do mercado audiovisual no mundo das convergências tecnológicas. Ele defendeu o aperfeiçoamento do sistema regulatório brasileiro do setor audiovisual e a necessidade de reforma da Lei Autoral no país, anunciando a criação de dois fóruns públicos de discussão.

Ainda neste semestre, o Ministério da Cultura irá lançar o Fórum Nacional sobre Direitos Autorais, que debaterá as questões acerca dos Direitos de Autor e Direitos Conexos no país. Já no primeiro semestre do próximo ano, será realizado o Fórum Nacional de Acesso à Cultura e ao Conhecimento, que tratará de temas como digitalização de acervos, acesso ao conhecimento científico, propriedade intelectual e educação na era digital. Para Gil, a discussão “funcionará também como um aprofundamento do Fórum Nacional de TVs Públicas”.

Defesa da Diversidade
Ministro Gilberto Gil participa de Audiência Pública no Senado Federal
A Audiência Pública também contou com a participação do vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, do diretor executivo da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg, e do senador Wellington Salgado (PMDB-MG). O ministro Gil fez veemente defesa da diversidade cultural e afirmou que o país “deve garantir que as novidades das convergências tecnológicas venham para qualificar a vida do brasileiro em seus direitos de produção e acesso à cultura”.

É chamada convergência tecnológica a integração de tecnologias das áreas de telecomunicações e informática que une os serviços de televisão, telefonia e Internet para a captura e difusão de informações. A convergência faz, por exemplo, com que se possa assistir e transmitir filmes por aparelhos celulares, uma tendência já considerada irreversível, cada vez mais presente no cenário mundial. A tecnologia traz novos atores econômicos, novos mercados e investidores, como as empresas telefônicas e, com eles, novos desafios.

Desafios

O ministro da Cultura afirmou que o Governo Federal considera um dos maiores desafios a ampliação do acesso aos conteúdos e equipamentos tecnológicos, já que são essenciais para que se possa “superar o fosso dos que têm acesso à Internet e dos que apenas possuem os cinco canais da TV Aberta”. Segundo ele, a grande novidade da convergência é a possibilidade de que novas formas de produzir conteúdo sejam também novas formas de acesso à produção. “Hoje o 'upload' é tão importante quanto o 'download'”, explicou.

Defendeu, ainda, novo modelo de regulação que leve em conta a diversidade cultural do país e estimule a produção regional e independente. “A Convenção da Diversidade Cultural da Unesco, ratificada e em vigor no Brasil, vem garantir a constitituição de novos espaços para fruição cultural”, lembrou o ministro, que criticou a pouca diversidade na oferta da programação da TV a Cabo e falou das dificuldades em se garantir a proteção da diversidade no setor audiovisual brasileiro.

Também criticou a pressão que os radiodifusores têm feito sobre o governo para que sejam adotadas medidas tecnológicas de proteção - travas técnicas para impedir o usuário de baixar arquivos, copiar e assistir quando desejar um filme ou capítulo de novela. Para Gil, essas travas impediriam os brasileiros de realizar o próprio espírito da convergência. “Tais medidas transfeririam aos radiodifusores brasileiros uma atribuição constitucional do Estado: não compete aos radiodifusores a prerrogativa de, unilateralmente, interpretar e aplicar a legislação de direitos autorais.”

O uso da tecnologia anticópia retiraria do consumidor o direito de decidir como usar o sinal da televisão, impedindo, entre outras coisas, que o usuário possa gravar programas para assisti-los em outro horário ou fazer cópias para uso educativo e de pesquisa ou, ainda, utilizá-los como fonte, no caso da imprensa, lembrou o ministro Gil.

Leia o pronunciamento do ministro da Cultura.

Audiência Pública - O debate contou com a presença de oito senadores: Eduardo Suplicy (PT-SP), Renato Casagrande (PSB-ES), Sérgio Zambiasi (PTB-RS), Romeu Tuma (DEM-SP), Ideli Salvatti (PT-SC), Gim Argello (PTB-DF), Sibá Machado (PT-AC) e Wellington Salgado (PMDB-MG), que presidiu a mesa. No final da audiência, o ministro foi classificado pelos parlamentares como 'Ministro Banda Larga'. Gil respondeu que “as duas personas, a do ministro e a do artista, convergem para a batalha do alargamento da banda”.

Leia, também, matéria da Agência Senado.

(Comunicação Social/MinC)
Fonte: MinC

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Conto de Clarice Lispector

Uma Galinha
Clarice Lispector


Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.

Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.

Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.

Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.

Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.

Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:

— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!

Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!

— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.

Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.

Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.

Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.

Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.


Texto extraído do livro “Laços de Família”, Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi, figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.

Fonte: Releituras

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Chega um dia de falta de assunto

Hoje não escrevo

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar. Você esperando que os outros vivam para depois comentá-los com a maior cara-de-pau (“com isenção de largo espectro”, como diria a bula, se seus escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior. Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério grego - às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado, cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles.

Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma idéia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação.

Claro, você aprovou as valentes ações dos outros, sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e dispensou-se de corrigir-lhe os efeitos. Assim é fácil manter a consciência limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no carretel.

E então vem o tédio. De Senhor dos Assuntos, passar a espectador enfastiado de espetáculo. Tantos fatos simultâneos e entrechocantes, o absurdo promovido a regra de jogo, excesso de vibração, dificuldade em abranger a cena com o simples par de olhos e uma fatigada atenção. Tudo se repete na linha do imprevisto, pois ao imprevisto sucede outro, num mecanismo de monotonia... explosiva. Na hora ingrata de escrever, como optar entre as variedades de insólito? E que dizer, que não seja invalidado pelo acontecimento de logo mais, ou de agora mesmo? Que sentir ou ruminar, se não nos concedem tempo para isso entre dois acontecimentos que desabam como meteoritos sobre a mesa? Nem sequer você pode lamentar-se pela incomodidade profissional. Não é redator de boletim político, não é comentarista internacional, colunista especializado, não precisa esgotar os temas, ver mais longe do que o comum, manter-se afiado como a boa peixeira pernambucana. Você é o marginal ameno, sem responsabilidade na instrução ou orientação do público, não há razão para aborrecer-se com os fatos e a leve obrigação de confeitá-los ou temperá-los à sua maneira. Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Concluiu que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não corta de verdade a barriga da vida, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira, assuntando, assuntando...

Então hoje não tem crônica.


Carlos Drummond de Andrade


Fonte: MemóriaViva

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A Morte do Leiteiro em Animação

Inspirados no poema de Carlos Drummond de Andrade, A Morte do Leiteiro, os mineiros Thales Nunes e Merson Eller criaram a animação em stop motion abaixo. A Morte do Leiteiro é a animação de estréia dos caras, talvez, por isso, um tanto simples, entretanto, com muitos méritos. Paulo Autran é quem dá voz a poesia.

A Morte do Leiteiro



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Mais Drummond

Auto-retrato, Drummond

Hipótese

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.


Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.


Deus triste

Deus é triste.

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.
A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.


Cuidado

A porta cerrada
não abras.
Pode ser que encontres
o que não buscavas
nem esperavas.

Na escuridão
pode ser que esbarres
no casal em pé
tentando se amar
apressadamente.

Pode ser que a vela
que trazes na mão
te revele, trêmula,
tua escrava nova,
teu dono-marido.

Descuidosa, a porta
apenas cerrada
pode te contar
conto que não queres
saber.


Certas palavras

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem alcança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, atos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.


A puta

Quero conhecer a puta.
A puta da cidade. A única.
A fornecedora.
Na Rua de Baixo
onde é proibido passar.

Onde o ar é vidro ardendo
e labaredas torram a língua
de quem disser: Eu quero
a puta
quero a puta quero a puta.

Ela arreganha dentes largos
de longe. Na mata do cabelo
se abre toda, chupante
boca de mina amanteigada
quente. A puta quente.

É preciso crescer
esta noite a noite inteira sem parar
de crescer e querer
a puta que não sabe
o gosto do desejo do menino
o gosto menino
que nem o menino
sabe, e quer saber, querendo a puta.


Igual-desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.


Falta um disco

Amor,
estou triste porque
sou o único brasileiro vivo
que nunca viu um disco voador.
Na minha rua todos viram
e falaram com seus tripulantes
na língua misturada de carioca
e de sinais verdes luminescentes
que qualquer um entende, pois não?
Entraram a bordo (convidados)
voaram por aí
por ali, por além
sem necessidade de passaporte
e certidão negativa de IR,
sem dólares, amor, sem dólares.
Voltaram cheio de notícias
e de superioridade.
Olham-me com desprezo benévolo.
Sou o pária,
aquele que vê apenas caminhão
cartaz de cinema, buraco na rua
& outras evidências pedestres.
Um amigo que eu tenho
todas as semanas vai ver o seu disco
na praia de Itaipu.
Este não diz nada pra mim,
de boca, mas o jeito,
os olhos! contam de prodígios
tornados simples de tão semanais
apenas secretos para quem não é
capaz de ouvir e de entender um disco.
Por que a mim, somente a mim
recusa-se o OVNI?
Talvez para que a sigla
de todo não se perca, pois enfim
nada existe de mais identificado
do que um disco voador hoje presente
em São Paulo, Bahia
Barra da Tijuca e Barra Mansa.
(Os pastores desta aldeia
já me fazem zombaria
pois procuro, em vão procuro
noite e dia
o zumbido, a forma, a cor
de um só disco voador.)
Bem sei que em toda parte
eles circulam: nas praias
no infinito céu hoje finito
até no sítio de um outro amigo em Teresópolis.
Bem sei e sofro
com a falta de confiança neste poeta
que muita coisa viu extraterrena
em sonhos e acordado
viu sereias, dragões
o Príncipe das Trevas
a aurora boreal encarnada em mulher
os sete arcanjos de Congonhas da Luz
e doces almas do outro mundo em procissão.
Mas o disco, o disco?
Ele me foge e ri
de minha busca.

Um passou bem perto (contam)
quase a me roçar. Não viu? Não vi.
Dele desceu (parece)
um sujeitinho furta-cor gentil
puxou-me pelo braço: Vamos (ou: plnx),
talvez...?
Isso me garantem meus vizinhos
e eu, chamado não chamado
insensível e cego sem ouvidos
deixei passar a minha vez.
Amor, estou tristinho, estou tristonho
por ser o só
que nunca viu um disco voador
hoje comum na Rua do Ouvidor.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Curta E Agora, José?

Já que falamos de Drummond, aqui vai um curta-metragem livremente inspirado em José, clássico do poeta. Trata-se do filme "E Agora, José?", dirigido por Rubens R. Câmara, da produtora Mata-Cavalo Filmes Curtos. Assista no reprodutor abaixo.

E Agora, José?


Sinopse
Num sonho, Carlos é avisado por um emblemático personagem que aquele será seu último dia de vida... (Inspirado no poema "José" de Carlos Drummond de Andrade).

Gênero Ficção
Diretor Rubens R. Câmara
Ano 2007
Duração 15min
Cor Colorido
Bitola DV
País Brasil


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sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) é considerado um dos principais poetas da literatura brasileira devido à repercussão e alcance de sua obra. Nasceu em Minas Gerais, em uma cidade cuja memória viria a permear parte de sua obra. Formado em farmácia, durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

Drummond e o Modernismo brasileiro

Drummond, como os modernistas, proclama a liberdade das palavras, uma libertação do idioma que autoriza modelação poética à margem das convenções usuais. Segue a libertação proposta por Mario de Andrade; com a instituição do verso livre, acentua-se a libertação do ritmo, mostrando que este não depende de um metro fixo (impulso rítmico). Se dividirmos o Modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond faria parte da primeira, ao lado do próprio Mário de Andrade.

A poesia de Drummond

Quando se diz que Drummond foi o primeiro grande poeta a se afirmar depois das estréias modernistas, não se está querendo dizer que Drummond seja um modernista. De fato herda a liberdade lingüística, o verso livre, o metro livre, as temáticas cotidianas. Mas vai além. "A obra de Drummond alcança — como Fernando Pessoa ou Jorge de Lima, Herberto Helder ou Murilo Mendes — um coeficiente de solidão, que o desprende do próprio solo da História, levando o leitor a uma atitude livre de referências, ou de marcas ideológicas, ou prospectivas", afirma Alfredo Bosi (1994).

Affonso Romano de Sant'ana costuma estabelecer que a poesia de Carlos Drummond a partir da dialética “eu x mundo”, desdobrando-se em três atitudes
:

– Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica
– Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social
– Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica

Sobre a poesia política, algo incipiente até então, deve-se notar o contexto em que Drummond escreve. A civilização que se forma a partir da Guerra Fria está fortemente amarrada ao neocapitalismo, à tecnocracia, às ditaduras de toda sorte, e ressoou dura e secamente no eu artístico do último Drummond, que volta, com freqüência, à aridez desenganada dos primeiros versos: A poesia é incomunicável / Fique quieto no seu canto. / Não ame. No final da década de 1980, o erotismo ganha espaço na sua poesia até seu último livro.

Temas típicos da poesia de Drummond


– O Indivíduo: "um eu todo retorcido". o indivíduo na poesia de Drummond é complicado, torturado, estilhaçado.
– A Terra Natal: a relação com o lugar de origem, que o indivíduo abandona.
– A Família: O indivíduo interroga, sem alegria, mas sem sentimentalismo, a estranha realidade familiar, a família que existe nele próprio.
– Os Amigos: "cantar de amigos", (título que parafraseia com as Cantigas de Amigo). Homenagens a figuras que o poeta admira, próximas ou distantes, de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, de Machado de Assis a Charles Chaplin.
– O Choque Social. O espaço social onde se expressa o indíviduo e as suas limitações face aos outros.
– O Amor: Nada romântico ou sentimental, o amor em Drummond é uma amarga forma de conhecimento dos outros e de si próprio
– A Poesia. O fazer poético aparece como reflexão ao longo da sua poesia.
Exercícios lúdicos, ou poemas-piada. Jogos com palavras, por vezes de aparente inocência näif.
– A Existência: a questão de estar-no-mundo...

Obra Literária

Poesia


Alguma Poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
José (1942)
A Rosa do Povo (1945)
Claro Enigma (1951)
Fazendeiro do ar (1954)
Viola de Bolso (1955)
Lição de Coisas (1964)
Boitempo (1968)
A falta que ama (1968)
Nudez (1968)
As Impurezas do Branco (1973)
Menino Antigo (Boitempo II) (1973)
A Visita (1977)
Discurso de Primavera (1977)
Algumas Sombras (1977)
O marginal clorindo gato (1978)
Esquecer para Lembrar (Boitempo III) (1979)
A Paixão Medida (1980)
Caso do Vestido (1983)
Corpo (1984)
Amar se aprende amando (1985)
Poesia Errante (1988)
O Amor Natural (1992)
Farewell (1996)
Quadrilha (1954)

Antologia poética


50 poemas escolhidos pelo autor (1956)
Antologia Poética (1962)
Antologia Poética (1965)
Seleta em Prosa e Verso (1971)
Amor, Amores (1975)
Carmina drummondiana (1982)
Boitempo I e Boitempo II (1987)
A última pedra no meu caminho ( 1950)

Infantis

O Elefante (1983)
História de dois amores (1985)
O pintinho (1988)

Prosa


Confissões de Minas (1944)
Contos de Aprendiz (1951)
Passeios na Ilha (1952)
Fala, amendoeira (1957)
A bolsa & a vida (1962)
Cadeira de balanço (1966)
Caminhos de João Brandão (1970)
O poder ultrajovem e mais 79 textos em prossa e verso (1972)
De notícias & não-notícias faz-se a crônica (1974)
Os dias lindos (1977)
70 historinhas (1978)
Contos plausíveis (1981)
Boca de luar (1984)
O observador no escritório (1985)
Tempo de vida poesia (1986)
Moça deitada na grama (1987)
O avesso das coisas (1988)
Auto-retrato e outras crônicas (1989)


Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Vinte Anos sem Drummond

No dia 17 de agosto de 1987 o Brasil perdia um de seus maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade. Hoje, 20 anos depois, sua poesia continua mais viva do que nunca. Foi-se o poeta, porém, sua obra permanece. O Música&Poesia sempre homenageou, e seguirá homenageando, Drummond. Pois, seus poemas, não são para ser lembrados somente hoje, mas, faça chuva ou faça sol, com um sorriso ou uma lágrima, todo dia... Carlos Drummond de Andrade sempre cai bem.


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Também já fui brasileiro


Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.

Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.

Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isso, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.


Soneto da perdida esperança


Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.


Em face dos últimos acontecimentos


Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?


Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.


Necrológio dos desiludidos do amor

Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas os veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.


Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


O enterrado vivo

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.


O fim no começo

A palavra cortada
na primeira sílaba.
A consoante esvanecida
sem que a língua atingisse o alvéolo.
O que jamais se esqueceria
pois nem principiou a ser lembrado.
O campo – havia, havia um campo?
irremediavelmente murcho em sombra
antes de imaginar-se a figura
de um campo.

A vida não chega a ser breve.


Parolagem da Vida

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O que merece ser lembrado em 16 de Agosto

A morte de Bertha Celeste
Poeta paulista, é autora da versão em Português de Parabéns a Você.


A melodia de Parabéns a Você nasceu nos Estados Unidos no final do século 19. Duas professoras compuseram Good Morning to All (Bom dia para todos), mais tarde rebatizada como Happy Birthday to You (Feliz Aniversário para Você). Em 1933, virou tema de peça na Broadway e se espalhou pelo mundo.

Aqui, até a década de 1940, cantávamos em inglês. O pesquisador, compositor e radialista Almirante lançou concurso em seu programa de música brasileira na Rádio Tupi: uma letra em português para a canção. Dentre cinco mil concorrentes, venceu a poeta Bertha Celeste Homem de Mello, de Pindamonhangaba, São Paulo. Escrita em cinco minutos, trazia mais riqueza de versos - em inglês, o verso Happy birthday to you é repetido quatro vezes. Bertha tinha 40 anos. Doutorou-se em letras e, sob o pseudônimo de Léa Magalhães, escrevia sobre a vida interiorana, o cotidiano do homem do campo. Morreu em 16 de agosto de 1999, aos 97 anos, gloriosa: milhões de brasileiros cantam sua versão todos os dias.


Fonte: AlmanaqueBrasil

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terça-feira, 14 de agosto de 2007

Animação Racional

Assista abaixo clipe-animação baseada na música Imunização Racional, de Tim Maia. Esta canção faz parte da cultuada, obscura e mais criativa fase do falecido Tim Maia.

Imunização Racional (Que Beleza!) - Tim Maia


Tim Maia
Sebastião Rodrigues Maia, mais conhecido como Tim Maia, (Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1942 — Niterói, 15 de março de 1998) foi um cantor brasileiro.

Começou a compor melodias ainda criança e já surpreendia a numerosa família de 19 irmãos. Se destacou pelo pioneirismo em trazer para a MPB o estilo soul de cantar. Com a voz grave e carregada, tornou-se um dos grandes nomes da música brasileira, conquistando grande vendagem e consagrando sucessos, lembrados até hoje, e que influenciaram o sobrinho, o cantor Ed Motta.

Fase racional

Na década de 70 entrou em contato com a ideologia Cultura Racional, liderada por Manuel Jacinto Coelho, um "guru" da ufologia, quando lançou, (1975), os álbuns Tim Maia Racional, volumes 1 e 2 pelo selo Seroma (abreviação do próprio nome Sebastião Rodrigues Maia).

São considerados até hoje como os melhores de Tim Maia, com grandes influências de funk e soul e pelo fato de que nesta época, Tim Maia manteve-se afastado dos vícios, o que se refletiu na qualidade da voz.

Desiludido com a ideologia, percebeu que o “mestre espiritual” Manuel não correspondeu ao ideal de um mestre. O cantor, revoltado, tirou de circulação os álbuns, tendo virado item de colecionadores, devido à raridade. Deste disco existem várias pérolas, uma das quais é Imunização Racional.


Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Poemas de José Eduardo Degrazia

DISCÍPULOS DE EROS

Os namorados
são transparentes
quando olhados
de frente
de lado
de perto
ou distante
são diamantes
amantes, amantes
amantes
dão-se as mãos
simplesmente
mentes e olhos
mentem versos
verdades várias
vôos
são pássaros
são peixes
imersos no mar
do amor
esquecidos
de tudo
de nada
de todos
jogam dados
do destino
cantam hinos
são apenas
lábios, lábias
sedução
sábios e vivos
inocentes
e meninos
enquanto amor
os domina
e ilumina.


A HORA CERTA

Quando não se puder
mais olhar uma flor,
quando não se puder
mais amar uma mulher,
quando o mundo for
só aparência de ser
e não permitir alegria,
é a hora certa de plantar,
é a hora certa de cantar,
é a hora certa de amar
é a hora certa de ver,
é a hora certa de viver,
é a hora certa de colher,
a manhã sempre vem,
o amor pode voltar
pra te dizer que a vida
vale a pena ser vivida.

É a hora certa de plantar,
é a hora certa de cantar,
é a hora certa de amar,
é a hora certa de ver,
é a hora certa de viver,
é a hora certa de colher.


- José Eduardo Degrazia nasceu em Porto Alegre em 1951.
Publicou dezenas de artigos e crônicas em jonais e revistas do Brasil e do exterior.
Tem publicados os livros de poemas, Lavra permanente, Cidade submersa, A porta do sol, Piano arcano, e A urna Guarani; seus livros de contos são: O atleta recordista, A orelha do bugre, A terra sem males, e Os leões selvagens de Tanganica; recentemente saiu sua novela O reino de macambira.
Traduziu livros de Pablo Neruda, poetas latino-americanos e italianos.
Foi premiado em poesia, conto, teatro e tradução.


Fonte: PortoPoesia

domingo, 12 de agosto de 2007

Paulo Autran Interpreta Veríssimo e Drummond

Ouça a leitura de Paulo Autran para a crônica Botecos, de Luis Fernando Veríssimo, e para a poesia O tempo passa, não passa, de Carlos Drummond de Andrade.

De Luís Fernando Veríssimo, "Botecos"

De Carlos Drummond de Andrade, "O tempo passa, não passa"


Paulo Autran interpretando textos da cultura lusófona pode ser acompanhado de segunda a sexta às 2h17, 9h57, 17h17 e 22h17, na BandNews FM.

A BandNews FM é transmitida em São Paulo (96,9), Rio de Janeiro (94,9), Porto Alegre (99,3), Belo Horizonte (89,5), Salvador (99,1), Curitiba (96,3) e Brasília (90,5).

Fonte: BandNewsFM

sábado, 11 de agosto de 2007

Conto Completo de Machado de Assis pra Baixar

Conto Completo de Machado de Assis

A Mágoa do infeliz Cosme
I

Imensa e profunda foi a mágoa do infeliz Cosme. Depois de três anos de não interrompida ventura, faleceu-lhe a mulher, ainda na flor da idade, e no esplendor das graças com que a dotara a natureza. Uma rápida moléstia a arrebatou aos carinhos do esposo e à admiração de quantos tiveram a honra e o prazer de praticar com ela. Quinze dias apenas esteve de cama; mas foram quinze séculos para o infeliz Cosme. Por cúmulo de desgraças, expirou longe dos olhos dele; Cosme saíra para ir buscar a solução de um negócio; quando chegou à casa achou um cadáver.

Dizer a aflição em que este acontecimento lançou o infeliz Cosme pediria outra pena que não a minha. Cosme chorou logo no primeiro dia todas as suas lágrimas; no dia seguinte tinha os olhos exaustos e secos. Os seus numerosos amigos contemplavam com tristeza o rosto do infeliz e ao lançar a pá de terra sobre o caixão já depositado no fundo da cova, mais de um recordou os dias que passara ao pé dos dois esposos, tão queridos um do outro, tão venerados e amados dos seus íntimos.

Cosme não se limitou ao encerramento usual dos sete dias. A dor não é costume, dizia ele aos que o iam visitar; sairei daqui quando puder arrastar o resto dos meus dias. Ali ficou durante seis semanas, sem ver a rua nem o céu. Os seus empregados iam prestar-lhe contas, a que ele, com incrível esforço, prestava religiosa atenção. Cortava o coração ver aquele homem ferido no que havia de mais caro para ele, discutir às vezes um erro de soma, uma troca de algarismos. Uma lágrima às vezes vinha interromper a operação. O viúvo lutava com o homem do dever.

Ao cabo de seis semanas resolveu sair à rua o infeliz Cosme.

- Não estou curado, dizia ele a um compadre; mas é preciso obedecer às necessidades da vida.

- Infeliz! exclamou o compadre apertando-o nos braços.


...Segue

Baixe aqui A Mágoa do infeliz Cosme - completo (arquivo em .pdf)

Para baixar centenas de livros completos visite o saite Domínio Público.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sem Rosa sem Nada

No dia nove de agosto de 1945 concluía-se o maior ataque terrorista da humanidade. A cidade japonesa de Nagasaki era devastada por uma bomba atômica jogada por um avião estadunidense. Os EUA, três dias antes, já havia exterminado outra cidade, Hiroshima. Estima-se que em Nagasaki tenham sido assassinadas 74 mil pessoas e em Hiroshima 140 mil.

Nosso poeta Vinicius de Moraes sensibilizado com o genocídio escreveu Rosa de Hiroshima. Ney Matogrosso imortalizaria esta canção. Confira abaixo o poema de Vinicius e o vídeo com Ney Matrogrosso interpretando Rosa de Hiroshima.

Rosa de Hiroshima
Vinicius de Moraes / Gerson Conrad


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Rosa de Hiroshima - Ney Matogrosso

Registro Histórico dos Mutantes

Jovens em Mutação

Depois de estar sob a custódia do Acervo Nacional, uma preciosidade filmada em 35mm vem parar na rede. O dia de três jovens criativos, captados pela lente de Antônio Carlos da Fontoura, foi registrado em 1970. Tudo poderia passar em branco caso esses jovens não fossem os integrantes da mais influente banda brasileira de todos os tempos: Os Mutantes. Através de brincadeiras improvisadas, Fontoura filmou o passeio de Arnaldo Dias, Sérgio Batista e Rita Lee, num único dia pelas ruas de São Paulo.

Yerko Herrera

Assista Os Mutantes aqui

Sinopse
A melhor banda de rock brasileiro de todos os tempos no auge da loucura, da lucidez e da beleza. Um registro histórico em plenos anos 60, imperdível! Com a incrível Rita Lee!

Gênero Ficção
Diretor Antônio Carlos da Fontoura
Ano 1970
Duração 7min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil

Ficha Técnica
Produção Canto Claro Fotografia Renato Neuman Câmera Renato Neuman Montagem Renato Neuman Co-direção Antonio Calmon

Fonte: PortaCurtas

Mais filmes: Assista em OUtroCine - Um outro jeito de ver cinema.

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