domingo, 5 de agosto de 2007

Chico Declama Drummond, Drummond fala de Chico

Chico Buarque de Holanda recita Carlos Drummond

O lutador (clique e ouça)

Da coleção de quatro cds Poesia falada - Vol 15 - Reunião - 2002 O Brasil dizendo Drummond, organizada por Paulinho Lima.

Carlos Drummond de Andrade sobre Chico Buarque

O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.
A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vem trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, na falta de ar.

A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a idéia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, dobrados de guerra. Não convida a matar o inimigo, ela não tem inimigos, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.

Meu partido está tomado. Não da ARENA nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.

Se uma banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira. Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.

Carlos Drummond de Andrade


Publicado originalmente no, já extinto, diário Correio da Manhã, no dia 14 de outubro de 1966.

Fonte: Áudio e Artigo do saite oficial de Chico Buarque


O Lutador
Carlos Drummond de Andrade

Lutar com palavras é a luta mais vã.
Entanto lutamos mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas
para meu sustento num dia de vida.
Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem
e não há ameaça e nem há sevícia
que as traga de novo ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo de rara humildade.
Guardarei sigilo de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras parece sem fruto.
Não têm carne e sangue
Entretanto, luto.

Palavra, palavra (digo exasperado),
se me desafias, aceito o combate.
Quisera possuir-te neste descampado,
sem roteiro de unha ou marca de dente nessa pele clara.
Preferes o amor de uma posse impura
e que venha o gozo da maior tortura.

Luto corpo a corpo, luto todo o tempo,
sem maior proveito que o da caça ao vento.
Não encontro vestes, não seguro formas,
é fluido inimigo que me dobra os músculos
e ri-se das normas da boa peleja.

Iludo-me às vezes, pressinto que a entrega se consumará.
Já vejo palavras em coro submisso,
esta me ofertando seu velho calor,
outra sua glória feita de mistério,
outra seu desdém, outra seu ciúme,
e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra
essência captada, o sutil queixume.
Mas ai! é o instante de entreabrir os olhos:
entre beijo e boca, tudo se evapora.

O ciclo do dia ora se consuma e o inútil duelo jamais se resolve.
O teu rosto belo, ó palavra,
esplende na curva da noite que toda me envolve.
Tamanha paixão e nenhum pecúlio.
Cerradas as portas, a luta prossegue nas ruas do sono.



A banda
Chico Buarque/1966

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem

A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou

E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor

5 comentários:

Anônimo disse...

OLÁ!AMIGO. TIVE A DAR UMA OLHADA NAS NOVIDADES E NOS VIDEOS E GOSTEI MUITO. EU TMB TENHO VIDEOS PORTUGUESES NO MEU BLOG, UM DE JOAO PEDRO PAIS K É UM EXCELENTE CANTOR E COMPOSITOR TMB E ONDE DIZ PARABENS MANO TMB TENHO UM VIDEO DA MINHA BANDA IRIS ELES SAO O MAXIMO. SE KISERES DÁ UMA OLHADA.
BJOS
CARLA GRANJA

Daniel Amarhal disse...

Yerko... mais uma vez... sem palavras! Amo Chicooo!

E entòn, não consegui achar o tal link do meu fashioncast... rs!
Eu sou péssimo nesses sites... rs! Mas obrigado pela ajuda!

Yerko Herrera disse...

Carla!!! Já dei uma olhada nas novidades! Parabéns! Bem legais!!!

Beijo.

Yerko Herrera disse...

Pô Daniel, Chico é muito bom mesmo!!!

Cara, não desiste de colocar as músicas. No começo é meio complicado mesmo, mas depois tu vê que é fácil.

Existem outros saites que também fazem o mesmo que o eSnips, de repente tu te acerta melhor com outro. Por exemplo, se tuas músicas já existem na rede, tem o MyFlashFetish.com, que basta tu colocar o endereço de onde esta hospedado o mp3 pra criar teu tocador.

Valeu! Abração!

Anônimo disse...

Sem palavras!
Chico é um espetáculo e você também! rs.
Muuuito bom gosto!
Beijos.


P.s: Quero mais Chicooooo!\o/
hehehehe.