Novos sons dos Brasis
por Pedro Alexandre Sanches
Pouco a pouco, se fazem notar efeitos de certa descentralização do ambiente musical brasileiro
Pouco a pouco, se fazem notar efeitos de certa descentralização do ambiente musical brasileiro, a bordo da derrocada das grandes gravadoras, por um lado, e do avanço da produção caseira, por outro. É o que permite o advento simultâneo de três CDs (independentes) como os dos grupos Ticuqueiros, de Pernambuco, e Cravo Carbono, do Pará, e do músico baiano Quito Ribeiro.
Todos apresentam música de apelo jovem, com influências nítidas de rock e/ou eletrônica. Ainda assim, ancoram-se nas peculiaridades musicais das regiões de origem dos artistas. Exemplar é o caso dos Ticuqueiros, em Dos Canaviais da Zona da Mata. O termo “ticuqueiro” designa o trabalhador do plantio de cana-de-açúcar que faz a limpa do terreno e, nas horas de descanso, sai nos folguedos de maracatu, cavalo-marinho, coco, ciranda. A banda não é formada por ticuqueiros, mas por músicos de Nazaré da Mata que se “vestem” do personagem em letras que retratam aquele imaginário com simplicidade e em melodias e arranjos de raro vigor.
O hábitat do Cravo Carbono é a música de Belém, que passa por carimbó, guitarrada, maculelê, samba e tecnobrega, sob leitura vanguardista e cerebral. Os sons de Córtex são ainda desconhecidos de grande parte do Brasil, seja pelo lado da tradição, seja da invenção, e atingem ápices na ironia de Brasileiros Invadem o Mundo da Moda e na “breguice” de Aplausos de Auditório.
Quito Ribeiro, por fim, é músico e compositor envolvido com boa parte dos intérpretes da geração “axé” da Bahia e, embora radicado no Rio há dez anos, faz de Uma Coisa Só, CD-solo de estréia, um estudo de ritmos natais como samba-reggae e a música afro ligada ao candomblé. Despido das convenções comerciais da música baiana dos anos 90, produz pop com pesquisa musical e cria momentos engajados como o de NeuroEuropeu, cujo personagem-título, do tipo “minoria branca”, é um ex-latino que esqueceu de conjugar e mora escondido e só querendo se blindar.
Cada uma ao seu modo, as três experiências mostram como a nova música brasileira luta por se desvincular dos ditames unificadores (e não raro autoritários) da indústria do eixão Rio-São Paulo. E aí estão razões para serem recebidos com comemoração.
Fonte: CartaCapital
Ouça abaixo músicas de Café Carbono, Quito Ribeiro e Ticuqueiros
terça-feira, 7 de agosto de 2007
Música Fora do Eixo
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