sábado, 29 de setembro de 2007

Clara e D2 em Livro

Clara Nunes e Marcelo D2 ganham livros
da redação do Gafieiras


A mesma editora, Ediouro, acaba de colocar nas prateleiras dois livros sobre figuras importantes da música popular brasileira. Uma que partiu cedo demais, a cantora Clara Nunes (1942-1983), e outra que ainda está por aí se jogando em batidas até a última ponta, o rapper Marcelo D2. Clara Nunes – Guerreira da utopia de Vagner Fernandes é uma biografia na acepção do termo, mas o livro sobre o jovem D2 (40 anos no próximo 5 de novembro) é mais uma reunião de bate-papos, tanto que em seu subtítulo o autor, Bruno Levinson, utiliza-se da expressão ‘radiografia’ (o título é Vamos fazer barulho! Uma radiografia de Marcelo D2).

Vagner Fernandes entrevistou cerca de 300 pessoas e andou por muitos arquivos de imagens de jornais e revistas para fazer Clara Nunes – Guerreira da utopia. O livro de 320 páginas é fartamente ilustrado (mas não devidamente legendado), com direito a fotonovelas impagáveis com Clara e Agnaldo Rayol fazendo par romântico, e esmiuça com seriedade toda a meteórica trajetória da cantora, desde o nascimento em Caetanópolis (MG) até sua morte precoce em decorrência de um erro médico, passando pelo início titubeante entre boleros e baladas jovem-guardistas até o apogeu como sambista.

Vamos fazer barulho! é fruto de uma amizade de mais de uma década entre o autor (Bruno Levinson, produtor cultural) e o radiografado (Marcelo D2). As conversas entre si, além de depoimentos de familiares, amigos e jornalistas, criam um painel difuso e revelador de um artista que foi considerado “criminoso” em seus tempos de Planet Hemp na década de 1990 e hoje é acusado de ser “vendido” após o grande sucesso que obteve com sua mistura de rap com samba. O livro sobre D2 também é igualmente bem cuidado graficamente em suas 240 páginas.
Fonte: Gafieiras

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Nascimento de Tim Maia

SÍNDICO É POLÊMICO.
TIM MAIA NÃO FOI DIFERENTE!


Tim Maia compunha desde os oito anos. Tocou bateria no primeiro conjunto, Os Tijucanos do Ritmo e na banda Os Sputniks, tocou com Erasmo e Roberto Carlos, para os quais deu aulas de violão. Nascido Sebastião Rodrigues Maia a 28 de setembro de 1942 em Niterói, Estado do Rio, deu suingue à MPB e foi cantor genial. Ficou famoso por criar polêmicas com gravadoras e furar compromissos. Motivo pelo qual fundou seu próprio selo musical, Seroma e depois Vitória Régia. Fez músicas de sucesso, como Sossego, Descobridor dos Sete Mares, Do Leme ao Pontal e Azul da Cor do Mar. Há dez anos, Jorge Ben Jor gravava W/Brasil, música com refrão: "Chama o Síndico! Tim Maia", que reimpulsionou a carreira de Tim. Seus sucessos foram regravados por jovens artistas, como Paralamas do Sucesso, Marisa Monte e Skank. Chegou a lançar 32 discos em 28 anos de carreira. Morreu em 15 de março de 1998, quando sentiu-se mal durante gravação de show para tv.

Fonte:
AlmanaqueBrasil


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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Rompendo Tordesilhas - Coletânea reune bandas latino-americanas

Selo lança coletânea latino-americana de bandas independentes

O selo Si no puedo bailar, no es mi revolución em parceria com a midsummer madness prepara o lançamento do álbum Porque este océano es el tuyo, es el mio, uma coletânea com 17 bandas independentes de 8 países da América Latina. A proposta deste projeto é aproximar a cena musical brasileira àquelas de outros países do continente. Com a ajuda das bandas participantes e de selos estrangeiros, a coletânea será distribuída no exterior. Paralelamente, o selo Si no puedo bailar, no es mi revolución distribuirá no Brasil os CDs de vários desses grupos.

A curadoria do projeto foi feita por Fernando Paiva e Rodrigo Maceira, sócios do selo, após seis meses de pesquisa e contatos. Entre as bandas selecionadas, estão a argentina El Mató a un Policia Motorizado, a cantora chilena Javiera Mena e bandas brasileiras como Bazar Pamplona (foto) e Apanhador Só. Na primeira prensagem, foram feitas mil cópias e o selo carioca midsummer madness bancou parte do custo dessa primeira tiragem.

Veja agora o tracklist do disco Porque este océano es el tuyo, es el mio:

1 – "Faramalla" – El sueño de la casa propia (Chile)
2 – "Casan" – Javiera Mena (Chile)
3 – "Adios" – Amelia (Uruguai)
4 – "Anselmo" – Luisa mandou um beijo (Brasil)
5 – "Mi amigo Reno" – Lissa (México)
6 – "Modelh" – Radiograd (Colômbia)
7 – "Namas" – Gepe (Chile)
8 – "Navidad en Los Santos" – El mató a um policia motorizado (Argentina)
9 – "Personal" – Ondo (Argentina)
10 – "Encapsulados" – Modular (Argentina)
11 – "Naufrágio" – Filme (Brasil)
12 – "Qué mala suerte" – Coiffeur (Argentina)
13 – "Despertar" – Hacia dos veranos (Argentina)
14 – "Oeste" – Resplandor (Peru)
15 – "Pouco importa" – Apanhador só (Brasil)
16 – "Deja de hablar" – Telegrama (Venezuela)
17 - "O rei não sabe brincar" – Bazar Pamplona (Brasil)


Fonte: CoquetelMolotov

Todos os textos, fotos e ilustrações da revista Coquetel Molotov estão licenciados em Creative Commons.

Cantor Cubano Ironiza Grammy

"O Grammy? Eu prefiro o 'Granma', me interessa mais"
Trovador cubano faz brincadeira com pergunta sobre a sua primeira indicação para o Grammy Latino
da Redação do Brasil de Fato

O trovador cubano Silvio Rodríguez disse que lhe importava mais o jornal Granma, órgão oficial do Partido Comunista de Cuba, do que o prêmio Grammy Latino, ao qual acaba de ser indicado pela primeira vez em sua carreira. "O Grammy? Tenho o Granma, que me interessa mais", afirmou o músico, na apresentação do disco 37 Canciones de Noel Nicola na Casa de las Américas, em Havana, Cuba.

Através do portal La Ventana, Rodríguez - que preparou a antologia em homenagem ao falecido compositor e cantor cubano - respondeu a perguntas do público espectador e de internautas que presenciaram o lançamento on-line do CD. Com o álbum Érase que se Era, resumo de temas inéditos e anteriores ao seu primeiro disco Días y Flores (1975), Silvio é um dos cinco compositores postulados nessa categoria da versão latina do Grammy.

O CD duplo, lançado em Havana há um ano, compete com os álbuns 12 Segundos de Escuridão, do uruguaio Jorge Drexler; Pedazos de mi, de Amaury Gutiérrez; Navegando por ti, do espanhol José Luis Perales; e Cê, do brasileiro Caetano Veloso. Em recentes declarações à agencia espanhola EFE, o artista assegurou que preferia assumir com otimismo a indicação ao Grammy. À época, Silvio Rodríguez recordou que, há alguns meses, o Departamento de Estado estadunidense proibiu sua entrada nos Estados Unidos, onde pretendia atuar. "A indicação deixa claro que o Grammy Latino não me discriminou - e acredito que tenho que saber agradecer", disse à EFE.

Silvio viajará em outubro para Espanha - e apresentará 37 Canciones de Noel Nicola, disco dos selos Ojalá y Autor, da SGAE. Entre este mês e novembro, o trovador se apresentará em nove cidades espanholas, como parte de uma temporada que começará em Barcelona e terminará em Madri. (Informações do Adital)

Fonte: BrasildeFato


Pequeña serenata diurna - Silvio Rodriguez e Chico Buarque

Apresentação de Silvio Rodriguez com a participação mais que especial de Chico Buarque. Cuba, 1983.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Tire o seu Sorriso/Piercing do caminho

Duas canções, duas queixas, duas mágoas. Uma é antiga, um samba clássico que foi gravado inicialmente pelo cantor Raul Moreno em 1957, sem muito sucesso; regravada em 1964 por Elizeth Cardoso foi sucesso de público e crítica. A outra, mais contemporânea, é um rap de autoria de um dos nomes mais respeitados da atual música popular brasileira, e foi gravada em 1998. As duas contém uma ordem enérgica gerada pela dor de um abandono, pelo desgosto de uma banalizada troca. Mais de quarenta anos separam A Flor e o Espinho, de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha, com Piercing, de Zeca Baleiro, porém, ambas contém o desabafo por conta de um amor desrespeitoso que se foi, cada qual dialogando com o tempo que a cerca, expressando-se ao seu modo.

A Flor e o Espinho já foi interpretada, além de Raul Moreno e Elizeth Cardoso, por Beth Carvalho, Paulinho Moska, entre outros. O Música&Poesia apresenta a bela versão interpretada pela musa Roberta Sá. A interprete gravou A Flor e o Espinho no disco Sambas e Bossas, não lançado comercialmente pois foi produzido para distribuição como brinde de uma empresa, antes de seu CD de estréia Braseiro.

Piercing, de Zeca Baleiro, que está no álbum Vô Imbolá, de 1999, conta com a participação especial do grupo de rap pernambucano, Faces do Subúrbio. Livremente inspirada no samba de Nelson Cavaquinho, Piercing, tem samples de A Flor e o Espinho, Singing in the Rain (Arthur Freed/Herb Brown), Avohai (Zé Ramalho), Presente Cotidiano (Luiz Melodia) e Nostalgia da Modernidade (Lobão/Ivo Meireles/Regina Lopes).


Yerko Herrera


a flor e o espinho - roberta sá

A flor e o espinho
(Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha)

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua
É no espelho que eu vejo a minha mágoa
É minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na tua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor
Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor
Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua


piercing - zeca baleiro

Piercing
Zeca Baleiro (1998)


tire o seu piercing do caminho
que eu quero passar com a minha dor

pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
eu existo porque penso
tenso por isso insisto
são sete as chagas de cristo
são muitos os meus pecados
satanás condecorado
na tv tem um programa
nunca mais a velha chama
nunca mais o céu do lado
disneylândia eldorado
vamos nós dançar na lama
bye bye adeus gene kelly
como santo me revele
como sinto como passo
carne viva atrás da pele
aqui vive-se à míngua
não tenho papas na língua
não trago padres na alma
minha pátria é minha íngua
me conheço como a palma
da platéia calorosa
eu vi o calo na rosa
eu vi a ferida aberta
eu tenho a palavra certa
pra doutor não reclamar
mas a minha mente boquiaberta
precisa mesmo deserta
aprender aprender a soletrar

não me diga que me ama
não me queira não me afague
sentimento pegue e pague
emoção compre em tablete
mastigue como chiclete
jogue fora na sarjeta
compre um lote do futuro
cheque para trinta dias
nosso plano de seguro
cobre a sua carência
eu perdi o paraíso
mas ganhei inteligência
demência felicidade
propriedade privada
não se prive não se prove
don't tell me peace and love
tome logo um engov
pra curar sua ressaca
da modernidade essa armadilha
matilha de cães raivosos e assustados
o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado
lugar de ser feliz não é supermercado

o inferno é escuro
não tem água encanada
não tem porta não tem muro
não tem porteiro na entrada
e o céu será divino
confortável condomínio
com anjos cantando hosanas
nas alturas nas alturas
onde tudo é nobre
e tudo tem nome
onde os cães só latem
pra enxotar a fome
todo mundo quer quer
quer subir na vida
se subir ladeira espere a descida
se na hora h o elevador parar
no vigésimo quinto andar
der aquele enguiço
sempre vai haver uma escada de serviço

todo mundo sabe tudo todo mundo fala
mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la
quem não quer suar camisa não carrega mala
revólver que ninguém usa não dispara bala
casa grande faz fuxico quem leva a fama é a senzala
pra chegar na minha cama tem que passar pela sala
quem não sabe dá bandeira quem sabe que sabia cala
liga aí porta-bandeira não é mestre-sala
e não se fala mais nisso mas nisso não se fala

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Revista Cultural Completa pra Baixar

A interessante revista Continuum Itaú Cultural traz presente nas matérias que integram esta edição de setembro, sugestivamente intitulada Desconstruindo o artista, as visões de criadores com perfis bastante diferenciados. Comparecem, entre outros, o artista-pesquisador, que geralmente tem sua obra atrelada a uma pesquisa acadêmica; o artista popular, cuja matéria-prima de seus trabalhos são os fatos do cotidiano; e o artista que faz a ponte entre um repertório conceitual e o imaginário popular – caso do entrevistado do mês, o artista visual Nelson Leirner.



Baixe aqui a revista Continuum Itaú Cultural completa (arquivo PDF)


A edição de setembro da revista Continuum Itaú Cultural, Desconstruindo o artista, aborda os processos de criação artística, mesclando visões ora distintas, ora complementares dos caminhos que criadores de diferentes áreas de expressão percorrem antes de concluir suas obras.

A versão impressa da revista é distribuída gratuitamente na sede do Instituto. Nesta versão virtual, os leitores cadastrados no site podem participar das discussões do fórum e enviar matérias - ligadas ao tema do mês - pelo canal leitor-autor. Dê sua opinião sobre a revista pelo e-mail continuum@itaucultural.org.br.


Fonte: ItaúCultural

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Novo Disco de Maria Rita

De raiz?
Maria Rita do morro
“A tal da MPB virou uma coisa altamente elitizada”, propõe a cantora Maria Rita. O tema tabu, evitado pela maioria de seus pares, é o norte de lançamento do álbum Samba Meu

por Pedro Alexandre Sanches

“É um dilema para mim, me incomoda essa história de MPB ter se elitizado, de dizerem ‘MPB é música de rico’. Porque fraciona incrivelmente o mercado, e não é verdade, não é realista.”

Ciente da clausura em que vive a outrora orgulhosamente batizada “música popular brasileira”, ela se alia ao que talvez seja um modismo atual, de uma leva de intérpretes identificados com a MPB de extração universitária (como Marisa Monte e Roberta Sá) que abraçaram o samba como veio de expressão.

Maria Rita, no entanto, radicaliza a opção. Mais da metade do repertório de Samba Meu é ocupada por canções compostas por Arlindo Cruz, Serginho Meriti e outros nomes egressos do núcleo conhecido como Fundo de Quintal, geralmente desprezado pela “nata” da MPB e seus admiradores.

A filha de Elis Regina e Cesar Camargo Mariano adiciona ao trio jazzístico testado nos dois discos anteriores farta instrumentação de samba. A produção é de Leandro Sapucahy, um sambista carioca “tradicional” que tocou com Marcelo D2 e no disco de estréia adotou temática e vestimentas do hip-hop.

Os sambas, ao mesmo tempo simples e sofisticados, são quase sempre inéditos (a pungente Trajetória foi gravada em 1997 por Elza Soares, uma sambista “do morro” que há décadas peleja na determinação de cruzar a ponte samba-MPB). Aos sambas de fundo de quintal tipo anos 80, Maria Rita soma uma e outra referência pinçada dos trabalhos de Paulinho da Viola e Gonzaguinha na década de 70.

Outro bloco do disco é dedicado a canções de autores novos, e não necessariamente sambistas. É o caso das duas fortes canções do híbrido compositor Edu Krieger, Novo Amor (gravada simultaneamente por Roberta Sá) e Maria do Socorro. Filho do maestro erudito Edino Krieger, ele acaba de lançar um disco em que coexistem pop, rock, samba e erudição (Novo Amor, um choro, faz pensar de longe em Villa-Lobos).

Outro caso é o da dramática faixa-título, do novato Rodrigo Bittencourt, assim definido por Maria: “É um menino de Bangu, um roqueiro, mais pop. Ele diz que não é sambista”. No entanto, escreveu versos como o meu samba vai te acordar do sono, usados na abertura do CD da moça da MPB que luta para ser popular.


Fonte: CartaCapital (Edição 462 - nas bancas)


Assista aqui a entrevista que Maria Rita deu à TV Estadão sobre o disco "Samba Meu"

Confira abaixo a faixa-título do novo disco de Maria Rita, Samba Meu, cantada pelo próprio autor da música Rodrigo Bittencourt

Samba Meu - Rodrigo Bittencourt

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Um Rato foi Atropelado...

um rato foi atropelado ao tentar atravessar a rua
Wagner Machado

Um rato foi atropelado ao tentar atravessar a rua. Em meio ao largo asfalto da avenida, seus restos jazem esmagados, quase irreconhecíveis, não fosse o rabo, inconfundível cauda comprida e fina de um rato que viveu se alimentando das nojeiras humanas. Um rato foi atropelado ao tentar atravessar a rua. E os carros seguem passando por cima do rato. Carros com gente séria, apressada, atrasada, alarmada. Carros com gente se escondendo em cigarros, telefones, óculos escuros. Gente se escondendo atrás da dissimulada seriedade. Gente correndo atrás de comida. Gente correndo atrás de gente. Em meio ao zumzumzum e ronronrom dos carros que passam sem elegância, apresentam-se as já secas vísceras do rato que foi atropelado ao tentar atravessar a rua. Talvez o autor do acidente nem saiba que o cometeu, mas eu sei que morreu um rato, porque vi os restos estraçalhados do que fora, há pouco, um rato. Se tinha filhos não sei. Sua idade, por onde andou, onde dormia são informações que ignoro. Só sei que um rato foi atropelado ao tentar atravessar a rua. Mas com tantas atrocidades por aí, pode dizer-me alguém, e enumerar com indignação a guerra, a fome, a aids, a violência, o meio ambiente em degradação. Porém, só o que me tirou do torpor ligeiro do dia-a-dia foi aquele rato que não teve sucesso na tentativa de chegar ao outro lado da rua. Que ia ele fazer no lado oposto é um mistério que nunca será revelado. Com o passar dos pneus, o tempo veloz não deixará nenhum vestígio daquele ser. Os carros seguirão passando, os senhores e senhoras continuarão passando, as crianças continuarão a brincar. Eu continuarei passando por ali e pode ser até que um dia este episódio se apague por completo da minha memória. Mas um rato foi atropelado ao tentar atravessar a rua.


Fonte: PortadordeAusências

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Poesias de Vinicius de Moraes

Três do Vinicius de Moraes

A brusca poesia da mulher amada

Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor – oh, a mulher amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?

Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...

Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias
Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.


Rio de Janeiro, 1938

in Novos Poemas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "A saudade do cotidiano"



A brusca poesia da mulher amada (II)

A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio
É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite
E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada
É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos
astros.
Não há solidão sem que sobrevenha a mulher amada
Em seu acúmen. A mulher amada é o padrão índigo da cúpula
E o elemento verde antagônico. A mulher amada
É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro
No sem tempo. A mulher amada é o navio submerso
É o tempo submerso, é a montanha imersa em líquen.
É o mar, é o mar, é o mar a mulher amada
E sua ausência. Longe, no fundo plácido da noite
Outra coisa não é senão o seio da mulher amada
Que ilumina a cegueira dos homens. Alta, tranqüila e trágica
É essa que eu chamo pelo nome de mulher amada.
Nascitura. Nascitura da mulher amada
É a mulher amada. A mulher amada é a mulher amada é a mulher
amada
É a mulher amada. Quem é que semeia o vento? – a mulher amada!
Quem colhe a tempestade? – a mulher amada!
Quem determina os meridianos? – a mulher amada!
Quem a misteriosa portadora de si mesma? A mulher amada.
Talvegue, estrela, petardo
Nada a não ser a mulher amada necessariamente amada
Quando! E de outro não seja, pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda
O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta
Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.
Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!


Rio de Janeiro, 1950

in Novos Poemas (II)
in Poesia completa e prosa: "Poesia varia"



A brusca poesia da mulher amada (III)

A Nelita

Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido
herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a
bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco
quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as
confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrância
já me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumas
E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos
ventos
Empós meu canto. É ela uma menina.
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão. Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras.
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa
Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.
Seu corpo, pouco a pouco
Abre-se em pétalas... Ei-la que vem vindo
Como uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imenso em trevas.
Ela vem vindo... Desnudai-me, aversos!
Lavai-me, chuvas! Enxugai-me, ventos!
Alvoroçai-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela
De longe, como o tempo
A minha amada última!


Rio de Janeiro, 1963

in Poesia completa e prosa: "Poesia varia"

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

E o Pierrot, chora!

Los Hermanos

TENHA DÓ (Marcelo Camelo)

Não vou mais te perdoar, você foi longe demais
Meu amor não sou tão só assim.
Não consigo entender, me trocar por outro alguém
Traição já é demais então, você me diz

Que me ama,
Que sem mim você não vive,
Que foi apenas um deslize,
Que você preza pelo meu amor

Tenha dó,
Não mereces o afago,
Nem de Deus nem do Diabo,
Quanto mais da mão que um dia eu dei pra ti

A saudade vai bater, mas o meu amor se vai
O tempo voa e quando vê já foi

Não me fale de nós dois, não preciso mais saber
Indo embora deixo-te um adeus, ao ouvir dizer

Que me ama,
Que sem mim você não vive,
Que foi apenas um deslize,
Que você preza pelo meu amor

Tenha dó,
Não mereces o afago,
Nem de Deus nem do Diabo,
Quanto mais da mão que um dia eu dei pra t


DESCOBERTA (Marcelo Camelo)

Sai, que eu já não te quero mais
Sai por que hoje eu descobri
Que posso viver sem ti
Que posso viver em paz,
Muito bem sem teu amor
Sai por que agora eu sou
Um homem bem mais feliz
Um homem bem mais feliz

Vai, hoje a lagrima não cai
Sei agora o mal que faz
Dar amor a quem não ama,
Dar amor a quem só traz
Ódio e desilusão
Que maltrata um coração
Precisando de carinho
Precisando de carinho

Minha amada
Não consigo mais viver ao lado teu
Não consigo mais te dar o meu amor
Hoje vivo muito bem sem tua boca
E sozinho não conheço mais a dor


QUEM SABE (Rodrigo Amarante)

Quem sabe o que é ter e perder alguém
Quem sabe o que é ter e perder alguém
Sente a dor que senti
Quem sabe o que é ver quem se quer partir
E não ter pra onde ir

Faz tanta falta o teu amor e te esperar...
Não sei viver sem te ter
Não dá mais pra ser assim

Quem sabe o que é ter sem querer pra si
Não quer ver outro em mim
Não fala do que eu deveria ser
Pra ser alguém mais feliz

Faz tanta falta o teu amor e te esperar...
Não sei viver sem te ter
Não dá mais pra ser assim


PIERROT (Marcelo Camelo)

O Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina
E é sua sina chorar a ilusão, em vão, em vão...

E a Colombina só quer um amor
Que não encontra num braço qualquer
Essa menina não quer mais saber de malmequer

E o Pierrot...

O Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina
E na esquina se mata a beber pra esquecer, pra esquecer

E o Pierrot só queria amar
E dar um basta a esta dor já sem fim
Mas Colombina trocou seu amor por Arlequim

E o Pierrot, chora!


Todas canções do disco Los Hermanos (Abril Music, 1999)

Fonte: Saite Oficial Los Hermanos

E hoje estás com outro alguém

Los Hermanos

AZEDUME (Marcelo Camelo)

Tire esse azedume do meu peito
E com respeito trate minha dor
Se hoje sem você eu sofro tanto
Tens no meu pranto a certeza de um amor,
Sei que um dia a rosa da amargura
Fenecerá em razão de um sorriso teu
Então a usura que um dia sufocou minha alegria há de ser o que morreu
Então a usura que um dia sufocou minha alegria há de ser o que morreu

Dai-me outro viés de ilusão
Pois minha paixão tu não compras mais com teu olhar
Leva esse sorriso falso embora
Ou fale agora que entendes meu penar
A lágrima que escorre do meu peito
É de direito pois eu sei que tens um outro alguém
Mas peço pra que um dia se pensares em trazer-me seus olhares
Faça por que te convém
Peço pra que um dia se pensares em trazer-me seus olhares
Faça por que te convém


LÁGRIMAS SOFRIDAS (Marcelo Camelo)

Oh minha menina bonitinha eu te dei
Todo meu carinho meu aninho eu te dei
Verdes campos flores amarelas furta-cor
Dei a primavera os 7 mares meu amor

Lágrimas sofridas e feridas do meu peito
Dei a minha palavra minha honra meu respeito
Todas as verdades e olhares que podia
É com qual coragem que você me repudia?

Oh minha menina bonitinha eu te dei
Vida de princesa, realeza eu te dei
No meu ombro o afago preocupado de um amigo
Jóia, casa, carros, seus sapatos, seus vestidos

Pra você princesa dediquei a minha vida
Levo desse amor o seu rancor e uma ferida
Apesar de tudo minha linda não te odeio
Mas sem tua boca inclino à morte sem receio
Dei pra ti as estrelas os peixinhos e as aves
Todas as montanhas das escalas dei as claves
Todas as canções que fiz eu fiz pra ti princesa
Tudo de mais belo que encontrei na natureza


VAI EMBORA (Marcelo Camelo)

Não sei mais o que fazer
Da minha vida sem você
Agora que se foi eu sofro tanto,
Eu sofro tanto
Sem teu amor

Vai embora não sei mais
O que fazer pra agüentar
Agora que se foi eu sofro tanto
Eu sofro tanto
Sem teu amor

Minha linda teu amor
Não vale tudo que passei
Agora que você já foi embora
Eu posso então ser
Bem mais feliz (4x)


OUTRO ALGUÉM (Marcelo Camelo)

Não dá mais pra mim
Pra eu poder viver aqui sem ter a ti,
Não dava pra prever
Que eu não ia mais te ter,
Não dava pra saber

Que ias me deixar,
Me trocar por outro alguém...

Olho para trás
A ver a alegria que você não foi capaz
De me causar
Penso neste tempo
Que passei sem perceber
Que não queria mais
E hoje estás com outro alguém.


Todas canções do disco Los Hermanos (Abril Music, 1999)

Fonte: Saite Oficial
Los Hermanos

sábado, 8 de setembro de 2007

Música e Poesia de Alice Ruiz

Abaixo um pouco da poetisa, escritora, cantora e compositora, Alice Ruiz.

Alice Ruiz (Curitiba, 22 de janeiro de 1946) é uma poetisa e escritora brasileira.
Começou a escrever na adolescência, mas durante muitos anos divulgou seus poemas apenas em revistas e jornais. Publicou seu primeiro livro aos 34 anos de idade. Foi casada com o também poeta Paulo Leminski (leia poesias de Paulo Leminski aqui), com quem teve três filhos: Miguel Ângelo Leminski, Áurea Alice Leminski e Estrela Ruiz Leminski. (Wikipédia - a enciclopédia livre)


Ladainha
(Alzira Espíndola, Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz)
Poesia: Alice Ruiz

Clique para ouvir

era uma vez uma mulher
que via um futuro grandioso
para cada homem que a tocava
um dia
ela se tocou...

Eu pensava que o amor
me faria uma rainha
e quando você chegasse
não seria mais sozinha

você chega da gandaia
só pensando numazinha
seu amor é pouca palha
para minha fogueirinha

o que você jogou fora
é para poucos
o meu mal foi jogar
pérolas aos porcos

eu não sou da sua laia
não quero sua ladainha
pra ser mal acompanhada
prefiro ficar na minha

voz em poema: Alice Ruiz


Socorro
(Alice Ruiz)
Clique para ouvir

socorro, eu não estou sentindo nada.
nem medo, nem calor, nem fogo,
n ão vai dar mais pra chorar
nem pra rir.

socorro, alguma alma, mesmo que penada,
me empreste suas penas.
já não sinto amor nem dor,
já não sinto nada.

socorro, alguém me dê um coração,
que esse já não bate nem apanha.
por favor, uma emoção pequena,
qualquer coisa que se sinta,
tem tantos sentimentos,
deve ter algum que sirva.

socorro, alguma rua que me dê sentido,
em qualquer cruzamento,
acostamento, encruzilhada,
socorro, eu já não sinto nada.

voz: Alice Ruiz


Alguma coisa em mim
(Alzira Espíndola e Alice Ruiz)
Clique para ouvir

alguma coisa em mim
ainda vai longe
alguma coisa em mim
não vai dar pé
alguma coisa em mim
parece que foi ontem
alguma coisa em mim
quer acontecer
alguma coisa em mim
não é mais minha
alguma coisa em mim
saiu da linha
alguma coisa em mim
não disse a que veio
alguma coisa em mim
acerta em cheio
alguma coisa em mim
não tá na cara
alguma coisa em mim
não tá com nada
alguma coisa em mim
não dá desconto
alguma coisa em mim
eu nem te conto
alguma coisa em mim
não tem mais fim

violão e voz: Alzira Espíndola


Para elas
(Alzira Espíndola e Alice Ruiz)
Poesia: Alice Ruiz
Clique para ouvir

amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

enchemos a vida
de filhos
que nos enchem a vida

um me enche de lembranças
que me enchem
de lágrimas

outro me enche de alegrias
que enchem minhas noites
de dias

outro me enche de esperanças
e receios
enquanto me incham
os seios


amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver

só olhar você sofrer
só olhar você aprender
só olhar você crescer
só olhar você amar
só olhar você...

voz em poema e vocal: Alice Ruiz



Alice Ruiz nasceu em Curitiba, PR, em 22 de janeiro de 1946.

Começou a escrever contos com 9 anos de idade, e versos aos 16. Foi "poeta de gaveta" até os 26 anos, quando publicou, em revistas e jornais culturais, alguns poemas. Mas só lançou seu primeiro livro aos 34 anos.

Aos 22 anos casou com Paulo Leminski e pela primeira vez, mostrou a alguém o que escrevia. Surpreso, Leminski comentou que ela escrevia haikais, termo que até então Alice não conhecia. Mas encantou-se com a forma poética japonesa, passando então estudar com profundidade o haicai e seus poetas, tendo traduzido quatro livros de autores e autoras japonesas, nos anos 1980.

Teve três filhos com o poeta: Miguel Ângelo Leminski, Áurea Alice Leminski e Estrela Ruiz Leminski. Estrela também é uma grande poeta: acabou de lançar um livro, junto com o Yuuka de Alice: Cupido: Cuspido e Escarrado (ambos saíram pela Editora AMEOP, de Porto Alegre) - provando que, filha de duas feras, essa Estrela tem luz própria.

Alice publicou, até agora, 15 livros, entre poesia, traduções e uma história infantil.


Compõe letras desde os 26 anos - a primeira parceria foi uma brincadeira com Leminski, que se chamou "Nóis Fumo" e só foi gravada em 2004, por Mário Gallera. A poeta tem mais de 50 músicas gravadas por parceiros e intérpretes. Está lançando, em 2005, seu primeiro CD, o Paralelas, em parceria com Alzira Espíndola, pela Duncan Discos, com as participações especialíssimas de Zélia Duncan e Arnaldo Antunes.

Antes da publicação de seu primeiro livro, Navalhanaliga, em dezembro de 1980, já havia escrito textos feministas, no início dos anos 1970 e editado algumas revistas, além de textos publicitários e roteiros de histórias em quadrinhos. Alguns de seus primeiros poemas foram publicados somente em 1984, quando lançou Pelos Pêlos pela Brasiliense. Já ganhou vários prêmios, incluindo o Jabuti de Poesia, de 1989, pelo livro Vice Versos.

Já participou do projeto Arte Postal, pela Arte Pau Brasil; da Exposição Transcriar - Poemas em Vídeo Texto, no III Encontro de Semiótica, em 1985, SP; do Poesia em Out-Door, Arte na Rua II, SP, em 1984; Poesia em Out-Door, 100 anos da Av. Paulista, em 1991; da XVII Bienal, arte em Vídeo Texto e também integrou o júri de 8 encontros nacionais de haikai, em São Paulo.

por Carô Murgel para o saite oficial de Alice Ruiz

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Conto sobre um Homem e sua Solidão

Ludigero
Alessandra Mascarenhas


Ludigero sempre foi um homem solitário. Muito solitário.
Trabalhava oito horas por dia numa repartição pública, onde cumpria suas obrigações mecanicamente.
Era uma figura de uma estética repulsiva. Um homem franzino, baixo, com a pele parda, cheia de manchas mais escuras nas bochechas, olhos esbugalhados sem cílios. Os poucos cabelos escuros que ainda lhe restavam eram empastados de brilhantina barata e fedorenta, colados à cabeça. As mãos esquálidas, ossudas, cobertas por pequenas verrugas, os dentes tortos e amarelados pela nicotina de quem fumava há 30 anos.

Tinha três ternos, os quais revezava durante a semana. Ternos justos demais, todos meio acinzentados, fora de moda, com as mangas dos paletós curtas. E três sapatos velhos, já reformados muitas vezes em sapateiros baratos.
Um homem calado, distante, sério. Os colegas de repartição nunca souberam detalhes de sua vida pessoal. Sabiam apenas que era solteiro, não tinha filhos e morava sozinho.

Trabalhava o dia todo e chegava no fim da tarde cansado no seu desconfortável quartinho alugado, nos fundos de uma casa. Um quarto minúsculo, escuro, úmido e deprimente. Como móveis apenas uma cama estreita, um guarda-roupa de pintura descascada e um criado-mudo ao lado da cama com um velho abajur em tom amarronzado. E um banheirinho pequeno anexo ao quarto, onde reluzia, em lugar de honra, sobre a prateleira encardida do espelhinho, o pote de sua inseparável brilhantina. Brilhex com aroma de jasmim.

E assim o pobre passava seus dias e noites. Uma vida medíocre e triste. Ludigero tinha cheiro de mofo.

Numa certa noite, ao se deitar, percebeu que algumas baratas enormes rodeavam sua cama, no chão. Ficou observando curioso o movimento delas por algum tempo até adormecer placidamente.

No dia seguinte, ao acordar, percebeu que na noite anterior dormira rápido e continuamente a noite toda, como nunca acontecera. Espantou-se, pois ele sempre tivera problemas para dormir, insônia ou um sono entrecortado por pesadelos, agitação e suores noturnos.

Sentou-se na cama e chegou à conclusão de que a companhia das baratas havia diminuído sua sensação de abandono, sua solidão costumeira. Com a presença daqueles insetos nojentos havia se sentido amparado e reconfortado, como se houvesse mais alguém naquele quarto além daquele ser desprezível e infeliz que se considerava.

Então, dali em diante, todas as noites Ludigero queria a companhia das baratas.

Chegava em seu quarto e meticulosamente distribuía pelo chão perto da cama carreiras finas de açúcar. Não demorava muito e elas chegavam. Muitas, em fila, sem se assustarem com a presença do homem por perto. Deitava-se, sempre as observando e com o tempo arriscava-se até a acariciar suas costas cascudas. Colocou nomes em cada uma delas. Conhecia uma a uma. Contava seus problemas, preocupava-se se alguma parecia mais fraca, dobrando sua dose diária de açúcar para reanimá-la. As baratas se transformaram em seus filhos, sua família.

Passou muito tempo assim e foi melhorando sensivelmente de ânimo a cada dia. Dormia bem, acordava disposto, trabalhava melhor e voltava para a casa ansioso, para cuidar de suas baratas.

Até que numa certa manhã acordou indisposto. Vômito e diarréia. Mal conseguia chegar ao banheiro. E as baratinhas ali, perto da cama, imóveis, como se entendessem que Ludigero estava mal. Muito mal.

Naquela manhã não foi para a repartição. Só havia faltado uma vez ao trabalho, em 30 anos de serviço, no dia da morte de seu pai.

Os colegas ficaram intrigados com aquela cadeira encardida vazia, pois era como se Ludigero fizesse parte da mobília do escritório. Então, de repente, dona Marieta teve a idéia de seguir para o endereço do homem, pois quem sabe esteja até morto, o coitado.

Pegou decidida seu Fusca 69 azul-claro, muito bem conservado e seguiu para o local. Andou pelo pequeno corredor que desbocava no quartinho modesto. Bateu três vezes, sem resposta. Aguardou, torcendo as mãos cheias de anéis, nervosa.

Nada. Então forçou a porta, que abriu. Colocou só a cabeça dentro do lugar e logo avistou Ludigero estendido na cama, de cuecas. Timidamente resolveu entrar. Aproximou-se lentamente do homem, que a encarou de forma suplicante, explicando estar mal. Muito mal.

Marieta sentou-se na beirada da cama. Colocou a mão direita sobre a testa lavada de suor dele e exclamou que estava ardendo em febre e que deveriam seguir imediatamente para o hospital. Ele concordou com a cabeça, levemente.
A mulher então olhou ao redor o lugar tão modesto, escuro e terrivelmente feio. Suspirou, com pena dele, até que algo chamou sua atenção. Encarou com seus grandes olhos muito maquiados o chão, perto da cama. Então sua expressão modificou-se instantaneamente. Baratas!!!!! Muitas. Dezenas. Organizadas no chão, lado a lado, como que hipnotizadas.

Prostrou-se em pé num grito e enlouquecidamente colocou-se a pisotear, com seus sapatos vermelhos de salto alto, os insetos. Gosma e casca espalhando-se por todo o chão.

Ludigero sentiu seu coração gelar. Recuperou as forças perdidas e jogou-se da cama num salto. Um grito grave de voz de homem ecoou no ambiente. Ele fitou-a, com os olhos injetados de ódio e horror e lançou-se sobre ela ao chão como um urso com fome. Agarrou o pescoço da mulher, com as duas mãos e apertou-lhe a garganta com toda a fúria contida em sua alma. Os olhos de Marieta vidrados nos dele, arregalados, a língua para fora, a boca escancarada, as pernas de debatendo. Um pé do sapato voou para longe. Aos poucos ela silenciou os gemidos e um filete de sangue escorreu de sua boca semi-aberta.

Ludigero então lentamente soltou as mãos, e num choro compulsivo recolheu os restos pisoteados de suas companheiras e amadas baratas. Largou-se no chão, encolhido como um feto, ao lado do corpo de dona Marieta e chorou aos berros toda a dor que jorrava de dentro dele. Matou por amor à sua família.


Alessandra Mascarenhas
Residente em Sorocaba/SP, formada em História e Direito. Tem como hobby e paixão as palavras. Escreve compulsivamente contos sobre temas diversos e os divulga em sites especializados.Possui um site www.varaldaliteratura.ale.nom.br onde divulga seus textos e de colaboradores.
E-mail para contato: contato@varaldaliteratura.ale.nom.br
Fonte: OCaixote

Músico Libera um giga em Músicas

PB disponibiliza todo seu trabalho para download
por Ágatha Barbosa


O músico, compositor e responsável por trilhas em animação, cinema, teatro e desfiles, Paulo Beto, acaba de lançar um site com todo seu material disponível para download. O espaço oferece mais de um giga em músicas dos mais diversos trabalhos do artista.

Entre inéditos e já lançados, estão todos os álbuns de Anvil Fx (com o qual já abriu para o show do Atari Teenager Riot, em 1997), Dr. Phibes, Silverblood (banda de 1993), Mobile (que abriu para o Stereolab, em 2000), Freakplasma, LCD, Zeroum. Também podem ser encontrados seus trabalhos com amigos e remixes encomendos para Dj Noise (Alemanha), Brazilian Gengis Khan, Trio Mocotó, além de trilhas para o grupo teatral Oficcina Multimídia, os estilistas Jum Nakao e Martielo Toledo, e premiadas animações como Tyger, de Guilherme Marcondes.

"Me deixava doente ficar com essas músicas todas engavetadas" desabafa PB, que após mais de 25 anos de carreira ainda tem pique para encabeçar novos trabalhos, como o Zeroum, que está prestes a lançar seu álbum, e o Frame Circus, projeto de trilhas para filmes mudos com Tatá Aeroplano (Jumbo Elektro, Cérebro Eletrônico, Zeroum) e Maurício Fleury (Multiplex).

Clique aqui para acessar o novo site de PB.

Fonte: BananaMecânica

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Noites Insones

Todo o Sentimento - Chico Buarque


Todo o Sentimento (Cristóvão Bastos - Chico Buarque)
Do disco Francisco/1987

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei, como encantado
Ao lado teu


24 Horas - Cafe Tacuba


24 Horas (Cafe Tacuba)
Do disco Re/1994

Tantas horas sin dormir
creo que voy a morir
24 horas al dia quiero vivir

Tantas cosas quiero hacer
que no alcanzo a recorrer
todo lo que en mi cabeza llego a tener

Cuando llego a tu lado me siento yo a descanzar
mas mi amor perdoname pues empiezo a pensar

En todo lo que hay que hacer
ya se me fue el dia otra vez
salgo de tu casa y empiezo a correr

Mas cuando ya estoy haciendo las cosas que quiero hacer
me detengo un momento y me pongo a pensar

En que tu estas junto a mi
que no se va a repetir
que la vida se me va
con los besos que yo
no te he dado aun

Tantas horas sin dormir
24 horas al dia quiero vivir
24 horas al dia quiero vivir
24 horas al dia... quiero... vivir...

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Clipe de Vapor Barato

Vapor Barato, belíssima canção de Waly Salomão em parceria com Jards Macalé, foi gravada por artistas como Gal Costa, O Rappa, Zeca Baleiro, entre outros. Também foi trilha dos filmes Terra Estrangeira, de Walter Salles, e de Iremos a Beirute, filme de Marcus Moura. O Música&Poesia apresenta aqui a interessante versão da banda Vulgue Tostoi para Vapor Barato, faixa do disco Real Grandeza. A música conta com a participação especial de Macalé, que presta aqui sua homenagem à Salomão. Assista no reprodutor abaixo o videoclipe bacana de Vapor Barato, produzido pelo Tá na Lata Filmes.

Vapor Barato - Vulgue Tostoi e Jards Macalé


Sinopse
Video de animação 2D, mesclagem de fotos e cenários ilustrados numa atmosfera soturna. Com Marcello H, Jr Tostoi, Rodrigo Campello e Jards Macalé.

Direção Tiago Vianna
Produção Marina Moser
Fotografia Andrea Capella
Produção de Arte Flávia Suzue
Pós Produção Kiko Poggi, Daniel Lopes

Aniversário de Waly Salomão

O poeta e multiartista, Waly Salomão, falecido em 2003, estaria completando 64 anos no dia de hoje.

Waly Salomão (Waly Dias Salomão)
* 3/9/1943 Jequié, BA
+ 5/5/2003 Rio de Janeiro, RJ

Biografia
Poeta. Letrista. Ensaísta. Diretor de produção e diretor artístico de discos. Diretor de shows musicais. Viveu sua infância em Jequié (BA), mudando-se, na adolescência, para Salvador (BA) para cursar o 2º grau. Graduou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia, embora nunca tenha exercido a profissão.

Dados Artísticos
Na virada dos anos 1960/1970, viveu entre Rio de Janeiro e São Paulo. Na época, assinando Sailormoon, colaborou com diversas publicações culturais e com os principais jornais brasileiros.
Em 1972, estreou na literatura, publicando o livro "Me segura qu'eu vou dar um troço". Ainda nesse ano, co-editou, com Torquato Neto, a revista "Navilouca", marco do movimento editorial alternativo brasileiro.

No ano seguinte, dividiu, com Jards Macalé, a direção de produção do disco "Aprender a nadar".
Dividiu, com Miguel Plopschi, a direção artística, e, com Miguel Plopschi e Gal Costa, a coordenação artística do disco "Bem-bom" (1985), de Gal Costa. Realizou a concepção de repertório do disco "Gal plural" (1989), de Gal Costa. Dividiu, com João Bosco e Antônio Cícero, a produção artística do disco "Zona de fronteira" (1991), de João Bosco. Assinou a direção de produção dos discos "Veneno antimonotonia" (1997) e "Veneno ao vivo", ambos de Cássia Eller.
Atuou na direção-geral dos shows "Gal fatal" (Canecão/RJ, 1971), gravado ao vivo e lançado em disco, e "Índia" (1973), ambos com Gal Costa, "Mel" (Canecão/RJ, 1979), com Maria Bethânia, "Marina" (Teatro Ipanema/RJ, 1980), com Marina, "A Cor do Som" (1983), com o grupo A Cor do Som, "Samba-rock" (Praça da Apoteose/RJ, 1984), com vários intérpretes, "Festa do interior" (Maracanãzinho/RJ, 1985), com Gal Costa, "Gil, 20 anos-luz" (Ibirapuera/SP, 1986), com Gilberto Gil e outros artistas, "Gal plural" (Palace/SP, Canecão/RJ), com Gal Costa, "Comemoração dos 80 anos de Dorival Caymmi" (Pelourinho/BA, 1992), "Roberta Paixão Miranda, a rainha do rodeio" (1995), com Roberta Miranda, e "Veneno antimonotonia (Canecão/RJ, 1997), com Cássia Eller, esse último contemplado com o Prêmio Sharp de melhor show do ano de 1997.

Participou, como compositor, da trilha sonora de diversos filmes. Em 1976, sua música "Revendo amigos" (c/ Jards Macalé) foi incluída na trilha sonora de "Amuleto de Ogum", filme de Nélson Pereira dos Santos. Em 1984, escreveu, em parceria com Gilberto Gil, as músicas "Quilombo", "Zumbi, a felicidade guerreira", "Dandara, a flor do gravatá", "Domingos Jorge Velho em Pernambuco", "Ganga zumba, o poder da bugiganga" e "O cometa", para a trilha sonora de "Quilombo", filme de Cacá Diégues. Em 1995, sua canção "Vapor barato" (c/ Jards Macalé), na interpretação de Gal Costa, foi utilizada com destaque em "Terra estrangeira", filme de Walter Salles Jr. No ano seguinte, sua música "Dona do castelo" (c/ Jards Macalé) foi canção tema de "Doces poderes", filme de Lúcia Murat. Em 1998, a canção "Vapor barato" foi incluída na trilha sonora de "Iremos a Beirute", filme de Marcus Moura.

Suas músicas foram gravadas por diversos artistas, como Gal Costa, Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto, Zizi Possi, Cazuza, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, João Bosco, Willie Colon, Vânia Bastos, Itamar Assunção, Leila Pinheiro, Margareth Meneses, Moraes Moreira, Lulu Santos, Flora Purim, Grupo Rappa e Zeca Baleiro, entre outros. Algumas de suas canções deram nome a discos de Maria Bethânia e Adriana Calcanhoto.

Publicou os seguintes livros: "Me segura que vou dar um troço (José Alvaro Editor/RJ, 1972), "Gigolô de bibelôs" (Editora Brasiliense/SP, 1983), "Armarinho de miudezas" (Fundação Casa de Jorge Amado/Salvador, 1993), "Algaravias: câmara de ecos" (Editora 34/RJ, 1996), contemplado com o Prêmio Alphonsus Guimaraens da Biblioteca Nacional e com o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, na VIII Bienal Internacional do Livro em 1997, "Qual é o parangolé: Hélio Oiticica" (Coleção Perfis do Rio, Editora Relume-Dumará/RJ, 1996), "Lábia" (Editora Rocco/RJ, 1998), indicado para o Prêmio Jabuti em 1999, e "Tarifa de embarque" (Editora Rocco/RJ, 2000). Atuou ainda como organizador dos seguintes livros: "Torquato Neto ou últimos dias de paupéria", em parceria com Ana Maria Duarte, livro/disco (Editora Livraria Eldorado Tijuca Ltda./RJ, 1973), "Caetano Veloso, alegria alegria" (Pedra Q Ronca Edições e Produções Artísticas Ltda./RJ, 1997), "Torquato Neto ou últimos dias de paupéria", em parceria com Ana Maria Duarte, edição revista e ampliada (Editora Max Limonad Ltda./SP, 1982), "Hélio Oiticica, aspiro ao grande labirinto", em equipe com Lygia Pape e L. Figueiredo (Ed. Rocco/RJ, 1986), e "O relativismo enquanto visão do mundo", em parceria com Antônio Cícero (Editora Francisco Alves/RJ), reunião de contribuições originais de autores como Richard Rorty, Ernest Guellner, Bento Prado Jr. e Peter Sloterdiijk. Autor freqüentemente convidado para eventos de poesia e palestras/debates no Brasil, participou, no exterior, do ciclo de palestras sobre a retrospectiva do artista plástico Hélio Oiticica. Apresentou performance poética no Digitale Dialekte 97 realizado em Colônia (Alemanha). Participou dos vídeos "Trovoada" (1997) e "Fronteira" (1988), de Carlos Nader, e dos filmes documentais "Candomblé", de David Byrne (EUA, 1988), e "Mapas urbanos", de Daniel Augusto (1988), entre vários outros. Teve poemas incluídos nas seguintes antologias: "Bahia invenção" (Fundação Cultural da Bahia/Salvador, 1974), "Caravanes: littératures à découvrir" (Éditions Phébus/Paris, 1997), "Folhetim, poemas traduzidos", organizada por Nelson Ascher e Matinas Suzuki (Folha de S. Paulo/São Paulo, 1987), "Ler partituras" (CD-ROM lançada pelo Ministério da Cultura/Biblioteca Nacional/Divisão Nacional do Livro/Rio de Janeiro, 1997), "Nothing the sun could not explain: 20 contemporary brazilian poets", organizada por Michael Palmer, Régis Bonvicino e Nelson Ascher (Sun and moon press/Los Angeles/EUA, 1997), "Poesia jovem anos 70" (Editora Abril S.A./São Paulo, 1983), "41 poetas do Rio", organizada por Moacyr Félix (Funarte/Rio de Janeiro, 1998), "26 poetas hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda (Editorial Labor do Brasil S. A./Rio de Janeiro, 1976, reeditada pela Editora Aeroplano/Rio de Janeiro, 1998) e "Yearbook" (Academy of Media Arts. Colônia/Alemanha, 1998).

Em janeiro de 2003, assumiu a Secretaria de Livros e Leitura, a convite do ministro da Cultura, Gilberto Gil, vindo a falecer no dia 5 de maio desse mesmo ano.

Em 2004, A Fundação Biblioteca Nacional e a editora Aeroplano relançaram o livro "Me segura que eu vou dar um troço", uma reedição de luxo do original de 1972, contendo também um novo texto, "A medida do homem", e manuscritos editados em 1975, além de uma introdução do letrista e filósofo Antônio Cícero, incluídos pelos responsáveis pela edição, Heloisa Buarque de Hollanda e Luciano Figueiredo. O evento de lançamento, realizado na Livraria Dantes (RJ), contou com a participação de vários artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Macalé, Adriana Calcanhotto, o grupo O Rappa e o poeta Chacal, entre outros.

Em 2005, Jards Macalé lançou o CD "Real Grandeza" (Biscoito Fino), contendo exclusivamente canções da parceria de ambos: "Rua Real Grandeza", "Senhor dos sábados", "Anjo exterminado", "Dona de castelo", "Vapor barato", "Mal secreto", "Negra melodia", "Revendo amigos", "Pontos de luz", "Berceuse crioulle" e "Olho de lince", as duas últimas até então inéditas. O disco teve direção musical de Cristóvão Bastos e contou com a participação de Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto e Luiz Melodia, entre outros artistas.

Obra
A cabeleira de Berenice (c/ Moraes Moreira) • A fábrica do poema (c/ Adriana Calcanhoto) • A voz de uma pessoa vitoriosa (c/ Caetano Veloso) • Alteza (c/ Caetano Veloso) • Anjo exterminado (c/ Jards Macalé) • Assaltaram a gramática (c/ Lulu Santos) • Assim sem mais (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Balada de um vagabundo (c/ Roberto Frejat) • Berceuse crioulle (c/ Waly Salomão) • Campeão olímpico de Jesus (c/ Caetano Veloso) • Da gema (c/ Caetano Veloso) • Dandara, a flor do gravatá (c/ Gilberto Gil) • Domingos Jorge Velho em Pernambuco (c/ Gilberto Gil) • Dona do castelo (c/ Jards Macalé) • Ganga zumba, o poder da bugiganga (c/ Gilberto Gil) • Grafitti (c/ Caetano Veloso e Antônio Cícero) • Holofotes (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Ladrão de fogo (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Lenda de São João (c/ Moraes Moreira) • Luz do sol (c/ Carlos Pinto) • Maio, maio, maio (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Mal secreto (c/ Jards Macalé) • Mel (c/ Caetano Veloso) • Memória da pele (c/ João Bosco) • Misteriosamente (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Musa cabocla (c/ Gilberto Gil) • Negra melodia (c/ Jards Macalé) • O cometa (c/ Gilberto Gil) • O dono do pedaço (c/ Caetano Veloso e Antônio Cícero) • O faquir da dor (c/ Jards Macalé) • O revólver do meu sonho (c/ Gilberto Gil e Roberto Frejat) • O senhor dos sábados (c/ Jards Macalé) • Odalisca em flor (c/ Moraes Moreira) • Olho de lince (c/ Waly Salomão) • Olho-d'água (c/ Caetano Veloso) • Paranóia (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Pista de dança (c/ Adriana Calcanhoto) • Pontos de luz (c/ Jards Macalé) • Quilombo (c/ Gilberto Gil) • Remix século vinte (c/ Adriana Calcanhoto) • Revendo amigos (c/ Jards Macalé) • Rua Real Grandeza (c/ Jards Macalé) • Sábios costumam mentir (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Saída de emergência (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Senhor dos sábados (c/ Waly Salomão) • Talismã (c/ Caetano Veloso) • Trem-bala (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Vapor barato (c/ Jards Macalé) • Zé Pilantra (c/ Itamar Assunção) • Zona de fronteira (c/ João Bosco e Antônio Cícero) • Zumbi, a felicidade guerreira (c/ Gilberto Gil)


Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira