sexta-feira, 6 de abril de 2007

Estréia hoje Cartola

Tempos idos, nunca esquecidos
por Ana Paula Sousa

Ele nasceu Angenor, mas sempre pensou que se chamasse Agenor. Foi só no dia do casamento que Angenor de Oliveira (1908-1980) se deu conta do “n” metido pelo escrivão. Achou graça no som nasalado e até queria que começassem a chamá-lo assim. Mas não tinha mais jeito: Agenor, em todo canto, era só Cartola.

As anedotas da vida, as histórias de um Rio de Janeiro que cheira a idílio e o talento que a pobreza não podou estão alinhavados, feito notas que viram música, no documentário Cartola, que estréia nos cinemas na sexta-feira 6. Dirigido por Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, o filme não só faz jus à memória do genial compositor mangueirense como abre um rico baú de imagens da cultura brasileira.

Há Ismael Silva em close, João da Baiana numa mesa de bar, Donga e seu samba Pelo Telefone, no programa da Hebe, Xangô da Mangueira a dizer que “compositor do nosso tempo não vendia música”, Heitor dos Prazeres cantando, Moreira da Silva descrevendo “meninas que pareciam mariposas rodando nas lâmpadas”, Madame Satã tecendo loas à boemia e Aracy de Almeida espetando o machismo.

E há, sobretudo, o Cartola e seus óculos escuros. É emocionante ouvi-lo entoar Está chegando o momento de irmos pro altar, ao lado de uma dona Zica de olhar derretido. É histórico ver Paulinho da Viola a acompanhá-lo em Vais chorar, vais sofrer. E o que dizer da cena em que canta Ainda é cedo, amor/ Mal começaste a conhecer a vida ao lado do pai?

“Hesitei algum tempo se começaria estas memórias pelo começo ou pelo fim, se pelo meu nascimento ou pela minha morte”, diz a voz, em off, logo na abertura do filme. A primeira imagem é de seu enterro. O homem que “ia à feira e só voltava três dias depois” e que “com 17 anos, ganhou mulher, filha e sogro”, disse e fez: A sorrir/ eu pretendo/ levar a vida (numa parceria com Elton Medeiros, figura-chave do filme). É essa aura que os diretores souberam captar.


Fonte: CartaCapital

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