quarta-feira, 4 de abril de 2007

Ouça por completo disco de João Donato

O Instituto Memória Musical Brasileira (IMMUB), que é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, sediada no Rio de Janeiro e voltada para a pesquisa, preservação e divulgação da Música Popular Brasileira, já faz um tempo anda organizando em seu site uma Discografia Básica da Música Brasileira. A cada semana coloca em exibição um disco diferente para que os internautas votem e opinem se ele merece fazer parte dessa seleção. Esta semana o álbum na, digamos, berlinda, é Quem é Quem, de João Donato.

Os discos que já fazem parte da discografia básica são: "Vinicius e Caymmi no Zum Zum" (Dorival Caymmi, Quarteto em Cy e Vinícius de Moraes), com 95,83% dos votos, entrou."Expresso 2222" (Gilberto Gil), com 95,65% dos votos, entrou."Você ainda não ouviu nada!" (Sérgio Mendes & Bossa Rio), com 81,82% dos votos, entrou."Krig-Ha, Bandolo!" (Raul Seixas), com 57,50% dos votos negativos, não entrou."Elis & Tom" (Elis Regina e Tom Jobim), com 96% dos votos, entrou.

Leia o que o IMMUB escreveu sobre João Donato, e a opinião de alguns jornalistas sobre o mesmo, logo abaixo. Abaixo também o disco na integra pra ouvir.

"QUEM É QUEM"
João Donato
(1973) Odeon SMOFB 3785

Pianista e compositor já renomado, no ano de 1973 João Donato aceitou a sugestão do cantor Agostinho dos Santos e gravou seu primeiro disco de músicas com letra. Em Quem é quem, suas melodias ganhavam poesias de Paulo César Pinheiro, João Carlos Pádua, Geraldo Carneiro, Lysias Ênio e Marcos Valle. Embora tenha fornecido ao repertório a música “Cala boca menino”, exclusivamente sua, Dorival Caymmi não fez parte do time de parceiros. Foi por pouco. Mas esta história quem conta é o próprio Donato. Com a palavra:

“Comecei a fazer letra com um monte de gente. Eu ia gravar instrumental dentro de alguns dias e o Agostinho dos Santos falou: ‘Vai gravar tocando piano de novo? Todo mundo já ouviu isso. Se fosse você, eu gravaria cantando’. Como foi uma resolução apressada, colocamos quatro ou cinco letristas. Tinha uma semana para arrumar letras para 12 músicas. Tinha mais de uma pessoa fazendo letras para a mesma música, sem saber! Eu mandava as fitas para todo mundo e chegavam letras diferentes para a mesma música. Meu irmão (Lysias Ênio) fez a letra para "Até quem sabe" e o Dorival Caymmi tinha feito também. Quando ele leu a letra do Lysias, disse: 'Vou rasgar a minha, a dele está melhor'. E rasgou. Eu não devia ter deixado, devia ter ficado com a letra dele e feito outra música em cima (risos).” (João Donato)


Lia Baron



OUÇA AQUI - QUEM É QUEM, de João Donato

1. Chorou Chorou
(João Donato / Paulo César Pinheiro)

2. Terremoto
(João Donato / Paulo César Pinheiro)

3. Amazonas
(João Donato)

4. Fim de Sonho
(João Donato / João Carlos Pádua)

5. A Rã
(João Donato)

6. Ahiê
(João Donato / Paulo César Pinheiro)

7. Cala Boca Menino
(Dorival Caymmi)

8. Nãna das Águas
(João Donato / Geraldo Carneiro)

9. Me Deixa
(João Donato / Geraldo Carneiro)

10. Até Quem Sabe
(João Donato / Lysias Ênio)

11. Mentiras
(João Donato / Lysias Ênio)
Participação: Nana Caymmi

12. Cadê Jodel
(João Donato / Marcos Valle)


Marcio Pinheiro (Zero Hora):
Depois de ter atravessado os anos 60 vivendo na Califórnia, João Donato estava com saudades do Brasil. O cachê conseguido com os discos A bad Donato e Donato/Deodato (com participações de Airto Moreira, Randy Brecker e Ray Barreto) seria usado para pagar a passagem de volta. Chegou ao país como um nome das "internas" da bossa nova. Era um músico dos músicos, respeitado pelos seus pares mas pouco conhecido pelo público. Da convivência com o cantor Agostinho dos Santos, um grande incentivador de seu trabalho, nasceu a idéia de colocar letras nas suas músicas ("Senão ninguém cantava, ninguém gravava", lembra Donato). Assim surgiu Quem é quem, disco que trazia a novidade de ter no repertório músicas com letras cantadas pelo próprio compositor, com destaque para “Até quem sabe” e “Mentiras” (as duas com Lysias Ênio) e “Chorou, chorou” (com Paulo César Pinheiro).
Revigorado pela temporada americana, João Donato se sentia também mais seguro para dar às inspiradas melodias e letras os arranjos que pela primeira vez eram todos assinados por ele. Donato confessa que, na época, lembrava muito do seu amigo, o maestro Laércio de Freitas, um de seus principais incentivadores. "Ficava na dúvida sobre uma frase musical e perguntava: Laércio, é melhor isso ou isso? Ele respondia simplesmente: Acredita!". (S)

Tárik de Souza (Jornal Musical):
De volta ao país, após longa temporada nos EUA, o pianista e compositor João Donato, um dos fundadores da bossa nova, encontrou o ambiente musical totalmente mudado. O disco Quem é quem, de 1973, é sua brilhante tentativa de aclimatação. Fã declarado, o cantor Agostinho dos Santos reclamou que não tinha como cantar as composições do astro do disco – temas instrumentais sem letra, como os que os jazzistas escreviam. Marcos Valle, o produtor do disco, convocou então Paulo Cesar Pinheiro ("Chorou, chorou", "Terremoto", "Ahiê"), Geraldo Carneiro ("Nana das águas", "Me deixa") e o irmão de Donato, Lysias Ênio, que se projetaria como letrista a partir da balada clássica "Até quem sabe", incluída no repertório junto com "Mentiras", onde entra a arrasadora Nana Caymmi. O pai dela, Dorival Caymmi, forneceu uma inesperada cantiga de capoeira ("Cala boca menino") e o próprio Marcos dividiu "Cadê Jodel?" com Donato, que estreou como cantor e ainda dedilhou um piano elétrico, hoje bem mais moderno que na época. Completam a festa para os ouvidos, orquestrações dos maestros Gaya, Ian Guest, Laércio de Freitas, Dori Caymmi e do próprio Donato. (S)

Carlos Calado (jornalista):
Não fosse o cantor Agostinho dos Santos, Quem é quem dificilmente seria o mesmo divisor de águas na carreira de João Donato. No final de 1972, o pianista acreano já se preparava para gravar mais um disco instrumental, quando Agostinho despertou sua atenção para um detalhe prático: se suas composições tivessem letras, elas também poderiam ser gravadas por cantores. Donato não pensou duas vezes: saiu atrás de letristas, como Paulo César Pinheiro, Geraldo Carneiro ou seu irmão Lysias Enio, para transformar seus temas instrumentais em canções.
Claro que, num mundo ideal, um criador de melodias tão preciosas nem precisaria recorrer a esse recurso, mas foi dessa forma que a obra de Donato começou a atingir um público mais amplo. Em várias composições incluídas em Quem é quem, como “Amazonas”, “A rã”, “Ahiê” ou “Até quem sabe”, ele prova ser um mestre na arte de extrair beleza da simplicidade. (S)

Marco Antonio Barbosa (Jornal Musical):
Donato sempre foi aventureiro. Gravitou em torno dos fundadores da bossa nova, tocou jazz e ritmos latinos nos EUA, preconizou a fusão de sons brasileiros com o suingue elétrico vindo da black music gringa. Mas só botou a cara na janela mesmo com este Quem é quem, no qual assumia sua voz e iniciava uma das mais frutíferas usinas de composição da MPB. Sucessos como "A rã", "Amazonas" e "Até quem sabe" provaram a acertada decisão de Donato de trilhar o caminho do cantor-compositor (ainda que ele tivesse certa hesitação no começo). De balanço sutil e irresistível, o disco combina muito bem a voz frágil (mas não desprovida de charme) de João com arranjos elegantes construídos ao redor de seu piano. Começava mais uma aventura na longa estrada de Donato. (S)

Vá até o site do IMMUB para votar no disco de João Donato

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