sábado, 3 de março de 2007

Resenha sobre trilha de Antônia

Antônia - Trilha sonora do filme e da minissérie - Vários (Som Livre)
por Marco Antonio Barbosa


Antônia, o filme de Tata Amaral, é simpático, bem intencionado e eficaz como cinema. Antônia - o grupo de black music formado pelas personagens que Negra Li, Cindy, Leilah Moreno e Quelynah interpretam no filme - é menos que isso. O mesmo mal que afetou os recentes discos solo de suas integrantes no mundo "real" também contamina o trabalho do conjunto: apego excessivo a fórmulas fáceis importadas da música negra norte-americana. Não se trata aqui de fazer críticas às cantoras, que são talentosas e acabam invertendo a velha máxima sobre "o todo que é maior que a soma de suas partes". Nem à interessante premissa, digamos, sociológica que o grupo fictício representa: a que a força da música pode representar uma saída digna para as dificuldades da vida nas comunidades pobres dos centros urbanos. O problema é justamente que, descolado do filme, o som de Antônia perde força, ficando até mesmo difícil justificar a própria "existência" do grupo (que não existe fora do filme... ainda). Talvez por sacar isso antecipadamente, a produção do filme optou por um formato híbrido para o CD com a triha sonora do longa. Há cinco canções inéditas gravadas pelo grupo, mais um punhado de faixas retiradas dos álbuns solos das cantoras e - aí está o pulo do gato - um pequeno mas precioso espaço para a real cena hip hop paulistana, sem dúvida a mais produtiva do Brasil e que até merecia mais destaque.

A escolha do cover de "Killing me softly with his song" (standard black americano, aqui decalcada da versão feita por Lauryn Hill) denuncia o tipo de música negra no qual Antonia (o grupo) está interessado: aquela macia, de baixos teores, deliberadamente feita para agradar as FMs, com pouco ou nada a ver com a dureza das favelas. Hip hop, r'n'b, funk e soul, devidamente diluídos, emolduram as canções inéditas creditadas ao grupo, como "Antônia", "Flow" e "Quanto você quer". O panorama não muda quase nada nas músicas solo das garotas, que não se desviam da cartilha acertada para as faixas do grupo. O destaque solitário é "Compaixão", lançada anteriormente por Negra Li em seu (não mais que mediano) disco solo Negra livre. Os esforços das outras três nem chegam perto. Antonia, o disco, só se justifica plenamente por dar voz a rimadores bons como Black Gero (que comparece com sua "Brasilândia city Bronx") e Thaíde (o veterano pontifica na agitada "Riscando o ragga"). E pela inclusão de um representante real da soul music brasileira legítima, Hyldon, que comparece com seu clássico de 1975, "Na sombra de uma árvore". Ah, se as meninas tivessem o velho Hyldon como modelo, em vez de Lauryn Hill, que diferença não faria... No fim das contas, Antônia traz música que soará muito melhor ouvida no cinema do que no CD-player de casa.

Fonte: JornalMusical

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