segunda-feira, 5 de março de 2007

Conheça a Poetisa Leila Míccolis

— Poeta, porque em poetisa todo mundo pisa
Leila Míccolis
Leila Míccolis (1947)

Biografia
Leila Miccolis (Rio de Janeiro RJ 1947). Formou-se bacharel em Direito no Rio de Janeiro RJ, em 1969. Na época, já havia publicado os livros de poesia Gaveta da Solidão (1965) e Trovas que a Vida Rimou (1967). Nas décadas seguintes, produziu poemas, romances, ensaios, comédias e roteiros para televisão. Entre 1975 e 1993 teve poemas publicados em várias antologias, entre as quais 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. Participou de atividades com grupos feministas e homossexuais, através dos jornais Lampião e Auê, entre 1979 e 1981. Fundou, nas décadas de 1980 e 1990, as editoras Trote e Blocos. Em 1997 publicou o livro de haicais Estalos, em co-autoria com Urhacy Faustino, e Sangue Cenográfico, este sendo a neunião de todos seus livros até 1997 exceto o De 4 (1990), com prefácios de Ignácio Loyola Brandão, Heloisa Buarque de Hollanda, Gilberto Mendonça Teles e Nélida Piñon. Ignácio, no prefácio diz: "Nenhum poeta brasileiro me toca tanto, me reserva uma emoção, uma agressão, me apunhala, me deixa com vergonha das coisas que os homens fazem. Tem vezes que seus textos me lembram a crueldade com que Dalton Trevisan, na prosa, trata seus personagens". Sua obra poética inclui os livros Mercado de Escravas (1984), Só Se For a Dois (1990) e Sob o Céu de Maricá (1999), entre outros. A poesia de Leila Míccolis é de tendência contemporânea e tematiza, com freqüência, a condição feminina.


CONTATOS/INFLUÊNCIAS
Influência da Musica Popular Brasileira
Convivência com Paulo Leminski, Paulo Véras, Ana Cristina César, Wally Salomão, Tarvinho Paes, Tereza Tinoco, Silvan Paezzo, Wilson Aguiar Filho, José Louzeiro, Izabel Câmara, Glauco Mattoso, Cacaso (Antonio Carlos Lucena), Eunice Arruda, Cláudio Willer, Norma Bengell, Caique Ferreira, Alice Ruiz, Ulisses Tavares, Touchê, Ona Gaia, Jorge Mautner, Hermínio Bello de Carvalho, Maria Amélia Mello, Gilberto Mendonça Telles, Herbert Daniel, Sylvio Back, Moacy Cirne, Milton Gonçalves, Paulo Jacob, Rose Marie Muraro, Pedro Lyra, Luli e Luciana, Aguinaldo Silva, Liane dos Santos, Antonio Candengue, José Silvério Trevisan, Neide Archanjo, Severino do Ramo, Nélida Peñon, Heloísa Buarque de Hollanda, Ignácio de Loyola Branão, Carlos Nejar, Heloneida Studart, Caio Fernando Abreu.


A Seco

Tem coisas que a gente só diz de porre,
se não o outro corre;
mas passada a bebedeira,
a gente acha que fez besteira,
não devia ter falado,
que se expôs adoidado,
à toa e foi tolice.
Finge-se então que se esquece o que disse,
culpa-se a carência, a demência, a embriaguez,
responsáveis por tamanha estupidez.
E é aceitando este estranho cabedal
que quando se volta ao "estado normal",
cada vez mais sós, na defensiva,
corroídos morremos de cirrose afetiva.

In: MÍCCOLIS, Leila. O bom filho a casa torra. Seleção de textos Urhacy Faustino. São Paulo: Edicon; Rio de Janeiro: Blocos, 1992. p.27


Feitos um para o Outro

"Ele fala de cianureto
e ela sonha com formicida
vão viver sob o mesmo teto
até que alguém decida"
(Chico Buarque de Hollanda)

Você quebra a mobília
eu desconto na filha...
E entre talhos e cortes
praticamos o esporte
de apostar, a vintém,
quem, dos dois, mata quem...

In: MÍCCOLIS, Leila. O bom filho a casa torra. Seleção de textos Urhacy Faustino. São Paulo: Edicon; Rio de Janeiro: Blocos, 1992. p.18


Crescimento (Ciclo Infantil)

Hoje faço oito anos
e aproveito pra ser terrível,
enquanto posso matar pássaros
ou afogar gatinhos.
Depois vão proibir minhas maldades
e me restringir
aos filmes de guerra.

In: MÍCCOLIS, Leila. O bom filho a casa torra. Seleção de textos Urhacy Faustino. São Paulo: Edicon; Rio de Janeiro: Blocos, 1992. p.24


Diferença (Ciclo Infantil)

Meu mundo é violento e com razão:
na rua se eu apanho, é covardia,
em casa se eu apanho, é educação.

In: MÍCCOLIS, Leila. O bom filho a casa torra. Seleção de textos Urhacy Faustino. São Paulo: Edicon; Rio de Janeiro: Blocos, 1992. p.25


Poema ao Mais Recente Amor

Estar entre teus pêlos e dedos,
entre tua densidade,
neste transpirar sob medida
aos teus gemidos.
Estar entre teus trópicos,
entre o teu desejo e o meu prazer,
beber parte dos teus líquens e teus rios,
percorrendo-te da foz até a origem,
e pura a cada amor partir mais virgem.

In: MÍCCOLIS, Leila. SACIEDADE dos poetas vivos. Org. Urhacy Faustino e Leila Míccolis. Rio de Janeiro: Blocos, 1993. v.4, p.59
Fonte: ItaúCultural.com.br

Nenhum comentário: