terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tom Zé, novo Disco, novo Estudo

Crítica musical do jornalista sempre antenado Dafne Sampaio, do saite Gafieiras, publicada no dia 23 de novembro, sobre o novo disco de Tom Zé, intitulado Estudando a bossa – Nordeste Plaza.

Tom Zé faz seu próprio estudo bossa nova
por Dafne Sampaio

Garantido em sua posição de artista vivo, influente e inquieto, Tom Zé vem conseguindo, no decorrer dos anos 2000, produzir com regular tranqüilidade obras cada vez mais pessoais. E conceituais, para o bem e para o mal. Pense na urgente discussão sobre a situação feminina brasileira que sai das faixas do genial Estudando o pagode (Trama, 2005) ou então na relação juventude vs. fim da canção no irregular Danç-eh-sá (Elo Music, 2007). De volta ao feminino, o baiano distribui vozes de cantoras pelas canções de Estudando a bossa – Nordeste Plaza (Biscoito Fino, 2008), um ensaio musical sobre as raízes e revoluções da cinqüentenária bossa nova.

A partir da velha e técnica constatação que a bossa nova deslocou as notas musicais para o tempo fraco do compasso, Tom Zé declarou que “neste momento é preciso referir-se ao feminino. O termo vem da própria teoria musical que chama as finalizações no tempo fraco de ‘terminação feminina’”. Taí a razão para a escalação de um time jovem, independente e estelar de vozes femininas. Aliás, as moças são responsáveis pelo frescor e profundidade de um disco que poderia cair no cabecismo barroco que tantas vezes já prejudicou o baiano. Certo que o disco não possui o amor, o tesão, a dor e a raiva de Estudando o pagode (será então o desfecho de uma trilogia começada no clássico Estudando o samba, de 1976?), mas é atravessado por tiradas geniais, associações malucas (e dá-lhe a engenharia da Ponte Rio-Niterói!?) e um batalhão de sons e referências, além de uma visão encantada e não-idolatrada da bossa nova.

Quando se tira o disco da caixa é possível acompanhar com mais clareza o enredo tramado por Tom Zé e então o desfile começa com um discurso de Getúlio Vargas que dá o ambiente na década de 1950 para o surgimento do ritmo. Aí Mariana Aydar chega para cantar sobre a Zona Sul carioca em “Rio arrepio (Badá-Badi)”, enquanto Mônica Salmaso docemente vai parar o mar em “Barquinho herói”. A terceira faixa, “João nos tribunais”, é a defesa da singularidade feminina do violão de João Gilberto e nessa Tom Zé canta sozinho acompanhado de um violão apenas. Em “O céu desabou”, uma velha guarda musical e Tinhorão reclamam dessa nova moda e a voz feminina da vez é a de Tita Lima. No sambinha “Síncope Jãobim”, a paulistana Andréia Dias (da banda Dona Zica) dá o tom exato para as relações matreiras entre música e sexo (“No Brasil reinava então / O doutor samba-canção / Foi quando apareceu o cara do bim-bom”).

A jovem baiana Márcia Castro aparece em “Filho do pato”, uma das quatro parcerias de Tom Zé com Arnaldo Antunes presentes no disco. Desdobramentos e releituras de “Insensatez” (Tom Jobim e Newton Mendonça) surgem aos montes em “Outra insensatez, Poe!” com direito a uma versão em inglês cantada por David Byrne (“o bendito entre as mulheres”). Mas é a mineira-baiana Jussara Silveira que injeta balanço, delicadeza e bom humor para fazer de “Roquenrol bim-bom”, a oitava faixa, um dos pontos altos do trabalho. Estudando a bossa também trata da situação das personagens femininas na música popular brasileira em “Mulher de música”, com participação de Fabiana Cozza, e de confusões hollywoodianas em “Brazil, capital Buenos Aires”, com Fernanda Takai nos vocais.

As loucas associações do baiano chegam no ponto mais alto em “Amor do Rio”, uma ode ao amor entre Rio de Janeiro e Niterói, engenharia e samba, com a bela contribuição da niteroiense Zélia Duncan. O desfile vai chegando ao fim relembrando boleros imemoriais (“Bolero de Platão”, com Marina de la Riva) e homenageando Dorival Caymmi entre delírios (“Solvador Bahia de Caymmi”, com Anelis Assumpção, filha de Itamar Assumpção e outra integrante da banda Dona Zica) para jogar todo discurso e músicas numa possível relação amorosa entre a Terra e a humanidade (“De: Terra; Para: Humanidade”, com Badi Assad em interpretação emocionante).

Difícil acompanhar todo o fluxo de idéias de Tom Zé. Tudo bem, afinal elas também o sufocam de quando em quando, também o fazem se perder, principalmente quando fala gaiatamente que por isso não sabe fazer canções. Mesmo assim, e de qualquer forma, ele continua surpreendendo e estimulando os ouvidos da música popular brasileira.

p.s.: A banda fiel continua a postos com Jarbas Mariz (cavaquinho, percussão e vocais), Cristina Carneiro (teclados e vocais), Daniel Maia (baixo, guitarra, violão, vocais) e Lauro Léllis (bateria). Como apoio Guilherme Kastrup (percussão), Íris Salvagnini e Luanda (vocais).

Fonte: Gafieiras


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3 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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