terça-feira, 26 de agosto de 2008

Crônica de Raul Pompéia

[Viação Urbana]
Raul Pompéia

Sem sair do assunto de viação urbana.

Os carros do Rio de Janeiro fazem a sua vida e a sua sociedade a par da população humana, infelizmente algumas vezes por cima dela; uma vida interessante cheia de episódios, de animação, de variedade.

Os veículos têm o seu caráter e vive cada um a seu modo; uns são aristocráticos, outros são plebeus; uns são ativos, outros são lerdos; há ricos e pobres, modestos e arrogantes, honrados e perversos. Têm suas paixões: o caminhão odeia o bond, o bond odeia a vitória. Brigam freqüentemente, sempre tal qual a sociedade dos homens, o mais forte, mesmo o mais injusto, tomando-lhe o lugar, ou esmagando o mais fraco. Através dessas intrigas rodantes, passa a honrada carroça, séria, com a sua carga de granito talhado a balançar de cadeias de ferro, rude e válida como o trabalho. Ninguém lhe toque, ela vai séria e grave o seu caminho: O bond bate-lhe tanto pior: perde a plataforma. O landau brazonado roça-lhe insolente, com o pára-lama mete-lhe a lanterna à cara: perde o pára-lama, perde a lanterna.

Fora da intriga geral, passa também o carrinho do pão, madrugador e ativo, como que a gritar com o estrépito das rodas que a atividade é que dá o pão; passa o tílburi leviano e célere, salvando-se da sua fraqueza pela celeridade, como os veados esquivando-se, fugindo, passando sempre adiante; esperto como um bom arranjador da vida, furtando aqui e ali um pouco de trilho ao bond, como a mostrar que a esperteza e a consciência não são geralmente predicadas complementares. Mas o que mais interessa da vida dos veículos é a hipótese referida em que eles, que fazem a vida ao lado da vida da população humana, dão muita vez para fazê-la por cima. ..

Mais interessante porque mais gravemente nos afeta, e porque é um ponto de discussão.

É a questão da responsabilidade dos cocheiros.

Ainda esta semana, no Campo da Aclamação, deu-se um horrível desastre. A vítima foi uma mulher. Contundida por um carro da Companhia de São Cristóvão, teve o coração varado por um fragmento das costelas, que se lhe quebraram com a pancada do veículo, e sucumbiu imediatamente. A crônica dos desastres de rua nesta cidade exagera-se, salvas as proporções, sobre qualquer estatística congênere dos centros mais populosos, registrando todos os dias tristes incidentes resultados da imprudência dos cocheiros.

Reclamam-se providências, inventam-se e adotam-se salva-vidas, mas a epidemia dos sinistros de rua não cessa.

Indagando-se as causas de semelhante mal, considerando que já se tem atendido a alguma coisa a esse respeito e o mal não decresce, pode-se com quase certeza o descobrir-lhe a principal origem na impunidade dos cocheiros.

Glosando o tema da imprudência dos transeuntes, a imprensa tem concorrido para esse regime de injustiça que a favorece aos culpados dos sinistros de rua, com revoltante violação do princípio da segurança pública.

O transeunte, dizem, tem obrigação de ver por onde passa, de ser atento e prudente. Porventura entenderá quem assim diz, que os conselheiros gratuitos têm mais interesse em que um desastre não se dê do que quem pode ser vítima dele? E a atenção porventura é coisa que imponha como um dever? E não é patente que aquele que segue, preocupado com os seus graves negócios, absorvido por qualquer preocupação de sentimento ou de interesse, tem direito a que a sociedade vele por ele, proteja-lhe os imprudentes descuidos da sua preocupação.

Porventura poupa ele despesas de segurança, pagas pelos impostos que o estado a seu favor aplica e aproveita?

Ao condutor de um veículo, entretanto, que é remunerado para estar atento, que faz profissão da sua habilidade em guiar, livre de solavancos e desvios, o seu carro, inocenta-se, a pretexto de que o público deve ter cuidado em não se meter embaixo das rodas.

A respeito disto de prudência do transeunte, é de notar que as vítimas dos desastres de rua produzido pelos veículos são em maior número mulheres e crianças, exatamente criaturas às quais chega a assistir o direito da imprudência.

A opinião seria outra, se para a crítica desta espécie de crimes desculpados, cuja arma é o peso de uma carruagem, se recordasse um costume, apenas, dos cocheiros, o que eles têm de "espantar" para abrir caminho ao seu carro, de espantar precipitando a carreira dos seus animais sobre o transeunte que lhe passa um tanto demorado por diante das parelhas.

Assustado efetivamente o pobre, muitas vezes uma velha, um mendigo, um miserável semi-ébrio, ameaçado literalmente de morte, escapa-se o mais depressa que pode e o desastre às vezes se evita. Não seria, contudo, muito mais natural que os cocheiros procedessem por outra manobra, refreando a carreira do seu carro, estacando o belo galope de seus cavalos, e esperando, com a paciência de quem faz por salvar a vida de um homem, que se lhe tenha desfeito em caminho toda a probabilidade do mais horrível homicídio?


Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 15 jun. 1890. Título atribuído pelo Itaú Cultural.

POMPÉIA, Raul. Crônicas 2. Organização de Afrânio Coutinho. Assistência de Eduardo de Faria Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: Oficina Literária Afrânio Coutinho: Fename, 1983. v. 6. p. 365-366.


Fonte: ItaúCultural

História dos Saraus da Cooperifa em Livro

Notícia sobre o novo livro do poeta Sérgio Vaz, da Revista Idiossincrasia.

Cooperifa, antropofagia periférica

Livro do poeta Sérgio Vaz conta a história dos saraus que reúnem centenas de pessoas da periferia de São Paulo em torno da poesia. Confira reportagem e um trecho do livro:

Cooperifa, antropofagia periférica, de Sérgio Vaz, poeta e criador da Cooperifa, reúne histórias do movimento cultural que chega a reunir até 500 pessoas a cada edição de seu sarau, na periferia paulista, em torno da poesia. Sétimo volume da coleção Tramas Urbanas, da Aeroplano Editora, o livro é também "uma biografia poética", segundo o autor, que hoje, aos 44 anos, vive da poesia. O lançamento será nesta quarta-feira, dia 20, no bar do Zé Batidão.

Sérgio fundou a Cooperifa em 2000, com o objetivo de envolver artistas da periferia em atividades como exposições de fotografia e performances teatrais em lugares que, segundo ele, são os verdadeiros centros culturais da periferia, como praças, bares e galpões. Ao final de 2002, começaram os saraus da Cooperifa, numa fábrica abandonada em Taboão da Serra, município de São Paulo; hoje, acontecem no bar de José Cláudio Rosa (o Zé Batidão), em Piraporinha.

"A Cooperifa é um dos fenômenos culturais mais importantes desses anos 00. Achamos importante registrar como surgiram esses encontros, de onde vem esse poeta revolucionário - que em pleno século XXI refaz não apenas o caminho antropofágico da poesia modernista e sua Semana de Arte Moderna, mas sobretudo recria agora, dono de sua voz, o grande quilombo da poesia paulista", afirma Buarque de Hollanda, curadora da coleção Tramas Urbanas, que dá voz a diversas manifestações artísticas e intelectuais das periferias brasileiras.

O livro também conta a saga do poeta, que já escreveu letras de música, trabalhou como auxiliar de escritório, assessor parlamentar e vendedor de videogame. Lançou cinco livros de poesia, entre eles Subindo a ladeira mora a noite e Colecionador de pedras. Sérgio Vaz também coordenou por dois anos um projeto que levava poesia às escolas da periferia de São Paulo. Pelo trabalho inovador, ganhou o prêmio Educador Inventor, concedido pela Unesco e pelo Projeto Aprendiz.

Em quase oito anos de saraus na periferia já foram lançados mais de 40 livros de poetas e escritores da periferia, além de dezenas de discos. "A Cooperifa trabalha única e exclusivamente com o conhecimento. Por meio da poesia, muitos começaram a se interessar pela leitura, pela criação poética, e hoje, muito deles já lançaram seus próprios livros. Por conta da literatura, vários jovens e adultos voltaram a estudar e alguns já estão até formados", lembra Vaz.



Alegria no primeiro Sarau da Cooperifa; imagem faz parte do livro lançado pela Aeroplano

Abaixo, trecho do livro Cooperifa, antropofagia periférica (Aeroplano Editora):

Quando se falava nisso, era sobre uma rua que ainda não estava asfaltada, um trator para tirar o barraco de alguém, um abaixo assinado para isso ou para aquilo, enfim. A maioria das pessoas dali eram de direita, quer soubessem ou não.

A periferia, por suas necessidades básicas e ainda em formação geográfica, sempre foi reduto de velhas raposas políticas. Os poucos que eram de esquerda falavam em códigos; então, sempre passaram batidos.

O boteco é onde a gente aprende a ser psicólogo. Foi lá que eu aprendi que todas as pessoas são iguais, mesmo bebendo bebidas diferentes. Atrás do balcão eu via a vida passar sobre mim. Minha vida se resumia a trabalhar no bar e ir à escola, e eu não gostava de nenhum dos dois.

Com pouco tempo para a rua, passei a freqüentar um outro tipo de lugar: os livros. Lia de tudo um pouco, principalmente livros de adultos, coisas que mais tarde viria a entender, relendo novamente. Gostava também de jornais e revistas.

Li Eram os deuses astronautas?, Pantaleão e as visitadoras, O cortiço, A mãe, Os Miseráveis, A Insustentável Leveza do Ser, Capitães de Areia, Drummond, Ferreira Gullar, Pablo Neruda,
Agatha Christie, Dom Casmurro etc. Devorava e era devorado por tudo o que caía em minhas mãos.

(...)

Um outro tipo de personagem real que também era muito comum nos anos 1980 eram os temidos justiceiros, também conhecidos como "pés-de-pato". Eram a prova verdadeira que as ruas tinham perdido a delicadeza dos contos de fadas.

A simples menção do nome de alguns deles era o suficiente para desfazer as rodinhas em volta das fogueiras, que eram muito comuns nesse tempo. O nome do cabo Bruno, um dos assassinos mais temidos da região, era sempre citado em lugares onde havia algum tipo de aglomeração. Coisas do tipo: "Tem um opala preto [carro preferido dos assassinos], circulando na quebrada". Pronto, era a senha para que todos fossem embora de onde estavam.

Durante um bom tempo as chacinas eram as únicas notícias que saíam sobre a periferia nos jornais. Um tempo sem poesia alguma, nem sei se valia a pena lembrar, mas...

Quando terminei o ginásio fui estudar em Santo Amaro, no Colégio Radial, Processamento de dados. Foi duro admitir que existiam outros lugares além das ruas do Jardim Guarujá e Chácara Santana. A maioria dos jovens da periferia não pensavam em cursar uma universidade e sim cursos profi ssionalizantes: Ferramentaria, Tornearia, Calderaria etc. O SENAI, por exemplo, era tão disputado, senão mais, do que a USP.

(...)

A periferia, apesar da dura realidade e abandono dos governantes em geral, está dominada pela poesia. Prova disso são os saraus que não param de acontecer nas quebradas de São Paulo. E por conta dessa poesia e dessa literatura que se alastra pelas ruas, as pessoas mais simples têm se interessado um pouco mais em ter uma vida cultural. Um clássico exemplo é o Sarau da Cooperifa, que na ausência de teatros, bibliotecas, livrarias, cinemas, museus e raríssimos espaços para acesso à cultura, transformou um boteco na periferia da maior cidade do Brasil em Centro Cultural.


Fonte: RevistaIdiossincrasia


Confira também:

Vídeo de Porém, poema de Sérgio Vaz

Sérgio Vaz, o poeta da Periferia

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Salve Jorge

Salve Jorge! Jorge é de Capadócia, viva Jorge! Jorge é de Capadócia, salve Jorge! A música Jorge da Capadócia, composição de Jorge Ben (sem o Jor ainda) aparece em seu disco Solta o Pavão (1975). Após, agora já com o Jor, registrou outra vez a canção, no Acústico Jorge Ben Jor, de 2002. Fernanda Abreu gravou Jorge da Capadócia diversas vezes, mas, a primeira (e melhor), está em seu álbum Sla 2 Be Sample, de 1992. Em 1997, a música é interpretada pelos Racionais MC's, no disco Sobrevivendo no Inferno.Caetano Veloso cantou a música-oração em duas oportunidades: em 1975 (mesmo ano que Jorge Ben gravou), no disco Qualquer coisa, e em Prenda Minha, de 1998. Curiosamente Jorge da Capadócia é a primeira faixa nos discos de Fernanda, Racionais, em Prenda Minha e no acústico de Jorge Ben Jor.

Jorge da Capadócia - Jorge Ben


Jorge da Capadócia - Fernanda Abreu




Jorge da Capadócia - Racionais MC's



Jorge da Capadócia - Caetano Veloso



Jorge da Capadócia
Jorge Ben

Jorge sentou praça
Na cavalaria
Eu estou feliz
Porque eu também
Sou da sua Companhia

Eu estou vestido
Com as roupas
E as armas de Jorge
Para que meu inimigos
Tenham pés e não me alcancem
Para que meus inimigos
Tenham mãos e não me toquem
Para que meus inimigos
Tenham olhos e não me vejam
E nem mesmo pensamento
Eles possam ter
Para me fazerem mal


Armas de fogo
Meu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem
Sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem
Sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido
Com as roupas e as armas de Jorge

Jorge é de Capadócia
Salve Jorge, salve Jorge
Salve Jorge, salve Jorge

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Programa de Rádio com canções de Dorival Caymmi

No dia seis de abril de 2006 a rádio USP FM, de São Paulo, no programa Olhar Brasileiro, apresentado pelo radialista Omar Jubran, dedicou a atração inteiramente ao mestre Dorival Caymmi. Dividido em três blocos, Olhar Brasileiro está nas opções wma e real áudio. A USP FM pode ser acompanhada ao vivo em seu saite, demais programas também podem ser ouvidos na página, e quem mora em São Paulo sintoniza o dial em 93,7 MHz.

O poeta da Bahia

Dorival Caymmi é um dos principais compositores brasileiros de todos os tempos e sua obra aborda os mais variados temas. No primeiro programa dessa quadrilogia Omar Jubran o destacou como o poeta canta a Bahia.

São Salvador, 385 Igrejas, Severo do Pão, A Preta do Acarajé e A Lenda do Abaeté são algumas das canções que integram esse programa.

Primeiro Bloco - Duração aproximada: 22 minutos
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Segundo Bloco - Duração aproximada: 22 minutos
Ouvir em Windows Media (5,18 MB)
Ouvir em Real Audio (5,07 MB)

Terceiro Bloco - Duração aproximada: 19 minutos
Ouvir em Windows Media (4,55 MB)
Ouvir em Real Audio (4,45 MB)


Fonte: Rádio USP FM

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Em Memória de Dorival Caymmi

Homenageando Dorival Caymmi, falecido neste último sábado (16/08), abaixo uma série de canções compostas por Caymmi, algumas cantadas por ele mesmo, outras com outros interpretes. letras músicas

Só Louco - Luiz Melodia



Só louco
Dorival Caymmi


Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis
Ah, insensato coração
Porque me fizeste sofrer
Porque de amor pra entender
É preciso amar, porque
Só louco, louco...


Doralice - João Gilberto


Doralice
Dorival Caymmi / Antonio Almeida


Doralice eu bem que te disse
Amar é tolice, é bobagem, ilusão
Eu prefiro viver tão sozinho
Ao som do lamento do meu violão
Doralice eu bem que te disse
Olha essa embrulhada em que vou me meter
Agora amor, Doralice meu bem
Como é que nós vamos fazer?
Um belo dia você me surgiu
Eu quis fugir mas você insistiu
Alguma coisa bem que andava me avisando
Até parece que eu estava adivinhando
Eu bem que não queria me casar contigo
Bem que não queria enfrentar esse perigo Doralice
Agora você tem que me dizer
Como é que nós vamos fazer?


Marina - Nelson Gonçalves
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Marina
Dorival Caymmi


Marina morena Marina você se pintou
Marina faça tudo
Mas faça o favor
Não pinte este rosto que eu gosto
Que eu gosto e que é só meu
Marina você já é bonita
Com o que Deus lhe deu
Já me aborreci, me zanguei
Já não posso falar
E quando eu me zango, Marina
Não sei perdoar
Eu já desculpei tanta coisa
Você não arrajava outro igual
Desculpe Marina, morena
Mas eu tô de mal, de mal com você
De mal com você


Maracangalha - Dorival Caymmi



Maracangalha
Dorival Caymmi


Eu vou pra Maracangalha, eu vou
Eu vou de ‘liforme branco, eu vou
Eu vou de chapéu de palha, eu vou
Eu vou convidar Anália, eu vou

Se Anália não quiser ir
Eu vou só, eu vou só
Se Anália não quiser ir, eu vou só
Eu vou só, eu vou só sem Anália, mas eu vou...

Eu vou pra Maracangalha
Eu vou pra Maracangalha
Eu vou pra Maracangalha
Eu vou...


O que é que a baiana tem? - Rita Lee
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O que é que a baiana tem?
Dorival Caymmi


O Que é que a baiana tem?
O Que é que a baiana tem?

Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro tem!
Corrente de ouro tem!
Tem pano-da-costa, tem!
Sandália enfeitada, tem!
Tem graça como ninguém
Como ela requebra bem!

Quando você se requebrar
Caia por cima de mim
Caia por cima de mim
Caia por cima de mim

O Que é que a baiana tem?
O Que é que a baiana tem?
O Que é que a baiana tem?
O Que é que a baiana tem?

Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro tem!
Corrente de ouro tem!
Tem pano-da-costa, tem!
Sandália enfeitada, tem!
Só vai no Bonfim quem tem
(O Que é que a baiana tem?)
Só vai no Bonfim quem tem
Só vai no Bonfim quem tem

Um rosário de ouro, uma bolota assim
Quem não tem balagandãs não vai no Bonfim
(Oi, não vai no Bonfim)
(Oi, não vai no Bonfim)


Retirantes (Escrava Isaura) - Dorival Caymmi


Retirantes
Dorival Caymmi


Vida de nego é difícil
É difícil como quê

Eu quero morrer de noite
Na tocaia me matar
Eu quero morrer de açoite
Se tu nega me deixar

Vida de nego é difícil
É difícil como quê

Meu amor, eu vou m’embora
Nessa terra vou morrer
O dia não vou mais ver
Nunca mais eu vou te ver

Vida de nego é difícil
É difícil como quê


Oração da Mãe Menininha - Gal Costa e Maria Bethânia
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Oração da Mãe Menininha
Dorival Caymmi


Ai! minha mãe
minha ‘’mãe menininha’’
ai! minha ‘’mãe
menininha’’ do Gantois
- a estrela mais linda, hein?
- tá no Gantois
- a beleza do mundo, hein?
- tá no Gantois
- e a mão doçura, hein?
- tá no Gantois
- o consolo da gente, ai?
- ta no Gantois
- a oxum mais bonita, hein
- ta no gantoi
Olorum que mandou
essa filha de oxum
toma conta da gente
e de tudo cuida
Olorum que mandô-ê-ô
ora-iê-iê-ô.


Não tem Solução - Zizi Possi
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Não tem Solução
Dorival Caymmi / Carlos Guinle


Aconteceu um novo amor
Que nao podia acontecer
Nao era hora de amar
Agora o que vou fazer?

Nao tem soluçao
Este novo amor
Um amor a mais
Me tirou a paz
E eu que esperava
Nunca mais amar
Nao sei o que faço
Com esse amor demais.


Promessa de Pescador - Dorival Caymmi



Promessa de Pescardor
Dorival Caymmi


Alodé Iemanjá odoiá!
Alodé Iemanjá odoiá!

Senhora que é das águas
Tome conta de meu filho
Que eu também já fui do mar
Hoje tou velho acabado
Nem no remo sei pegar...
Tome conta de meu filho
Que eu também já fui do mar

Alodé Iemanjá odoiá!
Alodé Iemanjá odoiá!

Quando chegar o seu dia
Pescador véio promete
Pescador vai lhe levar
Um presente bem bonito
Para dona Iemanjá...
Filho seu é quem carrega
Desde terra inté o mar

Alodé Iemanjá odoiá!
Alodé Iemanjá odoiá!


É doce morrer no mar - Dorival Caymmi
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É doce morrer no mar
Dorival Caymmi


É doce morrer no mar,
Nas ondas verdes do mar

A noite que ele não veio foi,
Foi de tristeza pra mim
Saveiro voltou sozinho
Triste noite foi pra mim

É doce...

Saveiro partiu de noite, foi
Madrugada não voltou
O marinheiro bonito
Sereia do mar levou.

É doce...

Nas ondas verdes do mar, meu bem
Ele se foi afogar
Fez sua cama de noivo
No colo de Iemanjá

sábado, 16 de agosto de 2008

Homenagem a Dorival Caymmi

O que é que a bahiana tem - Dorival Caymmi

Trecho do documentário Um Certo Dorival Caymmi.

Nunca Mais - Dorival Caymmi

Dorival Caymmi canta "Nunca Mais" de sua autoria, em fragmento extraído do filme Estrela de Manhã produzido em 1950, com argumento de Jorge Amado, roteiro de Rui Santos e direção de Jonald Santos. As músicas eram do maestro Radamés Gnattali e de Dorival Caymmi. (Fonte:
BossaFilmes)

Caetano Veloso entrevista Dorival Caymmi

Trecho do filme Bahia de Todos os Sambas, de Paulo Cesar Saraceni e Leon Hirszman. Gravado em Roma (1983) e lançado em 1996. (Fonte:
Tavares38)

Só Louco - Dorival Caymmi e Gal Costa

Apresentação de Dorival Caymmi e Gal Costa, em 1981.

O Mar - Dorival Caymmi

Contém trecho de filme de 1940, com participação de Dorival Caymmi. Caymmi confessa no vídeo que seu desejo é que ele fosse lembrado pela canção "O Mar".

Dorival Caymmi e Silvio Caldas

Fragmento do programa Fantástico, de 1974, com Dorival Caymmi e Silvio Caldas interpretando algumas canções.

Dorival Caymmi - Saudade da Bahia (clique para assistir)

Morre Dorival Caymmi

Dorival Caymmi morre aos 94 anos no Rio

por Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O compositor e cantor baiano Dorival Caymmi morreu hoje (16) no Rio de Janeiro, aos 94 anos. Dorival se tratava de um câncer na bexiga há onze anos e morreu de insuficiência renal por volta das 6h, em sua casa, em Copacabana, na zona sul do Rio.

Em 60 anos de carreira, Caymmi fez músicas sobre os hábitos, costumes e tradições do povo baiano. Em suas canções demonstrava sua adoração pelo mar e pela natureza. Ele gravou mais de 20 discos.

O filho, Danilo Caymmi, deu à Rádio Nacional do Rio de Janeiro a primeira entrevista sobre a morte do pai, no programa da radialista Dayse Lucidi. Segundo ele, a família "tem uma gratidão muito grande à Rádio Nacional, porque foi num show de calouros da emissora que Dorival Caymmi conheceu a mulher e companheira de toda a vida".

Segundo Danilo, a mãe, Stela Maris, está internada há três meses, em coma. "A família atravessa um momento muito difícil, mas não poderia deixar de falar à Rádio Nacional, em primeira mão, sobre o falecimento de meu pai. Ele morreu tranqüilamente, baianamente, como ele dizia", disse Danilo.

Ainda de acordo com Danilo Caymmi, o horário e local do velório e sepultamento ainda não foram decididos. Ele disse que vai aguardar a chegada do irmão, Dori Caymmi, que mora no exterior, e que ainda não havia conversado com a irmã Nana Caymmi.

Entre as composições de Dorival Caymmi, as mais marcantes são "A Lenda do Abaeté", "Promessa de Pescador", "É Doce Morrer no Mar", "Marina", "Não Tem Solução", "Maracangalha", "Saudade de Itapoã", "Samba da Minha Terra", "Dora", "Rosa Morena" e "Eu Não Tenho Onde Morar".

Fonte: AgênciaBrasil


O conteúdo da Agência Brasil é publicado sob uma Licença Creative Commons Atribuição 2.5. Brasil.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Filme registra desejo de Waly Salomão realizado

Um dos desejos de Waly Salomão era ver Luiz Melodia interpretando Mal Secreto, música de Salomão e Jards Macalé. Apesar de Waly Salomão gostar muito de ter Gal Costa cantando a canção, não estava satisfeito, pois era Melodia quem ele queria ouvir cantando os versos que escreveu. A diretora Karla Sabah registrou a realização do desejo do poeta. Confira Melodia interpretando Mal Secreto.

Mal Secreto - Luiz Melodia


Sinopse

Desejo de Waly Salomão realizado por Luiz Melodia. Música de Waly Salomão e Jards Macalé. Com depoimento do próprio Salomão.

Gênero Documentário
Diretor Karla Sabah
Elenco Waly Salomão, Luiz Melodia, Renato Piau, Perinho Santana, Karla Sabah (voz off)
Duração 8'48''
Cor Colorido
País Brasil



Mal secreto
Jards Macalé e Waly Salomão


Não choro
Meu segredo é que sou um rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto
Não corro, não choro, não converso
Massacro meu medo, mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente que me oriente

Se você me pergunta: "Como vai?"
Respondo sempre igual: "Tudo legal!"
Mas quando você vai embora
Morro meu rosto no espelho
Minha alma chora

Vejo o Rio de Janeiro
O morro não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado, não fico calado, não fico quieto
Eu choro, converso
E tudo o mais jogo num verso
Intitulado mal secreto

Crônica de Lima Barreto

Uma Outra
Lima Barreto


- É UM ENGANO supor que o povo nosso só tenha superstições com sapatos virados, cantos de coruja; e que só haja na sua alma crendices em feiticeiros, em cartomantes, em rezadores, etc. Ele tem, além dessas superstições todas, uma outra de natureza singular, partilhada até, como as demais, por pessoas de certo avanço mental.

Dizia-me isto, há dias, um meu antigo companheiro de colégio que se fizera engenheiro e andava por estes Brasis todos, vegetando em pequenos empregos subalternos de estudos e construção de estradas de ferro e até aceitara simples trabalhos de agrimensor. Em encontro anterior, ele me dissera: "Antes eu tivesse ficado nos correios, pois ganharia agora mais ou menos aquilo que tenho ganho com o 'canudo', e sem canseiras nem maçadas". Quando se formou já era amanuense postal.

Tendo ele, daquela vez, me falado em superstição nova do nosso povo que observara, não pude conter o meu espanto e perguntei-lhe com pressa:

- Qual é?

- Não sabe?

- Não.

- Pois é a do doutor.

- Como?

- O doutor para a nossa gente não é um profissional desta ou daquela especialidade. É um ser superior, semidivino, de construtura fora do comum, cujo saber não se limita a este ou aquele campo das cogitações intelectuais da humanidade, e cuja autoridade só é valiosa neste ou naquele mister. É onisciente, senão infalível. É só ver como a gente do mar, do Lloyd, por exemplo, tem em grande conta a competência especial dos seus diretores - doutor. Todos eles são tão marítimos como um nosso qualquer ministro da Marinha nouveau-gens, entretanto, os lobos do mar de todas as categorias não se animam a discutir a capacidade de seu chefe. É doutor e basta, mesmo que seja em filosofia e letras, coisas muito parecidas com comércio e navegação. Há o caso, que tu deves conhecer, daquele matuto que se admirou de ver que o doutor por ele pajeado, não sabia abrir uma porteira do caminho. Lembras-te? Iam a cavalo ...

- Pois não! Que doutor é esse que não sabe abrir porteira? Não foi essa a reflexão do caboclo?

- Foi. Comigo, aconteceu-me uma muito boa.

- Qual foi?

- Andava eu perdido numas brenhas com uma turma de exploração. O lugar não era mau e até ali não houvera moléstias de vulto. O pessoal dava-se bem comigo e eu bem com ele. Improvisamos uma aldeia de ranchos e barracas pois o povoado mais próximo ficava distante umas quatro léguas. Morava eu num rancho de palha com uma espécie de capataz que me era afeiçoado. Dormia cedo e erguia-me cedo, muito de acordo com os preceitos do falecido Bom Homem Ricardo. Uma noite - não devia passar muito das dez - vieram bater-me à porta. "Quem é"? perguntei. "Somos nós". Reconheci a voz dos meus trabalhadores, saltei da rede, acendi o candeeiro e abri a porta. "Que há"? "Seu doutô! É u Feliço qui tá cô us óios arrivirados pra riba. Acode qui vai morrê..." Contaram-me então todo o caso. O Felício, um trabalhador da turma, tinha tido um ataque, ou acesso, uma súbita moléstia qualquer e eles vinham pedir-me que acudisse o companheiro. "Mas", disse eu, "não sou médico, meus filhos. Não sei receitar". "Quá, seu doutô! Quá! Quem é doutô sabe um pouco de tudo". Quis explicar a diferença que existia entre um engenheiro e um médico. Os caipiras, porém não queriam acreditar. Da mansidão primeira, foram se exaltando, até que um disse a outro um tanto baixo, mas eu ouvi: "A minha vontade é aprontá esse marvado! Ele u qui não qué é i. Deixa ele!" Ouvindo isto, não tive dúvidas. Fui até ao barracão do Felício, fingi que lhe tomava o pulso, pois nem isso sabia, determinei que lhe dessem um purgante de óleo e...

- Eficaz medicina! refleti.

- ... depois do efeito, umas cápsulas de quinino que sempre tinha comigo.

- O homem curou-se?

- Curou-se.

- Ainda bem que o povo tem razão.


Revista Careta, Rio de Janeiro, 06 mar. 1920.

BARRETO, Lima. Vida urbana. São Paulo: Mérito, 1953. p. 218-221.



Fonte: ItaúCultural

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Biografia de Machado de Assis

Confira uma breve biografia de Machado de Assis no livro virtual a seguir:

Biografia Machado de Assis



Instruções: Clique em Read Book, após, uma outra janela será aberta. Nesta nova página, clique na imagem do livro, com isso o livro virtual carregará. É necessário ter instalado o flash player.

Valorização dos Costumes Indígenas

Ministério da Cultura seleciona projetos para valorização dos costumes indígenas

por Vinicius Konchinski


A comissão de seleção do Prêmio Cultura Indígena 2007 encerrou hoje (10) a avaliação das 728 iniciativas inscritas no concurso, que premiará com R$ 24 mil projetos para a valorização da cultura e costumes indígenas elaborados pelas próprias comunidades e entidades representativas.

Desde quarta-feira (6), 16 representantes de associações indígenas e do Ministério da Cultura estiveram reunidos em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, analisando os projetos concorrentes. Segundo o produtor do concurso, Marcelo Manzatti, as 102 propostas já foram pré-selecionadas e devem receber os prêmios no final de novembro, quando os trâmites burocráticos do edital estarão finalizados.

De acordo com o Manzatti, o prêmio recompensa com dinheiro os projetos mais importantes que já foram realizados ou que ainda vão ser postos em prática. “São projetos ligados à preservação da língua nativa, artesanato, música, até medicina tradicional, arquitetura, culinária e agricultura”, explica.

Segundo Manzatti, o foco na participação do indígena no prêmio é tão grande que só podem ser inscritos projetos assinados por comunidades e associações. A burocracia para a seleção também é menor e até apresentações orais, gravadas em fita cassete, servem como formulário para a inscrição. “Muitos índios não se expressam bem de forma escrita. Não conseguem explicar no papel da forma que explicam oralmente”, justifica.

Giselle Dupin, coordenadora da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, disse que o objetivo do concurso é “fortalecer e incentivar a cultura dos índios”. O concurso, criado em 2006, já premiou projetos para a reconstrução de casas de cultura; festivais de músicas tradicionais; programas de plantio de palmito e até a instalação de computadores em aldeias.

Para Romancil Cretã, índio kaingang e membro do Conselho Nacional de Cultura e da comissão de seleção do prêmio, o concurso ajuda a resgatar a identidade indígena. Ele afirmou que jovens de aldeias estão se interessando pela cultura nativa graças ao incentivo oferecido.


Fonte: AgênciaBrasil

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Deixe-me ir, preciso andar

Preciso me encontrar. Em 1976, no seu segundo LP, Cartola gravou o melancólico e belo Preciso me Encontrar, do sambista Candeia. Marisa Monte o interpretaria em seu disco de estréia, em 1989. E em 2002 torna-se um dos temas do filme de Fernando Meirelles e Katia Lund, Cidade de Deus. A canção aparece na triste cena em que Cabeleira (Jonathan Haagensen) é assassinado pela polícia, e sua namorada Berenice (Roberta Rodrigues), desesperada, testemunha de dentro do carro, que este ajudará a empurrar, seu amado em fuga ser baleado diversas vezes. Ouça abaixo a versão de Cartola para Preciso me Encontrar. Depois, a de Marisa Monte. O trecho aqui citado de Cidade de Deus pode ser conferido no YouTube aqui.

Preciso me Encontrar - Cartola




Preciso me Encontrar - Marisa Monte



Preciso me Encontrar
Candeia


Deixe-me ir, preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
quero assistir
ao sol nascer
ver as àguas
dos rios correr
ouvir os pássaros cantar
eu quero nascer,
quero viver

deixe-me ir preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar
se alguém
por mim perguntar
diga que eu
só vou voltar
quando eu me encontrar
quero assistir
ao sol nascer
ver as águas
do rio correr
ouvir os pássaros cantar
eu quero nascer,
quero viver
deixe-me ir,
preciso andar
vou por aí a procurar
rir pra não chorar