quarta-feira, 29 de outubro de 2008

GravaCine - Mostra de Cinema democratizando o Cinema


GravaCine - Mostra de Cinema Sesc Gravataí

Nos dias oito e nove de novembro uma iniciativa inédita colocará o cinema no centro das atenções na cidade de Gravataí, no Rio Grande do Sul. Trata-se do primeiro GravaCine - Mostra de Cinema Sesc Gravataí, evento gratuito que em dois dias exibirá 12 curtas-metragens, dois longas-metragens, além de um debate com profissionais do meio cinematográfico que discutirão o tema "O futuro do cinema frente à revolução digital e a necessidade de novas estratégias de distribuição".
A intenção do projeto é democratizar o cinema na cidade de Gravataí/RS, oportunizando à população o acesso às obras cinematográficas e socializando a produção local. Outro objetivo da equipe responsável é o de possibilitar um espaço para a discussão entre os profissionais da área e o público em geral, tratando de fomentar novos espectadores. A mostra GravaCine será realizada no Teatro do SESC Vale do Gravataí, localizado na Avenida Dorival C. L. de Oliveira, 343, em Gravataí. O evento tem entrada franca, no entanto, é imprescindível a inscrição antecipada, realizada de forma simples pela internet através do endereço www.gravatai.rs.gov.br/gravacine.
Os longas exibidos serão: Valsa para Bruno Stein, de Paulo Nascimento, e 3 Efes, do cineasta Carlos Gerbase. Entre os curtas, destacam-se Dossiê Rê Bordosa, animação inédita baseada nas tirinhas de Angeli; os premiadíssimos Vida Maria, de Marcio Ramos, e Porcos não olham para o Céu, de Daniel Marvel. Maiores informações e a programação completa podem ser obtidas em www.gravacine.com.br.

GravaCine - Mostra de Cinema Sesc Gravataí
Teatro do SESC Vale do Gravataí. Endereço: Avenida Dorival C. L. de Oliveira, 343, Gravataí-RS
Dia 8 e 9 de novembro de 2008. No dia 8, a partir das 18h, cerimônia de abertura da mostra. No dia 9, às 16h, seguem as atividades do evento.
Entrada Franca, necessária inscrição prévia em www.gravatai.rs.gov.br/gravacine
Maiores Informações: www.gravacine.com.br

Confira as novidades em:
http://gravacine.blogspot.com


Gravataí de portas abertas para o cinema

Filmes e debates sobre cinema estão na pauta da GravaCine - Mostra de Cinema Sesc Gravataí, idealizada pela produtora Gaba Films em parceria com o SESC e apoio da Prefeitura Municipal de Gravataí. O evento acontece em novembro desse ano com diversas atividades marcadas para os dias 08 e 09, incluindo a exibição de filmes em curta e longa-metragem. Também está prevista a realização de um debate sobre o futuro do cinema, contando com importantes nomes do meio cinematográfico nacional, além da entrega do "Troféu Gravatás" ao ator gaúcho Sirmar Antunes homenageado pela organização nesta primeira edição da Mostra.

A intenção do projeto é democratizar o cinema na cidade de Gravataí/RS, oportunizando à população o acesso às obras cinematográficas e socializando a produção local. Outro objetivo da equipe responsável é o de possibilitar um espaço para a discussão entre os profissionais da área e o público em geral, formando audiência. Gravataí é berço de profissionais do cinema reconhecidos no cenário brasileiro e já foi locação de vários longa-metragens como "Netto Perde sua Alma", dirigido por Beto Souza e Tabajara Ruas, além do especial de tv "O Tempo e o Vento", adaptação da obra de Érico Veríssimo e dirigido por Paulo José. A Gaba Films aposta no potencial da cidade como pólo cinematográfico.

"Buscar novos caminhos como por exemplo o de usar o audiovisual como ferramenta de expressão cultural através de parcerias com escolas da rede municipal despertando assim o interesse dos jovens e adultos, revelar novos talentos, fomentar a economia, o turismo e o mercado local com produções cinematograficas e eventos da dimensão da GravaCine só trarão benefícios para a região, promovendo o enriquecimento cultural, formando novos profissionais e platéia", explica Daniel Marvel, cineasta, membro da equipe da Gaba Films e um dos idealizadores da iniciativa. O futuro do cinema frente à revolução digital e a necessidade de novas estratégias de distribuição são alguns dos temas propostos para o debate.

As atividades da GravaCine - Mostra de Cinema SESC Gravataí e a exibição dos filmes ocorrem no recém-inaugurado teatro do SESC Vale do Gravataí a partir das 18 horas. A Mostra não é competitiva e vai exibir ao longo dos seus dois dias de duração 12 curtas e 2 longa-metragens nacionais selecionados entre os que mais se destacaram no circuito brasileiro e internacional de festivais. A organização estima a circulação de cerca de mil e seiscentas pessoas durante o evento.

www.gravacine.com.br


Gravacine spot parada de ônibus



Gravacine spot Beijo na praça



Gravacine - Mostra de cinema SESC Gravataí

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Poesias de Clarice Lispector

Os quatro poemas a seguir, todos de Clarice Lispector, foram retirados do Jornal de Poesia, o mais completo saite de poesia brasileira.

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.


A perfeição

O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Nossa truculência

Quando penso na alegria voraz
com que comemos galinha ao molho pardo,
dou-me conta de nossa truculência.
Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
tanto gosto delas vivas
mexendo o pescoço feio
e procurando minhocas.
Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
Nunca.
Nós somos canibais,
é preciso não esquecer.
E respeitar a violência que temos.
E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
comeríamos gente com seu sangue.

Minha falta de coragem de matar uma galinha
e no entanto comê-la morta
me confunde, espanta-me,
mas aceito.
A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também.


Quero escrever o borrão vermelho de sangue

Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.



Fonte: JornaldePoesia

Confira também:
Conto de Clarice Lispector I
Conto de Clarice Lispector II
Conto de Clarice Lispector III
Clarice Lispector, Escritora “Indigesta”

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Documentário investiga postura política de Elis Regina

Duramente criticada por setores da esquerda no período da ditadura militar brasileira, o videodocumentário Elis Regina Contra a Espada é uma tentativa de esclarecer qual a posição política que a cantora adotou durante os anos de chumbo da política nacional.

Sinopse
O documentário pretende investigar e esclarecer o real envolvimento político da cantora Elis Regina durante o regime militar. Neste sentido, o vídeo explica alguns episódios da trajetória de Elis por meio de depoimentos de pessoas que trabalharam e conviveram com ela. Ao final, o filme acaba por descobrir uma personalidade polêmica e cativante desta artista que marcou o cenário cultural brasileiro. (fonte:
TVCâmara)


"Entre a parede e a espada, me atiro contra a espada."
Frase atribuída a Elis Regina


Elis Regina Contra a Espada

Obs. O documentário, originalmente, no YouTube, está dividido em duas partes. Inicie normalmente o vídeo, após o término da primeira parte, a segunda tem início automático.

Gênero
Documentário
Diretor Ciça Carboni / Raquel Burached / Fernanda Mitzakoff
Duração 20min
Cor Colorido / P&B
País Brasil



Assista mais documentários no OutroCine


http://outrocine.blogspot.com - Mostra permanente de cinema

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Glauber Rocha caiu na Rede

Obras de Glauber Rocha agora na internet


Da Redação da Revista Fórum

Na última terça-feira, dia 14, a associação Tempo Glauber, responsável pela preservação da obra do cineasta baiano Glauber Rocha, lançou um banco de dados inédito com a obra completa do diretor. O acervo informatizado, que estará disponível através do site www.tempoglauber.com.br, traz cem mil itens digitalizados, extraídos de material original mantido no Centro de Documentação Lúcia Rocha.

Os arquivos, disponíveis para consulta e pesquisa, variam entre documentos pessoais, filmografia, correspondência, produção intelectual (roteiros cinematográficos e teatrais, romances e poesias, storyboards e croquis, desenhos, ensaios e críticas e anotações pessoais), além de fotografias, recortes de jornais e revistas, documentos audiovisuais, cartazes, títulos e menções honrosas, trabalhos e fotografias de terceiros e material em suportes VHS, DVD, tape e fitas de rolo (áudio).

A criação do acervo digital, realizada em parceria com o Arquivo Nacional, faz parte do projeto “Tempo Glauber Revitalizando a Cultura”, que conta com o patrocínio da Petrobras através dos incentivos da Lei Rouanet e do Fundo Nacional de Cultura. Durante o evento de lançamento, foi exibido ainda um documentário em DVD que traz todo o processo de criação do banco de dados, e que recebe o mesmo nome do projeto.

A
Revista Fórum está licenciada sob uma lincença Creative Commons

Conversa de buteco, crônica

Crônica "Conversa de Buteco", de Chico Villela, publicada na revista eletrônica NovaE.

Conversa de buteco

Chico Villela

A dupla Chenynho & ZeBusha fez um país rico de 300 milhões de habitantes levar direto no rabo. Um cronista político de respeito diria algo como:

“Ao que tudo indica, o atual governo dos Estados Unidos da América enfrenta situações de aguda adversidade enquanto tenta entreter duas guerras que vai perdendo, no Iraque e no Afeganistão, manter 737 bases com mais de 500 mil militares e civis a serviço em 130 países e um orçamento militar de mais de US$ 1 trilhão, maior que todos os outros somados de todo o mundo, e, além disso, perde-se em inúteis tentativas de segurar uma moeda em franca queda irreversível e uma economia que, ao ser transformada de produtiva e industrial em financeira e de especulação, fez ruir as bases do país. A soma das dívidas dos EUA chega hoje a mais de US$ 50 trilhões, mais de quatro vezes seu produto interno bruto. É o fim do mais novo império da história. Em resumo, um país-falido.

Maior conjunção de condições negativas, impossível: com o barril de petróleo a 150 dólares, o país, suburbanizado e baseado nos veículos familiares e nos combustíveis fósseis, que compra mais que produz, vai parando. Acresce a isso a preponderância do agribusiness e a extinção da sábia agricultura familiar, que mantinha as mesas fartas com produtos que contribuíam para a saúde. Emprego em queda, moeda em queda, economia em queda, crédito em queda, bancos e financeiras em bancarrota, a maior taxa de crianças gordas do mundo, derrotas em guerras, etc. Em resumo: um país sem futuro.

Mas que ainda guarda um (duvidoso) trunfo: a maior, mais especializada, mais letal, mais ilegal, mais assassina e mais genocida arma de guerra da história da humanidade. País nenhum tem hoje, contrariando as leis e códigos aceitos em todo o mundo, tantas armas convencionais, nucleares, bacteriológicas, químicas, psicológicas, eletromagnéticas, de manipulação do clima e dos elementos naturais, etc. Não bastasse o horror, estabeleceu centros de tortura fixos em seu território e países afiliados, e móveis, em navios pelo mundo afora, e consagrou a tortura e a repressão às idéias e ações com uma lei draconiana que nem sequer na antiga URSS ou na Alemanha de Hitler foi tão drástica, a Patriot Act.”

A dupla Chenynho & ZéBusha (o nome do presidente real vem primeiro) fodeu o país de forma final e a democracia. Em resumo: um país-bandido.

Mas eu não sou cronista político de respeito, apenas um cidadão de respeito, e nem sequer escrevo em jornais importantes, daqueles que trazem quatro páginas com anúncio de vans e suvs de sonho ou condomínios de luxo onde se abrigam os beneficiados pela globalização, iniciativa de sucessivos governos euanos e ocidentais, e que até agora só fez concentrar a riqueza e expandir a pobreza e a fome, empobrecer a classe média, aumentar os preços da comida, aviltar ainda mais os preços de matérias-primas, e transformar o ar, a água e a terra em fontes particulares de lucros, além de uma coorte de mazelas e infelicitações.

De vez em quando é salutar dispensar as linguagens acadêmicas, diplomáticas e protocolares, e escrever como há pouco estava conversando com amigos num boteco. Estados Unidos? Tá fodido. Agora mesmo estava dizendo:

Vejam vocês a burrice implícita nas guerras. Invadiram um país, o Iraque, que já havia passado por uma guerra de oito anos com o Irã, estimulada, financiada e armada pelos gringos e ingleses, com mais de 1 milhão de mortos; depois sofrido uma invasão do pai do ZéBusha; depois padecido com doze anos de bloqueio econômico e bombardeios seletivos de gringos e ingleses sobre instalações hidráulicas, industriais, pontes, escolas, hospitais, culturas agrícolas, etc.; perdido mais de 80% da capacidade de combate; perdido mais de 500 mil crianças por falta de remédios e doenças como diarréia. Foi este país que a valente dupla Chenynho & ZéBusha invadiu em 2003 como um ato glorioso. Três meses depois, o infeliz do ZéBusha desceu de helicóptero, com uniforminho militar, num porta-aviões ancorado no Golfo Pérsico, e com graça juvenil proclamou o fim da guerra do Iraque. Os malandros espertos riram: Idiota, a guerra vai começar agora. Começou e não parou mais.

As guerras do Iraque e do Afeganistão, que começou em 2001, são descrita pelos analistas como atoleiro, pesadelo, pântano e outros termos amenos. O país é um mosaico de tribos, clãs e etnias, com costumes ancestrais, absolutamente diferentes dos costumes ocidentais, que lutaram, por exemplo, contra Alexandre, o Grande, alguns séculos antes de Cristo. Também expulsaram conquistadores ingleses e, no fim dos anos 80, russos. Mal saíram os russos, entrou a tropa da dupla Chenynho & ZéBusha.

Cara, aquelas palavras que você falou, como é mesmo? Atoleiro, pântano, pesadelo... Isso! Mas isso não é a definição do Afeganistão para as tropas invasoras? É, cara! Olha só: a concepção do Pentágono da dupla Chenynho & ZéBusha é a mesma adotada no Vietnã, guerra perdida com 50 mil mortos e 500 mil soldadinhos loiros fugindo feito criança. Foi assim: vamos manter o fogo com bombas jogadas de aviões. Apoio da população, nem pensar, já que jogavam bombas o tempo todo sobre civis, mulheres, crianças, etc. Jogavam até bombas com agente laranja, que desfolhava as florestas. Sabe pra quê? É que, sem as folhas, o Vietcong inimigo perderia o abrigo-esconderijo. Olha que loucura! Mataram mais milhares e envenenaram por séculos terras e imensas áreas hoje vedadas ao cultivo. Uma cagada, cara!

Diria um analista categorizado:

“A questão central da guerra no Afeganistão é a incompreensão das forças aliadas da Otan e do Pentágono a respeito da história e dos costumes do país. A estratégia é a mesma do Vietnã, só que com menos soldados: em situações de perigo, chama-se apoio aéreo. Os aviões, de uma altura de milhares de metros, jogam bombas. As baixas são poucas, as bombas espalham destruição, mas os resultados são preocupantes: civis mortos em quantidade, destruição de residências e equipamentos sociais, e o governo do títere Karzai não consegue dominar nem a área da capital. Trata-se de uma estratégia equivocada, que só poderá levar à retirada em breve.

Além do mais, as divisões étnicas e clânicas entre os pashto estão em suspenso: há no momento uma aliança tácita contra o inimigo invasor. Se levarmos em conta que o Talibã havia zerado a produção de heroína pela repressão ao plantio de papoula, e que hoje o Afeganistão voltou a ser o maior produtor mundial de heroína, principal produto da economia do país, então é forçoso reconhecer que as forças aliadas ganharam episodicamente em 2001, mas desde então vêm perdendo a guerra contra o terrorismo e o tráfico.”

Ô, Zé, dá mais uma gelada! Cara, veja só isto: o Taliban é formado no meio da etnia pashto, a mais numerosa do país. Já foram bombardeados cinco cortejos nupciais pashto. No último, esta semana, morreram 47 mulheres e crianças, inclusive a noiva, que ia junto com amigos e parentes de sua aldeia até a aldeia do noivo. Os pilotos, chamados a socorrer tropas que cagam de medo a cada sombra que vêem, avistam lá do alto uma aglomeração de pessoas e soltam as bombas; todo dia tem civis mortos de bando. Cada bomba dessas garante algumas dezenas de novos combatentes. A força aérea da dupla de desastrados Chenynho & ZéBusha é o maior agente de recrutamento dos adversários. Não é de lascar? E olha que é a mais sofisticada máquina de guerra da história. Sofisticada, tudo bem, mas inteligente? Sei não...

Quer ver o tamanho da besteira dos gringos? O grande inimigo do Ocidente sempre foi o Irã, desde 1979, quando os aiatolás botaram o xá amigo dos gringos pra correr. A embaixada dos EUA foi invadida e tomada em Teheran e os reféns euanos ficaram mais de ano em poder dos rebelados. Uma crise interminável. Os EUA nunca mantiveram mais nem sequer escritórios comerciais no Irã. Rompimento total.

Mas, ô Chico, peraí, faz uma pausa nessa história , veja só: esta semana os gingos mandaram um desses funcionários importantes para a conferência com os iranianos e mais russos, alemães, chineses etc. sobre a produção de urânio (para o Irã, combustível de usinas nucleares; para os aliados ocidentais, de bombas), não é um gesto de boa vontade?

É nada, cara!É só uma deixa para dizer mais à frente, perto do fim do ano: Pessoal, não foi possível o diálogo, os caras não vão parar de produzir urânio para suas bombas, e, assim, só mesmo a opção militar está em cena agora.

Mas, voltando o filme: o Saddam era sunita, inimigo do Irã, e arrebentava com os xiitas, que governam o Irã. Sem o Saddam, subiu um governo sem-vergonha, de bonecos, mas que manda, bem ou mal. Quem são? O presidente é curdo, e foi apoiado pelo Irã na sua luta contra Saddam, que matava curdos sem dó com armas químicas inglesas e gringas. O primeiro-ministro é xiita, fundou um partidinho, e se refugiou no Irã durante a tirania de Saddam. O exército foi reorganizado com base na milícia Badr, liderada por um xiita, e que foi abrigada, treinada e armada no Irã.

Quer ver um fato engraçado? Um desses pica-grossas do Departamento de Estado esteve recentemente no Iraque. Desceu em aeroporto militar, só andou de helicóptero escoltado por muitos outros com armamento pesado, e só se reuniu na Zona Verde, gueto-fortaleza dos gringos em Baghdad. O Ahmadinejad, primeiro-ministro iraniano, esteve no Iraque. Desceu no aeroporto de Baghdad, foi de carro até a sede do governo e outros lugares, abraçou o presidente amigo, o primeiro-ministro amigo, o comandante do exército amigo. Porra, cara: que raio de estratégia é essa em que você afunda as suas tropas numa merda sem fim e vai fortalecendo o inimigo? Que cagada! Que puta sabedoria!

Ô, Zé! Manda mais uma gelada e traz uma de Salinas.


Leia + Chico na NovaE


Fonte: NovaE

A revista NovaE está licenciada sob uma licença Creative Commons

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Novo livro de Eduardo Galeano e vídeo com o escritor

Os primeiros americanos

"Conta a história oficial que Vasco Núñez de Balboa foi o primeiro homem que viu, desde um cume do Panamá, os dois oceanos. Os que ali viviam, eram cegos?" - pergunta Eduardo Galeano em seu livro "Espejos: una historia casi universal". Nele, o escritor conta uma série de pequenas histórias que "não aconteceram", segundo as versões oficiais. Confira o vídeo com um pedaço dessa história "quase universal".

Redação - Carta Maior

Em seu novo livro, "Espejos: una historia casi universal" (Siglo XXI), Eduardo Galeano conta uma série de pequenas histórias que "não aconteceram", segundo as versões oficiais. O escritor uruguaio traz à memória alguns relatos sobre a história da América e sobre os primeiros americanos. Em um deles, escreve:

"Conta a história oficial que Vasco Núñez de Balboa foi o primeiro homem que viu, desde um cume do Panamá, os dois oceanos. Os que ali viviam, eram cegos?

Quem colocou seus primeiros nomes no milho e na batata e no tomate e no chocolate e nas montanhas e nos rios da América? Hernán Cortés, Francisco Pizarro? Os que ali viviam, eram mudos?

Os peregrinos do Mayflower escutaram: Deus dizia que a América era a Terra Prometida. Os que ali viviam, eram surdos?

Depois, os netos daqueles peregrinos do norte apoderaram-se do nome e de todo o resto. Agora, americanos são eles. Os que vivemos nas outras Américas, o que somos?


Uma parte dessas histórias já está disponível também em vídeo, na voz do próprio Galeano. Veja abaixo um pedaço da história "quase universal" dos primeiros americanos:

Os primeiros americanos segundo Eduardo Galeano


Fonte: AgênciaCartaMaior

A Agência Carta Maior é a favor da livre circulação de informação e seu conteúdo é Copyleft

sábado, 11 de outubro de 2008

Vídeos do Cartola

Diversos vídeos em homenagem ao nosso falecido Angenor de Oliveira, o Cartola, nascido no dia 11 de outubro de 1908. Os vídeos fazem parte do programa Ensaio, da TV Cultura, que estão sendo relançados pela TV Trama. Ao todo são apresentadas 16 canções na compilação a seguir.


Cartola não existiu.
Foi um sonho que tivemos.
- Nelson Sargento -

Cartola - Diversos Vídeos



Confira também:
Cartola - 100 Anos
Crônica Cartola é 100
Deixe-me ir, preciso andar
Cartola Canta em Dois Vídeos
Cartola Versão Surf-Music
Cartola ganha Documentário

Cartola - 100 Anos

Todas as informações que seguem são do mais completo saite sobre MPB, Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Vale a visita diária a este que é praticamente uma enciclopédia da nossa música.

Cartola (Angenor de Oliveira)

* 11/10/1908 Rio de Janeiro, RJ

+ 30/11/1980 Rio de Janeiro, RJ

BIOGRAFIA

Angenor de Oliveira - Cartola (imagem I)
Compositor. Cantor. Violonista.

Nascido na rua Ferreira Vianna, no Catete, era o primogênito dos oito filhos do casal Sebastião e Aída. Apesar de ter recebido o nome de Agenor, foi registrado como Angenor. Mas esse fato ele só viria a descobrir muitos anos mais tarde, ao tratar dos papéis para seu casamento com D. Zica, nos anos de 1960. A partir de então, para não ter que providenciar a mudança do nome no cartório, passou a assinar oficialmente seu nome como Angenor de Oliveira. Ainda na infância, mudou-se com a família para o bairro das Laranjeiras, onde entrou em contato com os ranchos União da Aliança e Arrepiados. Neste último, tocava um cavaquinho que lhe fora dado pelo pai quando tinha somente 8 ou 9 anos de idade. Seu entusiasmo por esse rancho era tanto que, mais tarde, ao participar da fundação da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, em abril de 1929, sugeriu que aquela agremiação tivesse as mesmas cores do rancho Arrepiados: verde e rosa. Desde então, essas duas cores passaram a formar um símbolo dos mais reverenciados no mundo do samba.

Na verdade, soube depois por Carlos Cachaça, que existira no Morro da Mangueira um antigo rancho de carnaval com o nome de Caçadores da Floresta, cujas cores eram exatamente o verde e o rosa. Em 1919, foi morar no Morro da Mangueira, aos 11 anos de idade. Sua família passava, então, por dificuldades financeiras. Pouco depois, começou a travar amizade com um outro morador da Mangueira, Carlos Cachaça, seis anos mais velho, e que se tornaria, além de amigo por toda a vida, o seu parceiro mais constante em dezenas de sambas.

Fez o curso primário. Após a morte de sua mãe, abandonou os estudos para trabalhar, ao mesmo tempo em que se inclinava para a vida boêmia. Durante a adolescência trabalhou numa tipografia e também como pedreiro. Vem daí o apelido com que se tornaria reconhecido como um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira: enquanto trabalhava nas obras de construção, para que o cimento não lhe caísse sobre o cabelo, resolveu passar a usar um chapéu- de- côco que os colegas diziam parecer mais uma cartolinha. Assim, começou a ser chamado de "Cartola". Nessa época, conheceu Deolinda, mulher sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois anos. Certa vez, se sentiu doente e Deolinda, vizinha do barraco ao lado, se oferece para cuidar dele. Os dois acabam se envolvendo. Tinha na época apenas 18 anos e estava morando sozinho. Decidem viver juntos e Deolinda deixa o marido, levando a filha que o compositor irá criar como sua. Sob seu teto e de Deolinda, Noel Rosa foi se abrigar algumas vezes, à procura de um refúgio tranqüilo, como contam João Máximo e Carlos Didier em "Noel Rosa, uma biografia".

Participou da formação do Bloco dos Arengueiros, em 1925, que viria a ser o embrião da Mangueira. Em 1946, aos 38 anos de idade, contraiu meningite e ficou impossibilitado de continuar a trabalhar por um longo tempo. Com a morte de Deolinda, deixou o Morro da Mangueira, afastando-se do mundo do samba, por cerca de dez anos. Conseguiu trabalhos modestos, como o de lavador de carros e vigia de edifícios. Era esse o seu ofício, em meados dos anos 1950, num edifício em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro. Numa noite de 1956, em que resolveu beber um café num botequim próximo ao edifício onde trabalhava, encontrou o escritor Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que imediatamente o reconheceu. Ao ver o compositor naquele macacão, molhado, o escritor decidiu ajudá-lo. Na ocasião, era dado como desaparecido ou mesmo morto, por muitos de seus conhecidos e admiradores. O reencontro com Sérgio Porto foi definitivo para a retomada de sua carreira como músico e compositor.

Começou a participar de programas na rádio Mayrink Veiga e depois foi trabalhar como contínuo no jornal Diário Carioca, por recomendação do cronista e pesquisador Jota Efegê. Empregou, anos depois, como contínuo do Ministério da Indústria e Comércio e teve uma casa em terreno doado pelo Governo do Estado da Guanabara. No início dos anos 1960, vivendo com Eusébia Silva do Nascimento, a Zica, abriu com ela o restaurante Zicartola, num casarão na Rua da Carioca, no Centro do Rio. A iniciativa contou com o apoio financeiro de empreendedores considerados "mangueirenses de coração", como o empresário Renato Augustini. A receita para o sucesso do estabelecimento, que se tornaria uma página importante na história da música popular brasileira, era das mais simples e saborosas. Na cozinha, D. Zica comandava o tempero do feijão que lhe tornou famosa, enquanto ele fazia as vezes de mestre de cerimônias, propiciando o encontro entre sambistas do morro e compositores e músicos de classe média. No Zicartola, por exemplo, Paulinho da Viola começou a cantar em público.

Em 1978, transferiu-se da Mangueira para uma casa em Jacarepaguá, mas sempre voltava para visitar os amigos no morro onde crescera e se tornara famoso. Em 1979, descobriu que estava com câncer, doença da qual viria a morrer no ano seguinte, aos 72 anos de idade. Após o velório na quadra da Estação Primeira de Mangueira, seu corpo foi sepultado no Cemitério do Caju. Durante os anos seguintes, viriam homenagens póstumas, discos e biografias que o confirmariam como um dos maiores nomes da música popular brasileira.



DADOS ARTÍSTICOS
Cartola (imagem II)
Em 1925, com o amigo e parceiro Carlos Cachaça, fundou o Bloco dos Arengueiros, que, três anos mais tarde, ao se unir a outros blocos do Morro da Mangueira, levou à criação, em 28 de abril de 1928, da Estação Primeira de Mangueira. Além dele e Carlos Cachaça, participam da fundação da segunda escola de samba, a primeira havia sido a "Deixa Falar", fundada por Ismael Silva e Bide, entre outros, no Estácio, Saturnino Gonçalves, Pedro Caymmi, Marcelino, José Claudino e Francisco Ribeiro. No mesmo ano, compôs o primeiro samba para um desfile da Mangueira, "Chega de demanda".

Em 1929, procurado pelo cantor Mario Reis, através de um estafeta chamado Clóvis Miguelão, segundo o pesquisador Luís Antônio Giron, vendeu a ele o samba "Que Infeliz Sorte!", que acabou sendo gravado, em novembro daquele ano, não por Mario Reis, mas por Francisco Alves, sendo assim, seu primeiro samba gracado. A aproximação com Francisco Alves o tornou conhecido como compositor. Assinava então Agenor de Oliveira. Em 1932, Francisco Alves e Mário Reis gravaram em dueto seu samba "Perdão, meu bem". Vendeu outros sambas a Francisco Alves, que gravou no mesmo ano o samba "Não faz mal amor", parceria com Noel Rosa, cujo nome não apareceu no rótulo do disco. Ainda nesse ano, Francisco Alves gravou o samba "Qual foi o mal que eu te fiz", lançado no ano seguinte, Carmen Miranda o samba "Tenho um novo amor" e Sílvio Caldas o samba "Na floresta", parceria dos dois.

Em 1933, Francisco Alves gravou o samba "Divina Dama", que viria a ser usualmente considerado seu primeiro sucesso popular. Ainda nesse ano, Arnaldo Amaral gravou o samba "Fita meus olhos", parceria com Osvaldo Vasques. Ao contrário de outros compositores da época, não vendia a autoria das músicas, mas apenas o direito sobre a vendagem dos discos, razão pela qual seus sambas continuavam a sair assinados por ele. Em 1936, Aracy de Almeida gravou na RCA Victor o samba "Não quero mais", parceria com José Gonçalves, o Zé da Zilda e Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça. No ano anterior, esse samba fora premiado no desfile da Mangueira.

Continuou dedicando-se à Escola de Samba que ajudara a fundar. Sua primeira parceria com Carlos Cachaça, "Pudesse meu ideal", vence o concurso promovido pelo jornal O Mundo Esportivo. Vieram então alguns anos de sucesso e fama, a amizade e parceria com Noel Rosa, freqüentador de sua casa na Mangueira, as visitas de Villa-Lobos, que se tornou admirador de suas composições e o indicou para participar, em 1940, das gravações regidas pelo maestro Leopold Stokowski a bordo do navio Uruguai, ancorado no cais da Praça Mauá. Na ocasião, interpretou, ao lado de pastoras da Mangueira, o samba "Quem me vê sorrindo", parceria com Carlos Cachaça. Dessas gravações regidas por Stokowkski, foram produzidos oito discos de 78 rpm, registrando, além da sua primeira gravação, o coro da Mangueira com as vozes de D. Neuma e de suas irmãs, a clarineta de Luís Americano, emboladas de Jararaca e Ratinho, a flauta de Pixinguinha, além das participações de Donga e João da Baiana e um arranjo de Villa-Lobos para o tema indígena Canidé Joune.

Passou, então, a cantar no Rádio, interpretando composições próprias e também de outros autores. Juntamente com Paulo da Portela, apresentou, na Rádio Cruzeiro do Sul, o programa "A Voz do Morro", que lançava sambas ainda inéditos e sem título e no qual os ouvintes é que deviam dar nome aos sambas. Assim, o programa premiava o ouvinte que tivesse sugerido o título escolhido para o samba. Com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres formou, em 1941, o "Conjunto Carioca", que chegou a se apresentar em programas radiofônicos em São Paulo. Nesse ano, Ataulfo Alves gravou na Odeon o samba "Não posso viver sem ela", parceria com Alcebíades Barcelos.

Em 1948, a Mangueira venceu o desfile das escolas-de-samba com um samba seu também feito em parceria com Carlos Cachaça, " Vale do São Francisco", mas ele nem dá sinal de vida. Em 1952, Gilberto Alçves gravou na RCA Victor o samba-canção "Sim", parceria com O . Martins. Foi somente após o reencontro do compositor com o cronista Sérgio Porto, em 1956, que retomou lugar de destaque no cenário da música popular. Primeiro, na Rádio Mayrink Veiga, para onde foi levado pelo próprio Sérgio Porto. Em 1958, foram gravados seus sambas "Grande Deus", por Jamelão na Continental e "Festa da Penha", por Ari Cordovil no pequeno selo Vila.

Passou mais um período obscurecido somente voltando a aparecer no cenário musical no início dos anos 1960, ao lado daquela que seria sua companheira até o fim da vida, D. Zica, quando inaugurou o Zicartola, na Rua da Carioca, ponto de encontro de sambistas de morro e jovens de classe média que se interessavam pelo chamado "samba de raiz". Em 1960, Nuno Veloso gravou na RCA Victor o samba "Vale do São Francisco", com Carlos Cachaça. No Zicartola, desafiado pelo amigo Renato Agostini, compôs com Elton Medeiros, em cerca de 30 minutos, o samba "O sol nascerá", que se tornaria logo um sucesso e, anos mais tarde, um clássico. A mesma facilidade para compor experimentaria num samba feito a seis mãos. Compusera com Carlos Cachaça a primeira parte de um samba que decidiram mostrar a Hermínio Bello de Carvalho, que escreveu então os versos da segunda parte, que ele musicou na hora. Nascia assim uma de suas composições mais famosas: "Alvorada no morro". Em 1964, o samba "O sol nascerá", foi gravado por Isaura Garcia na Odeon e por Nara Leão no selo Elenco. Em 1965, gravou na Som Livre seu samba "Alegria". Nesse ano, Elizeth Cardoso gravou na Copacabana o samba "Sim", com O . Martins e Leny Andrade, Pery Ribeiro e Bossa Três regravaram "O sol nascerá".

Em 1966, gravou com Clementina de Jesus na Copacabana seu samba "Fiz por você o que pude". Em 1968, participou em duas faixas do LP "Fala Mangueira", que teve também gravações de Nelson Cavaquinho, Odete Amaral, Clementina de Jesus e Carlos Cachaça, entre outros, um lançamento da Odeon. Nesse ano, gravou com Odete Amaral na Odeon seu samba "Tempos idos", com Carlos Cachaça e Cyro Monteiro gravou na RCA Victor o samba "Tive sim". Em 1970, a Abril Cultural lançou um volume dedicado à sua obra na série "História da música popular brasileira" no qual interpretou o samba "Preconceito", de sua autoria. Em 1972, Paulinho da Viola gravou na Odeon o samba 'Acontece" e Clara Nunes, também na Odeon, "Alvorada no morro". De Carvalho. Em 1973, Elza Soares gravou na Odeon o samba "Festa da vinda", com Nuno Veloso.

Somente em 1974, aos 65 anos, gravou o primeiro LP inteiramente seu, pelo selo Marcus Pereira, produzido por João Carlos Bozelli, o Pelão e com direção artística de Aluizio Falcão. A crítica só teve elogios para esse disco no qual interpretou os sambas "Acontece", "Tive, sim", "Amor proibido", "Alegria", "Fiz por você o que pude" e "Chega de demanda", apenas de sua autoria, "Quem me vê sorrindo" e "Vale do São francisco", com Carlos Cachaça, "Festa da vinda", com Nuno veloso, "Corra e olha o céu", com Dalmo Castelo, "Ordenes e farei", com Aluísio Dias e "Alvorada", com Carlos Cachaça e Hermínio B. Carvalho.

Também em 1974, a gravadora Marcus Pereira lançou o LP "História das escolas de samba: Mangueira", no qual ele interpretou algumas faixas. Pouco depois, durante uma entrevista ao radialista e produtor Luiz Carlos Saroldi, num programa especial para a Rádio Jornal do Brasil AM, apresentou dois sambas ainda inéditos: "As rosas não falam" e "O mundo é um moinho". Saroldi logo se deu conta de que acabara de ouvir duas obras-primas da música popular. Ainda em 1974, participou do programa radiofônico "MPB - 100 ao vivo", produzido e apresentado por R. C. Albin em cadeia nacional de emissoras para o Projeto Minerva. Os programas foram editados em oito LPs com o mesmo título, lançados pelo selo Tapecar e neles, ocupou todo um lado de um dos discos, deferência só concedida a dois outros convidados, Luiz Gonzaga e Paulinho da Viola, que estão começava. Também no mesmo ano, participou da série de espetáculos sobre a história da MPB, produzida e também apresentada pessoalmente por R. C. Albin no Ibam, no bairro carioca de Botafogo, em que atuou ao lado da cantora Rosana Tapajós e do flautista Altamiro Carrilho. O show intitulou-se "O sol nascerá" e ali sua vida mais uma ves era narrada em revista.

Em 1976, elas seriam lançadas no seu segundo LP, também pela Marcus Pereira. Na gravação de "O mundo é um moinho", foi acompanhado ao violão por Guinga, então um rapaz de apenas 20 anos, mas já um talentoso instrumentista. Ainda nesse disco, interpretou suas composições "Minha", "Sala de recepção", "Aconteceu", "Sei chorar", "Cordas de aço" e "Ensaboa". Gravou também as canções "Preciso me encontrar", de Candeia, "Senhora tentação", de Silas de Oliveira e "Pranto de Poeta", Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Também nesse ano, Clementina de Jesus gravou "garças pardas", parceria com Zé da Zilda.

Em 1977, gravou pela RCA Vctor o LP "Verde que te quero rosa", título de uma de suas músicas, em parceria com Dalmo Castelo. Desse LP fazem parte o samba-canção "Autonomia", com arranjo e acompanhamento ao piano de Radamés Gnatalli, além de "Nós Dois", composta especialmente para o casamento com D. Zica, em 1964. Recriou "Escurinha", samba do mangueirense Geraldo Pereira, falecido prematuramente em conseqüência de uma briga com "Madame Satã". O texto de apresentação do disco, produzido por Sérgio Cabral, é assinado pelo especialista em samba Lúcio Rangel. Estão presentes ainda os sambas "Desfigurado", "Grande Deus", "Que é feito de você", "Desta vez eu vou" e "Nós dois", de sua autoria, "Fita meus olhos", com Osvaldo Vasques e "A canção que chegou", com Nuno Veloso. Nesse ano, Beth Carvalho gravou com sucesso "O mundo é um moinho" e a Rede Globo apresentou o programa "Brasil Especial", escrito pelos críticos Sérgio Cabral e R. C. Albin, com direção de Augusto César Vannucci inteiramente dedicado a sua vida e obra. No mesmo ano, participou do Projeto Pixinguinha, ao lado de João Nogueira, em shows no Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, sempre com os teatros lotados. Também em 1977, foi convidado pela Prefeitura de Curitiba para integrar o juri do desfile das escolas de samba locais, onde, pela primeira e única vez julgou um desfile das escolas que ele ajudara a fundar ao começo dos anos 1930.

Em 1978, gravou com Eliana Pittman na RCA o samba "Meu amigo Cartola", de Roberto Nascimento e, com Odete Amaral na EMI-Odeon o samba "Tempos idos", parceria com Carlos Cachaça. Ainda nesse ano, "As rosas não falam" foi regravada por Valdir Azevedo, João Maria de Abreu, Joel Nascimento e Fagner. Também no mesmo ano, Elizeth Cardoso gravou "Acontece", na Copacabana e Odete Amaral ""Alvorada", na Emi-Odeon. Também em 1978, apresentou-se em seu primeiro show individual, "Acontece", título de uma de suas músicas de maior sucesso, gravada por Gal Costa em 1974, e por Caetano Veloso na década de 1980. Durante a apresentação no Ópera Cabaré, em São Paulo, no mês de dezembro, o show foi gravado ao vivo, por iniciativa de J.C. Botezelli, mais conhecido como "Pelão" - o responsável pelo primeiro disco de Cartola, lançado pela Marcus Pereira. Esse registro ao vivo só sairia em LP dez anos após a morte do compositor.

Em 1979, lançou na RCA o LP "Cartola 70", também foi produzido por Sérgio Cabral, no qual interpretou seus sambas "Feriado na roça", "Fim de estrada", "Enquanto Deus consentir", "Dê-me graças, senhora", "Evite meu amor", "Bem feito" e "Ao amanhecer", além de "O inverno do meu tempo" e "A cor da esperança", com Roberto Nascimento; "Ciência e arte" e "Silêncio de um cipreste", com Carlos Cachaça; "Senões", com Nuno Veloso e "Mesma estória", com Elton Medeiros. Aina nesse ano, Nelson Gonçalves e Emílio Santiago regravaram "As rosas não falam". Em fins de1979, participou de um programa na Rádio Eldorado, de São Paulo, no qual contou um pouco de sua vida e cantou músicas que andava fazendo. Essa entrevista foi posteriormente lançada em LP, nos anos 1980, e depois em CD, com o nome "Cartola - Documento Inédito".

Em 1980, a cantora Beth Carvalho, gravou "As rosas não falam", um dos carros-chefe de seu repertório e, "Consideração", com Heitor dos Prazeres. Com Nelson Cavaquinho, uma outra legenda entre os compositores ligados à Mangueira, compôs apenas "Devia ser condenada", gravada pelo parceiro no disco "As flores em vida", produzido pelo poeta Paulo Cesar Pinheiro, em homenagem a Nelson Cavaquinho, na década de 1980. Em 1981, Artur Oliveira concluiria o samba "Vem", que Cartola deixara inacabado, e seu livro escrito juntamente com Marília Trindade Barboza, a biografia "Cartola, os tempos idos" seria lançado pela Funarte, em 1983. No ano seguinte, também pela Funarte, sairia o LP "Cartola, entre amigos". Ainda na década de 1980, a gravadora Som Livre produziu o disco "Cartola -Bate outra vez", onde intérpretes dos mais variados estilos, como Gal Costa, Cazuza, Luiz Melodia, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, entre outros, interpretam algumas de suas composições. A cantora Marisa Monte viria a incluir em seu repertório o lundu "Ensaboa", composto em 1975 e gravado pelo compositor em seu segundo LP.

A cantora Claudia Telles, filha de Silvinha Telles, um dos ícones da Bossa Nova lançaria, em 1995, um CD no qual interpreta composições de Cartola e Nelson Cavaquinho. Em 1997, a Editora Globo lançou o CD e o fascículo Cartola, na Coleção "MPB Compositores" (Nº 12). No ano seguinte, Elton Medeiros e Nelson Sargento gravaram o CD "Só Cartola", que lançaram em shows bastante aplaudido em casas noturnas como o Mistura Fina, no Rio de Janeiro. Elton Medeiros também se apresentou com a cantora Márcia no espetáculo "Cartola 90 anos", que resultaria em CD lançado pelo SESC/SP, ainda em 1998. No mesmo ano, o grupo Arranco (ex- Arranco de Varsóvia) lançou o CD "Samba de Cartola", pela Dubas, gravadora criada pelo letrista Ronaldo Bastos.

Em 2001, a RCA Victor, comemorando 100 anos, lançou em CD o disco "Cartola - Verde que te quero rosa". Nesse ano foi fundado o Centro Cultural Cartola tendo por base a obra do compositor. No ano seguinte, o cantor Ney Matogrosso lançou em show no Canecão o CD "Cartola" com repertório todo dedicado ao compositor da Mangueira.

Em 2003, sua neta descobriu numa pasta vários letras inéditas que deverão ser musicadas por antigos parcerios e lançadas em CD. Ainda em 2003, a cantora Beth Carvalho lançou o CD "Beth Carvalho canta Cartola", coletânea de vários sucessos do sambista mangueirense por ela interpretados em seus discos. Nesse trabalho, produzido pelo crítico musical e escritor Rodrigo Faour, foram incluídas "Camarim", "Consideração", "Motivação", "Cordas de aço", "Acontece" e "O mundo é um moinho", entre outras.

Em 2004, estreou no Centro Cultural Banco do Brasil o espetáculo musical "Obrigado Cartola", de Sandra Louzada, com direção de Vicente Maiolino, contando a vida do compositor e apresentando sambas clássicos como "Quem me vê sorrir", "Sala de recepção" e "Alvorada".No espetáculo o compositor foi vivido pelo ator Flávio Bauraqui. No mesmo ano, foi lançado pela Editora Moderna o livro "Cartola", de Monica Ramalho. Em 2007, foi lançado no Cine Odeon o filme "Cartola - música para os olhos", com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Em 2008, esquecido no ano de seu centenário pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira que ajudou a fundar, foi, no entanto homenageado pela escola de Samba Unidos do Tuiutí com o enredo "Cartola, teu cenário é uma beleza" que ajudou a escola de São Cristóvão a subir para o grupo de Acesso A. Nesse ano, dentro das comemorações pelo seu centenário foi lançado pelo selo Biscoito Fino o CD "Viva Cartola - 100 anos" que incluiu gravações lançadas em outros discos com destaque para os sambas "Todo o tempo que eu viver" cantado por ele próprio, Paulinho da Viola e As Meninas da Mangueira, faixa do disco "Tom na Mangueira", "Festa da Penha" interpretada por Marcos Sacramento, "O mundo é um moinho", cantado por Pedro Miranda e grupo Tira Poeira, e a versão intrumental de "Amor proibido" tocado por Zé Paulo Becker. A única faixa inédita do disco é "Basta de clamares inocência" gravada por Martinália.


Confira demais dados sobre Cartola como Obra, Discografia e Crítica na página do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.


BIBLIOGRAFIA CRÍTICA

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB - A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário biográfico da música popular. Rio de Janeiro; Edição do autor, 1965.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

RAMALHO, Monica. São Paulo: Moderna, 2004.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

SILVA, Marília Barboza da e FILHO, Arthur de Oliveira. Cartols - Os tempos idos. Rio de Janeiro: Funarte, 1983.

VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular brasileira - volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.


Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira

Fonte Imagens:
Imagem I - http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/1/1a/Cartola.jpg
Imagem II - http://www.radio.usp.br/imagens/cartola2.pg


Confira também:
Vídeos do Cartola
Crônica Cartola é 100
Deixe-me ir, preciso andar
Cartola Canta em Dois Vídeos
Cartola Versão Surf-Music
Cartola ganha Documentário

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ouça conto de Machado de Assis

Ainda no clima de centenário da morte de Machado de Assis, o Música&Poesia apresenta para este final de semana uma agradável dica que servirá igualmente para aqueles que gostam de contos, aos saudosistas das radionovelas e para os admiradores de Machado de Assis, não excluindo àqueles que tem fome de cultura. Trata-se do conto Missa do galo em áudio, interpretado no programa "Categorias Literárias: A Descoberta do Conto", produzido pela Biblioteca Virtual do Estudante de Língua Portuguesa (BibVirt). O programa se propõe a ser um incentivador da leitura "dirigido, especialmente, aos deficientes visuais e tem como objetivo propor uma maneira mais divertida, mais prazerosa de apreciar a leitura, sugerir leituras, sites e muitas dicas para incluí-lo no mundo das letras". O conto está dividido em quatro partes, cada uma com cinco minutos de duração. O áudio completo é de domínio público, todas as partes estão disponíveis para download livre.

Missa do galo, de Machado de Assis



Baixe o programa completo

Fonte: DomínioPúblico


Confira também:

O Ano em que Morreu Machado de Assis
Contos de Machado de Assis pra Baixar
Livro de Machado de Assis completo pra Baixar
Biografia de Machado de Assis
Um Apólogo, conto de Machado de Assis
Conto Completo de Machado de Assis pra Baixar

Crônica Cartola é 100

Crônica escrita por Aldo Gama para o saite Brasil de Fato.

Cartola é 100
Ou como o Guima, numa tarde ensolarada carioca, ajudou o amigo paulista a recontar algumas passagens da história de um dos maiores nomes da música brasileira

por Aldo Gama, da Redação da Agência Brasil de Fato

Encontrei com o João Guimarães – o Guima, não o Rosa – em um bar ali nas proximidades dos arcos da Lapa, numa dessas tardes cariocas de calor sufocante. Enquanto disputávamos um lugar no balcão lotado, o Guima desferiu uma gentil cotovelada em minhas costelas:

– Corre que eu achei uma mesa vagando!

E fomos atravessando o salão, entupido de gente, com ele me rebocando pela camisa enquanto entoava o mantra “com licença, perdão, desculpa, ôpa, obrigado, desculpa...” até uma mesinha perto da janela.

Sentados e acomodados, partimos para os comes e bebes. Ele foi de bolinho de bacalhau, eu pedi de carne. Ele riu e eu mudei de idéia.

– Comer carne aqui é de uma valentia...– completou.

O garçom, que acompanhava a conversa sem muito interesse, concordou com a cabeça.

– Mas diga lá, como vão as coisas em São Paulo.

– Muito trabalho...

– O quê? – Interrompeu – Trabalho em São Paulo? Não acredito!

– Esse estereótipo...

– Tá bom, mas diga lá o que te traz ao Rio.

– Preciso escrever sobre o centenário do nascimento do Cartola. Você chegou a conhecê–lo, não?

– Rapaz, não vou dizer que éramos amigos, mas...

– Ai, não começa com cascata que o negócio é serio.

– Tá bom.

– Ele era da Mangueira, não era?

– As pessoas confundem. Principalmente os paulistas, né? – Provocou. – Ele é um dos fundadores da Escola, mas não é de lá. Ele nasceu no Catete, em 1908, depois foi pras Laranjeiras e só foi morar no Morro da Mangueira aos onze anos de idade.

– Agenor de Oliveira, não é ?

– Na verdade Angenor. Erro do cartório que ele só descobriu quando foi casar com a Dona Zica, em 1964.

– E como é que você guarda essas datas, hein?

– Aprendi apontando o jogo do bicho. – respondeu com um sorriso insano. – Ou foi me preparando pro concurso de Miss Niterói. Sabe Deus...

– E por que Cartola?

– Jovem ainda, trabalhando como ajudante de pedreiro, usava um chapéu coco para proteger o cabelo do cimento. Os amigos chamavam aquilo de cartola e o apelido pegou.

– E quando é que ele vai se envolver com a música?

– Ih, desde menino. Aqui no Rio, o samba...

– Pô, será que eu vou ter que lembrar que você é mineiro?

– Mas carioca de adoção! Chefia, mais uma por favor!

– E a música?

– Olha só: ele já era ligado aos ranchos em Laranjeiras. Um deles era o Arrepiados, que ele gostava tanto que levou suas cores, o verde e rosa, pra Mangueira. Mas também tem o verde e grená do fluminense, então... No Morro, ele participou da criação do Bloco dos Arengueiros, em 1925. Esse foi o embrião do Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.

– Primeira Escola de Samba ou primeira estação da Central do Brasil?

– Aí vai uma imprecisão histórica. Ou justiça poética. Porque a Mangueira não é nenhum nem outro. A primeira escola de samba foi a Deixa Falar, embora a Mangueira tenha sido a primeira a oficializar uma data de fundação, em 28 de abril de 1928. Já quanto à estação de trem, a D. Pedro II é de 1866.

– E o Cartola já era músico profissional nessa época?

– Olha, a carreira dele é, para alguns historiadores, uma metáfora da história do próprio samba, com épocas de sucesso e abandono. Ele teve que parar de estudar cedo. Mal tinha completado o primário quando a mãe morreu e ele teve que trabalhar. Viveu de uma série de biscates, como gráfico, auxiliar de pedreiro... Profissionalização mesmo só pra meados dos anos 60.

– Mas ele já não era famoso antes?

– Ele foi famoso, primeiramente, no Morro, entre os sambistas. Aliás, o primeiro samba-enredo da Mangueira, Chega de demanda, de 1928, é dele. Mas a primeira gravação é de 1929, do Francisco Alves. O Mário Reis passou para ele um samba que tinha comprado do Cartola, Que infeliz sorte, por 300 mil-réis. Aí ele começa a vender outras composições...

– Mas como se sabe que a música era dele?

– Ao contrário de muitos compositores da época, o Cartola vendia os direitos da gravação e não os de autoria. Agora, sucesso mesmo, popular, é em 1933, quando o Francisco Alves lança Divina dama.

– Ele foi contemporâneo de Noel Rosa, não foi?

– Foram amigos, inclusive. Noel passou algum tempo em sua casa e fez a segunda parte do samba Diz qual foi o mal que te fiz, mas não quis assinar, deixando os direitos para o parceiro.

– Mas quando é que ele...

– Ah, você quer saber do nariz?

– Como é que é?

– Nada, nada. Garçom, outra gelada, faz favor!

– Bom mas e o sucesso...

– Ih, mas que mania, rapaz. Vamos com calma. – Disse com a voz já meio amolecida – Não quer saber das mulheres?

– Bom, eu não escrevo para revista de fofoca.

– Ah, paulisssssta! Mas um poeta como esse depende de suas musas, não? Quando a mãe dele morreu, ele tinha uns 15. Abandonou os estudos para trabalhar e começou a conhecer a boemia. Tanto que, lá pelos 17, seu pai o deixa por conta própria. Aí, soltinho, caiu na esbórnia. Bebiba, namoradas... Tanto descuido e acabou doente. A mulher que morava no barraco ao lado do seu acabou por cuidar dele. Deolinda era sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois. Mas uma coisa levou à outra e eles acabaram juntos.

– Sem tiro?

– Aparentemente... Ficaram juntos até a morte dela, em 1947. Mas temos que falar dos anos perdidos também..

– Como assim?

– Em 1946, ele teve meningite e sumiu de cena. A Deolinda cuidou dele e morreu no ano seguinte. Ele então se envolveu com uma mulher chamada Donária. E como o Cartola mesmo disse, largou tudo por ela, a Mangueira, a música, e estava morando no Caju. Aí, em 1952, ele e a Dona Zica se reencontraram. Ele estava na pior, bebendo muito, o nariz...

– Que mania com nariz, rapaz!

– Mas nesse caso faz sentido. O nariz dele parecia uma couve flor por causa de uma doença chamada rosácea.

– Nas fotos ele aparece normal, mas com uma mancha escura.

– É que ele ganhou uma cirurgia do Pitanguy ali pelo começo dos anos 60.

– Mas a Zica começou a namorar com ele em 52...

– Prova de que era amor mesmo. Garçom, mais uma aqui!

– E quando terminam esses anos perdidos?

– Não há uma data precisa, mesmo porque quando ele se junta com a Zica começa a se recuperar, bebendo menos... Voltando pra Mangueira, voltando pra música. Aí, em 1956, ele foi reconhecido pelo Sérgio Porto enquanto lava carros. O Sérgio o ajudou a arrumar um emprego e ele foi voltando, aos poucos, a ficar em evidência.

– Esse Sérgio é o Stanislaw Ponte Preta?

– Isso. Mas tinham outros que não deixavam seu nome ficar esquecido, como o historiador Lúcio Rangel, que o chamava de Divino...

– Como o Ademir da Guia? – Interrompi.

– ...E muitos outros. – Ignorou – Aí, em 1963, ele inaugura o Zicartola, que para muitos é um marco na história do samba, porque contava com apresentações dos melhores sambistas do morro que eram assistidos por uma nova geração. Aliás, Cartola dizia que tinha pago o primeiro cachê do Paulinho da Viola...

– Foi o auge?

– Só o começo. A coisa esquenta mesmo nos anos 70. Muito tardiamente, em 1974, ele lança um disco individual, com uma série de clássicos. O trabalho recebeu prêmios, rendeu vários shows e ele conheceu uma popularidade inédita na carreira. Gravou ainda outros três discos em estúdio.

– Tem aquelas bem manjadas, como a do moinho.

– Rapaz, outro dia eu ouvi na internet, na página da Beth Carvalho, uma gravação do Cartola mostrando As rosas não falam pra ela. Depois ele toca O mundo é um moinho, mas diz que não é pra ela, que ela ia “queimar a música” e tal. Mas ela gravou a primeira em 1976 e foi um super sucesso. Aí a outra ela gravou no ano seguinte e, me parece, funcionou muito bem. Aliás, garçom, mais uma faz favor. E traz um conhaque também.

– Você não tem que voltar pro trabalho?

– O Cartola gostava de beber cerveja com conhaque. Eu acho uma boa escolha. E olha só: ele nasceu no dia que morreu o Machado de Assis... Os dois mulatos, imortais... Mas falando nisso, tem o Sargentelli e as mulatas... É isso, vamos ver as mulatas do Sargentelli!

– Acho melhor irmos...

– Quando o primeiro disco saiu, ele já tinha 66 anos. Morreu em 1980, de câncer. O primeiro disco do Balão Mágico é de 1982...

– Tá ficando tarde. Vamos indo. Garçom?

– Mais uma!

– A conta!

O Guima me olhou contrariado, meio com raiva, meio com sono. E logo já não lembrava de nada. Pagamos a conta e foi minha vez de rebocá-lo até o ponto de ônibus que, por sorte, passou logo.

– O Nélson Sargento disse que o Cartola não existiu, que foi um sonho que tivemos. – Disse quando finalmente sentamos e começamos a chacoalhar rumo a Vista Alegre.

– Você não comeu o bolinho de carne, não é?

– Não. – Respondi.

– Sorte... – Emendou fechando os olhos.


Fonte: AgênciaBrasildeFato

domingo, 5 de outubro de 2008

Escolha seu candidato certo

Não vote nos políticos Caô, Caô!
Este domingo é dia de eleições municipais no Brasil inteiro, não custa lembrar que voto não se vende, não se dá por favor, nem por qualquer motivo fútil. O voto deve ser consciente, leve em conta as propostas e o histórico do candidato. Se estiver sendo coagido, denuncie. Não esqueça, além de olhar para o seu candidato, analise qual o partido a que ele pertence, e não menos importante, saiba os aliados que compõe sua coligação. Pois de nada adianta ser um bom candidato de um bom partido se estiver aliado aos velhos canalhas que sempre tiraram proveito do poder. Aliar-se ao Diabo sempre tem seu preço, um dia com certeza ele irá cobrar.

Candidato Caô Caô - Bezerra da Silva



Candidato Caô Caô - O Rappa e Bezerra da Silva

sábado, 4 de outubro de 2008

Lá vou eu de Novo como um Tolo

Ouça algumas versões da bela canção Retrato em Branco e Preto, de Tom Jobim e Chico Buarque, nas interpretações de Ney Matogrosso, Chico Buarque, João Gilberto, Elis Regina, entre outros.


Retrato em Branco e Preto - Ney Matogrosso




Retrato em Branco e Preto - Chico Buarque



Retrato em Branco e Preto - Tom Jobim



Retrato em Branco e Preto - João Gilberto



Retrato em branco e preto - Elis Regina e Tom Jobim



Retrato em Branco e Preto - Irio de Paula e Phill Woods (instrumental)



Retrato em branco e preto
Tom Jobim - Chico Buarque/1968

Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cór
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto
Volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão
Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O Ano em que Morreu Machado de Assis

Confira vídeo com um pouco do bruxo das palavras, nosso grande escritor brasileiro. Opa, espera aí! Não confunda por falarmos em escritor e aludirmos a bruxo, Paulo Coelho não é o referido aqui. Tá certo, ele tem vaga na Academia Brasileira de Letras, mas o José Sarney, Ivo Pitanguy e Marco Maciel também fazem parte da ABL, até o falecido todo-poderoso Roberto Marinho sentava numa das cadeiras pra tomar chá. A questão é que estamos falando de um dos fundadores da ABL e primeiro presidente da instituição: Machado de Assis. O dia 29 de setembro do presente ano marcou o centenário da morte de Machado de Assis, o que torna esta postagem (e as conseqüentes) um tanto defasada. Porém, o que são três dias numa imensidão de 100 anos!? Nada, não é mesmo!?

Pois então assista o episódio O cronista e seu tempo, do programa GNews Documento, que foi ao ar no dia 14/09/2008, pela GloboNews. Logo após, um vídeo sobre o ano em que Machado de Assis morreu, retirado do saite da Academia Brasileira de Letras dedicado ao escritor. Y.H.

Machado de Assis, o bruxo das palavras - o cronista e seu tempo

O início da vida intelectual e literária do Rio de Janeiro do século XIX, por Machado de Assis. Um retrato da época pelo olhar oblíquo das crônicas, romances e contos do autor. (fonte:
GloboVídeos)


Machado de Assis, o ano em que morreu [arquivo wmv] (fonte: MachadodeAssis.org.br)