quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Glauber pra ver




Di-Glauber e Di Cavalcanti di Glauber

ou assista aqui em:
http://www.tempoglauber.com.br/di2.WMV (versão completa, imagem com mais qualidade, áudio um tanto comprometido)

Ficha Técnica

Título Original: Di - Ninguém Assistirá Ao Enterro Da Tua Última Quimera, Somente A Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!
Não-ficção, curta-metragem, 35mm, colorido, 480 metros, 18 minutos. Rio de Janeiro, 1977. Companhia produtora: Embrafilme; Distribuição: Embrafilme; 1a exibição: 11 de março de 1977, Cinemateca do MAM, Rio de Janeiro; Lançamento: 11 de junho de 1979, Rio de Janeiro (Roma-Bruni, Rio Sul, Bruni-Copacabana, Bruni-Tijuca); Diretor de produção: Ricardo Moreira; Diretor: Glauber Rocha; Assistente de direção: Ricardo (Pudim) Moreira; Fotógrafos: Mário Carneiro, Nonato Estrela; Montador: Roberto Pires; Música: Pixinguinha (Lamento), Villa-Lobos (trecho de Floresta do Amazonas), Paulinho da Viola, Lamartine Babo (O Teu Cabelo Não Nega), Jorge Ben; Locações: Museu de Arte Moderna, Cemitério São João Batista (Rio de Janeiro); Prêmio: Prêmio Especial do Júri - Festival de Cannes/1977; Outros títulos: Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera; somente a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável; e Di-Glauber.Locutor: Glauber Rocha; Textos: Vinícius de Morais (Balada do Di Cavalcanti), Augusto dos Anjos (trecho de Versos Íntimos), Frederico de Moraes (trecho de artigo sobre Di Cavalcanti), Edison Brenner (anúncio da morte de Di)

Elenco

Glauber Rocha (Locutor)
Joel Barcelos
Marina Montini
Antonio Pitanga

Obs: A exibição do filme está interditada pela justiça desde 1979, quando da conceção de liminar pela 7a. Vara Cível, ao mandado de segurança impetrado pela filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti.


COMENTÁRIO
"A morte é um tema festivo pros mexicanos, e qualquer protestante essencialista como eu não a considera tragedya . . Em Terra em Transe o poeta Paulo Martins recitava que convivemos com a morte...etc... dentro dela a carne se devora - e o cangaceiro Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol, morre profetizando a ressurreição do sertão no mar que vira sertão que vira mar...
Matei muitos personagens? Eles morreram por conta própria, engendrados e sacrificados por suas próprias contradições: cada massacre dialético que enceno e monto se autodefine na síntese fílmica, e do expurgo sobram as metáforas vitais.
As armas de fogo, facas e lanças são os objetos mortais usados por meus personagens, mas a rainha Soledad bebe simbolicamente veneno no final de Cabeças Cortadas e os mercenários de O Leão de Sete Cabeças são enforcados. Em Câncer, Antônio Pitanga estrangula Hugo Carvana, assim como Carvana se suicida em Terra em Transe. Em Claro foi usado um canhão para matar um mercenário no Vietnam e dois personagens morrem afogados em Barravento, além das multidões incalculáveis massacradas por Sebastião, Corisco, Diaz, etc.
Filmar meu amigo Di morto é um ato de humor modernista-surrealista que se permite entre artistas renascentes: Fênix/Di nunca morreu. No caso o filme é uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita-trágica condição. A Festa, o Quarup - a ressurreição que transcende a burocracia do cemitério. Por que enterrar as pessoas com lágrimas e flores comerciais? Meu filme, cujo título, dado por Alex Viany, é Di-Glauber, expõe duas fases do ritual: o velório no Museu de Arte Moderna e o sepultamento no Cemitério São João Batista. É assim que sepultamos nossos mortos.
Chocado pela tristeza de um ato que deveria ser festivo em todos os casos (e sobretudo no caso de um gênio popular como Emiliano di Cavalcanti) projetei o Ritual Alternativo; Meu Funeral Poético, como Di gostaria que fosse, lui. . . o símbolo da Vida...
No campo metafórico transpsicanalítico materializo a vitória de São Jorge sobre o Dragão. E, no caso de uma produção independente, por falta de tempo e dinheiro, e dada a urgência do trabalho, eu interpreto São Jorge (desdobrado em Joel Barcelos e Antônio Pitanga) e Di-O Dragão. Mas curiosamente Eu Sou Orfeu Negro (Pitanga) e Marina Montini, dublemente Eurídice (musa de Di), é a Morte. Meus flash-backs são meu espelho e o espelho ocupa a segunda parte do filme, inspirado pelo Reflexos do Baile, de Antônio Callado, e Mayra, de Darcy Ribeiro. Celebrando Di recupero o seu cadáver, e o filme, que não é didático, contribui para perpetuar a mensagem do Grande Pintor e do Grande Pajé Tupan Ará, Babaraúna Ponta-de-Lança Africano, Glória da Raça Brazyleira!
A descoberta poética do final do século será a materialização da Eternidade."


Di (Das) Mortes, GlauberRocha, texto mimeografado, distribuído na sessão do filme em 11 de março de 1977 na Cinemateca do MAM.


Fonte: TempoGlauber


Curiosidades

- A idéia do filme surgiu de uma proposta mútua de homenagens entre o artista plástico e o diretor: Di Cavalcanti teria dito que pintaria Glauber se o diretor morresse antes dele. E que gostaria que o amigo filmasse seus funerais, caso contrário.

- No dia 27 de outubro de 1976, Glauber, que havia acabado de vir da Europa, bateu à porta do fotógrafo Mário Carneiro chamando-o para registrar o velório de Di Cavalcanti.

- Teve uma primeira exibição em 11 de março de 1977, Cinemateca do MAM, Rio de Janeiro.

- O lançamento foi em 11 de junho de 1979, Rio de Janeiro (Roma-Bruni, Rio Sul, Bruni-Copacabana, Bruni-Tijuca).

- Músicas de Pixinguinha "Lamento", Villa-Lobos (trecho de Floresta do Amazonas), Paulinho da Viola, Lamartine Babo "O Teu Cabelo Não Nega", Jorge Ben.

- Locações no Museu de Arte Moderna, Cemitério São João Batista (Rio de Janeiro).

- Título original: Ninguém Assistirá Ao Enterro Da Tua Última Quimera, Somente A Ingratidão, Aquela Pantera, Foi Sua Companheira Inseparável!, o título internacional é Di Cavalcanti e tambem é conhecido como Di-Glauber e Di Cavalcanti di Glauber.

; Textos de Vinícius de Morais (Balada do Di Cavalcanti), Augusto dos Anjos (trecho de Versos Íntimos), Frederico de Moraes (trecho de artigo sobre Di Cavalcanti), Edison Brenner (anúncio da morte de Di).

- Glauber Rocha finalizou seu filme, e no ano seguinte foi premiado no Festival de Cannes, cujo júri era presidido pelo cineasta Roberto Rosselini, amigo de Di Cavalcanti.

- A exibição do filme foi interditada pela justiça desde 1979, quando da conceção de liminar pela 7a. Vara Cível, ao mandado de segurança impetrado pela filha do pintor, Elizabeth Di Cavalcanti.

- De acordo com uma reportagem publicada no jornal O Globo do dia 12 de junho de 1979, dia seguinte à proibição, Di chegou a passar nas sessões das 14h e 16h em alguns cinemas da cidade. Mas às 18h, o oficial de Justiça Walter Coelho Fanti e o advogado de Elizabeth Di Cavalcanti, Eduardo Mattar, chegaram ao cinema Rio Sul, onde haveria projeção com a presença de Glauber e convidados. As latas com o filme foram lacradas e recolhidas ao Museu da Imagem e do Som.

- Chegou a ser exibido duas vezes na televisão, na TVE do Rio, antes de sua proibição, e na Bandeirantes, num especial sobre o diretor, que foi ao ar depois de sua morte.

- Mais de 20 anos depois de ter sua exibição proibida através de uma liminar, o filme pode voltar a ser exibido. Não porque tenha sido liberado, enfim, pela Justiça. Mas simplesmente porque nunca esteve legalmente impedido. O advogado José Mauro Gnaspini defendeu uma tese de mestrado sobre direito autoral na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Segundo Gnaspini - que reconstituiu a ação a partir de fragmentos espalhados por escritórios de advocacia do Rio, pois o processo havia desaparecido do Arquivo Público da cidade - não existem fundamentos jurídicos para a interdição e o filme pode ser liberado, imediatamente, para exibições.

- O filme nunca chegou realmente a ser proibido. A ação ocorreu só contra a Embrafilme. Glauber, que tinha direito inalienável sobre a obra, não sofreu um processo.


Fonte: AdoroCinema

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