O ano de 2006 marcou o centenário do poeta gaúcho Mario Quintana. Para a comemoração secular de Quintana, há dois anos atrás foi lançado um saite especial homenageando o poeta. Lá é possível contemplar poesias, fotos, entrevistas, artigos, bibliografia, áudios, vídeos, entre outras coisas. As poesias recitadas pelo próprio Mario estão entre os itens mais interessantes da página. O Música&Poesia a partir de agora apresenta alguns desses poemas. Pra quem quiser conferir mais é só clicar aqui. Estas poesias também podem ser baixadas (para salvar clique no botão direito do mouse e selecione Salvar Destino Como...)
Ouça os poemas na voz de Mario Quintana no tocador abaixo
Mario por ele mesmo
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Verissimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.
(Texto escrito pelo poeta para a revista IstoÉ de 14/11/1984)
Fonte poesias e texto: Centenário Mario Quintana
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Mario Quintana declamando Mario Quintana
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