FERNANDO COSTA ANDRADE
Luanda
Aqui reside tudo
E todos
Germinam as raízes todas
Aqui está cada um dos braços e dos rostos
Dum só corpo que anda sobre o vento
Navega os céus e toda a geografia
Desde a minha aldeia e do meu povo
Desce o campo refugia-se na cidade
Das ruínas às pontes de margens ansiosas
Tarda o abraço
Demora o dia das horas sucessivas
Sem paragem
No tempo de memórias tristes
Aqui estamos e estaremos
Porque somos
Mais do que pó e húmus
Unida essência dum jardim de vida
Morremos várias vezes no percurso
Mas seremos sempre
Capazes de chegar
à vida
Porque somos todos, somos um
Em cada um
Dos pontos cardeais
Deste país.
NJINGA
Com três palavras granito
Componho o teu poema
Força de penedo
Vontade do silex
Diplomacia rochosa
Do teu reinado
Entre o sólido magma
Defendias sem sabê-lo
Um quadrado imenso
De águas diamantinas
Areias vivas dispersas
Abismos de petróleo ensolarado
E povos
Povos verdes de futuro
Um só azul o berço
Em teu robusto colo
Veludo negro
Mulher de pedra eterna.
Memória
Memória Como se um dia injustamente
Tivesse partido á frente
Para deixar-nos somente a noite
Como se o mar sozinho
Tivesse decidido
Deixar-nos secas areias moribundas
Só porque vergaste o sol, camarada
Para levá-lo contigo
Na tipóia
Não há memória, querido amigo
De Setembro
Ter arrefecido tanto
A Estrada é um Matagal
A estrada é um matagal
Gretado
Não leva ninguém mais
Às minhas referencias
Elas restam
Onde persiste
A memória apunhalada dos meus olhos
Mesmo as pedras tumulares
Dos antigos sobados de Emanha
Não bastam para esquecer
As quarenta labaredas dos seus corpos fechados
No aramazém - forno de zinco
Tábuas de loncha e adobes rebocados
De fora disparava a noite
Aos tambores de combustível
Diante da porta e das janelas gradeadas
Armazém transformado em crematório
Os galos em silencio
Ouviam
Outros galos cantavam a metralha.
Que País
Que país
Que história
Que presente
Que futuro
Ou que passado construímos?
Este que destrói primeiro
E depois sepulta em honra
Cada um dos seus heróis
No esquecimento?
Para Quando ...
Para quando o fim desta mania
De acreditar em sonhos acordados
Impossíveis?
Para quando a manhã de sol
Para quando o nunca
Seja ontem?
Para quando o amanhã
O despertar
Do sempre?
Eis de Repente ...
..... eis de repente
do Lépi a chuva densa
alturas de Nambunagongo
Silongo de Mandume
Chanas que pisei no leste
Maiombe de lendas infindáveis
O ar livre de poeiras dos escombros
Reabre sonhos escondidos na agonia
A velha da tchimanda
Dá o nome de David
E o da Miete
Aos meninos que encontrou
Na estrada
No Tchinguluma
Ouvem-se as abelhas zumbir
Em torno das cores perto do rio
Também viram no Mufupu
Jeremias a cobrir a casa
Com capim novo da chama
Lukau vinda do norte
Trouxe abacates no pano e ofereceu-os
Olhos brilhantes húmidos felizes
Disseram-me hoje
Há folhas verdes outra vez
Nos ramos da loncha da Emanha
Nas mangueiras do salundo
Vozes falam do milho a germinar
No Huma e na Cativa
Passaram os anos em que a morte
Venceu todas as batalhas
Finalmente agora pouco a pouco
Começa a vida a vencer a guerra.
Aqui reside tudo
E todos
Germinam as raízes todas
Aqui está cada um dos braços e dos rostos
Dum só corpo que anda sobre o vento
Navega os céus e toda a geografia
Desde a minha aldeia e do meu povo
Desce o campo refugia-se na cidade
Das ruínas às pontes de margens ansiosas
Tarda o abraço
Demora o dia das horas sucessivas
Sem paragem
No tempo de memórias tristes
Aqui estamos e estaremos
Porque somos
Mais do que pó e húmus
Unida essência dum jardim de vida
Morremos várias vezes no percurso
Mas seremos sempre
Capazes de chegar
à vida
Porque somos todos, somos um
Em cada um
Dos pontos cardeais
Deste país.
NJINGA
Com três palavras granito
Componho o teu poema
Força de penedo
Vontade do silex
Diplomacia rochosa
Do teu reinado
Entre o sólido magma
Defendias sem sabê-lo
Um quadrado imenso
De águas diamantinas
Areias vivas dispersas
Abismos de petróleo ensolarado
E povos
Povos verdes de futuro
Um só azul o berço
Em teu robusto colo
Veludo negro
Mulher de pedra eterna.
Memória
Memória Como se um dia injustamente
Tivesse partido á frente
Para deixar-nos somente a noite
Como se o mar sozinho
Tivesse decidido
Deixar-nos secas areias moribundas
Só porque vergaste o sol, camarada
Para levá-lo contigo
Na tipóia
Não há memória, querido amigo
De Setembro
Ter arrefecido tanto
A Estrada é um Matagal
A estrada é um matagal
Gretado
Não leva ninguém mais
Às minhas referencias
Elas restam
Onde persiste
A memória apunhalada dos meus olhos
Mesmo as pedras tumulares
Dos antigos sobados de Emanha
Não bastam para esquecer
As quarenta labaredas dos seus corpos fechados
No aramazém - forno de zinco
Tábuas de loncha e adobes rebocados
De fora disparava a noite
Aos tambores de combustível
Diante da porta e das janelas gradeadas
Armazém transformado em crematório
Os galos em silencio
Ouviam
Outros galos cantavam a metralha.
Que País
Que país
Que história
Que presente
Que futuro
Ou que passado construímos?
Este que destrói primeiro
E depois sepulta em honra
Cada um dos seus heróis
No esquecimento?
Para Quando ...
Para quando o fim desta mania
De acreditar em sonhos acordados
Impossíveis?
Para quando a manhã de sol
Para quando o nunca
Seja ontem?
Para quando o amanhã
O despertar
Do sempre?
Eis de Repente ...
..... eis de repente
do Lépi a chuva densa
alturas de Nambunagongo
Silongo de Mandume
Chanas que pisei no leste
Maiombe de lendas infindáveis
O ar livre de poeiras dos escombros
Reabre sonhos escondidos na agonia
A velha da tchimanda
Dá o nome de David
E o da Miete
Aos meninos que encontrou
Na estrada
No Tchinguluma
Ouvem-se as abelhas zumbir
Em torno das cores perto do rio
Também viram no Mufupu
Jeremias a cobrir a casa
Com capim novo da chama
Lukau vinda do norte
Trouxe abacates no pano e ofereceu-os
Olhos brilhantes húmidos felizes
Disseram-me hoje
Há folhas verdes outra vez
Nos ramos da loncha da Emanha
Nas mangueiras do salundo
Vozes falam do milho a germinar
No Huma e na Cativa
Passaram os anos em que a morte
Venceu todas as batalhas
Finalmente agora pouco a pouco
Começa a vida a vencer a guerra.
Costa Andrade
Francisco Fernando da Costa Andrade ou simplesmente Costa Andrade, também conhecido por Ndunduma wé Lépi, nome de guerra adotado nos tempos da guerrilha no Leste de Angola, durante os idos anos 60 e 70, é natural do Lépi, localidade situada na atual província Huambo, onde nasceu há 71 anos, em 1936, portanto. Fez os estudos primários e liceais na cidade do Huambo e Lubango. Por razões que se prendiam com a falta de universidades ou outras escolas superiores na Angola colonial, como acontecia na generalidade com os jovens da sua geração, Costa Andrade encontrava-se em Portugal, nas décadas de 40 e 50, com o objetivo de, em Lisboa, realizar estudos de Arquitetura.Com Carlos Ervedosa, foi editor da Coleção Autores Ultramarinos da Casa dos Estudantes do Império, que desempenhou um papel decisivo na divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa, especialmente da literatura angolana.
Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudónimos, sendo o mais recente o heterónimo Wayovoka André. Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo do seu exílio em países como Brasil, Yugoslávia e Itália, onde, além de prosseguir os estudos, desenvolveu uma intensa atividade de conferencista. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos. Entre os vários pseudónimos que usou, destacam-se Africano Paiva, Angolano de Andrade, Fernando Emílio, Flávio Silvestre, Nando Angola. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo. Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se, entretanto, pelo seu número as obras de poesia. Publicou: Terra de Acácias Rubras, (poesia, 1961) Tempo Angolano em Itália (poesia, 1963); Poesia com Armas (poesia, 1975); O regresso e o canto (poesia,1975); O caderno dos Heróis (poesia, 1977); No velho ninguém toca (texto dramático, 1979); Literatura Angolana ( Opiniões), (ensaio, 1980); No país de Bissalanka (poesia, 1980); Estórias de Contratados (conto, 1980); Cunene corre para sul (poesia, 1984); Ontem e Depois (poesia, 1985) Lenha Seca (versões em português do fabulário de língua Umbundu, 1986); Os sentidos da pedra ( poesia, 1989); Falo de Amor por Amar (poesia), Lwini (poesia) com o heterónimo Wayovoka André, Limos de Lume (poesia, 1989); Irritação (poesia, 1996); Luanda -Poema em Movimento Marítimo (poesia) 1997.
Tem colaboração dispersa em várias publicações periódicas. Publicou textos sob vários pseudónimos, sendo o mais recente o heterónimo Wayovoka André. Além de Portugal, fixou residência por longos períodos de tempo do seu exílio em países como Brasil, Yugoslávia e Itália, onde, além de prosseguir os estudos, desenvolveu uma intensa atividade de conferencista. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos. Entre os vários pseudónimos que usou, destacam-se Africano Paiva, Angolano de Andrade, Fernando Emílio, Flávio Silvestre, Nando Angola. A versatilidade de Costa Andrade, confirma-se com a sua já conhecida faceta de artista plástico. Mas tal prova acima de tudo uma personalidade, um escritor, um artista que se encontra em permanente busca de materiais e matérias para o trabalho criativo, avultando na sua história pessoal a arte do compromisso e da ruptura ao mesmo tempo. Da sua bibliografia, em que se inscrevem obras de poesia, ficção e ensaio, destacam-se, entretanto, pelo seu número as obras de poesia. Publicou: Terra de Acácias Rubras, (poesia, 1961) Tempo Angolano em Itália (poesia, 1963); Poesia com Armas (poesia, 1975); O regresso e o canto (poesia,1975); O caderno dos Heróis (poesia, 1977); No velho ninguém toca (texto dramático, 1979); Literatura Angolana ( Opiniões), (ensaio, 1980); No país de Bissalanka (poesia, 1980); Estórias de Contratados (conto, 1980); Cunene corre para sul (poesia, 1984); Ontem e Depois (poesia, 1985) Lenha Seca (versões em português do fabulário de língua Umbundu, 1986); Os sentidos da pedra ( poesia, 1989); Falo de Amor por Amar (poesia), Lwini (poesia) com o heterónimo Wayovoka André, Limos de Lume (poesia, 1989); Irritação (poesia, 1996); Luanda -Poema em Movimento Marítimo (poesia) 1997.
Fonte biografia Costa Andrade: Literatura Angolana
4 comentários:
Poesia de Angola???
http://www.lusofoniapoetica.com
Poesia de Angola!!!
Já li um excelente livro de autor angolano, mas as referências perderam-se no tempo.Hoje, venho me deliciar aqui com a nossa amada ANGOLA.Parabéns! Vanuza
Salve nossos irmãos angolanos!
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