terça-feira, 9 de outubro de 2007

Novas musas do samba


Lucinha Guerra: do cancioneiro popular ao samba árabe

NOVAS MENINAS DO SAMBA
Depois de um longo tempo afastado das paradas musicais, o samba retorna na voz de novos talentos femininos
por Gilberto Tenório

O samba andou deixado de lado nos últimos tempos. Devido às incoerências do mercado musical brasileiro, o gênero perdeu espaço na preferência do povo, especialmente na do público jovem. Porém, um movimento espontâneo, diga-se de passagem, composto essencialmente por mulheres, vem trazendo o ritmo de volta. E não estamos falando de nomes mais conhecidos da MPB, apesar dos lançamentos de Universo ao Meu Redor, disco que Marisa Monte gravou em 2006 e no atual Samba Meu, o mais recente trabalho de Maria Rita. Quem chega agora são novos rostos que, mesmo prestando tributo à tradição, levam o estilo musical para lugares freqüentados pela classe média, invadem as pistas de dança e buscam conquistar a audiência das rádios. E o melhor, é que essas caras estão surgindo em todas as partes do País. O nome de algumas dessas musas: Teresa Cristina, Mariana Aydar, Roberta Sá e Lucinha Guerra.

Essa nova onda sambista saltou para os olhos do País através do Rio de Janeiro. Foi em bairros do centro velho da cidade, como a Lapa, que muitas dessas meninas começaram a mostrar seu talento em shows que privilegiavam o samba como astro principal. Teresa Cristina foi uma das primeiras cariocas a participar desse universo. Hoje influenciada por grandes divas como Aracy de Almeida e Elza Soares, a artista conta que só descobriu o samba tarde. “Eu cresci ouvindo música estrangeira e só redescobri o samba depois de me apaixonar por um disco de Candeia (Antônio Candeia Filho, 1935-1978), de quem cheguei a debochar na adolescência”, confessou em recente entrevista.

A carreira começou em 1997 quando essa ex-manicure e estudante de literatura resolveu se juntar a alguns músicos e fundou o Grupo Semente, cujo nome foi retirado do bar em que ela tocava na Lapa. A turma continua unida e, este ano, lançou o ótimo disco Delicada (2007), onde, além de composições de nomes consagrados como Paulinho da Viola e Caetano Veloso, há também canções de autoria de própria Teresa.



Cruzando a ponte área encontramos Mariana Aydar. Durante a infância, essa jovem paulistana de 26 anos, circulou pelos bastidores da música ao lado dos pais – Bia Aydar, sua mãe, é produtora musical e Mario Manga, o pai, é músico. Sua trajetória teve início em 2000. Em 2004, após anos de estudo no Brasil e na Berklee School of Music, em Boston, morou em Paris por um ano. Lá conheceu Seu Jorge, que a convidou para abrir seus shows na turnê européia. De volta ao Brasil em 2005, passou a investir em seu disco de estréia, Kavita 1 (2006). “Foi o samba que me chamou de volta ao Brasil quando eu morava na França e vivia um momento de indefinição na minha carreira”, diz. Kavita 1 mostra um repertório dinâmico onde o samba ganha uma roupagem mais pop. Sua versão para “Deixa o Verão” (sucesso da banda Los Hermanos) virou hit e levou Mariana a ser indicada ao prêmio de Melhor Artista Revelação no último VMB (premiação musical da MTV). O ponto alto do trabalho, porém, fica por conta das músicas mais “de raiz”, como “Zé do Caroço” que conta com a participação de Leci Brandão – madrinha musical da garota. Mariana prova, portanto, que ao contrário do que já foi chamado, São Paulo não é o túmulo do samba.

Movimento se espalhou pelo Brasil



O boom de cantoras sambistas não está restrito apenas ao eixo Rio-São Paulo. Um dos expoentes dessa nova safra é Roberta Sá. Apesar de radicada no Rio há mais de 15 anos, este jovem talento nasceu em Natal/RN e chegou a participar de uma das edições do famigerado programa global Fama. Não levou o prêmio principal, mas lançou um ótimo disco de estréia, Braseiro (2005). As dez faixas do álbum provam que a artista tinha uma qualidade musical bem superior aos esteriotipados candidatos do concurso. Em 2007, Roberta chegou com o elogiado Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria. Com bom humor, a potiguar canta alguns dos melhores compositores contemporâneos, muitos deles de seu círculo pessoal de relacionamentos como é o caso de Pedro Luís, Moreno Veloso, Junio Barreto e Lula Queiroga. A artista também atualiza clássicos de outras épocas a exemplo de “Cansei de Esperar Você” – canção que ficou imortalizada na voz de Dona Ivone Lara. Entre o presente e o passado, Roberta sabe transitar com maestria.

Da terra do frevo vem a multi artista Lucinha Guerra. A recifense, que teve uma formação erudita, já trabalhou como atriz na Trupe Romançal de Teatro, idealizada pelo então escritor Ariano Suassuna e dirigida pelo artista plástico Romero de Andrade Lima e em várias outras peças e filmes. Porém, a música é o lugar onde a artista se sente completa. “Consigo levar pro palco toda a experiência adquirida na minha vida. Lá sou cantora, atriz, bailarina e percussionista. Me sinto inteira.”, declara Lucinha.

O primeiro disco, Sinhá Pureza e a Moreninha que o Irerê Cantou, foi gravado em 2002 e deu à Lucinha a oportunidade de participar de diversos festivais. Em 2006, lançou seu segundo trabalho, O Samba de Mariazinha, repleto de obras do cancioneiro popular e de parcerias entre a própria Guerra com outros compositores pernambucanos. O disco mostra o talento de Lucinha em interpretar vários gêneros. Para ela não há preconceito quando se trata de música de qualidade. “Se estiver a fim de cantar música árabe, canto mesmo… Samba árabe”, brinca. A artista revela que a influência sambista vem de grandes mestres como Clara Nunes, Cartola e Ataulfo Alves. A personalidade vibrante da cantora só abre espaço para reclamações quando o assunto é o mercado musical do Recife. Segundo ela, as oportunidades de bons trabalhos são escassas. “Me chateia muito a contratação e super valorização de artistas “de fora”, enquanto Recife é uma verdadeira ebulição de gente talentosa precisando trabalhar e merecendo reconhecimento.”, ressalta.

O retorno do samba à mídia evidencia que há espaço para todos os estilos, mesmo que, em muitas vezes, as gravadores insistam em empurrar goela abaixo astros pré-fabricados. As mulheres saem na frente mais uma vez mostrando que a MPB ainda é comandada por elas.


Fonte: RevistaOGrito

Revista O Grito está licenciada sob uma lincença Creative Commons


Ouça Roberta Sá cantando A Flor e o Espinho aqui

Um comentário:

Anônimo disse...

Procurei no Google sobre meninas do samba e acabei caindo aqui.Estava na verdade querendo algo sobre a banda Samba de Rainha.Tem informacoes sobre elas ?