O santo Pixinguinha
por Fredi Vasconcelos
Silêncio... Para ouvir Rosa, Ingênuo, Carinhoso. Todas que um dia ele fez sem palavras para não dar confusão. Cada um que escrevesse sua própria letra. Tanto que os versos, “Meu Coração, Não sei por que, Bate Feliz, quando te vê”, só aconteceram pelo gênio de João de Barro (Braguinha) dezenove anos depois de composta pelo santo Alfredo da Rocha Viana, Pixinguinha.
O próprio autor deixou a música na gaveta por mais de dez anos. "Eu fiz o Carinhoso em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o Carinhoso e encostei. Tocar o Carinhoso naquele meio! Eu não tocava... ninguém ia aceitar". (Para saber mais clique aqui).
Mas o Santo, forma como Vinicius de Moraes e outros amigos referiam-se a Pixinguinha, tinha essa fama merecida por dois aspectos. Pela genialidade, que criou um jeito brasileiro de fazer arranjo, e pela bondade. Segundo história relatada em sua página eletrônica oficial (arquivo PDF), “em 1971, Hermínio Belo de Carvalho produziu um disco intitulado Som Pixinguinha, com orquestra e solos de Altamiro Carrilho na flauta. Em 1971, sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um problema cardíaco, foi também internado no mesmo hospital, mas, para que ela não percebesse que também estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia visitá-la como se estivesse vindo de casa.”
Outra história, contada a mim por Altamiro, foi que um dos grandes problemas de Pixinguinha era que fazia shows e não recebia. Ia viajar para o exterior com seus conjuntos e o empresário sumia com a grana. Em lugar de posar de vítima, fazer escândalo, Pixinguinha compôs uma das mais belas harmonias que já ouvi, o choro Ingênuo, em parceria com Benedito Lacerda, que ganhou letra posterior de Paulo César Pinheiro falando de amor, nada a ver com o motivo original relatado por Altamiro.
Eu fui ingênuo quando acreditei no amor
Mas, pelo menos jamais me entreguei à dor...
Chorei o meu choro primeiro
Eu chorei por inteiro pra não mais chorar
E o meu coração permaneceu sereno
Expulsando o veneno pelo meu olhar...
Ouça aqui a versão instrumental.
Dessas excursões, duas são famosas, de 1922. Uma para Paris, a convite do milionário Arnaldo Guinle. Pixinguinha embarcou com os Oito Batutas, um da dezena de grupos formados pelo maestro. A curiosidade é que os Oito nessa excursão eram 7, porque o baterista J. Thomaz ficou doente pouco antes da viagem. Dos que faziam parte desse conjunto antológico, embarcaram para a França, além da flauta de Pixinga, o violão de Donga (dos maiores que o país já ouviu) e a voz de China (irmão de Pixinguinha que também tocava violão). Prevista para um mês, a temporada prolonga-se de fevereiro a julho de 1922.
De volta ao Brasil para as comemorações do centenário da Independência, logo arrumariam as malas novamente para uma excursão à Argentina, em que os Batutas fariam na RCA Victor local suas primeiras e únicas gravações com a formação original.
Ouça aqui duas dessas gravações Urubu e Ya te Digo, recuperadas dos discos originais pela gravadora Revivendo no CD Pixinguinha no Tempo dos Oito Batutas.
Para completar, dois destaques. Pixinguinha é gênio em qualquer língua, em qualquer raça, mas destaque-se o papel do negro no país do começo dos anos 1900, que foi o primeiro arranjador contratado por uma gravadora internacional no país, a RCA Victor. Pixinguinha faz parte também da turma que também freqüentava a cada de Tia Ciata, no Rio, onde negros migrados da Bahia inventaram o samba.
Mesmo sem toda essa história, nos seus 76 anos de sua vida, compôs uma das mais belas músicas que já se ouviram por esse planeta. Quem passou pelas canções anteriores e não se convenceu, ouça 1 a 0, composta em homenagem a Friendereich, o Pelé antes de Pelé, depois de uma vitória sobre o Uruguai, ou Rosa, sua primeira composição gravada em disco. ainda em 1919. Depois, acreditando ou não em Deus, faça uma prece para o santo, o santo Pixinguinha.
Fonte: RevistaFórum
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sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Pixinguinha, Santo
Postado por Yerko Herrera às 10:52
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