sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Documentário Acompanha Manifestações dos Quilombolas

Documentário interativo retrata a luta dos quilombolas

Agência Brasil


Brasília - O documentário interativo Nação Palmares surgiu a partir de reportagem sobre Linharinho, comunidade quilombola no extremo norte do estado do Espírito Santo. Tenta mostrar a luta dos descendentes dos negros que fugiam da escravidão e se organizaram pelo reconhecimento das terras onde vivem e de seus direitos sociais.

A titulação das terras da comunidade capixaba pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), atualmente em curso, enfrenta contestações de agricultores e da empresa Aracruz Celulose, num debate que envolve, além da população local, políticos regionais e especialistas como historiadores e antropólogos. No especial, o caso é apresentado como um exemplo dos conflitos que o debate mais amplo sobre os quilombos no país tem envolvido.

A reportagem que resultou no especial foi coordenada pelo jornalista Spensy Pimentel, ex-editor de especiais da Agência Brasil. Além de acompanhar manifestações dos quilombolas em Brasília e o debate sobre a legislação que regula as titulações das terras dessas comunidades, ele viajou ao Espírito Santo, onde, junto com o cinegrafista Robson Moura e o fotógrafo Valter Campanato, conheceu Linharinho de perto.

A coordenação-geral multimídia foi do ex-editor executivo dessa área na Agência Brasil André Deak. A realização contou com a participação de diversos profissionais de comunicação. É possível conferir os nomes dos participantes clicando no botão "equipe" do especial.

Em relação ao formato, o documentário é uma evolução do conceito de hipervídeo que já fora utilizado antes pela Agência, com a reportagem Consumo consciente. Organizamos vídeos, textos e fotos que, em conjunto, contam uma história. Ícones surgirão durante a apresentação dos vídeos. Ao clicar neles, outros vídeos e textos aparecerão. Caso queira acessar um conteúdo específico, pode-se acionar os vídeos e textos sob demanda.


Assista ao documentário Nação Palmares aqui

Pixinguinha, Santo

O santo Pixinguinha
por Fredi Vasconcelos

Silêncio... Para ouvir Rosa, Ingênuo, Carinhoso. Todas que um dia ele fez sem palavras para não dar confusão. Cada um que escrevesse sua própria letra. Tanto que os versos, “Meu Coração, Não sei por que, Bate Feliz, quando te vê”, só aconteceram pelo gênio de João de Barro (Braguinha) dezenove anos depois de composta pelo santo Alfredo da Rocha Viana, Pixinguinha.

O próprio autor deixou a música na gaveta por mais de dez anos. "Eu fiz o Carinhoso em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o Carinhoso e encostei. Tocar o Carinhoso naquele meio! Eu não tocava... ninguém ia aceitar". (Para saber mais
clique aqui).

Mas o Santo, forma como Vinicius de Moraes e outros amigos referiam-se a Pixinguinha, tinha essa fama merecida por dois aspectos. Pela genialidade, que criou um jeito brasileiro de fazer arranjo, e pela bondade. Segundo
história relatada em sua página eletrônica oficial (arquivo PDF), “em 1971, Hermínio Belo de Carvalho produziu um disco intitulado Som Pixinguinha, com orquestra e solos de Altamiro Carrilho na flauta. Em 1971, sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um problema cardíaco, foi também internado no mesmo hospital, mas, para que ela não percebesse que também estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia visitá-la como se estivesse vindo de casa.”

Outra história, contada a mim por Altamiro, foi que um dos grandes problemas de Pixinguinha era que fazia shows e não recebia. Ia viajar para o exterior com seus conjuntos e o empresário sumia com a grana. Em lugar de posar de vítima, fazer escândalo, Pixinguinha compôs uma das mais belas harmonias que já ouvi, o choro
Ingênuo, em parceria com Benedito Lacerda, que ganhou letra posterior de Paulo César Pinheiro falando de amor, nada a ver com o motivo original relatado por Altamiro.

Eu fui ingênuo quando acreditei no amor
Mas, pelo menos jamais me entreguei à dor...
Chorei o meu choro primeiro
Eu chorei por inteiro pra não mais chorar
E o meu coração permaneceu sereno
Expulsando o veneno pelo meu olhar...


Ouça aqui a versão instrumental.

Dessas excursões, duas são famosas, de 1922. Uma para Paris, a convite do milionário Arnaldo Guinle. Pixinguinha embarcou com os Oito Batutas, um da dezena de grupos formados pelo maestro. A curiosidade é que os Oito nessa excursão eram 7, porque o baterista J. Thomaz ficou doente pouco antes da viagem. Dos que faziam parte desse conjunto antológico, embarcaram para a França, além da flauta de Pixinga, o violão de Donga (dos maiores que o país já ouviu) e a voz de China (irmão de Pixinguinha que também tocava violão). Prevista para um mês, a temporada prolonga-se de fevereiro a julho de 1922.

De volta ao Brasil para as comemorações do centenário da Independência, logo arrumariam as malas novamente para uma excursão à Argentina, em que os Batutas fariam na RCA Victor local suas primeiras e únicas gravações com a formação original.

Ouça aqui duas dessas gravações Urubu e Ya te Digo, recuperadas dos discos originais pela gravadora Revivendo no CD Pixinguinha no Tempo dos Oito Batutas.

Para completar, dois destaques. Pixinguinha é gênio em qualquer língua, em qualquer raça, mas destaque-se o papel do negro no país do começo dos anos 1900, que foi o primeiro arranjador contratado por uma gravadora internacional no país, a RCA Victor. Pixinguinha faz parte também da turma que também freqüentava a cada de Tia Ciata, no Rio, onde negros migrados da Bahia inventaram o samba.

Mesmo sem toda essa história, nos seus 76 anos de sua vida, compôs uma das mais belas músicas que já se ouviram por esse planeta. Quem passou pelas canções anteriores e não se convenceu, ouça 1 a 0, composta em homenagem a Friendereich, o Pelé antes de Pelé, depois de uma vitória sobre o Uruguai, ou Rosa, sua primeira composição gravada em disco. ainda em 1919. Depois, acreditando ou não em Deus, faça uma prece para o santo, o santo Pixinguinha.

Fonte: RevistaFórum

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Permanência de Gilberto Gil é reivindicada por Artistas Negros

Artistas negros iniciam movimento "Fica, Gil"
por Vermelho
[Quinta-Feira, 29 de Novembro de 2007 às 20:24hs]

"É pena que ele está ameaçando deixar o ministério. Quer só cantar. Isso é muito bonito, mas o mais difícil é o desafio de mudar o que está aí. Fica, ministro!", pediu em seu discurso o escritor, dramaturgo e professor Abdias do Nascimento, de 90 anos. Então, a platéia toda, cerca de 150 artistas, intelectuais e militantes de movimentos negros, iniciou em coro o segundo ato do movimento ''Fica, Gil!'', pedindo em coro a permanência do ministro da Cultura em seu posto.

Gilberto Gil - que assistia na platéia à cerimônia de abertura da 4ª Mostra Internacional do Cinema Negro, na Cinemateca Brasileira, segunda-feira à noite - apenas ouvia, sorria e semicerrava os olhos. "Claro que sou sensível (ao apelo). Mas a intenção é deixar o ministério até o fim do ano que vem. A decisão pode mudar, mas minha intenção é deixar", afirmou o ministro.

Artistas como Tony Tornado, Neuza Borges, Zezé Motta, Maria Alcina, e intelectuais da USP, como o antropólogo João Batista Borges Pereira e professor doutor Celso Prudente: a nata da militância pela conscientização racial compareceu, além de autoridades, como Silvio Da-Rin, secretário do Audiovisual.

Momentaneamente, Gil deixou de ser o dono do palco para misturar-se à platéia, de onde assistiu durante quase três horas a pocket shows, discursos e até enfrentou um início de saia-justa, com o cantor Moacyr Franco. Franco apresentaria um set com algumas de suas músicas. Quando subiu ao palco, disse: "Pena que o ministro já foi embora...".

Mas Gil estava bem ali na primeira fila. "Eu não tinha visto, ministro. Eu, que Deus me perdoe, já fui deputado federal. Político vem, fala e vai embora. Você também já cometeu seus pecadinhos políticos", disse a Gil, que o contestou. Mas, sem microfone, teve de ouvir Moacyr Franco (que, nos anos 1980, foi deputado federal pelo PTB) fazer o seu número meio provocador.


Fonte: Vermelho

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Notas da CartaCapital

Sambista Perfeito

O carioca Arlindo Cruz apresenta-se renovado e revigorado no disco Sambista Perfeito (Deckdisc), o primeiro que lança depois da recente adoção de seu repertório muitas vezes leve e displicente pela cantora Maria Rita. O samba tipo fundo de quintal, que ele ajudou a celebrizar a partir dos anos 80, reaparece forrado de arranjos sofisticados e de vocais esmerados. E a tendência de ampliação dos limites do samba “de raiz” intensifica-se na eleição de um rol de convidados que parte das velhas-guardas da Portela e do Império Serrano, passa pelo samba “moderno” de Zeca Pagodinho, Xande de Pilares e Grupo Revelação e testa atalhos nas musicalidades de Maria Rita (na romântica O Que É o Amor) e de Marcelo D2 (no rap-samba O Brasil É Isso Aí).

por Pedro Alexandre Sanches


A ZONA DA MATA E O FUTURO

Desde os tempos em que conduziu o grupo Mestre Ambrósio, nos anos 90, o músico e compositor recifense Siba tem plugado um amplificador na música da Zona da Mata pernambucana. Toda Vez Que Eu Dou um Passo o Mundo Sai do Lugar (do selo Ambulante Discos, distribuído pela Brazilmúsica!) leva a proposta a níveis de excelência, entre cirandas, maracatus e frevos gravados com precisão e nitidez incomuns.

Trata-se do segundo álbum de Siba à frente do grupo A Fuloresta, formado por músicos “de raiz” do município de Nazaré da Mata, como Biu Roque, Cosmo Antônio e Galego do Trombone. As composições são do artista, mas enraizadas nos saberes populares, como demonstram faixas como Bloco da Bicharada e A Velha da Capa Preta. No mais, o trunfo do CD está na conexão que Siba promove entre células musicais originais, como a de A Folha da Bananeira, composta e cantada por Biu Roque, de um lado, e o que se possa chamar de cultura popular em 2007, de outro.

Nesse último grupo, contam-se a participação da cantora Céu, a parceria com roqueiros da Nação Zumbi, a intervenção discreta do guitarrista cearense Fernando Catatau e as ilustrações ao mesmo tempo urbanas e rurais dos grafiteiros paulistanos Osgemeos, na capa e no encarte.

por Pedro Alexandre Sanches

Fonte: CartaCapital


Ouça Siba em no saite da AmbulanteDiscos e na página Música de Pernambuco

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Adoniran Barbosa: Cronista do Povo

Todo o Dia é Dia
O que merece ser lembrado em 22 de Novembro:

Dia da Música
Adoniran Barbosa foi cronista do povo da capital paulista. Transformava em poesias e canções o falar da rua.


‘TEM QUE SÊ ANARFABETO
PRA ESCREVÊ’

Adoniram Barbosa
Crianças chorando, pessoas juntando pertences. Tratores preparando-se para demolir mais um cortiço. Um lema no ar: “São Paulo precisa crescer”. O progresso provoca desgraça e, da desgraça, nascia um samba:

Si o sinhô não tá lembrado / dá licença de contá / que aqui onde agora está / esse adifício arto, / era uma casa véia / um palacete assobradado. / Foi aqui seu moço, que eu, Mato Grosso e o Joca / construímo nossa maloca, / mas um dia, nóis nem pode se alembrá / veio os home coás ferramenta / o dono mandô derrubá.

Chocado com o despejo, em uma noite Adoniran Barbosa compôs Saudosa Maloca, gravado em 1955 pelos Demônios da Garoa. O grupo lançou ainda: Samba do Arnesto, Apaga o Fogo Mané, Abrigo de Vagabundos, Mariposa, Pafunça e, em 1965, Trem das Onze, um estouro. A coroação de Adoniran como grande sambista.

Nascido João Rubinatto, Adoniran cantou em rádios paulistanas, atuou como radioator, lançou programas em parceria com o amigo e produtor Oswaldo Molles. Em 1946, encarnava 16 personagens em seus programas na Rádio Record.

Adoniran morreu em 22 de novembro de 1982. Cronista do povo da capital paulista, todo dia percorria ruas e bairros. Conversava com personagens anônimos, descobria histórias. Anotava tudo. Transformava em poesias e canções, reproduzindo expressões, o falar da rua. Dizia:

“Pra escrevê uma boa letra de samba a gente tem que sê em primeiro lugá anarfabeto.”

Mas alertava:

“Falar errado é uma arte. Se não, vira deboche.”


Fonte: AlmanaqueBrasil

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Saudosa Maloca - Originais do Samba
Saudosa Maloca - Originais do Samba

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Elo entre Tim Maia, Nasi e Marisa Monte

O que une artistas tão distintos como Marisa Monte, Tim Maia e Nasi (ex-vocalista do Ira!)?

- O que me importa.

Bom, se realmente essa foi sua resposta porque não tá nem aí pra essa pergunta tão esdrúxula e não se importa de maneira nenhuma com essa informação, não é que você acabou acertando! Pois sim, é justamente a música O que me Importa o elo incomum entre os três.

Tim Maia, em 1972, no seu terceiro disco, gravou a versão mais sentimental e melancólica da música de Cury Heluy, canção que poderia ter sido gravada por Roberto Carlos no começo dos anos 1970. O Ira! registrou sua versão em 1999, no Isso é Amor - álbum de releituras de canções de outros compositores, onde Nasi interpretou-a com sua voz grave sem perder a sensibilidade imposta pela letra. Já em 2000, foi a vez de Marisa Monte emprestar toda sua doçura a O que me Importa, no álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor.

Abaixo as três versões pra ouvir. Comente qual a sua preferida.


O que me Importa - Tim Maia



O que me Importa - Ira!



O que me Importa - Marisa Monte



O que me Importa
(Cury Heluy)


O que me importa
seu carinho agora
Se é muito tarde
para amar você

O que me importa
se você me adora
Se já não há razão
para lhe querer

O que me importa
ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
você nem mesmo soube
dar amor

O que me importa
ver você chorando
Se tantas vezes
eu chorei também

O que me importa
sua voz chamando
Se pra você jamais
eu fui alguém

O que me importa
essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar
tem mais tristezas
pra chorar
que o seu

O que me importa
ver você tão triste
Se triste fui
e você nem ligou

O que me importa
o seu carinho agora
Se para mim
a vida terminou

Clarice Lispector, Escritora “Indigesta”

Clarice Lispector: uma escrita indigesta
Em Clarice, os traços convencionais da narrativa são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros.

por Pedro Marques

“Mas que mulher indigesta, indigesta! / Merece um tijolo na testa”. Com essas palavras, Noel Rosa (1910-1937) abre um de seus tantos sambas que imprimiram a crônica de toda uma época. Muito mais que a opinião individual, a letra de Mulher indigesta (1932) expressa a posição comum à sociedade dos anos 30. Embora o movimento feminista crescesse pelo menos desde a década de 1910 e a mulher brasileira tivesse conquistado o direito ao voto nesse mesmo ano de 1932, as regras do jogo eram dirigidas pelos homens. Noel, assim, apenas deixa ecoar um machismo que, se dava mostras de abrandamento, mantinha a velha estrutura patriarcal há séculos comprimindo os anseios da individualidade feminina. A voz poética da canção –é verdade que em tom de zombaria – sublinha o esforço, às vezes automático de tão enraizado na cultura, de manter a mulher em seu lugar de dominada.

Clarice Lispector (1925-1977) surge como presença feminina e escritora “indigesta” em pelo menos duas acepções do termo. Em princípio, chamamos de “indigesto” algo que não se pode digerir com facilidade ou que, concretamente, causa indigestão. Ao lado de Cecília Meireles (1901-1964), Rachel de Queirós (1910-2003) ou Lygia Fagundes Telles (1923-), Clarice contribuiu para que a mulher passasse a desempenhar papéis antes quase exclusivamente exercidos pelos “homens de letras”. Como jamais visto no Brasil, cada uma a seu feitio, essas quatro estrelas levaram o sexo já não tão frágil assim ao sucesso no mercado editorial, no jornal, na crítica, na Academia Brasileira de Letras e no imaginário público. Tiveram o mérito de abrir os portões da profissão de escritor e de formador de opinião para a personalidade feminina.


Papéis masculinos e femininos

Esse movimento em direção à voz própria foi, porém, lento e paciente. Para uma sociedade e um público leitor regidos pelos valores masculinos, era difícil engolir os sentimentos daquelas antes vistas apenas como dona de casa, esposa, mãe, objeto de desejo e, quando muito, professorinha primária. Mesmo as senhoras e as moças, às vezes pareciam mais machistas que os rapazes. Como absorver as entranhas ou os gritos há muito tempo presos no seio feminino? Não faltaram, evidente, iniciativas para calar o jorro expressivo de escritoras, de intelectuais, de militantes e de mulheres anônimas como a personagem de Noel Rosa. Na penúltima estrofe, o eu lírico procura coibir a fala feminina mediante a ameaça por violência física: “E quando se manifesta / O que merece é entrar no açoite / Ela é mais indigesta do que prato / De salada de pepino à meia-noite”.

Exprimir-se como mulher foi gesto natural para Clarice, mas também um ato de conquista talvez até pouco planejado por ela. O normal era escrever como homem. Numa curiosa inversão, quem imaginaria que, anos depois, compositores como Chico Buarque (1944-) e, sobretudo, Gonzaguinha (1945-1991) encarnariam a feição feminina num sem número de canções?

A literatura de Clarice Lispector apresenta, de fato, mulheres clamando pelo ser que lhes é de direito. Em um de seus contos – “Amor”, de Laços de Família (1960) – assistimos ao dia em que uma dona de casa problematiza suas tarefas diárias, incluindo as de mãe exemplar. Para se tornar uma grande dama do lar, Ana calou a sensibilidade. Sua percepção incomum e até artística do mundo não chega a florescer, porque ela desemboca a vida “num destino de mulher”. Entenda-se: uma rotina maquinal, uma função para qual pouco teve escolha e que, de repente, levanta-se contra ela como redoma de vidro asfixiante. No bonde, a visão de um cego mascando chiclete é a motivação para a personagem sair do centro, da mesmice, da vida que “apaziguara tão bem” e “cuidara tanto para que esta não explodisse”.

O grito de liberdade, em vez de loucura ou violência, ocasiona um lirismo sobre-humano. Ao tomar consciência que vive anestesiada em seu cotidiano, Ana redescobre os cinco sentidos sedentos por sensações inusitadas. No parque, na rua ou em casa a realidade macro e microscópica explode a sua atenção. Arguta, Clarice escapa da facilidade de colocá-la apenas como vítima da sociedade machista; a heroína possui, sim, seu doloroso quinhão de responsabilidade. Ao final, o marido afasta Ana “do perigo de viver”, mas é ela quem apaga a esperança de mudança, soprando “a pequena flama” desse dia extraordinário. Na encruzilhada do amor irracional com o burguês, ela escolhe o seguro.


Escrita dura de roer

Assumindo papéis sociais previamente determinados, algumas mulheres de Clarice tentam acordar da anestesia, ainda que – deliberadamente, como Ana – para continuarem na mesma posição. Mas ninguém como Macabéa – personagem principal de A hora da estrela (1977), novela publicada há exatos trinta anos – surge tão inconsciente de sua condição de mulher, de migrante, pobre e proletária explorada. Trata-se de uma virgem de dezenove anos, desafortunada até na aparência, “teleguiada”, “ignorante” e sem fazer “falta a ninguém”. Excluída de uma “cidade toda feita contra ela”, Macabéa é engrenagem substituível na ordem social. Só ganhará alguma transcendência prestes à morte. A narrativa demora a tomar fôlego graças a um narrador que, desejando ser simples e pouco intelectualizado, acaba se exibindo demais. Como não se comover com a desgraça crônica dessa jovem? Desde o nascimento, sua existência é um chute no escuro, sem que ela saiba.

Mesmo a serventia animal de fêmea está interditada para Macabéa. Embora lasciva, ela não serve nem para irradiar sua humanidade, uma vez que possui “ovários murchos como um cogumelo cozido”. Das brutalidades que Macabéa passa a vida a ouvir, nenhuma supera a que termina por negar a própria essência de mulher. Tanto pior que seja proferida por Olímpico, o namorado que supostamente deveria desejá-la: “Você, Macabéa, é um cabelo na sopa. Não dá vontade de comer”.

Em outro sentido, “indigesto” qualifica algo que soe confuso e desconexo. Alguma coisa difícil de entender à primeira vista, podendo, por isso mesmo, aborrecer ou entediar. Parte substancial da produção de Clarice Lispector gera tal sensação, em conexão com certa prosa experimental do século 20. Na trilha de James Joyce (1882-1941), Virginia Woolf (1882-1941) ou Oswald de Andrade (1890-1954), os traços convencionais da narrativa (enredo, personagens, tempo, espaço e ponto de vista) são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos intermináveis de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões nauseantes entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros. Quando comparada, por exemplo, ao estilo compacto de Graciliano Ramos (1892-1953), a linguagem de Clarice pode parecer anormal ou doentia.


Desagregação vertiginosa

No conto “A Imitação da Rosa”, também de Laços de Família, a escritora apresenta Laura. Em lugar de escancarar a personagem central, ficamos cientes do seu passado, de seus desejos e de sua angústia pela fresta da porta. Só alguns pontos do conflito e da ambientação surgem claramente. Quase tudo acontece, como é freqüente em Clarice, num apartamento de classe média carioca. Sabemos objetivamente, ainda, que Laura acabara de atravessar um período de crise psicológica e física. No entanto, é em geral nos longos parágrafos que alguns elementos típicos da narrativa se desestabilizam. Precisamos estar alertas para distinguir o narrador de Laura, ou o passado do presente. Dramatiza-se o conflito de mandar ou não as flores para Carlota quase que em tempo real. O narrador se mistura à Laura, arrastando a escrita em conexão com uma decisão que deveria ser simples. Algumas frases entre aspas representam o monólogo da personagem ou as tentativas de conselho de quem narra. Essa ação enguiçada faz brotar o incômodo no leitor que espera a resolução sem desvios da história. Aqui é preciso calma, porque Clarice desenha essa mulher aos poucos. Pontilhando sua fragilidade, revela aos pedaços seus sintomas sem transformá-la numa caricatura, como às vezes fará com Macabéa.

Essa segunda forma de indigestão, que nada impede vir unida à primeira, aparecerá radicalizada naquela tida como sua grande obra, o romance A paixão segundo G. H. (1964). É quando a individualidade e o discurso narrativo sofrem, como jamais visto em Clarice Lispector, uma desagregação vertiginosa, ao ponto do próprio gênero romanesco ameaçar um colapso em suas mãos. Quanto à existência e aos propósitos femininos, são aqui indagados com amargor terrível: “Minha sobrevivência futura em filhos é que seria minha verdadeira atualidade, que é, não apenas eu, mas minha prazerosa espécie a nunca se interromper”. Em primeira pessoa e se comparando ao um animal repugnante, essa narradora-mulher desce aos infernos de sua condição: “Aquela barata tivera filhos e eu não”.

Fonte: LeMondeDiplomatique

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domingo, 18 de novembro de 2007

Animação baseada em Literatura de Cordel

Confira animação baseada em Literatura de Cordel, A Árvore do Dinheiro. Dirigida por Marcos Buccini e Diego Credidio, ganhou Melhor Animação (Júri Popular) - Animamundi Web 2002.

A Árvore do Dinheiro


Sinopse
A Árvore do Dinheiro é uma animação que procura resgatar a simplicidade e beleza da Literatura de Cordel. Uma arte popular e um dos símbolos mais importantes da Cultura Nordestina.

Gênero Animação
Diretor Marcos Buccini / Diego Credidio
Ano 2002
Duração 5'55''
Cor P&B / Colorido
País Brasil





Filmes, documentários e animações no OutroCine

 - Mostra permanente de cinema

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Poemas Malditos completo pra Baixar

Livro Poemas Malditos, de Álvares de Azevedo, completo pra baixar.

Baixe Poemas Malditos aqui (arquivo pdf)



Vagabundo
Eat, drink and love; what can the rest avail us!
Byron
Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso,
Nas noites de verão namoro estrela;
Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.
Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.
Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada...
Oito dias lá vão que ando cismado
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!..
Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.
O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.
Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
Sinto-me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio;
Não creio no diabo nem nos santos.
Rezo à Nossa Senhora, e sou vadio!
Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.




Álvares de Azevedo
Nome completo: Manuel Antonio Álvares de Azevedo
Pseudônimo: Álvares, M. A.
Nascimento: 12/09/1831 - São Paulo, SP
Falecimento: 25/04/1852 - Rio de Janeiro, RJ
Forma autorizada: Azevedo, Álvares de


Biografia

Alvares de Azevedo (Manuel Antônio A. de A.), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto. Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo; averiguou-se, porém, ter sido na casa do avô materno, Severo Mota. Em 1833, em companhia dos pais, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 40, ingressou no colégio Stoll, onde consta ter sido excelente aluno. Em 44, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II.

Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano. Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses. O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar. Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe. Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das “repúblicas” e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde. Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição. Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título “Se eu morresse amanhã”, que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo. Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado. As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, “tentativa dramática”; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas. Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a Lira dos vinte anos é a única obra de Álvares de Azevedo cuja edição foi preparada pelo poeta. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos.

Fonte: FundaçãoBibliotecaNacional

Fonte Livro: AZEVEDO, Álvares de. Poemas malditos. 3.ed. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1988.

Texto proveniente de:A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro

terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Por uma reforma da lei do direito autoral", afirma Gilberto Gil em artigo

Gilberto Gil em artigo n’O Globo: "Por uma reforma da lei do direito autoral"

por Gilberto Gil*

artigo publicado no jornal O Globo de 11/11/2007

O impacto que as novas tecnologias e o avanço das redes digitais têm causado sobre o Direito Autoral é reconhecido em todo o planeta. Os limites da legislação autoral brasileira ficam mais claros com a novidade digital, mas seus problemas são anteriores ao surgimento da internet. A necessidade de fortalecer o papel do Estado na resolução de desequilíbrios nesse setor estratégico vem crescendo na medida em que a legislação envelhece e os desafios se apresentam.

A dinâmica tecnológica deve nos levar a uma discussão mais estratégica: a necessidade de uma política nacional para os direitos autorais. Como combinar, nesse novo contexto, a legítima proteção aos autores e as inúmeras oportunidades da convergência tecnológica? Como favorecer um sistema nacional de propriedade intelectual moderno, equilibrado e justo face à enorme demanda cultural do país? Como promover uma sociedade menos desigual no acesso à cultura e ao conhecimento?

O debate foi suscitado porque o Ministério da Cultura recuperou seu papel de articular a política cultural autoral, na busca do necessário equilíbrio que os direitos conferidos aos criadores devem ter com os direitos dos cidadãos brasileiros de acesso à cultura e ao conhecimento, bem como com o direito daqueles que investem na cultura, os chamados “investidores culturais”.

O Brasil ainda não consolidou seu marco autoral na proteção aos criadores, que ficam fragilizados nos contratos que lhes são impostos. O modelo regulatório autoral deve buscar garantir aos criadores o legítimo retorno pelo bem-estar que propiciam à sociedade. Entretanto ainda são muitos os desequilíbrios: a diferença de poder econômico entre criadores e investidores; a perda de controle das obras pelos seus próprios criadores; a insatisfação geral com a repartição das receitas e benefícios. O poder público deve promover a maior transparência na gestão das entidades arrecadadoras, apoiar a modernização da gestão coletiva (feita sempre por entidades brasileiras) e desenvolver outros meios de produção e repartição dos benefícios econômicos a partir de obras protegidas por direito autoral. Alguns defendem o uso dos DRMs — software para inviabilizar cópias de arquivos — como forma de proteger autores de cópias não autorizadas na internet. São soluções ineficientes, onerosas e com crescente rejeição nos países desenvolvidos. Além disso, restringem a inovação tecnológica e os direitos básicos dos cidadãos para reproduzir obras com fins legítimos.

Nossa lei não diferencia cópia comercial de cópia privada: ao copiar um arquivo para um tocador de MP3 estamos, todos, cometendo uma ilegalidade. No Brasil, o que temos de parecido com o mecanismo legal norte-americano de “uso justo” de obras protegidas é bastante limitado. Boa parte dos estudantes brasileiros comete ilegalidade ao produzir cópias de livros para sua formação educacional. O monopólio que foi concedido para o autor em relação à sua criação foi uma conquista histórica, mas teve a sua contrapartida nas cláusulas de limitações e exceções, que permitem a cópia de trechos de obras audiovisuais, de um livro, ou mesmo de uma música, sem que isso signifique uma violação do direito de autor. Essas cláusulas, no Brasil, estão entre as mais restritivas do mundo.

Por isso, precisamos debater a modernização do sistema legal e o fortalecimento do poder público na supervisão e na promoção desses vários equilíbrios. A presença do Estado na seara autoral nesses moldes é o que ocorre na imensa maioria dos países do mundo. Nesse sentido, o Ministério da Cultura — e diversos parlamentares ligados ao tema — está empenhado em promover a mais ampla discussão que vai embasar a atualização da lei. O I Fórum Nacional de Direitos Autorais será realizado em 2008, envolvendo autores, entidades, empresários e sociedade civil.

Sozinho, o poder público não pode implementar uma estratégia ampla para o setor. Há um grande desafio de inovação para o setor cultural. O modelo do Creative Commons não é uma política de Estado e nem uma iniciativa inventada pelo MinC, mas um movimento cultural mundial relevante, onde os autores, conscientes de seus direitos, distinguem usos com finalidades comerciais e não comerciais. Aproveitam ao máximo o potencial de divulgação da convergência tecnológica e se beneficiam dela. Tais licenças alternativas não resolvem todos os problemas da área autoral e podem não se adequar a todos os criadores, como, por exemplo, o compositor que não é intérprete. Para eles, naturalmente, é preciso resguardar a utilização das ferramentas tradicionais do direito autoral. No entanto, para aqueles que se iniciam na área cultural tais licenças podem ser benéficas na construção de suas carreiras.

O Ministério da Cultura participa com outros ministérios na política de combate ao crime organizado, e aos núcleos que lideram a organização da pirataria no Brasil. Combinada à repressão, o governo tem dado grande ênfase a medidas educacionais, econômicas e de combate à desigualdade. O desafio é trazer para a formalidade a distribuição de bens culturais, gerando emprego e renda.

São desafios dos séculos XX e XXI. Sem perder tempo, o Brasil investe hoje na infra-estrutura material (estradas, energia e portos, através do PAC) e nas políticas estratégicas para um genuíno salto e reposicionamento na cultura, na tecnologia, na sociedade do conhecimento. Acreditamos que uma legislação autoral equilibrada e moderna é condição para esse salto — assim como um Ministério da Cultura fortalecido na gestão dessa política. Podemos dizer que o edifício autoral poderá novamente erigir-se. Reformas como essa são mais do que necessárias, são inevitáveis.

GILBERTO GIL é músico e ministro da Cultura


Fonte: CulturaLivre


O Música&Poesia apóia incondicionalmente o ministro Gilberto Gil. Inclusive, o blogue Música&Poesia, foi criado justamente com o intuito de promover uma sociedade menos desigual no acesso à cultura e ao conhecimento. Aqui há a valorização e o incentivo, entre outras coisas, do Creative Commons, do Copyleft, do domínio público e de todas as manifestações de Cultura Livre.

Yerko Herrera.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Conheça o Hip Hop Antropofágico do Radiola Santa Rosa

União - Radiola Santa Rosa



Radiola Santa Rosa é um grupo musical formado em 2004 no Guarujá pelo rapper e musico Caio “Dubfones” (24 anos) e o turnitablista DJ Beto (22 anos). Fruto das experiências sonoras que a dupla trabalha desde 2000. Produzindo batidas, criando instrumentais e escrevendo rimas que traduzisse o espírito do grupo. Que passasse uma mensagem positiva para todos, que falasse de uma expansão de consciência e de como isso combate esse mundo que está em pleno caos, como isso combate essa destruição abusiva da natureza e dos animais, e de como isso pode nos deixar bem mais firmes e fortes como seres humanos. Embora a proposta principal seja o hip hop, a idéia é explorar varias tendências artísticas e musicais que consigam revelar as verdadeiras influencias do grupo.

Para detalhar as influencias do Radiola, é uma missão quase impossível, a busca frenética e o consumo voraz de informação fazem com que o hip hop do grupo seja extremamente antropofágico. Beastie Boys, Lee Perry, Mutantes, Beck, Jurassic 5, The Avalanches, Hip Hop old school, Reggae, Dub jamaicano, musica brasileira, Tropicália, lo-fi music, eletrônica, Serge Gainsbourg, Beat generation, poetas concretos, cinema novo, Jazz, Funk e Folk, são só alguns dos ingredientes que o grupo coloca em um caldeirão (no caso toca discos), para fazer o seu prato principal (no caso o primeiro disco), o Disqueria.


Fonte: Saite Oficial da Banda

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Racismo, Crônica de Verissimo

Verissimo denunciou em crônica. Mais de trinta anos depois, pouco mudou.

Racismo (14/5/75)
Luis Fernando Verissimo

- Escuta aqui, ó criolo...

- O que foi?

- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.

- E não existe?

- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...

- Mas aqui existe racismo.

- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.

Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!

- Eu insisto, aqui tem racismo.

- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?

- Não, mas...

- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?

- Eu sei, mas...

- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.

- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.

- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.

- Mas isso é racismo.

- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.

- Sim, mas...

- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.

- Pois é, mas...

- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.

- Pois então. O ...

- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.

- Mas...

- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.

- É, mas...

- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.

- Sim, mas...

- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.


Fonte: PortalLiteral

Produções Independentes de TV podem receber Financiamento

A partir de hoje, produções independentes de TV podem receber financiamento do BNDES
por Alana Gandra


Rio de Janeiro - Uma mudança nas regras de apoio ao audiovisual possibilita a partir de hoje (6) que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financie também produções independentes de televisão com recursos não-reembolsáveis que podem chegar a R$ 6 milhões por ano.

A medida abrange a realização de filmes de ficção, documentários e desenhos animados que tenham distribuição e exibição asseguradas em emissoras de televisão nacionais e estrangeiras, mediante co-produções internacionais.

A chefe do Departamento de Economia da Cultura e Serviços do BNDES, Luciane Gorgulho, disse que o banco já apoiava o setor de cinema há alguns anos, mas o segmento de TV não tinha uma política específica.

"Hoje a gente entende que as produções independentes de TV são bastante importantes. Então, a gente estendeu o apoio via Lei do Audiovisual também para o setor de TV, mas de forma diferenciada do Edital de Cinema”.

Anualmente o BNDES destina R$ 12 milhões para o financiamento de projetos de cinema por meio do Edital de Seleção Pública.

No caso das produções de TV, por orientação da Associação Brasileira de Produtores Independentes, o foco do banco neste primeiro momento será para projetos que já tenham acordos de co-produção internacional.

“Hoje há cerca de 70 projetos que o Brasil firmou com outros países, e não consegue levantar a parte brasileira desses recursos. Então, o BNDES desenvolveu essa modalidade de apoio que visa suprir essa lacuna”, disse Gorgulho.

Segundo ela, os projetos incluem principalmente documentários e filmes de animação. O Brasil possui acordos de cooperação bilateral para a atividade audiovisual com dez países: Alemanha, Venezuela, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Espanha, Portugal, França e Itália.

Os candidatos ao financiamento devem ser aprovados no âmbito do Programa de Apoio à Cadeia Produtiva do Audiovisual (Procult), que o banco tem disponível desde 2006.

Agora ele foi estendido ao setor de produção televisiva de forma associada a recursos não-reembolsáveis, na proporção de 50% para documentários e de 75% para projetos de animação.

Outra exigência a ser cumprida é ter contrato de co-produção internacional em que a participação da empresa brasileira seja equivalente a no mínimo 40% do orçamento total do projeto.

Há cerca de 12 anos o BNDES apóia o setor de audiovisual. Nesse período, os desembolsos chegaram a R$ 93 milhões para a produção de 284 obras cinematográficas.

O Departamento de Economia da Cultura do banco estuda o apoio à música. O setor já foi incluído no portal de compras pela internet pelo cartão de crédito rotativo para micro e pequenas empresas para a aquisição de equipamentos e insumos.

Fonte: AgênciaBrasil


O conteúdo da Agência Brasil é publicado sob uma Licença Creative Commons Atribuição 2.5. Brasil.

domingo, 4 de novembro de 2007

Assista ao Poema Seco

Seco
Animação baseada em poema de Jorge Salomão. Ministrado pela produtora Kinetoon Produções Cinematográficas, Seco foi elaborado por alunos do curso Educação do Olhar, no Rio de Janeiro, em 2006.

Sinopse
O Poeta reflete sobre sua identidade: ser amplo e contraditório buscando a sua essência.

Seco



Caso ocorra problema com o reprodutor acima Assista Seco aqui em player alternativo

Baixe Seco aqui (arquivo wmv)

ou
Baixe Seco direto da página do Overmundo


Gênero Animação
Diretor Alunos do Curso Educação do Olhar
Ano 2006
Duração 2min
Cor P&B
País Brasil

sábado, 3 de novembro de 2007

Ritmos Latinos de Banda Pernambucana

Na Berlinda
Beleza de banda pernambucana que não tem medo de soar brega. O disco de estréia da Academia da Berlinda já é considerado por alguns críticos como o disco do ano em Pernambuco. Tendo entre seus integrantes músicos de diversas bandas consagradas, o primeiro álbum da Academia traz a benção de caras como China, Fred 04, Jorge DuPeixe, entre outros, que prestam participações especiais. No tocador abaixo pode-se ouvir sete canções da mistura latina da Academia da Berlinda.

Academia da Berlinda



Música na Berlinda

Experimentar com as tonalidades boêmias dos inferninhos de amores correspondidos ou não. Esse é o estilo e o projeto do coração dos oito músicos, com agendas paralelas lotadas, que formam a Academia da Berlinda. A banda vem experimentando, há quase dois anos, novas versões para fazer dançar agarradinho cumbias, guarachas e merengues. A Academia da Berlinda, que nasceu executando um brega original, roots ou clássico, independente de classe social, cresceu e agora acrescenta composições próprias aos shows.
"Música tem classe??", provocam os músicos de Olinda. Então, eles preferem a sofisticação musical das Américas Sul e Central para, sobretudo, divertir. A banda garante, inclusive, que esse deve ser o humor do primeiro disco, que já está sendo planejado.

Influências: Aldo Sena, Pinduca, Kakau Gois, Moreira da Silva, Jackson do Pandeiro, Reginaldo Rossi etc...



http://www.myspace.com/academiadaberlinda


http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/berlinda


http://www.fotolog.com/berlinda

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Ferreira Gullar e Emir Sader faturam Jabuti

Gullar ganha o Prêmio Jabuti pelo livro de crônicas "Resmungos"
por Marcos Strecker
da Folha de S.Paulo


"Resmungos", do poeta Ferreira Gullar, e "Latinoamericana - Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe", organizada por Emir Sader, Ivana Jinkings, Carlos Eduardo Martins e Rodrigo Nobile, foram escolhidos os Livros do Ano (ficção e não-ficção, respectivamente) do 49º Jabuti, o mais tradicional prêmio literário brasileiro. Os prêmios foram entregues ontem à noite, na Sala São Paulo. A distinção rendeu R$ 30 mil a cada um dos dois títulos.

O livro de Gullar, publicado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, reúne as colunas que o autor publicou na Folha em 2005. Gullar dedicou o prêmio a Antonio Henrique Amaral, autor da aquarelas, xilografias, óleo e colagens que ilustram "Resmungos" e as colunas de Gullar na Folha.

Já Emir Sader disse que a premiação era um reconhecimento ao "trabalho coletivo", à "América Latina e ao Caribe" e à "pequena grande editora que é a Boitempo", casa que publicou a enciclopédia. A obra traz 980 verbetes, 1.400 páginas e concentra-se em 50 anos da história do continente.

Compareceram à cerimônia o vice-governador Alberto Goldman, o presidente da Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, a presidente da Câmara Brasileira do Livro, Rosely Boschini, e o curador do prêmio José Luiz Goldfarb.

O vencedor de cada uma das 20 categorias recebeu um troféu, junto com a respectiva editora. Os segundos e terceiros lugares também levaram um troféu Jabuti. Os nomes dos três primeiros colocados em cada uma das seções já haviam sido anunciados em 21 de agosto passado. Carlos Nascimento Silva foi o primeiro lugar na categoria "romance" com "Desengano" (Agir). A lista completa dos vencedores está no site www.premiojabuti.org.br.

Fonte: FolhaOnline