domingo, 11 de fevereiro de 2007

O Mundo Segundo Mautner

Jorge Mautner, o grande artista do Kaos

Ex-membro do PCB e um remanescente do Tropicalismo, Jorge Mautner é o criador de canções como “Maracatu Atômico” e “Lágrima Negra”, além de gravar um álbum com Caetano Veloso chamado “Eu não Peço Desculpa” e ter dez livros publicados.

por Rafael Sampaio – Carta Maior

RIO DE JANEIRO - Henrique George Mautner, mais conhecido como Jorge Mautner, iniciou sua carreira artística em 1958, quase por acaso. “Fui artisticamente descoberto na Revista Diálogo, onde textos meus foram publicados por Paulo Bonfim, Guilherme de Almeida e pelo filósofo Vicente Ferreira da Silva”, afirma ele, em entrevista à Carta Maior concedida durante a Bienal de Arte e Cultura da UNE.

“Filiei-me ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1963 e publiquei minha saudação a Brasília, que é o livro Kaos. Antes mesmo da cidade estar pronta, estive por lá, em 1958 e 1959”, afirma Mautner, que segue como um dos mais vigorosos artistas de sua época.

Premiado com o Jabuti de Revelação Literária, em 1962, pelo livro Dança da Chuva e da Morte, Mautner participou do Tropicalismo, movimento artístico tupiniquim capitaneado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Gal Costa, entre outros. Conhecido pela alcunha de “artista maldito”, Mautner inspirou-se nos hippies e no movimento beatnik para criar, escrever e compor.

Autor de dez livros, como Kaos (1963), Narciso em Tarde Cinza (1965), Vigarista Jorge (1965), Fragmentos de Sabonete (1973), Sexo do Crepúsculo (1982) e Floresta Verde Esmeralda (2002), Mautner ainda é poeta, cartunista, violinista, pianista, compositor, artista plástico, cineasta e cantor. Há três meses, ele lançou uma autobiografia, chamada O Filho do Holocausto, na qual conta detalhes de sua vida que até então permaneceram obscuros.

Seu lado mais famoso é o de compositor musical. Mautner é considerado um dos mais gravados compositores em vida no Brasil. Dentre as suas criações, estão as músicas Lágrimas Negras, gravada por Gal Costa; O Rouxinol e Herói das Estrelas, gravadas por Gilberto Gil; e também Maracatu Atômico, que fez história na década de 70 e retornou como sucesso retumbante na voz e na ginga de Chico Science, morto há exatos dez anos em um acidente automobilístico.

Dentre tantas criações de Jorge Mautner, encontra-se o filme O Demiurgo, considerado por Glauber Rocha como “o melhor filme já feito sobre o exílio”. Gravada em Londres em 1970, esta película reúne diversos artistas expulsos do país, como Jards Macalé, Dedé Veloso, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Leilah Assunção, Roberto Aguilar, Sandra Gadelha e o próprio Mautner, em uma trama chamada pelo artista de “chanchada filosófica”.

Hoje, Mautner mantém o Pontão da Cultura do Kaos, que já visitou 22 pontos em cinco estados do país (São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Norte). As apresentações performáticas de Mautner e Jacobina, montadas com causos, poesias e canções, abordam temas históricos que inspiram novos olhares sobre o mundo. No próximo dia 10 e fevereiro, fará a primeira apresentação do Pontão de Cultura do Kaos de 2007. O evento, aberto ao público, acontecerá às 15h no Instituto Pensarte (Alameda Nothamnn, 1029), e terá a participação do maestro Jacobina e do músico Jean Kuperman.


Leia aqui a entrevista exclusiva que Mautner concedeu à Carta Maior

Ouça algumas músicas do novo CD de Mautner

*Outros viram, participação de Gilberto Gil

Os Pais (ouça no YouTube)

Estilhaços da paixão (ouça no YouTube)

*Não foi possível ouvir no Internet Explorer, a recomendação é o navegador Opera

As canções por Jorge Mautner

ESTILHAÇOS DE PAIXÃO (Jorge Mautner) Esta canção foi composta em l958. Ela é também uma canção de amor, porém muito atormentada e com saudades precoces de um tempo que "passa depressa demais", é interpretada por mim e por Caetano. Quando a ouço, ou interpreto, ela representa para mim uma saudade em chamas e labaredas de lembranças eternas que me ressuscitam a cada instante. A presença de Caetano a tornou sublime e irresvalável!

OUTROS VIRAM (Gilberto Gil-Jorge Mautner) Esta canção é o cerne poético-filosófico deste disco, celebra a grande importância do Brasil e sua cultura para o mundo. Foi composto em Araras na mesma época em que compusemos "Os Pais". Uma canção é irmã da outra. Aqui celebra-se em tom de plenitude e Graça Divina,o país-continente chamado Brasil,aonde " Humanidade vem renascer..." Foi com muita emoção que a compusemos,eu e Gil,sob noites estreladas da serra.na companhia de sua maravilhosa família,e de sua esposa Flora Gil. Ela nos remete para um neo-Ary Barroso,neo-Assis Valente,as citações proféticas de Whalt Withman, Rabindranath Tagore,são impressionantes por sua veemência e veracidade. É a saudação da amálgama, esta amálgama que no dizer de José Bonifácio em l823 nos diferencia de todos os demais paises. Fala no deslumbramento e admiração que esta amálgama produziu em Theodore Roosevelt e que ele identificou com o melting pot e de como a considerou como sendo de máxima urgência a sua adoção pelos USA, esta miscigenação, amálgama, mistura, melting-pot. Gil a interpreta com majestade democrática, com o enaltecimento e a exaltação que vem como carinhos sem fim brotando lá do fundo do coração!

OS PAIS (Gilberto Gil-Jorge Mautner) Essa canção foi composta por mim e por Gil, tanto a letra quanto a melodia, entre o Natal de 2005 e a festa do ano novo de 2006 em Araras. Ela reflete o ponto central da angústia das decisões: maior liberdade, ou maior repressão?

Fonte: www.jorgemautner.com.br

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