quinta-feira, 17 de maio de 2007

Ca.Ge.Be faz rap usando bases da música brasileira

Ca.Ge.Be., um novo patamar para o rap nacional

por Dafne Sampaio

O rap nacional vem colecionando há pouco mais de 20 anos uma série de artistas que elevaram (e ainda elevam) os níveis de qualidade, identidade e popularidade do gênero. Enfim, gente que joga a rima pra frente. A lista é grande, diversa e segue aumentando com uma freqüência cada vez maior: estão em São Paulo, como os Racionais, Thaíde, Rappin Hood, Mzuri Sana, DJ Hum, Z’África Brasil, Mamelo Sound System, Dexter, Negra Li, Helião, Projeto Manada e Elo da Corrente; estão no Rio de Janeiro, como Marcelo D2, BNegão, MV Bill, Gabriel o Pensador, De Leve, A Filial e Black Alien. O rap também começa a sair do eixo como é o caso dos pernambucanos do Inquilinus. Mas o caso aqui é de mais um grupo de artesões das rimas e batidas, os paulistanos do Ca.Ge.Be., que estréiam em CD com o excelente Lado beco (Equilíbrio Discos, 2007). É a turma pegando corpo.

A história, como sempre, é bem anterior. O Ca.Ge.Be. (abreviação de “Cada Gênio do Beco”) foi criado em 1999 e tem como integrantes César Sotaque, Shirley Casa Verde, Branco da 12, André 29 e DJ Paulinho. Todos moradores da Zona Norte de São Paulo, a maioria do Jardim Peri. Já o disco começou a surgir quando César Sotaque conheceu em 2002 o DJ KL Jay (Racionais), dono do selo Equilíbrio Discos. A partir daí começou a produção, sob o comando do DJ QAP (SP Funk), das 18 faixas que levaram pouco mais de três anos para chegar a este disco. Ótima produção, diga-se de passagem.

A surpresa do Ca.Ge.Be. e de seu Lado beco vem tanto das excelentes letras em fluxo quebrado que falam sobre as dores e alegrias da periferia quanto das bases com samplers de artistas nacionais como Tim Maia, Paulo Diniz, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gerson King Combo, Raul Seixas, Aguinaldo Timóteo, Altemar Dutra e Barros de Alencar, entre outros. O discurso do grupo é forte, como tem que ser, mas as melodias trazem violões, pianos, violinos e outras pegadas acústicas que acrescentam sutilezas ao trabalho e uma vontade de construir uma identidade brasileira para o rap. Outro fato impressionante do disco é a regularidade, pois metade das 18 faixas está acima da média de qualquer gênero.

O repertório do disco investe em críticas sociais (“Combustível para viver”, “Lado beco”, “Barracão” e “Erros”) e intimidades (“A gente briga” e “Relacionamento”), sempre com um olho para fora e outro para dentro. Outros destaques do disco são “Ninguém vai te impedir” (um emocionante idílio sobre um fim de semana na periferia), a visceral “Curta vida”, a delicada “Menina” e a espetacular “Missão cumprida” com sua base repleta de violinos. Todos os quatro MCs dão conta do recado, vozes ótimas, mas César Sotaque e Shirley Casa Verde saem na frente com muita personalidade, e o disco traz ainda as participações de Nego William (ex-Vírus), Teto, Hélcio (Comando Criminal), Juarez, Vande (ex-Voz da Zona Norte) e DJ Cabeça (Estilo da Crítica), além do mestre KL Jay nos scratches.

p.s.: Para comprar o disco basta dar um pulinho no bom e velho MUBI.
Fonte: Gafieiras
Ouça algumas músicas do Ca.Ge.Be. no MySpace.
Ouça e baixe o mp3 da música Lado Beco

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