segunda-feira, 14 de maio de 2007

Ouça por completo memorável álbum de Gal Costa

O Instituto Memória Musical Brasileira (IMMUB), que é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, sediada no Rio de Janeiro e voltada para a pesquisa, preservação e divulgação da Música Popular Brasileira, já faz um tempo anda organizando em seu site uma Discografia Básica da Música Brasileira. A cada semana coloca em exibição um disco diferente para que os internautas votem e opinem se ele merece fazer parte dessa seleção. Esta semana o álbum para votação é "FA-TAL GAL A TODO VAPOR", de Gal Costa.

Confira os últimos resultados:

"Elis & Tom" (Elis Regina e Tom Jobim), com 96% dos votos, entrou.
"Quem é Quem" (João Donato), com 60% dos votos, entrou.
"Vivo" (Alceu Valença), com 85,71% dos votos, entrou.
"Nelson Cavaquinho" (Nelson Cavaquinho), com 96,15% dos votos, entrou.
"Pérola Negra" (Luís Melodia ), com 98,04% dos votos, entrou.


Esta semana, em debate:
"FA-TAL GAL A TODO VAPOR"
Gal Costa
(1971) Philips 6349 020/1
Os lanceiros do tropicalismo, Caetano e Gil, ainda estavam exilados em Londres quando Gal Costa fez o show A todo vapor, no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, no Rio, em 1971. Era o auge do desbunde, Gal segurava o estandarte do movimento tropicalista coadjuvada por Waly Salomão (então sob a indentidade psicodélica de Sailormoon), Jards Macalé, Torquato Neto (em sua coluna do extinto jornal Última Hora). Waly dirigiu o show, cuja sigla emblema Fa-tal foi extraída de um poema de seu livro Me segura que eu vou dar um troço, enquanto A todo vapor saiu de sua parceria "Vapor barato", "fase morbeza romântica", com Macalé, incluída no roteiro do show que virou disco. A belíssima canção ressurgiria em 1995, na trilha do filme Terra estrangeira, de Walter Salles Jr., o Terra em transe da era Collor.
Waly ainda criou o conceito gráfico do projeto de palavras/fotos (de Edison Santos e do cineasta Ivan Cardoso) baseado no cinema de Dziga Vertov. Os artistas plásticos Luciano Figeiredo e Oscar Ramos embalaram este precursor álbum duplo gravado ao vivo sob audaciosos cortes e enquadramentos. Ao banquinho e violão, como discípula da bossa ("Coração vagabundo"), mas também cantando Jovem Guarda ("Sua estupidez") e revisitando um dos fundadores do samba, Ismael Silva ("Antonico"), Gal Costa reina no disco no ápice de sua fase de diva marginal. Com o apoio das guitarras do mítico Lanny Gordin (autor dos arranjos) e do novobaiano Pepeu Gomes, sua voz magnífica alterna as tensões acustico-elétrica num repertório sem desperdícios.
Da produção do Caetano exilado ("Como 2 e 2", "Maria Bethânia" e até o frevo carnavalesco "Chuva, suor e cerveja") aos atemporais Geraldo Pereira ("Falsa baiana") e Luiz Gonzaga ("Assum preto", com Humberto Teixeira), o visionário "Charles anjo 45", de Jorge (ainda) Ben, folclore ("Fruta gogóia", "Bota a mão nas cadeiras") e a produção então recém saída do forno de Morais Moreira (Dê um rolê", com Galvão), Macalé ("Hotel das estrelas", com Duda) e Waly ("Luz do sol", com Carlos Pinto) com outros parceiros ou reunidos ("Mal secreto").

Tárik de Souza

Disco: 1

1. Dê Um Rolê
(Moraes Moreira / Galvão)

2. Pérola Negra
(Luis Melodia)

3. Mal Secreto
(Waly Salomão / Jards Macalé)

4. Como 2 e 2
(Caetano Veloso)

5. Hotel das Estrelas
(Jards Macalé / Duda)

6. Assum Preto
(Luis Gonzaga / Humberto Teixeira)

7. Bota a Mão nas Cadeiras
(Tradicional)
Música tradicional baiana

8. Maria Bethânia
(Caetano Veloso)

9. Não Se Esqueça de Mim
(Caetano Veloso)

10. Luz do Sol
(Carlos Pinto / Waly Salomão)


Disco: 2

1. Fruta Gogóia
(Tradicional)
Música tradicional baiana

2. Charles Anjo 45
(Jorge Ben "Jorge Benjor")

3. Como 2 e 2
(Caetano Veloso)

4. Coração Vagabundo
(Caetano Veloso)

5. Falsa Baiana
(Geraldo Pereira)

6. Antonico
(Ismael Silva)

7. Sua Estupidez
(Roberto Carlos / Erasmo Carlos)

8. Fruta Gogóia
(Tradicional)
Música tradicional baiana

9. Vapor Barato
(Jards Macalé / Waly Salomão)

Felipe Tadeu (Jornalista):
Gal Costa cresceu como dedicada aprendiz das artes do feiticeiro zen João Gilberto, mas em Fa-Tal a verdadeira baiana se assumiu também como discípula de outro ícone musical que sacudiu a América, a do norte: a dilacerante Janis Joplin. A canção “Vapor barato”, tatuagem blue que Gal talhou em si mesma numa época em que cantar era deixar sangrar, despontava como um dos ápices do show que ela emplacara em 1972 no Teatro Tereza Rachel (sim, o mesmo templo onde se dariam outros dois espetáculos também mitológicos, o Vou Danado pra Catende, de Alceu Valença e o Volta pra Curtir, de Luiz Gonzaga). Num roteiro extenuante, que lincava o admirável Ismael Silva de “Antonico” à “Sua estupidez”, obra-prima de Roberto e Erasmo Carlos, passando por Jorge Ben e pelo até então inédito Luiz Melodia e sua “Pérola negra”, além de duas preciosas de Caetano, “Como 2 e 2” e “Coração vagabundo”, o Fa-Tal entrou para a história por ser o álbum mais inspirado de Gal Costa, senhora absoluta tanto dos temas plácidos, como dos rocks mais desencapados. Fa-Tal fez de Gal um mito sexual que escancarava os limites da sexualidade no lado de baixo do Equador. Tudo com a cumplicidade do diretor geral Waly Salomão, o cara que escreveu Me Segura que Eu Vou Dar um Troço. Discaço. (S)

Ricardo Schott (Revista Bizz):
Assim como Acabou chorare, dos Novos Baianos (disco com o qual guarda muitas semelhanças, entre as quais o link com João Gilberto), Fa-Tal é o disco que sinaliza que, apesar da ditadura, ser jovem e brasileiro nos anos 70 era bom. Apesar dos (ô clichezinho...) anos de chumbo, era legal estar vivo para ver toda uma movimentação cultural que se iniciava na praia (mais aproximadamente nas Dunas da Gal), para conhecer uma época em que os shows eram tão bons e baratos que os fâs saíam pedindo dinheiro nas ruas para assistir a todas as temporadas (e isso aconteceu igualmente com Gal e Novos Baianos, que dividiam temporadas no Teatro Teresa Rachel, em Copa), para ver uma esquerda brasileira renovada se aproximando (os “desbundados“, que, citando Ana Maria Bahiana, eram os que falavam "eu quero um mundo melhor, mas não do jeito da esquerda tradicional, que tem rigidez austera e devoção a Lênin"). Como souvenir, ainda tem o disco duplo, gravado precariamente, mas com caráter documental inestimável, flagrando a união entre a calma do violão gilbertiano (no primeiro bloco, com canções como "Fruta gogóia" e "Falsa baiana") e a estridência do rock (em "Hotel das estrelas", "Pérola negra" e na amargurada "Luz do sol"), assim como o Led Zeppelin amalgamava folk, blues elétrico e pré-metal. Como link definitivo, "Vapor barato", que, partindo da bossa, mostra o blues acústico virando hard rock. (S)

Marco Antonio Barbosa (Jornal Musical):
Gal Costa, no começo dos anos 70, era nossa Janis Joplin, nossa Aretha Franklin, nossa Tina Turner – figura feminina ímpar no cenário pop brasileiro, forte, contestadora, musical até dizer chega, mas acima de tudo NOSSA. Porque em sua fase de musa tropicalista, Gal não se limitava a emular os ícones importados; ela representava um paralelo bem brasileiro da bagunça que as citadas frontwomen promoviam lá fora. Um paralelo no qual Ismael Silva convivia pacificamente com guitarras distorcidas, e Roberto Carlos se irmanava a Ary Barroso. Fa-Tal não é apenas a melhor polaróide desse período, mas também a última. Logo depois de lançar o registro do antológico show homônimo (originalmente em vinil duplo), Gal redesenharia sua trajetória com o igualmente influente Índia – abrandando sua veia pop e lançando as bases para a intérprete mais contida dos anos posteriores. Não há, porém, contenção em Fa-Tal. Disco de extremos, seja de doçura ("A sua estupidez", "Coração vagabundo", "Antonico"), seja de selvageria ("Dê um rolê", "Hotel das estrelas"), este álbum vasculhava a memória afetiva da cantora e a conjugava com os acelerados e elétricos tempos que a música pop mundial vivia na época. Momento histórico para Gal e para nós. (S)

Tom Cardoso (Jornal Musical):
Era de se esperar que Gal, em plena ditadura militar, com metade dos Doces Bárbaros no exílio, fizesse um disco político, cheio de canções de protestos. Mas seu sangue era tropicalista. Sua revolução era outra: cantar Roberto Carlos, Macalé, Humberto Teixeira e Geraldo Pereira. Gal está soberana, mas o espírito libertário de Fa-Tal ela deve ao diretor geral do disco, Waly Samolão. Cantar coisas do tipo “Não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa”, em pleno AI-5, é de matar qualquer ideologia. (S)
Vá até o site do IMMUB para votar no disco de Gal Costa
Fonte: IMMUB
*Para ouvir, é preciso o Windows Media Player 9 ou 10. Clique aqui para baixar. Ou baixe o Media Player Classic que, além de ser programa de código aberto e livre, é muito menor que o outro e também serve como player de DVD, suporta legendas AVI, formatos QuickTime, RealVideo, entre outros.

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