Los Porongas lançam luz sobre o rock muito longe das capitais
por Marco Antonio Barbosa
Responda rápido: qual foi a última vez em que você ouviu falar em uma revelação musical vinda... do Acre? Nunca ouviu? Tem certeza? "As pessoas costumam se lembrar do João Donato. Quando lembram, né?", disse ao Jornal Musical Diogo Soares, vocalista do grupo (acreano) Los Porongas, no backstage do festival Mada em 2006. A participação da banda no evento realizado em Natal foi o marco inaugural da exposição dos Porongas em nível nacional, uma escalada coroada com o recente lançamento de seu primeiro álbum, homônimo. Apontados de lá para cá como uma das grandes promessas do novíssimo pop nacional, os LP também sinalizam uma nova era no nosso rock. Depois das sucessivas surpresas reveladas em lugares como Brasília e Recife, nos anos 80 e 90 do século passado, centros urbanos ainda mais distantes do eixo Rio-São Paulo não páram de produzir artistas interessantes e vigorosos - que usam as peculiaridades de suas regiões de maneira inteligente, sem recair na macumba para turista.
Poronga, para quem não sabe, é um tipo de lamparina artesanal feita com latas de alumínio e abastecidas a querosene, usadas pelos seringueiros acreanos. "Tem gente que gosta de definir nosso grupo como 'rock amazônico', seja lá o que isso for. Rio Branco é cercada pela floresta e isso nos influencia, mas de uma forma menos óbvia; é mais na poética do que na sonoridade", explica João Eduardo, guitarrista dos Porongas, que completa a formação junto a Diogo, Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria). "Somos obviamente centrados no rock, mas excercemos a diversidade que a Floresta Amazônica traz na hora das letras". E, de fato, em Los Porongas (Senhor F), o disco, não se ouvem tambores, gritos indígenas ou canto de pássaros exóticos. Um pop-rock que bebe na água do pós-punk oitentista, na versão abrasileirada (Legião Urbana) ou na fonte original (U2, Joy Division). Letras angustiadas ("Anseios temperados com receios/ Paranóias e outras dúvidas / Nada além de esconderijos") e vocais dramáticos espantam qualquer clichê de regionalismo. "Cada um traz suas influências. Eu, particularmente, gosto até de música caipira. Mas todos fechamos em torno de Beatles, Coldplay, Chico Science e Los Hermanos", afirma João Eduardo. Ao vivo, conforme o JM já pôde testemunhar em duas ocasiões, o som básico mas repleto de detalhes instrumentais é acrescido da performance marcante do vocalista Diogo.
Formada em 2003, a banda nunca se fez de rogada por estar na mais distante das capitais brasileiras (ao menos, em relação ao Sulmaravilha). Se não havia lugar para fazer rock em Rio Branco, eles fizeram o próprio espaço, criando no fim de 2004 o Guerrilha Rock Festival, com bandas do Acre e de Rondônia. "Do Guerrilha nasceu outro festival, o Beradeiros, em Porto Velho (RO), cuja primeira edição nós fechamos, em 2005", relembra o guitarrista. Também em 2005 eles organizaram a primeira edição do Festival Varadouro, que - ao convidar os grupos "gringos" Autoramas (RJ) e Vanguart (MT) - trouxe repercussão nacional à cena acreana. Ainda em 2005, lançam o primeiro EP, Enquanto uns dormem, pelo selo local Catraia Records. Isso tudo de lá mesmo, do Acre. "Mais do que a ponte entre o Norte e o 'centro' do Brasil, Los Porongas é a expressão da exuberância musical que, ciclicamente, irrompe das entranhas do país para dar sentido à música enquanto arte, e não apenas produto", afirmou Fernando Rosa, dono do selo Senhor F.
Quatro faixas do disquinho de estréia foram reaproveitadas no álbum, incluindo o mini-hit "Lego de palavra", sob a produção de Phillipe Seabra (vocalista da Plebe Rude e sócio do selo Senhor F). A amizade com o veterano surgiu justamente na edição 2006 do Mada. Segundo João Eduardo, a experiência de Seabra foi fundamental para o som encorpado do disco. "Ele já havia nos ouvido ao vivo e dado uns pequenos toques sobre algumas músicas. Isso empolga qualquer músico ávido por registrar aquilo em que está acostumado ao ouvir ao vivo". O primeiro álbum dos Porongas chega num momento em que a banda já está radicada em São Paulo, após se apresentar ano passado no Mada e no Bananada (GO) e no Festival Laboratório Pop (RJ). E para lançar luz sobre seu som, os Porongas não contam apenas com as lamparinas que inspiraram o nome da banda: usam a internet também. Antes mesmo que algum pirata se aposse do disco, a turma colocou o disco na íntegra para baixar em http://rapidshare.com/files/25207786/Los_Porongas.zip.htm.
Os Porongas não são os únicos nomes vindos de regiões improváveis a se destacar no cenário independente. Se excluírmos as capitais Rio e São Paulo e os pólos pop mais tradicionais como Porto Alegre, Goiânia e Recife, vamos verificar que há novidades saindo de Curitiba (Bonde do Rolê, Charme Chulo), Fortaleza (Montage), Cuiabá (Vanguart), Natal (DuSoutto), Belém (Coletivo Rádio Cipó)... Os festivais independentes já realizados este ano tiveram entre seus destaques bandas como a cearense Quarto das Cinzas (no Abril Pro Rock), a paraense Madame Saatan (que tocou no último Mada), o matogrossensse Macaco Bong (no Recbeat), e o paranaense - de Cascavel - Sebastião Estiva (no Ruído Festival, RJ). Coroando esse agito todo, o festival Grito Rock inverteu o processo e foi onde as bandas estavam. Em fevereiro, nada menos de 15 edições simultâneas do evento foram realizadas em locais tão fora de esquadro quanto Jaú e Mogi das Cruzes (SP), Vilhena (RO), Palmas (TO) e Macapá (AP).
Esse fenômeno foi notado pelo jornalista e agitador cultural Alex Antunes, curador do festival Supernovas, série musical do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. O evento juntou nomes da novíssima geração fora do eixo com medalhões do rock nacional, em parcerias inéditas. No encerramento, os cuiabanos do Vanguart vão tocar com João Ricardo, ex-Secos & Molhados, dia 15. "O que há de mais notável no cenário é que ótimas bandas estão surgindo de locais inusistados: Rio Branco, Cuiabá, Belém. Esse foi o conceito da série - não convidar ninguém do Rio ou de São Paulo", afirmou Antunes, que escalou o Montage, Ronei Jorge (Salvador), Madame Saatan e também os Porongas. O vídeo com a apresentação dos acreanos no Supernovas pode ser baixado em http://rapidshare.com/files/25661524/Los_Porongas_ao_Vivo_-_CCBB.zip.html.
por Marco Antonio Barbosa
Responda rápido: qual foi a última vez em que você ouviu falar em uma revelação musical vinda... do Acre? Nunca ouviu? Tem certeza? "As pessoas costumam se lembrar do João Donato. Quando lembram, né?", disse ao Jornal Musical Diogo Soares, vocalista do grupo (acreano) Los Porongas, no backstage do festival Mada em 2006. A participação da banda no evento realizado em Natal foi o marco inaugural da exposição dos Porongas em nível nacional, uma escalada coroada com o recente lançamento de seu primeiro álbum, homônimo. Apontados de lá para cá como uma das grandes promessas do novíssimo pop nacional, os LP também sinalizam uma nova era no nosso rock. Depois das sucessivas surpresas reveladas em lugares como Brasília e Recife, nos anos 80 e 90 do século passado, centros urbanos ainda mais distantes do eixo Rio-São Paulo não páram de produzir artistas interessantes e vigorosos - que usam as peculiaridades de suas regiões de maneira inteligente, sem recair na macumba para turista.
Poronga, para quem não sabe, é um tipo de lamparina artesanal feita com latas de alumínio e abastecidas a querosene, usadas pelos seringueiros acreanos. "Tem gente que gosta de definir nosso grupo como 'rock amazônico', seja lá o que isso for. Rio Branco é cercada pela floresta e isso nos influencia, mas de uma forma menos óbvia; é mais na poética do que na sonoridade", explica João Eduardo, guitarrista dos Porongas, que completa a formação junto a Diogo, Márcio Magrão (baixo) e Jorge Anzol (bateria). "Somos obviamente centrados no rock, mas excercemos a diversidade que a Floresta Amazônica traz na hora das letras". E, de fato, em Los Porongas (Senhor F), o disco, não se ouvem tambores, gritos indígenas ou canto de pássaros exóticos. Um pop-rock que bebe na água do pós-punk oitentista, na versão abrasileirada (Legião Urbana) ou na fonte original (U2, Joy Division). Letras angustiadas ("Anseios temperados com receios/ Paranóias e outras dúvidas / Nada além de esconderijos") e vocais dramáticos espantam qualquer clichê de regionalismo. "Cada um traz suas influências. Eu, particularmente, gosto até de música caipira. Mas todos fechamos em torno de Beatles, Coldplay, Chico Science e Los Hermanos", afirma João Eduardo. Ao vivo, conforme o JM já pôde testemunhar em duas ocasiões, o som básico mas repleto de detalhes instrumentais é acrescido da performance marcante do vocalista Diogo.
Formada em 2003, a banda nunca se fez de rogada por estar na mais distante das capitais brasileiras (ao menos, em relação ao Sulmaravilha). Se não havia lugar para fazer rock em Rio Branco, eles fizeram o próprio espaço, criando no fim de 2004 o Guerrilha Rock Festival, com bandas do Acre e de Rondônia. "Do Guerrilha nasceu outro festival, o Beradeiros, em Porto Velho (RO), cuja primeira edição nós fechamos, em 2005", relembra o guitarrista. Também em 2005 eles organizaram a primeira edição do Festival Varadouro, que - ao convidar os grupos "gringos" Autoramas (RJ) e Vanguart (MT) - trouxe repercussão nacional à cena acreana. Ainda em 2005, lançam o primeiro EP, Enquanto uns dormem, pelo selo local Catraia Records. Isso tudo de lá mesmo, do Acre. "Mais do que a ponte entre o Norte e o 'centro' do Brasil, Los Porongas é a expressão da exuberância musical que, ciclicamente, irrompe das entranhas do país para dar sentido à música enquanto arte, e não apenas produto", afirmou Fernando Rosa, dono do selo Senhor F.
Quatro faixas do disquinho de estréia foram reaproveitadas no álbum, incluindo o mini-hit "Lego de palavra", sob a produção de Phillipe Seabra (vocalista da Plebe Rude e sócio do selo Senhor F). A amizade com o veterano surgiu justamente na edição 2006 do Mada. Segundo João Eduardo, a experiência de Seabra foi fundamental para o som encorpado do disco. "Ele já havia nos ouvido ao vivo e dado uns pequenos toques sobre algumas músicas. Isso empolga qualquer músico ávido por registrar aquilo em que está acostumado ao ouvir ao vivo". O primeiro álbum dos Porongas chega num momento em que a banda já está radicada em São Paulo, após se apresentar ano passado no Mada e no Bananada (GO) e no Festival Laboratório Pop (RJ). E para lançar luz sobre seu som, os Porongas não contam apenas com as lamparinas que inspiraram o nome da banda: usam a internet também. Antes mesmo que algum pirata se aposse do disco, a turma colocou o disco na íntegra para baixar em http://rapidshare.com/files/25207786/Los_Porongas.zip.htm.
Os Porongas não são os únicos nomes vindos de regiões improváveis a se destacar no cenário independente. Se excluírmos as capitais Rio e São Paulo e os pólos pop mais tradicionais como Porto Alegre, Goiânia e Recife, vamos verificar que há novidades saindo de Curitiba (Bonde do Rolê, Charme Chulo), Fortaleza (Montage), Cuiabá (Vanguart), Natal (DuSoutto), Belém (Coletivo Rádio Cipó)... Os festivais independentes já realizados este ano tiveram entre seus destaques bandas como a cearense Quarto das Cinzas (no Abril Pro Rock), a paraense Madame Saatan (que tocou no último Mada), o matogrossensse Macaco Bong (no Recbeat), e o paranaense - de Cascavel - Sebastião Estiva (no Ruído Festival, RJ). Coroando esse agito todo, o festival Grito Rock inverteu o processo e foi onde as bandas estavam. Em fevereiro, nada menos de 15 edições simultâneas do evento foram realizadas em locais tão fora de esquadro quanto Jaú e Mogi das Cruzes (SP), Vilhena (RO), Palmas (TO) e Macapá (AP).
Esse fenômeno foi notado pelo jornalista e agitador cultural Alex Antunes, curador do festival Supernovas, série musical do Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. O evento juntou nomes da novíssima geração fora do eixo com medalhões do rock nacional, em parcerias inéditas. No encerramento, os cuiabanos do Vanguart vão tocar com João Ricardo, ex-Secos & Molhados, dia 15. "O que há de mais notável no cenário é que ótimas bandas estão surgindo de locais inusistados: Rio Branco, Cuiabá, Belém. Esse foi o conceito da série - não convidar ninguém do Rio ou de São Paulo", afirmou Antunes, que escalou o Montage, Ronei Jorge (Salvador), Madame Saatan e também os Porongas. O vídeo com a apresentação dos acreanos no Supernovas pode ser baixado em http://rapidshare.com/files/25661524/Los_Porongas_ao_Vivo_-_CCBB.zip.html.
Fonte: JornalMusical
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