POESIA
POP E ARTE VIRA-LATA
todas por Pedro Alexandre Sanches
Metade poesia, metade relato nas bocas dos próprios participantes, o livro Nuvem Cigana – Poesia & Delírio no Rio dos Anos 70 (Azougue, 224 págs., R$ 36) restaura a trajetória marginal da trupe carioca Nuvem Cigana, uma experiência híbrida de artes gráficas, artes plásticas, teatro, música e, sobretudo, poesia “vira-lata”, de conexão direta com as ruas.
No reexame protagonizado em primeira pessoa por integrantes originais como Chacal, Bernardo Vilhena, Ronaldo Bastos, Ronaldo Santos, Cafi e outros, alguns nexos interessantes se refazem. Quanto à ligação com a música, por exemplo, fica evidente o elo perdido representado pelo coletivo, que nasceu influenciado pelo Clube da Esquina (Nuvem Cigana viraria nome de um sucesso na voz de Milton Nascimento) e terminou influenciando o pop-rock dos anos 80.
Também sobressai a queixa contra o senso comum que costuma dividir os rebeldes dos anos 70 em dois pólos opostos, o dos engajados na luta armada e o dos alienados e “desbundados”. A Nuvem Cigana misturava características dos dois lados, contesta Ronaldo Santos. Como aconteceu a rebeldes de ambos os pólos e também a outros egressos da Nuvem, Ronaldo iria engrossar as fileiras da Rede Globo após a dispersão da trupe.
MÚSICA
GAFIEIRA COLETIVA
Separado anos-luz do espírito da Nuvem Cigana, em termos de tempo, propósitos e métodos, o coletivo carioca Orquestra Imperial estréia em CD com Carnaval Só Ano Que Vem. São 19 músicos de raízes heterogêneas, do veteraníssimo baterista de samba Wilson das Neves aos músicos-produtores “modernos” Berna Ceppas, Kassin, Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Rodrigo Amarante e às cantoras Nina Becker e Thalma de Freitas.
A heterogeneidade se reflete na gafieira pós-moderna (e chique) da Imperial, que ora se aproxima do samba de baile (como em Salamaleque e na provocativa Ereção), ora evoca Los Hermanos (O Mar e o Ar), bossa nova ou soul music, e assim por diante. A identidade coletiva é a meta, mas aqui e ali causa complicação, à medida que borra personalidades individuais em prol de um resultado novo e necessariamente multifacetado. Ainda que distante anos-luz, a memória da Nuvem Cigana se faz presente nisso e em outros detalhes, como nos tons circenses e no fato de a Globo bancar o lançamento, via Som Livre.
CD
Maquinado é apelido e projeto particular de Lúcio Maia, integrante da excelente banda pernambucana Nação Zumbi, que foi ponta-de-lança da integração entre o arcaico e o moderno no pop nos anos 90 com o movimento mangue bit. Mas não chega a ser uma aventura-solo e individualista de Lúcio. Em vez disso, Homem Binário (Trama) é um trabalho coletivo de largo espectro.
Ali, o artista se atira a compor e tocar em parceria, num arco que inclui colegas do coletivo paulistano Instituto, rappers como Speedy e Buia, os conterrâneos pernambucanos Felipe S. (do Mombojó) e Siba e mesmo os parceiros da Nação Zumbi. O resultado é fulgurante.
Salamaleque
Ouça cinco do disco de Lúcio Maia
Fonte músicas Orquestra Imperial: GazetaOnline
Fonte músicas Lúcio Maia: TramaVirtual
Um comentário:
Grande Papoy!!!
Pô, valeu mesmo, cara. Fico muito feliz com comentários como o teu.
Abração, seja sempre bem-vindo!
Yerko Herrera.
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