terça-feira, 31 de julho de 2007

O Regresso do Analista de Bagé

As melhores do Analista de Bagé

Depois das tirinhas 'As cobras' e 'A família Brasil', desenhadas por Luis Fernando Verissimo, e de 'Ed Mort' com traço de Miguel Paiva, 'O analista de Bagé' ganha reedição em cores pela Objetiva, desenhado por Edgar Vasques.

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Clique aqui para ler três histórias do Analista de Bagé no traço de Edgar Vasques.

Onde anda o Analista de Bagé? Não sei. As notícias são desencontradas. Há quem diga que ele se aposentou, hoje vive nas suas terras perto de Bagé e se dedica a cuidar de bicho em vez de gente, só abrindo exceções para eventuais casos de angústia existencial ou regressão traumática de fundo psicossomático entre a peonada da estância.

Lindaura, a recepcionista que além de receber também dava, estaria com ele e teria concordado em dividir o afeto do Analista com uma égua chamada Posuda, desde que eles concordassem em nunca serem vistos juntos em público.

Outros dizem que o Analista morreu, depois de tentar, inutilmente, convencer o marido de uma paciente que banhos regulares de jacuzzi a dois num motel faziam parte do tratamento.

E há os que sustentam que o Analista continua clinicando, na Europa, onde a sua terapia do joelhaço, conhecida como "Thérapie du genou aux boules, ou le methode gaúchô", tem grande aceitação, e ele só tem alguma dificuldade com a correta tradução de "Pos se apeie nos pelego e respire fundo no mas, índio velho" no começo de cada sessão.


Fonte: RevistaIdiossincrasia

sábado, 28 de julho de 2007

Rap de Cabo Verde

Após a apresentação da musa cabo-verdiana Mayra Andrade, o Música&Poesia tem o prazer de divulgar outros talentos de Cabo Verde. Agora é a vez do grupo de rap La-MC Malcriado. De origem cabo-verdiana, os rappers, radicados na França, estão juntos desde 1998. Em 2006 lançaram o disco Nos Pobréza Ké Nos Rikéza, projeto que "pretende alertar as gerações, para o conhecimento real da importância patriótica da luta de Amílcar Cabral" (líder africano que lutou pela independência da Guiné-Bissau e do Cabo Verde, que poucas décadas atrás ainda eram exploradas e colonizadas por Portugal).

O grupo La-MC Malcriado tenta sensibilizar as pessoas para o "grave e evidente problema dos meninos de rua, das carências evidentes e da forma simples que todos podemos usar para o minimizar".

Abaixo dois videoclipes do La-MC Malcriado. O primeiro, Mas Amor, tem a participação da linda Mayra Andrade. O segundo, Nos Pobréza Ké Nos Rikéza, leva o nome do álbum da banda.

Mas Amor - Mayra Andrade e La-MC Malcriado



Nos Pobréza Ké Nos Rikéza - La-MC Malcriado


Ouça outras músicas do La-MC Malcriado em sua página do MySpace

Capa e músicas que compõem o disco da banda cabo-verdiana
1-Nos pobreza Ke nos rikéza
2-Ninguem, ninguem, ninguem
3-Mas amor feat. Mayra Andrade
4-Zeca pistola
5-Batucada feat. Philippe Monteiro
6-Sucrinha feat. Suzanna
7-C'est la mc
8-Iles magnifiques
9-Ka bu inganam feat. Zeca di Nha Reinalda
10-Ka tem problema
11-Menina Bia Lulucha feat. Cesaria Evora
12-Nos é pesado
13-Si bo scrivem feat. Tieley
14-Refugié
15-Malcriado
16-Viva Amilcar Cabral

Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 -2004)

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo


de Obra Poética II, Círculo de Leitores, 1992.

O poema

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

de Livro Sexto, Caminho, 2003

de "Poesia I"

Luar

O luar enche a terra de miragens
E as coisas têm hoje uma alma virgem,
O vento acordou entre as folhagens
Uma vida secreta e fugitiva,
Feita de sombra e luz, terror e calma,
Que é o perfeito acorde da minha alma.


Se
Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.


Noite
Mais uma vez encontro a tua face,
Ó minha noite que julguei perdida.
Mistério das luzes e das sombras
Sobre os caminhos de areia,
Rios de palidez que escorre
Sobre os campos a lua cheia,
Ansioso subir de cada voz
Que na noite clara se desfaz e morre.
Secreto, extasiado murmurar
De mil gestos entre a folhagem
Tristeza das cigarras a cantar.
Ó minha noite, em cada imagem
Reconheço e adoro a tua face,
Tão exaltadamente desejada,
Tão exaltadamente encontrada,
Que a vida há-de passar, sem que ela passe,
Do fundo dos meus olhos onde está gravada.


Jardim Perdido
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão,
A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava,
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.
A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidade e suspensão.
Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.


Às Vezes

Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.
Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.


Pudesse eu

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Pra poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.


Jardim

Alguém diz:
"Aqui antigamente houve roseiras" -
Então as horas
Afastam-se estrangeiras,
Como se o tempo fosse feito de demoras


Fundo do mar

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

de Poesia I, 1944
em Obra Poética I, Caminho, 2ª edição, 1996


"Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa e contista, nasceu no Porto, no seio de uma família aristocrática, e aí viveu até aos dez anos, altura em que se mudou para Lisboa. De origem dinamarquesa por parte do pai, a sua educação decorreu num ambiente católico e culturalmente privilegiado que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em consonância com o seu fascínio pelo mundo grego (que a levou igualmente a viajar pela Grécia e por toda a região mediterrânica), não tendo todavia chegado a concluí-lo.
Teve uma intervenção política empenhada, opondo-se ao regime salazarista (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos) e também, após o 25 de Abril, como deputada. Presidiu ao Centro Nacional de Cultura e à Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Escritores.(…)
A sua actividade literária (e política) pautou-se sempre pelas ideias de justiça, liberdade e integridade moral. A depuração, o equilíbrio e a limpidez da linguagem poética, a presença constante da Natureza, a atenção permanente aos problemas e à tragicidade da vida humana são reflexo de uma formação clássica, com leituras, por exemplo, de Homero, durante a juventude. Colaborou nas revistas Cadernos de Poesia (1940), Távola Redonda (1950) e Árvore (1951) e conviveu com nomes da literatura como Miguel Torga, Ruy Cinatti e Jorge de Sena.
Na lírica, estreou-se com Poesia (1944), a que se seguiram Dia do Mar (1947), Coral (1950), No Tempo Dividido (1954), Mar Novo (1958), O Cristo Cigano (1961), Livro Sexto (1962, Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores), Geografia (1967), Dual (1972), O Nome das Coisas (1977, Prémio Teixeira de Pascoaes), Navegações (1977-82) e Ilhas (1989). Este último voltou a ser publicado em 1996, numa edição de poemas escolhidos acompanhada de fotografias de Daniel Blaufuks. Em 1968, foi publicada uma Antologia e, entre 1990 e 1992, surgiram três volumes da sua Obra Poética. Seguiram-se os títulos Musa (1994) e O Búzio de Cós (1997). Colaborou ainda com Júlio Resende na organização de um livro para a infância e juventude, intitulado Primeiro Livro de Poesia (1993).
Em prosa, escreveu O Rapaz de Bronze (1956), Contos Exemplares (1962), Histórias da Terra e do Mar (1984) e os contos infantis A Fada Oriana (1958), A Menina do Mar (1958), Noite de Natal (1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964) e A Floresta (1968). É ainda autora dos ensaios Cecília Meireles (1958), Poesia e Realidade (1960) e O Nu na Antiguidade Clássica (1975), para além de trabalhos de tradução de Dante, Shakespeare e Eurípedes. A sua obra literária encontra-se parcialmente traduzida em França, Itália e nos Estados Unidos da América. Em 1994 recebeu o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores e, no ano seguinte, o Prémio Petrarca, da Associação de Editores Italianos. O seu valor, como poetisa e figura da cultura portuguesa, foi também reconhecido através da atribuição do Prémio Camões, em 1999. Em 2001, foi distinguida com o Prémio Max Jacob de Poesia, num ano em que o prémio foi excepcionalmente alargado a poetas de língua estrangeira. Em Agosto do mesmo ano, foi lançada a antologia poética Mar. Em Outubro publicou o livro O Colar. Em Dezembro, saiu a obra poética Orpheu e Eurydice (…)"

Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podem ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis.

JL 468, de 25/6/91

A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza.

JL 709, de 17/12/97

quinta-feira, 26 de julho de 2007

A Cultura deve ser Livre para a Evolução da Sociedade

CULTURA LIVRE
Gil defende na Itália que a música deve se tornar livre e compartilhável


Durante turnê internacional, o ministro em férias e músico em exercício aproveita as platéias e a imprensa internacional para difundir a idéia de cultura livre.

Da redação / ANSA

MILÃO - O ministro da Cultura, Gilberto Gil, que está na Itália para apresentações de sua nova turnê mundial Banda Larga, dedicada às novas tecnologias e ao problema de acessibilidade à propriedade intelectual, declarou ontem que "a cultura como um todo e principalmente a música devem se tornar livres e compartilháveis, assim como o software Linux".

Não por acaso, cada concerto da nova turnê é aberto por uma voz que diz: "Pede-se aos senhores espectadores para que filmem e fotografem o show e para que o baixem no site de Gilberto Gil".

"Estamos em uma fase de continua evolução. Não se pode pensar em defender o existente. É necessário procurar novos modelos, novas definições de direitos autorais e novos modos de remunerar os artistas", explicou Gil, que se apresentara depois de amanhã no festival latino-americano de Assago, cidade da província da Lombardia, região norte da Itália. "Não sou eu que digo isso, mas um vasto número de opiniões que aprendi a conhecer, sobretudo quando me tornei ministro e comecei a intermediar os pedidos da sociedade civil e as posições oficiais do Governo, sancionador das leis".

Para compensar as gravadoras e os artistas pela perda dos direitos autorais, procurando também evitar que quem baixa bens de propriedade intelectual pela rede venha a ser acusado de crime, Gil já tem em mente um modelo: "O Linux é um software livre e aberto, para cujo desenvolvimento contribuem milhões de pessoas em cada parte do mundo. Ninguém paga para tê-lo, mas pode-se contribuir para melhorá-lo, tanto que atualmente, nos estúdios de Hollywood, 70% dos computadores utiliza a plataforma Linux para a realização de efeitos especiais, pois se mostra mais confiável".

Perguntado se o mercado musical, uma vez desligado da industria fonográfica e das exigências de lucro, poderá se desenvolver neste caminho, Gil respondeu: "É cedo para dizer, pois vejo os movimentos atuais, e não o futuro. Este depende do quanto será intenso o movimento social que surgirá voltado a essas novas possibilidades".

Para as novas tecnologias, "necessárias para o desenvolvimento e a mudança", Gil dedicou também sua música Banda Larga, cujo videoclipe foi filmado dentro de sua própria casa, com um telefone celular, pelo cineasta Andrucha Waddington, e difundido posteriormente pela internet.

Na cozinha, entre geladeiras cobertas de imãs e amigos reunidos ao redor de uma mesa, o "Ministro da Contracultura" - como foi recentemente definido pelo jornal britânico The Guardian - canta sobre novas tecnologias, internet e YouTube.

Uma música que é um verdadeiro manifesto da cultura digital e da informação democrática, já que, segundo Gil, "como antes necessitávamos de ferrovias e estradas, hoje todos precisamos de banda larga".

Fotos: imagem "pirateada" do vídeo do cineasta Andrucha Waddington, citado no texto


Fonte: CartaMaior


Assista abaixo videoclipe inédito, gravado por Andrucha Waddington com uma câmera de celular, da música Banda Larga, de Gilberto Gil

Banda Larga - Gilberto Gil

Apresentação entre amigos da recém composta canção Banda Larga, de Gilberto Gil. O cineasta Andrucha Waddington registrou o momento de intimidade com a câmera de seu celular.

Canários fugidos da gaiola podem voltar

Os passarinhos fujões.
Airton Monte

Escrevo e já é domingo. Hoje, não bati o ponto na tradicional macarronada com galinha à cabidela do vetusto Solar dos Monte. Hoje, anseio apenas e indispensavelmente um cantinho sossegado pra ler um livro, ouvir um disco, fazer um poema, escrever uma carta besta de amor, um bilhete de suicida.

Ou, simplesmente, postar-me diante da janela escancarada e desfrutar da paisagem quando me bate esse cansaço de nada, esse tédio absoluto de tudo, essa benevolente preguiça, esse estar no mundo despido de compromissos urgentes.

A verdade verdadeira é que sou um domingueiro típico, suburbano, um domingueiro de anedota. O máximo esforço a que me permito é andar até a cozinha pegar uma cerveja no congelador. Isso, se não tiver quem vá.

Domingo, nem o velho e grande gato gordo, que habita o telhado em frente, persegue inutilmente os pombos ilusórios pousados nos beirais. Sim, sou igual ao velho e grande gato gordo, folgado, macunaímico, lagarteando sob o sol.

Aliás, um felino muito mais sábio do que muitos bípedes pensantes.

Domingo é o dia mais apropriado pra se ler poesia. Afinal, poesia é o pão do espírito, se bem que certos poetastros nos fazem comer o pão que o diabo amassou.

Não é o caso desses versos que me emocionam profundamente sempre que os leio, do poeta Soares Feitosa: "Abram-se as janelas, que aqueles canários fugidos da gaiola podem voltar". Por isso, não crio canários e odeio todas as gaiolas, a não ser a do meu peito onde bate asas meu coração eivado de um romantismo incurável e renitente.

Canários são palavras, gestos perdidos na distância, adeuses esquecidos na janela de um avião, o odor inesquecível de uma mulher depois que a gente faz amor.

Aos domingos, escancaro todas as janelas da casa e da alma. Pássaros fujões podem voltar em busca de ninho. Quem sabe uma palavra, frase, ponto final de um poema, um conto, uma canção, uma crônica.

Sim, manter perenemente as janelas abertas, porque os poetas sabem que os passarinhos fujões quase sempre voltam ao local do crime, pombos-correio do inesperado.


Moça com Flor na Boca - Crônicas escolhidas 29


Fonte: JornaldePoesia

Marina de la Riva em entrevista

Aqui vai um trecho de um vídeo com Marina de la Riva cantando e sendo entrevistada pela jornalista Patrícia Palumbo, para o programa Vozes do Brasil. Vale conferir toda a desenvoltura e simpatia de Marina.



quarta-feira, 25 de julho de 2007

Marina de la Riva: A musa capaz de quebrar as barreiras culturais que nos separam de nossos hermanos hispano-americanos

La Caminadora - Marina de la Riva

Filha de pai cubano e mãe brasileira, Marina de la Riva incorpora toda a influência de suas origens em seu excelente disco de estréia. A musa gravou todas as músicas em espanhol na ilha de Fidel.


Te amaré y despues - Marina de la Riva

O álbum Marina de la Riva (Mousike/Universal, 2007), une com perfeição música brasileira e cubana. Sua beleza, sua voz, a interpretação e a doçura de Marina são os ingredientes suficientes para fazê-la conquistar toda a América Latina e, quem sabe, unir um pouco mais o Brasil a nossos irmãos latino-americanos.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Cantora une Brasil e Cuba

Marina de la Riva, voz que une Brasil e Cuba

por Dafne Sampaio
Estreante em disco, mas de sólida carreira nas noites paulistanas como vocalista de grupos do naipe do Alta Fidelidade, Marina de la Riva precisava pagar uma dívida. Filha de uma mineira com um exilado cubano, a cantora ouve desde que nasceu em Baixa Grande da Leopoldina, município de Campos dos Goytacazes (RJ), os sons da ilha, mas demorou um tanto para incorporar ao seu trabalho. “A música sempre foi um negócio tão importante pra mim que não pensava em me profissionalizar. Era uma intimidade com a família, eram os discos da minha avó, uma música que meu pai cantava. A música era como uma placenta passando informações emocionais e intelectuais. Uma forma de viver a saudade deles”, explicou em conversa com a reportagem do Gafieiras. No entanto, é possível notar em seu disco de estréia, Marina de la Riva (Mousike/Universal, 2007), que a cantora conseguiu resolver estas questões internas. Mas como?

Após se mudar para São Paulo, Marina começou a atuar na noite, geralmente com um repertório jazzístico, e ter aulas de canto lírico. Tudo ia muito bem, mas ainda não era isso. Algo faltava. “Fui à premiação do Grammy em 2004 e vi o show do [pianista cubano] Bebo Valdés com o [cantor espanhol] Diego Cigala. Nem consegui ver direito o show porque chorei o tempo todo. Ali, naquela hora, entendi o que estava doendo tanto em mim e o que tanto procurava fora sendo que a história era dentro. No vôo de volta ao Brasil peguei um caderno e escrevi todo o projeto deste disco: onde ia gravar, como ia gravar, a qualidade dos músicos, a sonoridade, o tipo de microfone, o repertório, gravações em Cuba”. A princípio, Marina não iria gravar nada brasileiro, mas quando pisou em solo cubano sentiu vontade de colocar seu lado materno para cantar. Viu que precisava unir musicalmente as duas pontas de sua vida e seguir em frente.

Nesta busca por sua própria música, Marina conseguiu reunir figuras como os brasileiros Davi Moraes (grande parceiro na empreitada), Pepe Cisneros, Webster Santos, Toninho Ferragutti, Tadeu Santiago, Ricardo Mosca, Daniel Alcântara, Léo Reis e Guello, e os cubanos Papi Olviedo, Ricardo Castellanos e Antonio Portuondo, além do convidado especial Chico Buarque (em “Ojos malignos” de Juan Pichardo Cambier). Belos e discretos arranjos, uma doce voz sem maneirismos e um repertório que mistura Ernesto Lecuona (“Mariposa”), Dona Ivone Lara (“Sonho meu”), Chano Pozo (“Tin tin deo”), Sivuca (“Adeus Maria Fulô”), Miguel Matamoros (“Juramento”), Silvio Rodríguez (“Te amaré y después”), Ernesto Grenet (“Drume negrita”) e Joubert de Carvalho (“Ta-hí! (Pra você gostar de mim)”). Marina de la Riva conseguiu costurar dentro de si e registrou harmoniosamente em disco duas das culturas musicais mais fortes do mundo.
Fonte: Gafieiras
Ouça Marina de la Riva em sua página do MySpace

Marina de la Riva - Em Estúdio

domingo, 22 de julho de 2007

Autor de O Cheiro do Ralo em entrevista

Entrevista com Lourenço Mutarelli
por Beatriz Leal


Lourenço Mutarelli diz que usava o nanquim de seus desenhos para se defender, como fazem os polvos. Mas em 2002, após nove livros de quadrinhos, o desenhista resolveu trocar o nanquim pelas palavras e lançou seu primeiro romance: O Cheiro do Ralo, que deu vida ao filme de mesmo nome. Depois deste nasceram ainda mais dois: O Natimorto e Jesus Kid. Lourenço Mutarelli dos quadrinhos, da literatura e do cinema – ainda atuou em O Cheiro do Ralo -, também escreve peças de teatro. A voz metálica que sai do viva-voz fala sobre caos da cidade grande, sobre cultura brasileira e sobre as parcerias com Marçal Aquino e Heitor Dhalia, respectivamente roteirista e diretor de O Cheiro do Ralo.

O que influencia mais as suas obras? O contexto político, econômico e social ou a sua individualidade?
Eu acho que a minha individualidade; o aspecto mais psicológico das pessoas em geral. Muito de mim, mas não só de mim. Do que eu observo, do que eu vivencio, de muita observação. Eu estudo muita psiquiatria e algumas outras coisas assim que eu gosto e em geral isso me ajuda muito... para diagnosticar primeiro, para depois criar um personagem.

Que autores tiveram influências nas suas obras, tanto literárias como de quadrinhos?
Literárias pra mim as primeiras grandes influências foram Kafka, Dostoiévski, Machado de Assis e Augusto dos Anjos. Literárias acho que foram essas minhas experiências fortes. Nos quadrinhos foram Will Eisner e muito do quadrinho argentino Muñoz e Bretcha... algumas pessoas do quadrinho argentino me influenciaram muito.

E das suas outras influências literárias, como Kafka e Dostoiévski, você as detecta nas obras de outros autores contemporâneos, como Marçal Aquino, Patrícia Melo ou Daniel Galera?
Olha, eu tenho um problema grave assim, que há mais de dois anos eu não leio ficção. Eu tenho estudado um assunto e tenho dedicado todo o meu tempo de leitura a esse assunto. Então, desse pessoal mais novo eu só li Marçal. Eu conheço essas pessoas, mas eu nunca li nada deles, por uma questão de administrar meu tempo. Então eu não posso opinar muito sobre várias pessoas. Eu acho que o que o Marçal tem forte, que é quem eu conheço mais pessoalmente, conheço mais o trabalho, é o impacto que a gente recebe vivendo em uma cidade como essa (São Paulo), não tem como isso não refletir no nosso trabalho. Por menos que a gente pense ou racionalize essa cidade, inconscientemente isso reflete no nosso trabalho.

Talvez por isso este realismo, predominantemente o urbano, seja uma das formas literárias mais comuns nas obras de Marçal Aquino e na sua também...
Eu acho que, no Marçal ainda tem o jornalismo policial e tudo, né, que você acaba vendo uma outra faceta que não é assim como eu vejo uma família de policiais, então eu ouvia sempre umas histórias... É mais um mundo cão, é mais por trás dessa maquiagem que tenta vender a cidade, a grande metrópole, que tem um olhar que só atrai o turista mesmo, quem está aqui acaba tendo uma ótica muito diferente.

Mas Brasília é incrível, né, Brasília é incrível. Incrível não de maravilhosa, mas assim, a primeira vez que eu fui aí fiquei muito impressionado. Achei que eu estava em uma cidade universitária, que estava numa USP grande, né? É muito distante. Quando a gente é aqui do caos essa coisa muito ordenada, não sei, soa muito... ela não parece uma coisa natural para mim, então tenho um estranhamento. Mas eu tenho amigos aí, é um lugar em que gosto muito das pessoas, as pessoas acolhem muito bem a gente.

A linguagem noir, de autores como Dashiell Hammett, Raymond Chandler ou até Quentin Tarantino exerce alguma influência na literatura, quadrinhos e cinema contemporâneos no país?
Eu acredito que sim, mesmo que a pessoa não tenha lido nada disso. Isso influenciou tanto a cultura, né? Isso está tanto nos filmes que a gente assistiu que a gente acaba se impregnando. Acho que, depois de um modismo que teve muito forte dos filmes de western, o Marçal tem uma seqüela aí que eu acho bem interessante. Acho que veio isso do romance noir mesmo. Acho que esses autores influenciaram demais a cultura num momento em que ela se massificava pelo rádio e televisão. Isso está muito enraizado na gente.

Há elementos em sua narrativa e em seus desenhos que você considera como fatores de ruptura lingüística e temática?
Eu costumo falar que eu desenho e escrevo não como eu quero, mas como eu consigo. Se eu inovo em alguma é porque eu não consigo fazer direito. Eu não tenho essa pretensão e nem esse pensamento quando estou fazendo alguma coisa. Ela sai mais ou menos do jeito que me agrada e do jeito que ela vai fluindo... Tudo que eu faço é experimental, eu faço como uma experiência. Então eu não estou preocupado se eu vou agradar, se eu vou ser aceito ou não. Eu faço pela experiência. Acho que isso talvez, somado ao fato de eu não conseguir fazer uma coisa mais formal, acho que acaba criando o que pode determinar um estilo, talvez. Mas não existe essa intenção, entende? Ela acaba acontecendo talvez por isso, porque eu me permito experimentar. Tentar fazer do meu jeito, com o que eu tenho nas mãos.

Qual é a importância da interação entre formas de arte diferentes (literatura, cinema, teatro, quadrinhos...) para a cultura de modo geral?
Eu acho que é fundamental pra qualquer... acho que o grande problema dos quadrinhos no Brasil, é que a maioria das pessoas que fazem quadrinhos só bebem os quadrinhos, diretamente, pelo menos. E eu acho fundamental a gente estar aberto ao teatro, ao cinema, literatura, quadrinhos... eu acho importante perceber as diferenças e as semelhanças que existem entre essas formas de comunicação e de expressão.

A mistura tem dado resultados interessantes, né...
Eu acho bastante interessante e acho que é quase... é cada vez mais difícil que não haja essa interação, né? Eu acho que cada vez mais a gente abre os olhos e experimenta e mistura possibilidades, porque cada vez a gente tem mais recursos pra isso.

Quais são as diferenças no diálogo entre autor e espectador dos livros para o cinema para os quadrinhos?
A minha primeira experiência marcante de diferença entre quadrinho e literatura, a única grande diferença é o respeito com o que você é tratado fazendo uma e outra coisa. Existe um abismo de diferença de tratamento que você recebe, mas não pelo leitor imediato. Você não tem um retorno imediato. O meu primeiro retorno imediato que tive foi com a minha primeira peça de teatro, que como minha cara não é conhecida, eu fui algumas vezes assistir a peça e eu podia ver tudo o que funcionava ou não funcionava, eu tinha uma resposta imediata. Isso variava com a platéia, mas eu sempre tinha uma resposta imediata. Eu nunca tinha experimentado esse retorno tão direto. Isso foi muito importante pra mim, foi muito prazeroso vivenciar essa experiência. No cinema você tem isso de uma forma semelhante, embora o filme demore tanto pra ficar pronto que, quando fica pronto, você não agüenta mais ver nem ouvir falar e aí você não acaba vivenciando muito. Eu vivi muito pouco isso, só nos festivais eu senti o público reagindo ao filme, mas aí é um público diferente porque é um público de festival.

Como você enxerga a relação entre produção artística e a indústria de distribuição cultural?
Eu acho que isso depende. No geral, é tudo muito mal distribuído. Acho que acaba, se você persiste fazendo seu trabalho de alguma forma, você vai arrebanhando pessoas que descobrem seu trabalho, e acabam indo atrás, que acabam sendo independentes dessa distribuição. Esse agrupamento acaba ajudando você, por outro lado, a ter uma distribuição um pouco melhor. Mas acho muito mal distribuído, embora existam entidades e experiências que são bastante positivas. Se não fosse o Sesc, e outras iniciativas privadas... por mais que isso seja limitado, acho que isso possibilita a viabilização de muita coisa, indiretamente.

Nina é um filme mais complexo e elaborado. Qual a importância de produções com este tipo de linguagem, na contramão dos temas mais recorrentes, para a cultura brasileira?
Eu entrei no Nina, porque eu achava... isso é culpa do Heitor (Dhalia, diretor), né... é muito a visão do Heitor mesmo. E gostei justamente por isso. Embora eu também ache que outras formas... também é legal você experimentar coisas que estão se repetindo e você tentar dar um pouco da sua cara ou da sua visão, até pra quebrar um pouco essas coisas que se repetem. E o Nina tem toda uma concepção, que eu acho que no fim das contas ele não alcançou, como geralmente não alcança, o objetivo. Mas ele foi uma experiência muito estimulante e muito interessante. Eu só acho que o resultado ficou aquém do que a gente vislumbrava durante o processo. Para mim, pelo menos. Minha opinião pessoal, assim... Quando o filme começou a ser montado, ele começou a ser montado de tantas formas diferentes e por estar muito envolvido eu tinha já uma concepção do que seria. Eu estranho, pra mim causa um estranhamento, o corte final do filme. Eu achei que ele tinha uma outra direção que me agradava mais.

Quem tem acesso somente ao produto final dificilmente percebe isso...
Essa é uma grande vantagem também, porque você recebe aquilo que é pronto e você não tem esse sofrimento todo da expectativa ou dos desvios de curso, né? Eu acho que o Nina para mim tem isso. Foi um filme difícil de realizar, teve muito problema no meio, então, de qualquer forma, eu acho um grande mérito e uma grande coragem ter sido feito, justamente por ser totalmente na contramão do que se fazia.

Como foi fazer parte d’O cheiro do ralo, com as peculiaridades que o filme apresenta em financiamento e produção?
A princípio, eu sempre quis ficar distante, eu não queria me envolver no processo, porque desde o começo eu achava que o mais interessante para mim era ter esse outro olhar, a adaptação mesmo. Mas eu acabei fazendo, tendo que ajudar. Quando o Selton não podia fazer teste com elenco, eu acabei fazendo alguns testes no lugar dele e ele acabou me convidando pra fazer um personagem e foi muito bom pra mim, foi muito divertido, mas eu tentei não interferir em nada. Quem opinava era o Heitor e o Selton. Quando alguém me perguntava eu falava que não sabia de nada, porque eu fiz o livro e isso era o filme e são coisas totalmente diferentes. Mas foi um set totalmente... muito bacana, muito passional, a gente tinha uma relação muito boa, foi uma união muito grande, foi muito divertido, muito prazeroso participar do processo.

Mas, e no que diz respeito ao orçamento, muito mais baixo do que o usual? Você já deve até estar meio cansado desse tipo de pergunta...
(risos) Não. Eu acho que isso talvez tenha propiciado esse clima tão agradável, porque todo mundo que estava lá, estava lá porque gostava do projeto. Ninguém estava lá por dinheiro. Todo mundo estava cedendo seu trabalho, abrindo mão de receber ou trocando isso por uma participação no futuro. Então as pessoas estavam lá por paixão mesmo. E isso refletia muito no ambiente. Ninguém estava lá porque ia ganhar dinheiro, não era essa a idéia. Então, todas as pessoas que entraram ou gostavam do livro ou gostavam do projeto ou gostavam do Selton ou do Heitor. Tinha sempre uma relação afetiva com o que estava sendo feito. Então o fato de ter sido feito da forma que foi feito, acho que é um exemplo de que isso pode acontecer. O Heitor fala isso, que não é o ideal, porque senão chega uma hora em que as pessoas que colocam dinheiro e que se juntam e tal não vão ter mais dinheiro pra fazer nada, mas era a única forma do filme acontecer, então eles optaram por fazer. Mas eu não participei de nada dessa relação de produção ou financeira, eu ouço as histórias mais ou menos como vocês ouvem, meio indiretamente.

Legal mesmo é a idéia de parceria entre as pessoas para realizar um projeto...
Isso eu acho muito legal e acho que isso acabou criando um clima muito favorável. E que, de alguma forma, as pessoas do cinema falam isso e parece que tem uma verdade, esse clima parece que fica impresso no negativo, sabe? É uma coisa que, sei lá, talvez o filme vá bem até por isso também, porque é isso: tava todo mundo junto, se divertindo e afim de fazer. O filme ia sair com duas cópias... no fim saiu com 17, e foi muito bem de público.

Como passou a trabalhar com Heitor Dhalia e qual é a importância de parcerias como estas para a produção cultural do país?
Acho que a importância disso a gente não vai conseguir perceber agora. Se esse filme ficar, perdurar, ou se for uma tendência a possibilitar outros, daqui a um tempo a gente vai saber a importância disso. Eu não sei até que ponto isso é importante ou isso é importante só para as pessoas que estão envolvidas, eu não sei qual a relevância disso. Na minha parceria com o Heitor a ponte foi justamente o livro O Cheiro do Ralo. Ele me procurou pra comprar os direitos, aí ele acabou conhecendo meus quadrinhos, e ele estava na pré-produção do Nina, e me convidou pra fazer os desenhos. Foi uma parceria muito boa, foi muito bom trabalhar com ele, foi uma experiência legal. A gente tem muita identidade, mas ao mesmo tempo a gente tem muita diferença. Acho que a nossa parceria foi isso, não sei se a gente faria uma parceria no futuro, eu acho muito difícil isso acontecer.

E com o Marçal Aquino, como foi?
O Marçal participou do primeiro almoço, quando eu conheci o Heitor, ele indicou o livro para o Heitor ler. Ele é uma pessoa... eu adoro o Marçal, ele é uma pessoa extremamente gentil e divertida que eu gosto muito de encontrar e eu tenho uma afinidade muito grande com ele, uma gratidão imensa por essa generosidade de ele estar... a literatura em geral me recebeu muito bem, muito de braços de abertos, e o Marçal é um grande exemplo disso pra mim, é uma pessoa que gosto muito, muito mesmo, é uma pessoa que eu tenho um afeto muito grande. E ele participou, a gente se encontrou, ele participou do primeiro almoço. Ele fez de certa forma essa ponte e a gente ainda se encontrou algumas vezes os três, e aí depois ele seguiu os dois trabalhando a adaptação. Eu não participei da adaptação.

O que as obras destes artistas, como Marçal Aquino, Beto Brant e Heitor Dhalia, trazem de inédito para a cultura brasileira?

É essa coragem de tentar fazer o que eles querem, o que tem a ver pra eles, não por dinheiro, mas, enfim, por um ideal, mais por aquilo que eles querem fazer, né? E acabam fazendo coisas diferentes, o que é ótimo. Eu acho que esse é um valor pra cultura, é a diversidade, é mostrar que o Brasil não é só o sertão. O Brasil, e muito São Paulo também, é uma mistura de muitas coisas, de muitas culturas.

Então, com essa relação temática – essa história de quebrar um pouco o sertão e trazer mais o urbano – e a relação lingüística que os filmes têm com os livros, o conjunto lingüístico-temático pode trazer uma quebra no que já existe de cinema brasileiro, uma ruptura, no cinema e na literatura?
Eu acho que vem acontecendo e acho que isso acontece mesmo no Cinema, Aspirinas e Urubus, ele mostra a realidade que a gente conhece, mas por uma perspectiva e com uma delicadeza que eu acho muito nova. Acho que mesmo que você fale de coisas que estão sendo ditas, se é um olhar um pouco mais sensível, eu acho que isso traz uma contribuição. A afinidade que existe entre o nosso trabalho e que acaba refletindo nas nossas pessoas, eu, pelo menos, penso que cada uma dessas pessoas fazendo seu trabalho, não pensando "ah, eu vou mostrar isso", mas pensando na sua realidade, no que ela vive, no que ela vê e tenta mostrar, dividir isso... não sei se existe um, pelo menos da minha parte não existe, um dogma ou "ah, eu vou mostrar isso porque isso não está sendo mostrado", não. Eu vou falar isso porque essa é minha língua dentro desse país, então eu acho que é mais ou menos isso. Uma questão de você impor, de certa forma, através do seu trabalho, sua identidade.

Pra quem olha de fora, o que parece é que não há a intenção de se fazer algo necessariamente novo, mas que está sendo feito...
Isso acaba trazendo o novo, gerando o novo. Eu acho que o novo não nasce com a intenção de ser novo. Ele nasce com sinceridade e com experimentação e com pessoas que de repente tentam realizar o seu trabalho contra a corrente e não encontram uma forma de produzir isso, de uma forma fácil ou com parceiros grandes. Então elas se juntam e fazem o seu trabalho, que foge porque as grandes produções visam o que dá certo. Elas vão martelar nessa tecla porque dá certo e nunca vão arriscar. E elas devem começar a arriscar agora, por exemplo, quando surge uma coisa diferente, que dá um resultado, e esse resultado é financeiro, é um resultado de bilheteria ou de uma massa, de atrair uma massa de público, aí eles começam a se pautar nesse tipo de coisa pequena que aponta o caminho e aí eles começam a investir um pouco. Então isso acaba refletindo através de experiências corajosas... Porque, para mim, fazer um livro não custa nada. Mas para se fazer um filme custou... Essa parceria é um trabalho muito maior, que por outro lado atinge um número de pessoas multiplicado à potência, né?

Dos filmes roteirizados pelo Marçal Aquino O Cheiro do Ralo parece ter dado mais resultado, né?
O Invasor parece que tinha dado uma bilheteria legal... não tenho certeza se foi 100 mil, ou alguma coisa assim, mas parece que O Invasor teve um, eu nem sei se a venda foi o cinema ou se foi DVD ou VHS. Eu sei que foi um filme que foi muito bem aceito, sei lá, acho que tinha uma novidade, um frescor ali que acabou atraindo, talvez isso indiretamente encoraje outras pessoas a fazerem... então, talvez o primeiro que fez um e não foi tão visto ou tão aceito, encorajou o outro a fazer um outro que vai seguir uma trilha que já começou a ser aberta de alguma forma, mesmo que outros tenham menos visibilidade.

Se é que esses artistas apresentam uma linguagem cultural inédita, como você denominaria essa nova vertente?
(risos) Puxa vida... Eu não tenho a menor idéia. Eu sou muito ruim com conceitos e rótulos assim, eu não sei dizer... Não sei mesmo que nome eu daria.

*Esta entrevista também foi publicada em o balde e em formato editado no jornal Esquina do UniCEUB.

Fonte: OverMundo

Não sabe o quanto a alegria dela me faz sofrer...

A CIDADE ADORMECIDA (Rubem Alves)

Sei que as intenções dela são boas. Ela não faz por maldade. Faz por alegria. Mas não sabe o quanto a alegria dela me faz sofrer... Colocou na porta do seu apartamento um calendário regressivo anunciando quantos dias faltam para o Natal. Ela se alegra por antecipação...

Para mim é o contrário. O que sinto, não sei se é tristeza ou irritação. Não é que eu não goste do Natal. A minha tristeza e irritação acontecem porque amo o Natal. Sei que isso deve estar confuso. Preciso explicar esse paradoxo. Vou me valer de uns versos do poema de Cassiano Ricardo, "Você e o seu retrato".

"Por que tenho saudade / de você, no retrato, / ainda que o mais recente? / E por que um simples retrato, / mais que você, me comove, / se você mesma está presente?"

O resto do poema são variações sobre essas duas perguntas terríveis que qualquer pessoa odiaria ouvir do amante ou da amante! O seu retrato... Como amo o seu retrato! Olhando para o seu rosto paralisado no papel - você está sempre do mesmo jeito, olhando-me com aquele olhar de criança, eterno -, sinto uma alegria mansa que eu queria ter sempre. Sabe, preciso confessar, o seu retrato, em que você está ausente, me comove mais que o seu rosto, quando você está presente. A sua presença perturba o amor que sinto por você, no retrato. Se você estivesse sempre ausente, se eu tivesse somente o seu retrato, eu a amaria mais...

Resumindo: a gente ama mais na ausência que na presença. Porque o objeto ausente existe iluminado pela luz de fantasia, fora do tempo. O objeto amado ausente é um emissário da eternidade.

Havia uma casa da minha infância que eu muito amava. Sempre me lembrava dela, tinha saudades, queria voltar lá. Voltei. A casa estava lá. Mas não era a mesma. Sim, era a mesma, mas não era a casa que eu amava na minha fantasia.

Thomas Antônio Gonzaga escreveu um poema em que ele, movido pela saudade, volta aos lugares da sua infância. Volta aos mesmos lugares mas, por mais que procure, não encontra os seus lugares. Tudo está diferente. E cada estrofe termina com esse refrão: "São esses os sítios?

São esses. Mas eu o mesmo não sou...". Ao final ele recobra a lucidez e reconhece que todos os lugares amados estão nos mesmos lugares onde estavam. Então, o que mudou? "Mudaram-se meus olhos de triste que estou..."

A alma é o lugar onde estão guardadas, como se fossem quadros, as cenas que o amor tornou eternas. O retrato da amada de Cassiano Ricardo. A casa velha onde morei. Os lugares da infância de Thomas Antônio Gonzaga. De vez em quando a saudade os chama do seu esquecimento. É o que acontece com o retrato do Natal que mora na minha memória poética, que é amassado pela realidade do Natal que vai acontecer no dia marcado no calendário regressivo da minha vizinha, tão simpática e amiga...

O meu retrato de Natal, desbotado, me faz lembrar de uma expressão antiga: "a cidade adormecida". Todos dormem. Grande é o silêncio exceto pelo vento nas árvores, um latido distante de algum cão, o canto de um galo que se equivocou no horário. As estrelas velam. É uma cena de tranqüilidade. Quando se dorme, a vida passa devagar. Bachelard observa que até mesmo um criminoso adormecido provoca sentimentos de ternura. Dormindo, todos nos tornamos crianças. Hoje as cidades não dormem mais. Hoje o Natal acontece nas cidades que não dormem. Mas o meu Natal só acontece numa cidade adormecida que só existe no meu retrato...

Sugerida por
Silene Marcato

sexta-feira, 20 de julho de 2007

João Donato em fase hiperprodutiva

Alegria dissonante
por Pedro Alexandre Sanches

Integrante da comissão de frente da bossa nova, o pianista João Donato atravessa fase hiperprodutiva aos 72 anos

O veterano João Donato não se esquece de uma situação que viveu no início da carreira, quando o Brasil não antevia o estouro da bossa nova a partir de 1958. Um amigo músico fora chamado para apresentações num hotel e quis que Donato o acompanhasse ao piano.

Depois da meia-noite, o empresário garantiu o pagamento do cachê, mas pediu que eles interrompessem a apresentação. “O cantor com a voz fraquinha, eu com meus acordes dissonantes, aquilo gerou descontentamento. Naquele momento de transição, éramos tidos como uns chatos”, lembra numa tarde paulistana o autor de temas hoje considerados standards da bossa, como Bananeira, Lugar Comum e Amazonas. O amigo cantor era João Gilberto.

Juntos, os dois jovens joões perambulavam pelas noites musicais cariocas em busca de espaço e sem ter plena consciência de que batiam de frente com as convenções musicais da época. Cerca de 50 anos após o encontro e o surgimento (e, depois, a diáspora) dos principais bossa-novistas, ainda parecem filhotes de um mesmo ninho, mas ficaram diferentes, diferentes demais.

O primeiro contraste refere-se à mítica reclusão do João baiano, o Gilberto. O encontro da reportagem com o João acreano, o Donato, se desenvolve no saguão de um hotel movimentado, na calçada de uma avenida barulhenta, na fila de almoço de uma padaria self-service. Parceiro de estrelas do jazz (como Bud Shank) e da MPB (como Gilberto Gil), João Donato locomove-se com naturalidade por todos aqueles espaços públicos, sem ser abordado (ou mesmo reconhecido, talvez) por ninguém.

Embora classificado por profissionais que o rodeiam como “introspectivo” e “tímido”, estende o hábito do não-isolamento à profissão. Está em São Paulo na sexta-feira 13 para três shows com o cantor e compositor paulista Filó Machado. Nos últimos dez anos, fez discos, shows e parcerias com os instrumentistas Bud Shank, Paulo Moura e Eloir de Moraes, as cantoras Joyce, Wanda Sá, Marisa Monte, Angela Ro Ro e Maria Tita, os cantores Emílio Santiago, Martinho da Vila e João Bosco, os rappers Marcelo D2 e Marcelinho da Lua, e o filho Donatinho (um explosivo tecladista fã de música eletrônica).

“É sempre bom trabalhar em parceria, você não se limita a si mesmo, você tem o outro”, justifica, como se o que diz não fosse o óbvio deixado mais ou menos de lado por uma quantidade alarmante de músicos.

Eis outra diferença entre ele e João Gilberto, com quem compôs em 1958 duas das primeiras criações de ambos, Minha Saudade e Mambinho. O antigo parceiro há décadas lança discos esparsos e rodeados de mistério. Desde 1996, Donato colocou no combalido mercado fonográfico nada menos que 16 CDs e um DVD repleto de convidados (Donatural, de 2005), todos editados por selos independentes.

São amostras de uma produtividade caudalosa e desordenada, às vezes gravada e lançada sem grande rigor. Ora se entrega a criações inéditas e a criativos choques geracionais (como no álbum Maganarroba, de 2002, com vocais de Marisa Monte, D2, Joyce e João Bosco), ora investe em jazz artesanal (como em O Piano de João Donato, deste ano, somente ele e o instrumento).

Ainda que não escape dos círculos de redundância em que patinam a MPB, a bossa e outros guetos musicais, a hiperprodutividade de Donato edifica uma metáfora irônica em plena era do “fim do CD”, como propalam, em público ou privado, agentes da música atual.

“A música não acaba, o que acaba são os meios que a comercializam. Para mim disco nunca foi um objeto que se vende como biscoito, ‘um quilo de música’”, afirma João, na padaria de almoço por quilo, em frente a um prato farto no qual misturou sem preconceitos feijão, melancia, batata, melão, frango, mamão e farofa. “Eles dizem que é assim, que ou vende ou não vende, e se não vende não deu certo. Você era dispensado da gravadora porque não era compatível com as despesas deles.”

Donato passou por todo tipo de gravadora, desde o LP de estréia, Chá Dançante, editado pela Odeon em 1956 e assinado por “Donato e Seu Conjunto”. Ali ele, que teve no acordeom o primeiro instrumento, tocava versões sem voz de baiões de Luiz Gonzaga, sob produção do desconhecido (e nem creditado na capa) Antonio Carlos Jobim.

A Odeon comandou a revolução da bossa, mas não impediu a diáspora dos principais formuladores. Em 1959, Donato mudou-se para os Estados Unidos, onde entrou em pé de guerra com a música brasileira que chama de “samba de teleco-teco”. “Só estava lá o Bando da Lua, de Carmen Miranda, que já tinha morrido. Não me adaptei com eles, disseram que eu estava muito americanizado.”

A história repetia-se pelo avesso, pois antes Carmen é que fora tachada de “americanizada” ao pousar no Brasil num intervalo da longa estadia em Hollywood. “Falei que eles é que só tocam Tico-Tico no Fubá, e me deixaram lá. Fiquei sozinho em Los Angeles, estava encalhado. Fui fazer audições para orquestras mexicanas e cubanas.” Tocou com Tito Puente, Mongo Santamaria e Johnny Rodríguez e somou, às influências de jazz e samba, a da música cubana, que persiste até hoje na bossa desobediente que pratica.

O talento para a mistura exerce poder de sedução sobre públicos planeta afora. Entusiasmado, mas iconoclasta, ele conta da turnê recente de que participou pelo Japão, chamada 100 Golden Fingers, com dez pianistas (a maioria norte-americanos, só ele brasileiro). “É uma espécie de desfile de moda, não exatamente uma situação confortável. Eu tocava música brasileira, quebrava um pouco aquela seriedade, aquele padrão de academia. Todos são meio parecidos, meio em série.”

Instigado a fazer comparações entre o Japão e o Acre natal, saca de uma teoria “donatural” para o curioso interesse do outro lado do mundo pela música que faz: “Os japoneses são índios bem modernos. Têm características indígenas bem arraigadas, são meio acreanos, amazonenses. Tenho certeza de que todos andaram pelas mesmas aldeias originais”.

“Índio bem moderno”, Donato foi exclusivamente instrumentista até 1972, quando pela primeira vez deixou melodias e harmonias se vestirem de letras. Talvez à sombra da enorme voz pequena do outro João, nunca havia cantado. A sugestão partiu do virtuoso cantor pré-bossa-novista Agostinho dos Santos, então um exilado das paradas de sucesso. “Ele me chamou atenção que eu deveria gravar com letra, senão minhas músicas nunca seriam cantadas.”
Nasciam dois discos históricos de Donato, os hippies Quem É Quem (1973, orientado pelo colega de bossa Marcos Valle) e Lugar Comum (1975, todo em parceria com Gilberto Gil). Entre um e outro, atuou como diretor musical do disco Cantar (1974), de Gal Costa, em que o Donato compositor inseriu as célebres A Rã e Até Quem Sabe. O hábito de fazer canções tornou-se mais freqüente. A Paz ganhou letra de Gil em 1986 e foi popularizada por

Zizi Possi. E ele continua a cantar esporadicamente, com voz desajeitada, variante entre pastosa e esfarelada. É outra marca registrada do artista, quase um João Gilberto virado ao avesso.

Na rua, em disco ou no ensaio displicente com Filó Machado, Donato toca o barco despojado, tal e qual o índio acreano (ou cubano, ou norte-americano) imaginário de Lugar Comum. E fala, divertido, sobre o futuro da música e dos CDs (e sobre si): “Nunca fui um pop star, para mim o declínio dos CDs não mudou nada. A tendência da música é melhorar. Qualquer modificação é para melhor, ninguém muda para pior”.

Fonte: CartaCapital

Drummond por Drummond

Imagine a emoção de ouvir o grande poeta Carlos Drummond de Andrade interpretando seus próprios poemas. O Música&Poesia já apresentou a leitura de Drummond para algumas de suas clássicas poesias. No entanto, não satisfeito, este humilde blogue foi atrás de todos os áudios de Drummond por Drummond disponíveis na internet. Acompanhe no reprodutor abaixo treze poesias de nosso grande poeta. Drummond na voz de Drummond é parte do projeto de resgate do saite Memória Viva.




Poemas de Drummond na voz de Drummond:

Confidência do Itabirano
Mãos Dadas
José
Morte do Leiteiro
O Enterrado Vivo
Fazenda
Consolo na Praia
Procura da Poesia
Para Sempre
Mundo Grande
Boitempo
Quadrilha
Infância

terça-feira, 17 de julho de 2007

Veja a Apaixonante Cantora de Cabo Verde

Abaixo uma série de videoclipes da fascinante cantora cabo-verdiana Mayra Andrade. Conheça um pouco mais desta bela mulher que apaixona com sua impecável interpretação e com a doçura de sua voz. Vale a pena ver e ouvir todas as canções que seguem.

Lua - Mayra Andrade

Lua faz parte do primeiro álbum de Mayra Andrade, intitulado Navega (2006). Esta cantora de Cabo Verde é admirada em diversos países. No Brasil apresentou-se junto a Chico Buarque e Lenine.

Regasu (A tua Seiva) - Mayra Andrade

As canções de Mayra Andrade reúnem elementos do jazz, afro e ritmos brasileiros. Com apenas 22 anos e um disco, Mayra já conquistou a Europa com sua música.

Tunuka - Mayra Andrade

A maior parte das músicas de Mayra são cantadas na língua não oficial de Cabo Verde, o Crioulo. Apesar de a língua oficial ser o Português, a grande maioria da população utiliza o Crioulo que mescla o português arcaico a línguas africanas.

Mana - Mayra Andrade

Este vídeo foi gravado numa apresentação da musa de Cabo Verde em programa de uma emissora portuguesa.

Comme s'il en pleuvait - Mayra Andrade

Comme s'il en pleuvait é apresentado aqui numa reunião de fotos e não trata-se de videoclipe, é apenas uma forma de ouvir a apreciar outra canção de Mayra. Comme s'il en pleuvait também está no disco de estréia da cantora.

A Felicidade - Mayra Andrade

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Assim como a música anterior, este reprodutor apenas reproduz uma música interpretada por Mayra Andrade agregada a algumas imagens. Curta a impecável interpretação, sem sotaque algum, de Mayra para este clássico de Vinícius de Morais e Tom Jobim.


Assista aqui o vídeo da apresentação, ao vivo, da música Dimokránsa, por Mayra Andrade (necessário o Windows Media Player)

Para saber mais sobre Mayra Andrade, clique aqui

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Curta Pela Rua

Curta-metragem livremente inspirado em poema de Ferreira Gullar

Pela Rua é um curta gaúcho baseado em poema homônimo de Ferreira Gullar. O próprio poeta recita a poesia, gravada no Rio de Janeiro, que, após isso, foi mixada paralelamente à leitura do ator Alexandre Vargas. Rodado em Porto Alegre, o filme mostra um poeta que, durante a criação de um poema, vaga, entre pensamentos e desejos, atrás de sua musa. Na construção dos versos, o personagem devaneia buscando inspiração na visão de uma linda mulher inalcançável, nisso perde a oportunidade real de encontrá-la.

Como Ferreira Gullar foi um dos responsáveis pela revisão da obra de Augusto dos Anjos, colocando-o em seu devido lugar de destaque na poesia brasileira e suscitando a justa importância que este nosso raro poeta merece, em Pela Rua a uma referência à Augusto dos Anjos registrada em um cartaz que figura dentro de um bar atrás do protagonista. Assista abaixo este curta-metragem.
Y.H.

Pela Rua


Sinopse
Poeta vaga solitário por uma grande cidade, perdido em seus desejos, inspirações e pensamentos. Entre encontros e desencontros, imaginários e reais, ele acha motivação para compor seus versos.

Gênero Ficção
Diretor
Dimitre Lucho / Michele Maurente
Elenco
Alexandre Vargas, Júlia Pressotto, Jesse Guelfi, Carlos Azevedo
Ano
2003
Duração
8 min
Cor Colorido
Bitola 16mm
País
Brasil

Ficha Técnica
Produção
Mônica Schmitt Fotografia Viviane Schwagwer Roteiro Dimitre Lucho Som Direto Yerko Herrera Direção de Arte Yerko Herrera Voz Ferrereira Gullar, Alexandre Vargas Trilha original Diasper Lucho Figurino Patrícia Aranguiz Still Leandro Caobelli, Carlos Gerbase Supervisão de Som e Mixagem Cristiano Scherer


Pela Rua (Ferreira Gullar)

Sem qualquer esperança
detenho-me diante de uma vitrina de bolsas
na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, domingo,
enquanto o crepúsculo se desata sobre o bairro.

Sem qualquer esperança
te espero.
Na multidão que vai e vem
entra e sai dos bares e cinemas
surge teu rosto e some
num vislumbre
e o coração dispara.
Te vejo no restaurante
na fila do cinema, de azul
diriges um automóvel, a pé
cruzas a rua
miragem
que finalmente se desintegra com a tarde acima dos edifícios
e se esvai nas nuvens.

A cidade é grande
tem quatro milhões de habitantes e tu és uma só.
Em algum lugar estás a esta hora, parada ou andando,
talvez na rua ao lado, talvez na praia
talvez converses num bar distante
ou no terraço desse edifício em frente,
talvez estejas vindo ao meu encontro, sem o saberes,
misturada às pessoas que vejo ao longo da Avenida.
Mas que esperança! Tenho
uma chance em quatro milhões.
Ah, se ao menos fosses mil
disseminada pela cidade.

A noite se ergue comercial
nas constelações da Avenida.
Sem qualquer esperança
continuo
e meu coração vai repetindo teu nome
abafado pelo barulho dos motores
solto ao fumo da gasolina queimada.



Outros Filmes? Assista mais em OutroCine - Outro jeito de ver cinema

Musa Cabo-Verdiana Encanta com sua Beleza e Voz

Navegando o atlântico, até nós.
por Vânia Medeiros




Tunuka, Tunuka bála
Ki tem koráji, é só Tunuka di meu
Sukuru ka da-l kudádu,
Ka duê-l xintidu, ki fari duê-l korasom.


Os versos acima, em criolo cabo-verdeano, são embalados por um som composto de elementos muito familiares. O fraseado de violão, o jogo percussivo, a língua de vogais livremente pronunciadas. É uma sensação diferente de reconhecimento e surpresa, de se estar chegando a um lugar novo e revisitando ambientes antigos, onde estão impressas nossas origens ancestrais, ibérica e africana. Tudo no mesmo compasso. Quem nos guia é uma voz firme e doce de mulher.

Dentre as muitas cantoras que certamente existem em Cabo Verde e em toda a África, a que representava para o resto do mundo as vozes femininas do continente negro de hoje era – e ainda é, principalmente – Cesária Évora, com seu canto de “sodade”. Mas a terra de Évora nos presenteia mais uma vez. Com seu viço de moça nova (de 22 anos) e seu charme crioulo, Mayra Andrade nos leva de barco com seu canto ancestral cheio de novidade.

“Navega”, seu álbum de estréia de 2006, é o disco de uma cabo-verdeana urbana que se considera também parisiense (a cantora mora atualmente na França), depois de ter nascido em Cuba e vivido com seus pais no Senegal, Angola e Alemanha. Traz doze canções, como ela, mestiças. A maioria é entoada em crioulo, mas Mayra também canta em português e francês, flertando com o jazz, o samba brasileiro e o afro que vem do arquipélago em que foi criada. O som de Mayra e sua banda nos contagia a cada faixa. É uma produção simples, em tons acústicos, livre, divertido, sensual, profundo, cheio de balanço e saudade. A maioria das letras falam das alegrias e dos dilemas próprios do povo cabo-verdeano.
A “pegada” brasileira” pode ser explicada, em parte, pela formação de sua banda: o percussionista é o brasileiro Zé Luis Nascimento, que tem como companheiros de palco os compatriotas Tarcisio Gondim e Nelson Ferreira nas guitarras, além do virtuoso Hamilton de Holanda, no bandolim. Também nas cordas, o cabo-verdeano Kim Alves integra o lado africano, junto o baixista, Etienne Mbappé dos Camarões e Régis Gizavo, de Madagascar, no acordeon.

A relação de Mayra Andrade com o Brasil não pára por ai. Suas amigas de infância eram brasileiras e a cantora já esteve aqui e cantou com Chico Buarque e Lenine representando seu país numa campanha contra a AIDS. “Navega” traz como faixas bônus “Samba e Amor” (de Chico) e “Felicidade” (de Vinícius de Morais), cantadas em brasileiro sem sotaque, perfeito.

A trajetória de Mayra Andrade só está começando e é longa. Apesar de muito nova, Mayra já mostra uma complexidade e uma profundidade em seu canto e em suas escolhas como artista, costurando suas origens de sua cultura com o que há de mais cosmopolita, universal.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre essa cantora, ouvir suas canções e saber mais detalhes sobre sua trajetória, seu site é o
http://www.mayra-andrade.com
Fonte: Overmundo

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Revisão de Políticas de Propriedade Intelectual para o Desenvolvimento Criativo da Sociedade em Debate

Movimento cultural consolida luta por revisão do direito autoral
Segundo encontro do iCommons, entidade que engloba representantes do Creative Commons, reforça necessidade de revisão das atuais políticas de propriedade intelectual para o desenvolvimento criativo da sociedade

Carlos Gustavo Yoda *

SÃO VICENTE - Em qualquer diálogo sobre diversidade cultural, logo é exposta a contradição entre a restrição do mercado na defesa da propriedade intelectual privada e o pensamento sobre políticas públicas que potencializem o desenvolvimento cultural da sociedade. Acordos conquistados nas esferas da Organização Mundial do Comércio (TRIPS - OMC) e na Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI – ONU) comprometem a atuação dos estados na defesa por soberania sobre suas políticas.

Ícones do conhecimento livre, como Yochai Benkler, autor de A Riqueza das Redes; Lawrence Lessig, fundador do Creative Commons; Jimmy Wales, fundador da Wikipedia; Cory Ondrejka, do Linden Labs (Second Life); Joi Ito , empreendedor do mundo digital; e Cory Doctorow, editor do blog Boing Boing, entre outras 300 intelectuais, artistas, advogados, tecnólogos e ativistas estiveram em Dubrovnik, na Croácia, entre os dias 15 e 17 de junho, no iCommons Summit 2007 para discutir os rumos da cultura e do conhecimento na rede.

O iCommons é a entidade internacional que conglomera os representantes do Creative Commons de todo o mundo, formando a maior rede internacional de pensadores e ativistas atuantes na área de propriedade intelectual e tecnologia da informação. O iCommons busca promover as condições para um futuro no qual todos possuam a capacidade de participar de forma ativa e crítica dos campos da cultura, da tecnologia e do conhecimento, considerados como os combustíveis universais e essenciais para a inovação e a criatividade. Por tudo isso, sua principal missão é promover ferramentas, modelos e políticas que facilitem esse acesso, participação e integração. O iCommons Summit 2006 teve o Rio de Janeiro como sede e contou com a presença da ministra da Cultura do Chile, Paulina Urrutia, e do ministro Gilberto Gil.

Quem coordena o debate sobre direito autoral no Ministério da Cultura é José Vaz de Souza Filho. Ele acompanhou os debates e relatou que a sensação sobre o iSummit é a de estar participando de um congresso igual ao de outros tantos movimentos sociais.

"Os militantes por uma cultura livre debatiam entusiasmados; a pluralidade de propostas e a diversidade de experiências relatadas demonstravam a grande vitalidade do movimento. Claro, houve também os embates de idéias, alguns bem acalorados. Mas, ao contrário da grande maioria dos demais movimentos sociais, não havia ali um clima de disputa de poder, de busca de hegemonias de uns sobre outros. Esse talvez seja o maior mérito que anima o movimento Cultura Livre: ninguém quer ser dono de nada, líder de nada: todos querem que todos tenham uma ampla liberdade de criar, compartilhar, transformar e produzir de forma colaborativa", pontua José Vaz.

No movimento ao menos é consenso que o atual sistema de proteção dos direitos autorais impõe obstáculos absurdos ao desenvolvimento das artes, ao acesso à cultura e à educação, e que a resposta a ser dada passa pela construção de uma nova hegemonia baseada no conceito dos commons. O representante do MinC reflete ainda que os commons são apenas um conceito de base essencialmente empírica. "A experimentação e a criatividade são o motor da cultura livre", afirma.

Tom Chance, do Partido Verde da Inglaterra e País de Gales, propôs um sistema de proteção de direitos autorais em novas bases, de clara vinculação do criador com sua obra, em que a presença de dispositivos de DRM (digital managements rights) poderiam até ser vistos como algo positivo para os artistas. O iSummit 2006 condenou duramente este tipo de dispositivo. Tom Chance, no entanto, alerta para o fato de que discutir limitações aos direitos e licenciamentos flexíveis sem discutir simultaneamente o acesso aos meios de produção cultural poderia levar o movimento para um beco sem saída.

Lawrence Liang, da ALF-Alternative Law Forum, também tocou no tema: "O desafio está em passar do iCommons para o weCommons". Ou seja, sem o acesso aos equipamentos digitais, não é possível sequer o acesso a produtos pirateados. "O compartilhamento da cultura e do conhecimento não pode ser um privilégio de alguns, mas uma necessidade para a sobrevivência de todos na sociedade da informação", acrescenta José Vaz.

No outro extremo do debate, David Berry (Swanmsea University) apresentou uma tese erudita, em que analisou o movimento pela cultura livre a partir de duas categorias filosóficas de Martin Heidegger: ôntico e ontológico. Ôntica seria a luta contra os sistemas de propriedade intelectual, um embate restrito e limitado; ontológico seria uma luta mais ampla, dentro de uma perspectiva de mudança social global. Assim, para realizar essa dimensão maior (ontológica), o movimento por uma cultura livre deveria articular-se com outros movimentos sociais (ambientalistas, anti-racistas, anti-capitalistas) com uma perspectiva revolucionária, de transformação social.

Arte remixada
Segundo Vaz, o relato dos artistas que participaram do Programa de Residência do iCommons foi outro ponto alto do evento. Alguns recusaram qualquer cobrança no sentido de vincular seus processos criativos a uma militância pelo commons, ainda que essa seja uma opção plena de possibilidades. Mas os processos criativos e o destino dado a cada obra podem variar e cada artista deve ter a liberdade de experimentar e difundir suas próprias criações da forma que quiser.

O relato da artista Joy Garnett, que se envolveu numa disputa de direitos autorais por ter utilizado uma fotografia que se encontra em domínio privado (Molotov, de Susan Meiselas), mostra que a propriedade intelectual, do forma como é tratada, impede o processo criativo humano. Usando diversos exemplos da História da Arte, a artista demonstrou como o sistema de direitos autorais pode ser nocivo para a evolução da arte, particularmente quando restringe a possibilidade de usos transformativos. Para Garnett, o processo de criação artística sempre foi baseado em algum tipo de "remix".

"Para quem trabalha no âmbito da formulação de políticas públicas, estamos diante de um grande desafio. Sem dúvida, revisar o marco legal é um primeiro passo para reequilibrar os direitos intelectuais (de interesse privado) com os direitos culturais (de interesse público). A balança ainda está muito mais inclinada para os primeiros, em prejuízo do conjunto da sociedade", conclui Vasquez.

(*) 100canais, com informações do Cultura Livre e do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito - Rio.

Fonte: CartaMaior

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Poemas de Florbela Espanca

Florbela Espanca

Silêncio!...

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta,
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te à porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa, a procurar
Beber-te a voz, apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa... Escuta!... Uns leves passos...
Silêncio, meu Amor!... Abre! Sou eu!...


Vaidade

A um grande poeta de Portugal

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...

Livro de mágoas (1919)


Tédio

Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...

Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... o que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!

O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!

E é tudo sempre o mesmo,eternamente...
O mesmo lago plácido,dormente dias,
E os dias,sempre os mesmos,a correr...




Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...

As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas

Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...

Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...


Súplica

Olha pra mim, amor, olha pra mim;
Meus olhos andam doidos por te olhar!
Cega-me com o brilho de teus olhos
Que cega ando eu há muito por te amar.

O meu colo é arrninho imaculado
Duma brancura casta que entontece;
Tua linda cabeça loira e bela
Deita em meu colo, deita e adormece!

Tenho um manto real de negras trevas
Feito de fios brilhantes d'astros belos
Pisa o manto real de negras trevas
Faz alcatifa, oh faz, de meus cabelos!

Os meus braços são brancos como o linho
Quando os cerro de leve, docemente...
Oh! Deixa-me prender-te e enlear-te
Nessa cadeia assim eternamente! ...

Vem para mim,amor...Ai não desprezes
A minha adoração de escrava louca!
Só te peço que deixes exalar
Meu último suspiro na tua boca!...


Anseios

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quirneras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...

Não 'stendas tuas asas para o longe..
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela,a soluçar...


Mistério

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

(in Antologia de poetas Alentejanos)


Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...



Fonte: JornaldePoesia

terça-feira, 10 de julho de 2007

Rodrigo Maranhão lança CD-solo

REVELAÇÃO PERSISTENTE
por Pedro Alexandre Sanches


Rodrigo Maranhão ainda pode ser tratado como uma revelação, aos 36 anos, apesar de ter fornecido duas músicas de destaque para o segundo disco de Maria Rita (Caminho das Águas e Recado) e de já ter sido gravado por Zélia Duncan, Pedro Luís, Fernanda Abreu, Roberta Sá e outros companheiros da música carioca contemporânea. Também integrante da banda independente carioca Bangalafumenga, de samba, xote, ciranda, rock e reggae, ele chega ao CD-solo de estréia, Bordado (MP,B/Universal), a bordo, em parte, da visibilidade trazida pelas gravações de Maria Rita.

Bordado agrupa as versões autorais de Recado e Caminho das Águas a um conjunto de canções inspiradas em tradições brasileiras de samba-de-roda, baião, ciranda, xote, aboio, bossa nova e até milonga gaúcha, em títulos como Interior, Noites do Irã e Olho de Boi, sempre em compasso de discreta eficácia.

Puxados todos os fios da trajetória do artista, o que aparece no bordado é uma metáfora da própria situação da música brasileira, diante dos impasses e das crises ininterruptas do modelo industrial ainda em vigor. Mesmo com tanta história e a acolhida generosa de Maria Rita, Rodrigo Maranhão pode ser chamado de revelação, até hoje.

Fonte: CartaCapital