terça-feira, 19 de junho de 2007

A Voz dos Excluídos

O brasão da periferia
por Pedro Alexandre Sanches

Destinada a ser a marca oficial do Capão Redondo, a 1daSul quer ser uma resposta para a violência

O CD começa com a narração de um locutor, em estilo radiofônico: “Temos aqui um escritor, um escritor. Não mora nos Jardins, não mora na Barra, não mora em Boa Viagem, ele mora em Capão Redondo, sabe onde é Capão Redondo? A Polícia Militar sabe”. Assim começa a coletânea 1daSul – Us Qui São Representa, coordenada pelo escritor, rapper e agitador cultural Ferréz, de Capão Redondo, periferia sul de São Paulo.

A 1daSul é a loja-marca-grife-gravadora-ideologia criada em 1999 por Ferréz. O disco 1daSul – Us Qui São Representa se constrói como um manifesto musical que reúne vários rappers ligados ao conceito elaborado pelo “escritor popular brasileiro” no encarte: “O desafio é ser a marca oficial do bairro, tendo como ponto de vista uma resposta do Capão Redondo para toda a violência que a ele é creditada, fazendo os moradores terem orgulho de onde moram e conseqüentemente lutarem para um lugar melhor, com menos violência gratuita e mais esperança”.

Não é mera retórica, como demonstra o rap aguçado praticado pelos artistas e grupos participantes, como Tref (trio que reúne moradores de três favelas diferentes, e do qual Ferréz é um dos integrantes), Negredo, o idiossincrático Prof. Pablo (na emocionante Não Me Entrego) e outros. A meta de desestigmatizar o “gueto” é marca igualmente distintiva de faixas como as dos grupos A Família, Realidade Cruel, Outraversão e Detentos do Rap.

“O dono do poder cria símbolos, estátuas, e assim consegue nos oprimir, nós estamos nos primeiros passos de também termos nossos símbolos”, resume Ferréz no texto de auto-orgulho pelo CD e pelo nobre “brasão” da 1daSul. A julgar pelo que anda afirmando o rap, já é passado o tempo da mera lamentação resignada das periferias.

Fonte:
CartaCapital

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